segunda-feira, 15 de julho de 2013

Avanço aliado na Sicília - julho 1943







1943 - Avanço aliado na Sicília


Capítulo XX – A invasão da Itália pelos Aliados


Quando a posição germano-italiana na Tunísia caiu, em maio de 1943, os Aliados foram blindados com uma oportunidade maravilhosa. Oito divisões, juntamente com grande número de tropas auxiliares, foram cercadas e feitas prisioneiras nessa derrota. Compreendiam o grosso das tropas alemãs no teatro de operações do Mediterrâneo, e a melhor parte das divisões italianas. A península itálica agora estava aberta para o ataque, sem defensores. O moral italiano afundou a um nível ainda mais baixo. Havia apenas algumas poucas tropas alemãs, imediatamente disponíveis para reforçar a defesa da Itália – duas divisões no continente, uma que estava sendo instruída na Sicília, com recompletamentos que tinham sido mandados para lá, e outra do mesmo tipo, na Sardenha.

Passaram-se dois meses, contudo, sem que os Aliados dessem prosseguimento à vitória na Tunísia com o desembarque na Sicília, que teve lugar a 10 de julho. Mesmo assim, só havia duas divisões alemãs em cena para fazer face ao assalto inicial de oito divisões aliadas. Quanto aos italianos, quase todos entraram em colapso assim que os Aliados desembarcaram. Mas os alemães, embora sem apoio aéreo e sendo reforçados somente por mais duas divisões, conseguiram resistir aos exércitos invasores. E, após retardar a conquista da Sicília pelos Aliados até meados de agosto, fugiram através do estreito de Messina, sob densa proteção da artilharia antiaérea, para o território continental italiano. O marechal-de-campo Kesselring, comandante-em-chefe alemão no Sul da Itália, só teve que sentir-se grato pelo tempo que ganharam para ele. Mas também sentiu-se aliviado quando viu as duas divisões da Sicília em segurança, pois temia que seu oponente fizesse outro desembarque na ponta da bota da Calábria, bloqueando assim a retirada delas enquanto ainda estavam engajadas na Sicília.” p. 283


A invasão aliada do norte da África francesa, em novembro de 1942, sobreveio como uma surpresa completa para Hitler e seus assessores militares no O.K.W. (Tanto Keitel quanto Jodl admitiram, após a guerra, que não esperavam aquilo.) Embora tenham recebido informações sobre planos americanos para um possível desembarque em Dacar, e também nas ilhas do litoral oeste da África, imaginaram que os americanos não entrariam no Mediterrâneo propriamente dito por causa dos interesses britânicos ali! Quando a imensa frota de navios-transporte foi vista na costa do Marrocos, imaginaram que estivessem levando tropas britânicas para o Extremo-Oriente. Mesmo quando parte da frota passou pelo estreito de Gibraltar, concluíram que era um indício de um desembarque aliado na Líbia, imediatamente à retaguarda do exército de Rommel, recém-expulso do Egito por Montgomery.


Kesselring viu as coisas diferentemente. Sendo comandante-em-chefe das forças no Mediterrâneo central, estava melhor colocado para interpretar os indícios. Durante um ou dois meses, mostrou-se apreensivo, receando um desembarque aliado no norte da África francesa. Apenas três dias antes desse desembarque acontecer, a advertência de Kesselring de que ele era iminente provocou a descrença de sempre nos altos escalões, e seu apelo urgente por reforços foi desconsiderado. Não houve tempo perdido, contudo, para reagir à emergência. Tropas alemãs foram mandadas por via aérea para a Tunísia em pequenas quantidades, mas continuamente, o bastante para conter o avanço inicial aliado de Argel para Bizerta – embora fosse praticamente certo que não teriam êxito caso a operação por terra firme dos Aliados não tivesse começado de um ponto tão a oeste.” pp. 287-88


A conquista da Tunísia pelos Aliados abriu caminho para a invasão do sul da Europa, nos dois sentidos. Isto porque o cerco ao exército germano-italiano na Tunísia deixou a Itália e as ilhas italianas quase privadas de forças defensivas eficientes. No entanto, quando Hitler mandou uma mensagem a Mussolini oferecendo-se para enviar 5 divisões descansadas e bem armadas em seu auxílio, Mussolini respondeu que só queria 3. Sua resposta foi dada sem consultar Kesselring, o qual, quando soube dela, considerou-a como demonstração política do desejo italiano de ‘continuar dono da própria casa’. A resposta de Mussolini também contrariou a opinião do comandante do seu próprio exército, o general Roatta, que insistira na necessidade de obter seis divisões Panzer para serem distribuídas em três grupos – perto de Livorno, ao norte, em Roma, ao centro, e em Nápoles, ao sul. A redução do reforço oferecido custaria caro os defensores da Itália.” pp. 289-90


Dois meses se passaram antes que os Aliados desembarcassem na Sicília, e é notável que tão pouco tenha sido feito para reforçar a defesa daquela porta de entrada da Europa. Isto parece mais estranho ainda porque, durante o mês que se seguiu à queda de Túnis, as forças aéreas aliadas concentraram seus esforços para obter, através de bombardeios continuados, a rendição da ilha fortificada de Pantelleria, no canal entre a África e a Sicília. Esta grande ‘preparação’, a um alto custo de ‘munição’, foi extremamente efetiva para eliminar quaisquer dúvidas de que o objetivo seguinte dos Aliados seria a Sicília. No entanto, no alto comando inimigo não tirou proveito desse aviso, mesmo que o tivesse reconhecido como tal. Isso deveu-se, em grande parte, ao ciúme e à desconfiança existentes entre os chefes. [...]” p. 291


O alto comando aliado evitou escolher trechos da costa que se prestassem de modo especial aos blindados; em vez disso, misturou as unidades de carros de combate com todas as ouras forças de desembarque. Suponho que procurou não concentrar os blindados nas planícies por duas razões: primeiro, a supremacia dos Aliados no ar e no mar, o que os capacitava a desembarcar praticamente em toda a parte – pulverizando assim as forças da defesa – e que também evitava quaisquer encontros nas fases iniciais com forças blindadas inimigas. Uma segunda razão é que aquelas planícies à retaguarda de Gela e Catânia não proporcionavam terreno tão adequado para rápido avanço de blindados quanto as imensas planícies africanas.” p.292



A Itália muda de lado – e o contragolpe alemão


Quando Mussolini foi deposto, a 25 de julho, Hitler ficou alarmado, interpretando o acontecido como um sinal de que o novo governo italiano do marechal Badoglio, a despeito das afirmativas de permanecer integrando o Eixo, estaria procurando um modo de sair da guerra. A reação de Hitler foi rápida. No dia 27, ordenou ao Quartel-General do Grupo de Exércitos B de Rommel, que, naquele momento, estava assumindo o comando da Grécia, que ficasse com a responsabilidade de defesa do norte da Itália – com o pretexto de liberar as forças italianas para serem utilizadas em reforço ao sul do país, mais diretamente ameaçado. O Grupo B ficaria com a região ao norte da linha Elba-Ancona. Para completar o quadro, foram retiradas divisões alemãs dos outros fronts e mandadas apressadamente de trem para o norte da Itália.” p. 295

Em contraste com a visão de Hitler e do O.K.W., Kesselring persistiu na crença de que os líderes italianos permaneceriam leais à aliança com a Alemanha. Deplorou a ‘atitude extremamente fria do governo alemão para com Badoglio’, receando que aquela atitude pudesse levar o italiano ao rompimento, e estava particularmente ansioso para que os alemães não viessem a ser responsáveis por uma coisa dessas. Quando recebeu ordens, no início de agosto, para ficar em condições de desarmar e prender todas as forças italianas, se o governo de Badoglio capitulasse, ponderou que isso estaria além de suas limitadas forças. À luz de qualquer avaliação de efetivos, espaço e risco de intervenção aliada, sua ponderação parecia bem justificada. Como não conseguiu alterar a ordem, Kesselring decidiu restringir-se ao que lhe parecia viável.” p. 296


[O comandante supremo aliado] Eisenhower fez uma observação adequada: ‘Os italianos desejavam freneticamente render-se’. Mas a consumação do desejo deles foi lamentavelmente retardada, em parte por causa da deficiência das negociações, e em parte por causa do efeito dissuasor da fórmula de ‘rendição incondicional’ dos Aliados. O processo todo tomou mais tempo que convinha a ambos os lados. O armistício acabou sendo assinado a 3 de setembro, o dia em que Montgomery atravessou o estreito de Messina e desembarcou na ponta da Itália. deveria ser mantido em segredo até que os Aliados efetuassem um segundo desembarque, desta vez na canela da bota, tendo sido escolhido o golfo de Salerno. A ideia era lançar simultaneamente uma divisão paraquedista perto de Roma, para ajudar as divisões italianas. Mas esta parte do plano abortou. O desembarque de Salerno começou à meia-noite de 8 de setembro, precedido em algumas horas pelo anúncio da capitulação da Itália, coisa que os líderes italianos não esperavam senão para alguns dias mais tarde. Foram surpreendidos sem que estivessem preparados para cooperar, reclamando que seus preparativos ainda não haviam terminado, e o lançamento dos paraquedistas foi cancelado. Embora a surpresa dos alemães fosse ainda maior, sua ação em Roma foi rápida e decisiva, a despeito da emergência simultânea em Messina. Como o mais profundo desejo dos italianos era cessar a luta, renderam-se aos alemães, na ausência dos Aliados!” p. 297

Fonte: HART, Liddell. O outro lado da colina. (The other side of the hill, 1948) trad. Luiz Paulo Macedo Carvalho e Haroldo Carvalho Neto. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1980.



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