Preparação
da Operação
Husky
[Divergências
entre os Aliados]
“As
circunstâncias em que se faria a invasão da Sicília, operação
aprovada pelos Chefes de Estado-Maior Combinados, na Conferência de
Casablanca [em janeiro 1943], provocaram discussão quase
interminável. Messina, situada no ângulo nordeste da ilha e a
apenas alguns quilômetros da Itália continental, era o objetivo
estratégico óbvio, pois uma vez tomada, os soldados alemães e
italianos que estivessem na ilha não poderiam escapar para a ponta
da bota italiana.
Mas,
Messina era bem fortificada. Aos pilotos aliados parecia dotada de
uma verdadeira muralha de fogo antiaéreo e de grande número de
aviões interceptadores, baseados nos aeródromos próximos. Alcançar
por mar, o estreito de Messina era também extremamente perigoso para
as belonaves aliadas, devido aos numerosos canhões costeiros. Por
último, não havia nas vizinhanças da cidade, ao que parecia,
praias adequadas a desembarques anfíbios.
Os
britânicos mostravam-se particularmente cautelosos sobre a invasão
da Sicília. Seus estrategistas eram pela tomada prévia dos
aeródromos e portos da ilha, sem o que, segundo eles, Messina
poderia significar tragédia. O primeiro plano apresentado por
Alexander, responsável pelas forças terrestres envolvidas na
operação, previa três desembarques – um na parte sudeste da
ilha, outro perto do extremo sudoeste dela e o terceiro, em algum
local, a noroeste. Era um projeto complicado, sobretudo do ponto de
vista logístico, porque envolvia três assaltos sucessivos, em lugar
de três desembarques simultâneos. A dispersão dos efetivos aliados
em três frentes tornaria cada uma delas bastante vulnerável.
Montgomery,
que conduziria seu 8º Exército pela Sicília, protestou que as
forças à disposição dos Aliados não eram suficientemente
poderosas para tomar todos os objetivos estipulados no plano. Ele era
por uma maior concentração de forças e pediu que uma divisão
americana fosse anexada às tropas sob seu comando, o que redundava,
forçosamente, na supressão do desembarque do sudoeste, perto de
Gela.
Em
oposição a Montgomery colocaram-se Cunningham e Tedder, que achavam
que muitos desembarques estenderiam os defensores do Eixo. Os
italianos, além de mal equipados, estavam de moral baixo, mas talvez
lutassem com vigor para defender o solo italiano. Se os alemães
entrassem na Sicília em grandes números, seria difícil
derrotá-los.
Finalmente,
oito planos foram elaborados para a invasão da ilha. Eisenhower,
embora não fosse, especificamente, responsável pelo plano final
aceito, visitou os Q-Gs subordinados – os de Alexander, Cunningham
e Tedder – e, em conversas e sugestões, ajudou a desenvolver o
conceito final. A tendência de Eisenhower era para, concordando com
Montgomery, que se fizesse um assalto concentrado, tendo em vista que
a medida reduziria os riscos inerentes a todos os assaltos anfíbios
e permitiria às forças britânicas e americanas apoiarem-se
mutuamente.” pp. 51-52
“A
invasão da Sicília, de codinome 'Husky',
foi o maior assalto anfíbio da História, em termos de volume de
tropa terrestre empregada logo de início e em termos de frente. Sete
divisões, além de partes de duas divisões aeroterrestres,
desembarcariam ao longo de uma frente de 160 km de extensão.
Para
estar o mais próximo do local da ação, Eisenhower foi para Malta,
a 7 de julho, onde se localizava o posto de comando de Cunningham. No
último minuto, o tempo mudou. Ventos fortes e grandes ondas desviavam
aviões e navios do rumo certo, levando alguns subordinados de
Eisenhower a pedir o adiamento da operação. Entretanto, o adiamento
implicaria atraso de duas ou três semanas, tempo necessário a que
as esquadras de invasão se reorganizassem. Eisenhower conferenciou
com seus meteorologistas e, ao saber que o tempo melhoraria
imediatamente antes do momento marcado para os desembarques, deu o
sinal de partida. 'A operação prosseguirá de acordo com os
planos', telegrafou Eisenhower a Marshall.
A
despeito da prometida melhora, feita pelos meteorologistas, das
condições do tempo, os ventos fortes, pondo em tumulto as águas do
mar, não permitiram a ninguém, até o último instante da operação,
um segundo de despreocupação. Todas as unidades tiveram
dificuldades no desembarque. Mas elas conseguiram descer a terra com
baixas relativamente leves. A razão disso foi a resistência
errática e em geral ineficaz dos defensores italianos.
A
luta subsequente seria mais difícil, pois os alemães reforçavam os
italianos e tirariam o máximo proveito do terreno, lutando com
garra. Eles resistiram aos Aliados por mais de um mês.
Na
sua maior parte, a conquista da Sicília foi realizada pelos
comandantes subordinados de Eisenhower. Alexander dirigiu as as
forças de terra, Cunningham, as navais, e Tedder, a cobertura aérea.
Até certo ponto, houve falta de coordenação entre as três armas,
devida em grande parte à separação dos Q-Gs – Cunningham estava
em Malta, Tedder na Tunísia e Alexander deslocara-se para a Sicília.
Mais
negativo ainda foi o atrito havido entre os dois
comandantes-de-exército que se encontravam na ilha. Patton comandava
o 7º Exército americano e Montgomery o 8º britânico . Ainda
condicionado pelo que vira do combatente americano no Passo
de Kasserine,
Alexander preparou a campanha para que Montgomery e os britânicos
fizessem o esforço principal, relegando Patton e os americanos a
missão puramente protetora, garantindo o flanco de Montgomery.
Os
desembarques haviam sido feitos em torno da ponta sudeste da ilha. Os
britânicos avançariam costa leste acima, desde Siracusa passando
por Catânia em direção à Messina, enquanto os americanos, à
esquerda, protegiam o movimento britânico.
Foi
por isso que Patton, irritado, avançou vigorosamente para Palermo,
carregando rápido para tomar Messina. Ele conseguiu vencer
Montgomery, que fora retido em Catânia, na corrida para a cidade
portuária, cuja captura marcou o fim da campanha.
No
processo, as tropas de combate americanas recuperaram a confiança em
sua eficiência e capacidade de enfrentar e vencer as forças
alemãs.” [pp. 56-57; 59]
fonte:
BLUMENSON, Martin. Eisenhower.
Rio de Janeiro: Rennes, 1976. trad. Edmond Jorge.
…
[O
cauteloso e vaidoso Montgomery]
“[...]
o Comandante do Oitavo Exército [Montgomery] já havia deixado, em
pensamento, a campanha da África, pois passara a concentrar-se na
próxima fase das operações e no papel de grande importância que
iria desempenhar na Sicília e, subsequentemente, na Itália. Embora
já houvesse faltado a várias reuniões e conferências importantes,
em que se ultimavam os detalhes da 'Operação
Husky' – a
campanha da Sicília – mandando sempre em seu lugar De Guingand,
não deixava de criar problemas. Na opinião dos generais americanos,
a objeção de Montgomery à referida operação prendia-se em
essência à parte que teria de desempenhar no curso das mesmas.
Obstinara-se em que as coisas teriam que ser feitas à sua maneira,
de modo que o risco de derrota passasse a ser nenhum. Mas, acima de
tudo, tinha ainda que ser convencido ou convencer-se a si mesmo,
preliminarmente, de que todo o plano era concepção sua, como vinha
fazendo desde Alamein
e posteriormente faria, até o fim da guerra.
Com
relação ao plano de campanha da Sicília, o que Montgomery
desejava, acima de tudo, era reservar para si captura de Messina,
trampolim para o assalto à península italiana e, no fim, acabou
conseguindo quase tudo que pleiteara. O General Patton, que nada
pedira para si, reservaria para o campo de batalha os comentários
que se absteve de fazer; lá, seus feitos falariam por si mesmos. A
Alexander, na qualidade de Comandante de Grupo de Exércitos,
caberia, de novo, a tarefa de 'pastorear' o pretensioso Comandante do
Oitavo Exército, ao longo de todo o caminho.
Como
o tempo estivesse passando e os queixumes e os regateios de
Montgomery começassem a irritar Alexander e Eisenhower, Churchill
resolveu intervir e, agastado com as delongas, em sardônica nota
enviada aos Chefes de Estado-Maior, assim se expressou: 'A 'Operação
Husky' está
sendo planejada na base de exigências excessivas. Deve-se fazer
sentir aios Comandantes dos Exércitos a necessidade de darem uma
contribuição pessoal à vitória, caso desejem fazer jus à glória.
Tanto britânicos como norte-americanos estão sobrecarregando os
planos da campanha com número tão elevado de fatores de segurança,
que acabarão por se mostrarem incapazes de realizar qualquer tipo de
guerra agressiva. É bom lembrar que durante os seis ou oito meses
próximos, os exércitos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos terão
de enfrentar, quando muito, meia dúzia de divisões alemãs'
(transcrito de The
Hinge of Fate).
A
nota do Primeiro-Ministro exprime claramente sua frustração e
ansiedade ante a demora dos comandantes aliados em soltar as garras
sobre o inimigo, na ocasião em que sabia estarem os russos
combatendo contra cerca de 185 divisões alemãs.” [pp. 93 e 95]
Plano
da Invasão
“A
13 de maio, o esboço final do plano foi aprovado pelos chefes
Conjuntos de Estado-Maior. Previa oito desembarques simultâneos ao
longo de cem milhas de costa, entre Siracusa, a leste, e
Palma-Licata, a sudoeste. Dava ainda ao General Patton e ao Sétimo
Exército o papel de 'segundo violino' na orquestra do 'maestro'
Montgomery. Os dois exércitos – o Sétimo e o Oitavo – deveriam
lutar em íntimo contato, 'cada um dependendo do outro, por força de
problemas de apoio direto, no decorrer da campanha …'
As
exigências feitas em relação à quantidade de homens e material
considerados necessários à execução dos planos alarmaram
Churchill. Três mil navios e embarcações de desembarque para o
transporte de 160 mil homens, 14 mil veículos, 600 tanques e 1.800
canhões até as praias da Sicília, a fim de enfrentar quatro ou
seis divisões inimigas! Além disso, 146 esquadrões americanos e
113 e meio esquadrões britânicos, num total de 4.900 aviões,
seriam empregados em apoio e cobertura para as operações. Era
prevista, ademais, a descida de duas divisões aerotransportadas. E,
como preliminar para o assalto, as ilhas de Lampedusa e Pantelleria
teriam que ser reduzidas a escombros, através de bombardeios de
saturação.
Com
tudo isto, pode-se afirmar que realmente se preparava enorme marreta
para quebrar pequenina noz, exemplo único em toda a guerra, até
aquela data, de emprego de tão fantástica quantidade de homens e
materiais para assalto a uma pequena ilha do Mediterrâneo. A muitos
pareceu que a arte de se fazer a guerra iria dali por diante escapar
ao controle dos militares, ou, como bem assinalou o General Fuller,
'a era dos traficantes da guerra havia começado, sendo Montgomery o
seu sumo sacerdote'.
A
19 de junho, em cerimônia pública confirmando a honraria já
concedida, o General Montgomery foi sagrado Cavaleiro, pelo Rei Jorge
VI.” [p.96]
Fonte:
THOMPSON, R. W. Montgomery.
Rio de Janeiro: Rennes, 1976. trad. Prof. Alcídio M. De Souza
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Patton
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