1943 - Avanço
aliado na Sicília
Capítulo
XX – A invasão da Itália pelos Aliados
“Quando a posição
germano-italiana na Tunísia caiu, em maio de 1943, os Aliados foram
blindados com uma oportunidade maravilhosa. Oito divisões,
juntamente com grande número de tropas auxiliares, foram cercadas e
feitas prisioneiras nessa derrota. Compreendiam o grosso das tropas
alemãs no teatro de operações do Mediterrâneo, e a melhor parte
das divisões italianas. A península itálica agora estava aberta
para o ataque, sem defensores. O moral italiano afundou a um nível
ainda mais baixo. Havia apenas algumas poucas tropas alemãs,
imediatamente disponíveis para reforçar a defesa da Itália –
duas divisões no continente, uma que estava sendo instruída na
Sicília, com recompletamentos que tinham sido mandados para lá, e
outra do mesmo tipo, na Sardenha.
Passaram-se dois meses,
contudo, sem que os Aliados dessem prosseguimento à vitória na
Tunísia com o desembarque na Sicília, que teve lugar a 10 de julho.
Mesmo assim, só havia duas divisões alemãs em cena para fazer face
ao assalto inicial de oito divisões aliadas. Quanto aos italianos,
quase todos entraram em colapso assim que os Aliados desembarcaram.
Mas os alemães, embora sem apoio aéreo e sendo reforçados somente
por mais duas divisões, conseguiram resistir aos exércitos
invasores. E, após retardar a conquista da Sicília pelos Aliados
até meados de agosto, fugiram através do estreito de Messina, sob
densa proteção da artilharia antiaérea, para o território
continental italiano. O marechal-de-campo Kesselring,
comandante-em-chefe alemão no Sul da Itália, só teve que sentir-se
grato pelo tempo que ganharam para ele. Mas também sentiu-se
aliviado quando viu as duas divisões da Sicília em segurança, pois
temia que seu oponente fizesse outro desembarque na ponta da bota da
Calábria, bloqueando assim a retirada delas enquanto ainda estavam
engajadas na Sicília.” p. 283
“A invasão aliada do norte
da África francesa, em novembro de 1942, sobreveio como uma surpresa
completa para Hitler e seus assessores militares no O.K.W. (Tanto
Keitel quanto Jodl admitiram, após a guerra, que não esperavam
aquilo.) Embora tenham recebido informações sobre planos americanos
para um possível desembarque em Dacar, e também nas ilhas do
litoral oeste da África, imaginaram que os americanos não entrariam
no Mediterrâneo propriamente dito por causa dos interesses
britânicos ali! Quando a imensa frota de navios-transporte foi vista
na costa do Marrocos, imaginaram que estivessem levando tropas
britânicas para o Extremo-Oriente. Mesmo quando parte da frota
passou pelo estreito de Gibraltar, concluíram que era um indício de
um desembarque aliado na Líbia, imediatamente à retaguarda do
exército de Rommel, recém-expulso do Egito por Montgomery.
Kesselring viu as coisas
diferentemente. Sendo comandante-em-chefe das forças no Mediterrâneo
central, estava melhor colocado para interpretar os indícios.
Durante um ou dois meses, mostrou-se apreensivo, receando um
desembarque aliado no norte da África francesa. Apenas três dias
antes desse desembarque acontecer, a advertência de Kesselring de
que ele era iminente provocou a descrença de sempre nos altos
escalões, e seu apelo urgente por reforços foi desconsiderado. Não
houve tempo perdido, contudo, para reagir à emergência. Tropas
alemãs foram mandadas por via aérea para a Tunísia em pequenas
quantidades, mas continuamente, o bastante para conter o avanço
inicial aliado de Argel para Bizerta – embora fosse praticamente
certo que não teriam êxito caso a operação por terra firme dos
Aliados não tivesse começado de um ponto tão a oeste.” pp.
287-88
“A conquista da Tunísia
pelos Aliados abriu caminho para a invasão do sul da Europa, nos
dois sentidos. Isto porque o cerco ao exército germano-italiano na
Tunísia deixou a Itália e as ilhas italianas quase privadas de
forças defensivas eficientes. No entanto, quando Hitler mandou uma
mensagem a Mussolini oferecendo-se para enviar 5 divisões
descansadas e bem armadas em seu auxílio, Mussolini respondeu que só
queria 3. Sua resposta foi dada sem consultar Kesselring, o qual,
quando soube dela, considerou-a como demonstração política do
desejo italiano de ‘continuar dono da própria casa’. A resposta
de Mussolini também contrariou a opinião do comandante do seu
próprio exército, o general Roatta, que insistira na necessidade de
obter seis divisões Panzer
para serem distribuídas em três grupos – perto de Livorno, ao
norte, em Roma, ao centro, e em Nápoles, ao sul. A redução do
reforço oferecido custaria caro os defensores da Itália.” pp.
289-90
“Dois meses se passaram
antes que os Aliados desembarcassem na Sicília, e é notável que
tão pouco tenha sido feito para reforçar a defesa daquela porta de
entrada da Europa. Isto parece mais estranho ainda porque, durante o
mês que se seguiu à queda de Túnis, as forças aéreas aliadas
concentraram seus esforços para obter, através de bombardeios
continuados, a rendição da ilha fortificada de Pantelleria, no
canal entre a África e a Sicília. Esta grande ‘preparação’, a
um alto custo de ‘munição’, foi extremamente efetiva para
eliminar quaisquer dúvidas de que o objetivo seguinte dos Aliados
seria a Sicília. No entanto, no alto comando inimigo não tirou
proveito desse aviso, mesmo que o tivesse reconhecido como tal. Isso
deveu-se, em grande parte, ao ciúme e à desconfiança existentes
entre os chefes. [...]” p. 291
“O alto comando aliado
evitou escolher trechos da costa que se prestassem de modo especial
aos blindados; em vez disso, misturou as unidades de carros de
combate com todas as ouras forças de desembarque. Suponho que
procurou não concentrar os blindados nas planícies por duas razões:
primeiro, a supremacia dos Aliados no ar e no mar, o que os
capacitava a desembarcar praticamente em toda a parte –
pulverizando assim as forças da defesa – e que também evitava
quaisquer encontros nas fases iniciais com forças blindadas
inimigas. Uma segunda razão é que aquelas planícies à retaguarda
de Gela e Catânia não proporcionavam terreno tão adequado para
rápido avanço de blindados quanto as imensas planícies africanas.”
p.292
A
Itália muda de lado – e o contragolpe alemão
“Quando Mussolini foi
deposto, a 25 de julho, Hitler ficou alarmado, interpretando o
acontecido como um sinal de que o novo governo italiano do marechal
Badoglio, a despeito das afirmativas de permanecer integrando o Eixo,
estaria procurando um modo de sair da guerra. A reação de Hitler
foi rápida. No dia 27, ordenou ao Quartel-General do Grupo de
Exércitos B de Rommel, que, naquele momento, estava assumindo o
comando da Grécia, que ficasse com a responsabilidade de defesa do
norte da Itália – com o pretexto de liberar as forças italianas
para serem utilizadas em reforço ao sul do país, mais diretamente
ameaçado. O Grupo B ficaria com a região ao norte da linha
Elba-Ancona. Para completar o quadro, foram retiradas divisões
alemãs dos outros fronts e mandadas apressadamente de trem para o
norte da Itália.” p. 295
“Em contraste com a visão
de Hitler e do O.K.W., Kesselring persistiu na crença de que os
líderes italianos permaneceriam leais à aliança com a Alemanha.
Deplorou a ‘atitude extremamente fria do governo alemão para com
Badoglio’, receando que aquela atitude pudesse levar o italiano ao
rompimento, e estava particularmente ansioso para que os alemães não
viessem a ser responsáveis por uma coisa dessas. Quando recebeu
ordens, no início de agosto, para ficar em condições de desarmar e
prender todas as forças italianas, se o governo de Badoglio
capitulasse, ponderou que isso estaria além de suas limitadas
forças. À luz de qualquer avaliação de efetivos, espaço e risco
de intervenção aliada, sua ponderação parecia bem justificada.
Como não conseguiu alterar a ordem, Kesselring decidiu restringir-se
ao que lhe parecia viável.” p. 296
“[O comandante supremo
aliado] Eisenhower fez uma observação adequada: ‘Os italianos
desejavam freneticamente render-se’. Mas a consumação do desejo
deles foi lamentavelmente retardada, em parte por causa da
deficiência das negociações, e em parte por causa do efeito
dissuasor da fórmula de ‘rendição incondicional’ dos Aliados.
O processo todo tomou mais tempo que convinha a ambos os lados. O
armistício acabou sendo assinado a 3 de setembro, o dia em que
Montgomery atravessou o estreito de Messina e desembarcou na ponta da
Itália. deveria ser mantido em segredo até que os Aliados
efetuassem um segundo desembarque, desta vez na canela da bota, tendo
sido escolhido o golfo de Salerno. A ideia era lançar
simultaneamente uma divisão paraquedista perto de Roma, para ajudar
as divisões italianas. Mas esta parte do plano abortou. O
desembarque de Salerno começou à meia-noite de 8 de setembro,
precedido em algumas horas pelo anúncio da capitulação da Itália,
coisa que os líderes italianos não esperavam senão para alguns
dias mais tarde. Foram surpreendidos sem que estivessem preparados
para cooperar, reclamando que seus preparativos ainda não haviam
terminado, e o lançamento dos paraquedistas foi cancelado. Embora a
surpresa dos alemães fosse ainda maior, sua ação em Roma foi
rápida e decisiva, a despeito da emergência simultânea em Messina.
Como o mais profundo desejo dos italianos era cessar a luta,
renderam-se aos alemães, na ausência dos Aliados!” p. 297
Fonte:
HART, Liddell. O
outro lado da colina. (The
other side of the hill,
1948) trad. Luiz Paulo Macedo Carvalho e Haroldo Carvalho Neto. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1980.
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