sexta-feira, 5 de julho de 2013

Preparação da Operação Husky - Sicília 1943





Preparação da Operação Husky


[Divergências entre os Aliados]


“As circunstâncias em que se faria a invasão da Sicília, operação aprovada pelos Chefes de Estado-Maior Combinados, na Conferência de Casablanca [em janeiro 1943], provocaram discussão quase interminável. Messina, situada no ângulo nordeste da ilha e a apenas alguns quilômetros da Itália continental, era o objetivo estratégico óbvio, pois uma vez tomada, os soldados alemães e italianos que estivessem na ilha não poderiam escapar para a ponta da bota italiana.
Mas, Messina era bem fortificada. Aos pilotos aliados parecia dotada de uma verdadeira muralha de fogo antiaéreo e de grande número de aviões interceptadores, baseados nos aeródromos próximos. Alcançar por mar, o estreito de Messina era também extremamente perigoso para as belonaves aliadas, devido aos numerosos canhões costeiros. Por último, não havia nas vizinhanças da cidade, ao que parecia, praias adequadas a desembarques anfíbios.
Os britânicos mostravam-se particularmente cautelosos sobre a invasão da Sicília. Seus estrategistas eram pela tomada prévia dos aeródromos e portos da ilha, sem o que, segundo eles, Messina poderia significar tragédia. O primeiro plano apresentado por Alexander, responsável pelas forças terrestres envolvidas na operação, previa três desembarques – um na parte sudeste da ilha, outro perto do extremo sudoeste dela e o terceiro, em algum local, a noroeste. Era um projeto complicado, sobretudo do ponto de vista logístico, porque envolvia três assaltos sucessivos, em lugar de três desembarques simultâneos. A dispersão dos efetivos aliados em três frentes tornaria cada uma delas bastante vulnerável.


Montgomery, que conduziria seu 8º Exército pela Sicília, protestou que as forças à disposição dos Aliados não eram suficientemente poderosas para tomar todos os objetivos estipulados no plano. Ele era por uma maior concentração de forças e pediu que uma divisão americana fosse anexada às tropas sob seu comando, o que redundava, forçosamente, na supressão do desembarque do sudoeste, perto de Gela.


Em oposição a Montgomery colocaram-se Cunningham e Tedder, que achavam que muitos desembarques estenderiam os defensores do Eixo. Os italianos, além de mal equipados, estavam de moral baixo, mas talvez lutassem com vigor para defender o solo italiano. Se os alemães entrassem na Sicília em grandes números, seria difícil derrotá-los.


Finalmente, oito planos foram elaborados para a invasão da ilha. Eisenhower, embora não fosse, especificamente, responsável pelo plano final aceito, visitou os Q-Gs subordinados – os de Alexander, Cunningham e Tedder – e, em conversas e sugestões, ajudou a desenvolver o conceito final. A tendência de Eisenhower era para, concordando com Montgomery, que se fizesse um assalto concentrado, tendo em vista que a medida reduziria os riscos inerentes a todos os assaltos anfíbios e permitiria às forças britânicas e americanas apoiarem-se mutuamente.” pp. 51-52


“A invasão da Sicília, de codinome 'Husky', foi o maior assalto anfíbio da História, em termos de volume de tropa terrestre empregada logo de início e em termos de frente. Sete divisões, além de partes de duas divisões aeroterrestres, desembarcariam ao longo de uma frente de 160 km de extensão.


Para estar o mais próximo do local da ação, Eisenhower foi para Malta, a 7 de julho, onde se localizava o posto de comando de Cunningham. No último minuto, o tempo mudou. Ventos fortes e grandes ondas desviavam aviões e navios do rumo certo, levando alguns subordinados de Eisenhower a pedir o adiamento da operação. Entretanto, o adiamento implicaria atraso de duas ou três semanas, tempo necessário a que as esquadras de invasão se reorganizassem. Eisenhower conferenciou com seus meteorologistas e, ao saber que o tempo melhoraria imediatamente antes do momento marcado para os desembarques, deu o sinal de partida. 'A operação prosseguirá de acordo com os planos', telegrafou Eisenhower a Marshall.


A despeito da prometida melhora, feita pelos meteorologistas, das condições do tempo, os ventos fortes, pondo em tumulto as águas do mar, não permitiram a ninguém, até o último instante da operação, um segundo de despreocupação. Todas as unidades tiveram dificuldades no desembarque. Mas elas conseguiram descer a terra com baixas relativamente leves. A razão disso foi a resistência errática e em geral ineficaz dos defensores italianos.


A luta subsequente seria mais difícil, pois os alemães reforçavam os italianos e tirariam o máximo proveito do terreno, lutando com garra. Eles resistiram aos Aliados por mais de um mês.


Na sua maior parte, a conquista da Sicília foi realizada pelos comandantes subordinados de Eisenhower. Alexander dirigiu as as forças de terra, Cunningham, as navais, e Tedder, a cobertura aérea. Até certo ponto, houve falta de coordenação entre as três armas, devida em grande parte à separação dos Q-Gs – Cunningham estava em Malta, Tedder na Tunísia e Alexander deslocara-se para a Sicília.


Mais negativo ainda foi o atrito havido entre os dois comandantes-de-exército que se encontravam na ilha. Patton comandava o 7º Exército americano e Montgomery o 8º britânico . Ainda condicionado pelo que vira do combatente americano no Passo de Kasserine, Alexander preparou a campanha para que Montgomery e os britânicos fizessem o esforço principal, relegando Patton e os americanos a missão puramente protetora, garantindo o flanco de Montgomery.


Os desembarques haviam sido feitos em torno da ponta sudeste da ilha. Os britânicos avançariam costa leste acima, desde Siracusa passando por Catânia em direção à Messina, enquanto os americanos, à esquerda, protegiam o movimento britânico.


Foi por isso que Patton, irritado, avançou vigorosamente para Palermo, carregando rápido para tomar Messina. Ele conseguiu vencer Montgomery, que fora retido em Catânia, na corrida para a cidade portuária, cuja captura marcou o fim da campanha.
No processo, as tropas de combate americanas recuperaram a confiança em sua eficiência e capacidade de enfrentar e vencer as forças alemãs.” [pp. 56-57; 59]


fonte: BLUMENSON, Martin. Eisenhower. Rio de Janeiro: Rennes, 1976. trad. Edmond Jorge.



[O cauteloso e vaidoso Montgomery]


“[...] o Comandante do Oitavo Exército [Montgomery] já havia deixado, em pensamento, a campanha da África, pois passara a concentrar-se na próxima fase das operações e no papel de grande importância que iria desempenhar na Sicília e, subsequentemente, na Itália. Embora já houvesse faltado a várias reuniões e conferências importantes, em que se ultimavam os detalhes da 'Operação Husky' – a campanha da Sicília – mandando sempre em seu lugar De Guingand, não deixava de criar problemas. Na opinião dos generais americanos, a objeção de Montgomery à referida operação prendia-se em essência à parte que teria de desempenhar no curso das mesmas. Obstinara-se em que as coisas teriam que ser feitas à sua maneira, de modo que o risco de derrota passasse a ser nenhum. Mas, acima de tudo, tinha ainda que ser convencido ou convencer-se a si mesmo, preliminarmente, de que todo o plano era concepção sua, como vinha fazendo desde Alamein e posteriormente faria, até o fim da guerra.


Com relação ao plano de campanha da Sicília, o que Montgomery desejava, acima de tudo, era reservar para si captura de Messina, trampolim para o assalto à península italiana e, no fim, acabou conseguindo quase tudo que pleiteara. O General Patton, que nada pedira para si, reservaria para o campo de batalha os comentários que se absteve de fazer; lá, seus feitos falariam por si mesmos. A Alexander, na qualidade de Comandante de Grupo de Exércitos, caberia, de novo, a tarefa de 'pastorear' o pretensioso Comandante do Oitavo Exército, ao longo de todo o caminho.
Como o tempo estivesse passando e os queixumes e os regateios de Montgomery começassem a irritar Alexander e Eisenhower, Churchill resolveu intervir e, agastado com as delongas, em sardônica nota enviada aos Chefes de Estado-Maior, assim se expressou: 'A 'Operação Husky' está sendo planejada na base de exigências excessivas. Deve-se fazer sentir aios Comandantes dos Exércitos a necessidade de darem uma contribuição pessoal à vitória, caso desejem fazer jus à glória. Tanto britânicos como norte-americanos estão sobrecarregando os planos da campanha com número tão elevado de fatores de segurança, que acabarão por se mostrarem incapazes de realizar qualquer tipo de guerra agressiva. É bom lembrar que durante os seis ou oito meses próximos, os exércitos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos terão de enfrentar, quando muito, meia dúzia de divisões alemãs' (transcrito de The Hinge of Fate).


A nota do Primeiro-Ministro exprime claramente sua frustração e ansiedade ante a demora dos comandantes aliados em soltar as garras sobre o inimigo, na ocasião em que sabia estarem os russos combatendo contra cerca de 185 divisões alemãs.” [pp. 93 e 95]


Plano da Invasão


“A 13 de maio, o esboço final do plano foi aprovado pelos chefes Conjuntos de Estado-Maior. Previa oito desembarques simultâneos ao longo de cem milhas de costa, entre Siracusa, a leste, e Palma-Licata, a sudoeste. Dava ainda ao General Patton e ao Sétimo Exército o papel de 'segundo violino' na orquestra do 'maestro' Montgomery. Os dois exércitos – o Sétimo e o Oitavo – deveriam lutar em íntimo contato, 'cada um dependendo do outro, por força de problemas de apoio direto, no decorrer da campanha …'


As exigências feitas em relação à quantidade de homens e material considerados necessários à execução dos planos alarmaram Churchill. Três mil navios e embarcações de desembarque para o transporte de 160 mil homens, 14 mil veículos, 600 tanques e 1.800 canhões até as praias da Sicília, a fim de enfrentar quatro ou seis divisões inimigas! Além disso, 146 esquadrões americanos e 113 e meio esquadrões britânicos, num total de 4.900 aviões, seriam empregados em apoio e cobertura para as operações. Era prevista, ademais, a descida de duas divisões aerotransportadas. E, como preliminar para o assalto, as ilhas de Lampedusa e Pantelleria teriam que ser reduzidas a escombros, através de bombardeios de saturação.
Com tudo isto, pode-se afirmar que realmente se preparava enorme marreta para quebrar pequenina noz, exemplo único em toda a guerra, até aquela data, de emprego de tão fantástica quantidade de homens e materiais para assalto a uma pequena ilha do Mediterrâneo. A muitos pareceu que a arte de se fazer a guerra iria dali por diante escapar ao controle dos militares, ou, como bem assinalou o General Fuller, 'a era dos traficantes da guerra havia começado, sendo Montgomery o seu sumo sacerdote'.
A 19 de junho,  em  cerimônia  pública  confirmando  a  honraria  já  concedida,  o  General Montgomery foi sagrado Cavaleiro, pelo Rei Jorge VI.” [p.96]

Fonte: THOMPSON, R. W. Montgomery. Rio de Janeiro: Rennes, 1976. trad. Prof. Alcídio M. De Souza



mais info



videos



filme
Patton / 1970

Nenhum comentário:

Postar um comentário