A
Batalha de Kursk
julho
1943
Tropas
eslavas agregadas às tropas alemãs
“A
propaganda alemã retratava [o general Andrei] Vlasov como o líder
do Exército Russo de Libertação (Russkaia
Osvoboditelnaia Armiia, ROA). Um
exército que, na realidade, não existia. As várias formações de
voluntários recrutados na URSS foram organizadas com a autonomia de
um batalhão ou companhia e dependiam de comandantes alemães. Nem
todas eram russas: muitas eram formadas por voluntários de outras
nacionalidades.
Em
qualquer caso, as unidades de tropas do leste eram significativamente
numerosas. Para enquadrá-las e dirigi-las, os vários grupos de
exércitos alemães criaram a figura de comandos de tropas orientais.
Começaram a ser instituídos no final de 1942 e meados de 1943. o
Grupo de Exércitos Central contava com seis deles, o do Sul com
cinco e o do Norte com três. À frente de cada um desses comandos,
estava um Generalmajor,
posto que, geralmente, era ocupado por um comandante de divisão
alemã. Em praticamente toda sua totalidade, essas forças eram
usadas contra os guerrilheiros [comunistas e nacionalistas].
Quando
[o ditador Adolf] Hitler foi informado sobre as atividades de Vlasov,
ordenou sua interrupção e que Vlasov retornasse ao campo de
prisioneiros. Mas, alertado sobre a conveniência de continuar a usar
o militar russo como um trunfo publicitário, ele concordou, a
contragosto, com a situação. Na verdade, os patrocinadores alemães
de Vlasov estavam preparando um golpe de efeito: uma ambiciosa
operação propagandística previsto para começar no mesmo dia em
que a operação Cidadela
fosse lançada – originalmente programada para 5 de maio de 1943. A
ação propagandística foi batizada como Silberstreif
[operação para incentivar a deserção de tropas inimigas]. Foi
realizada a partir dessa data durante vários dias e envolveu o
lançamento de vários milhões de panfletos sobre as linhas e a
retaguarda soviética, convidando os soldados e civis soviéticos a
juntarem-se ao Exército Russo de
Libertação. O impacto teria
sido maior se, simultaneamente, a máquina de guerra alemã tivesse
obtido sucessos retumbantes. Não foi o caso: a operação
Cidadela foi adiada. Ainda
assim, durante várias semanas, verificou-se um aumento no número de
deserções nas fileiras do Exército russo.” (p. 60)
mais
info sobre Andrei Vlasov
Stalin
incentiva o nacionalismo na Guerra Patriótica
“Enquanto
o racismo e o imperialismo levaram Hitler à cegueira completa,
Stalin agiu de forma totalmente oposta. Já em 1941, havia chamado a
guerra contra a Alemanha como a Grande Guerra Patriótica, em vez de
pedir a seu povo que lutasse em defesa do regime comunista. Em 1942,
introduziu novas condecorações para seus soldados, que, além das
de fundo comunista, como a Ordem da Bandeira Vermelha ou a de Lenin,
passaram a receber as ordens de Alexander Nevski (príncipe russo e
santo da igreja ortodoxa do século 13), de Alexander Suvorov
(general russo do século 18) ou de Mikhail Kutuzov (general russo
dos séculos 18 e 19 e que salvou a Rússia de Napoleão), criados
para homenagear heróis nacionais do passado czarista russo. Em 1943,
foi feita uma mudança espetacular no uniforme do Exército Vermelho:
reapareceram, em todo o seu esplendor, as vistosas ombreiras que, no
Exército czarista, haviam sido usadas para identificar as fileiras
militares. Os bolcheviques consideravam-nas o mais odioso símbolo do
czarismo. […]
Essa
não foi a única novidade em 1943. o odiado Corpo de Comissários
políticos desapareceu como tal no Exército Vermelho. Seus membros
foram rebaixados ao papel de meros conselheiros sobre questões de
propaganda. A Internacional
deixou de ser o hino oficial da união Soviética e foi substituída
por um novo hino nacional. A Internacional Comunista foi oficialmente
dissolvida. Stalin chegou a permitir que a Igreja ortodoxa Russa
elegesse um novo patriarca. Em suma, enquanto Hitler renunciava
completamente à chance de usar o trunfo do patriotismo russo
anticomunista a seu favor, Stalin estimulava, cada vez mais, esse
mesmo patriotismo para reforçar a capacidade de luta de seus homens,
enquanto parecia descaracterizar os sinais de identidade comunista na
URSS.” (pp. 67b e 69)
Adiamentos
da Operação Cidadela
Concentração
de Tanques e outros blindados
“A
soma dos tanques enquadrados nas unidades designadas aos Grupos de
Exércitos Central e do Norte para o ataque, além das duas divisões
Panzers e uma de granadeiros blindados do 1º Exército Panzer,
alcançava 2.272 máquinas. Vários modelos completamente obsoletos
continuavam em operação, incluindo alguns Panzers II, mas,
sobretudo, Panzers III e IV, com canhões curtos: cerca de 13% do
total. A maioria dos tanques que seriam usados em Kursk, 64%,
pertencia aos modelos Panzer III e IV, equipados com novos canhões.
Os modelos realmente novos, os Panzers V, Panther e Panzer VI Tiger,
somavam apenas 15%. os 8% restantes dividiam-se entre tanques de
comando, que não eram equipados com canhões e cuja missão era
conduzir o combate como postos de comando móveis, alguns tanques
lança-chamas e outros tanques russos T-34 capturados como despojo de
guerra.
Os
tanques da primeira categoria citada não podiam enfrentar os tanques
soviéticos do modelo mais comumente usado, o T-34. Os da segunda
categoria podiam fazê-lo de forma adequada, mas apenas os novos
Panthers e Tigers eram realmente superiores ao T-34. Embora os
Panthers e Tigers correspondessem a apenas 15% da força de ataque,
toda a esperança de ataque foi depositada em sua superioridade
qualitativa. Os sucessivos adiamentos do ataque a Kursk ocorreram
justamente porque os alemães buscavam reunir um número suficiente
de tanques. A ofensiva, prevista para 4 de maio, foi adiada para 12
de junho, depois para o dia 20 do mesmo mês, em seguida para 3 de
julho e, por fim, foi lançada no dia 5 de julho.” (p. 76 e 78)
Artilharia
e Aviação
“Os
tanques não podem combater sozinhos, é claro. Embora a infantaria
reunida para apoiá-los sempre fosse relativamente fraca, uma
impressionante massa de unidades de artilharia foi reunida para a
operação Cidadela. Os efetivos de canhões próprios de cada
divisão foram complementados com grupos independentes de obuses
pesados, canhões antiaéreos e os temíveis lança-foguetes alemães,
muito menos famosos do que os soviéticos [os Katyuscha,
ou órgãos de Stalin] , mas muito mais eficazes. Para possibilitar o
movimento das pontas de lança blindadas, elas foram reforçadas com
batalhões de sapadores com a finalidade de limpar campos de minas e
construir pontes.
Embora
a Batalha de Kursk
seja geralmente descrita como um grande confronto terrestre, a
Luftwaffe
e a Força Aérea soviética travaram uma batalha não menos titânica
no ar. Ao contrário do Exército terrestre alemão, que concentrara
quase toda a sua força militar na frente oriental, a Luftwaffe
mantinha uma elevada proporção de seus efetivos no Mediterrâneo e
no oeste, para conter a ofensiva aérea sobre a Alemanha. Ainda
assim, para a operação Cidadela, seriam concentrados no setor de
ataque 42 % dos efetivos de aeronaves de combate de toda a
Luftwaffe,
com a 4ª Frota Aérea apoiando as ações do Grupo de Exércitos do
Sul e a 6ª Frota apoiando o Grupo Central. A quantidade de 2,1 mil
aparelhos reunidos torna-se mais impressionante se for levado em
conta que a soma dos efetivos disponíveis em toda a frente oriental
naquele momento era de 2,5 mil.
Na
verdade, a Batalha de Kursk
começou no céu antes do que no solo. Tanto a Luftwaffe
como a Força Aérea soviética realizaram, durante as semanas
precedentes, ataques de bombardeiros em profundidade sobre as
retaguardas inimigas, para impedir a concentração de forças do
adversário. A Luftwaffe
realizou, inclusive, uma de suas raras campanhas estratégicas,
tentando alcançar vários centros industriais russos para reduzir a
produção de armamento pesado, com uma eficácia muito limitada.
Tanto
soviéticos como alemães usavam sua aviação como força tática,
em apoio às operações terrestres. [...]” (pp. 81-82)
Planos
do Ataque alemão
“À
primeira vista, o plano de ataque alemão era surpreendentemente
simples. A partir dos limites superior e inferior do saliente, duas
massas atacantes romperiam as linhas inimigas para convergir no
centro, ao redor da cidade de Kursk. O Grupo de Exércitos Central
executaria sua parte por meio do 9º Exército, liderado por um
general excepcionalmente qualificado: Walter Model. Além de seu
talento militar, tinha a reputação de ser muito devotado a Hitler
e, portanto, muito confiável. Sua situação estratégica era
relativamente arriscada, pois o ponto de partida de sua ofensiva
estava no chamado saliente de Orel, no qual as linhas alemãs
adentravam em território russo, de modo que poderia ser vítima de
uma contraofensiva sobre sua retaguarda a qualquer momento. Por essa
razão, a ideia de manobra do marechal de campo Walter Model era
romper as linhas usando basicamente suas divisões de infantaria,
apoiadas por seus grupos de canhões de assalto. Depois de romper a
frente, seria a hora de lançar, pela brecha, suas divisões
Panzers.
A
massa de ataque meridional seria comandada diretamente pelo marechal
Erich von Manstein, comandante do Grupo de Exércitos do sul, com
dois grandes grupamentos: o 4º Exército Panzer, do general Hermann
Hoth, e o destacamento do Exército do general Werner Kempf (esses
destacamentos do Exército eram unidades mais potentes do que um
corpo de exército, mas menos do que um exército). Manstein pensava
em usar duas pontas de lança divergentes: o 4º Exército Panzer
atacaria diretamente para o norte e o Destacamento Kempf o faria para
o nordeste, partindo de suas posições situadas, respectivamente, a
oeste e a leste da cidade de Belgorod.” (pp. 83-85)
Mais
info sobre von Manstein
sobre
o general Model
Defesas
soviéticas
“As
forças soviéticas presentes no saliente de Kursk já eram poderosas
quando [o general Georgi] Zhukov propôs seu plano [de linhas
defensivas], mas não deixaram de ser aumentadas, aproveitando-se,
nesse caso, os sucessivos adiamentos do ataque alemão. Por fim, as
frentes Central (comandada pelo marechal Konstantin Rokossovski) e de
Voronezh (sob o comando do general Nikolai Vatutin) totalizavam cerca
de 1,3 milhão de homens, armados com 3,6 mil tanques e canhões de
assalto, 13 mil canhões e morteiros e 2,8 mil aviões de combate.
Números que já eram superiores aos dos efetivos de que dispunham os
alemães Manstein e Model (ao todo, 435 mil soldados, 10 mil canhões
e morteiros, pouco menos de 3 mil tanques e canhões de assalto e 2,1
mil aeronaves). Mas o que era realmente grave para os alemães é que
eles não conseguiram detectar a presença da Frente da Estepe, sob o
comando do marechal Ivan Konev, que compreendia 450 mil soldados, 6,5
mil canhões e morteiros e 1,5 mil tanques e canhões de assalto. A
superioridade soviética global era, portanto, de quatro para um em
homens, dois para um em canhões e de 1,7 para um em tanques. Somente
em aviões havia apenas uma relativa equivalência.” (p. 86B e 88)
mais
info sobre generais russos
“A
superioridade soviética em infantaria era total. Para tirar o máximo
proveito eram traçados até oito anéis sucessivos de fortificações.
Os três primeiros eram guarnecidos pelas unidades soviéticas do
nível de exército (cada frente contava com várias delas e, apesar
do sugerido pelo nome, assemelhavam-se mais a um corpo de exército
alemão) e encontravam-se muito próximos da linha de contato.
Estavam totalmente equipados e guarnecidos. Mais para a retaguarda,
as unidades do nível de frente controlavam outros três anéis de
defesa, que, apenas em parte, estavam guarnecidos, mas já tinham
construído suas trincheiras, bunkers
etc. Um sétimo anel situava-se já fora do saliente de Kursk, e o
oitavo havia sido estabelecido mais ao leste, nas margens do Don.
Estavam preparados para receber sua guarnição, mas ainda não
estavam ocupados.” (p. 88b)
“Embora
a Batalha de Kursk
tenha entrado para a história por seus espetaculares combates entre
tanques, a verdade é que o avanço alemão foi consumido
principalmente no labirinto de campos minados, trincheiras armadas
com metralhadoras e morteiros, posicionamentos maciços de canhões
antitanque e campos de tiro perfeitamente cobertos por todos os tipos
de canhão e lança-foguetes. Os Panzers que, por fim, conseguissem
ultrapassá-los estariam em grande inferioridade numérica diante dos
tanques soviéticos.” p. 92b - 93a
Fonte:
Coleção 70º aniversário da 2ª Guerra Mundial, v. 21. 1943
– Batalha de Kursk marca colapso do Nazismo.
São Paulo: Abril Coleções, 2009. Trad. Fernanda Teixeira Ribeiro e
Mario Miguel Fernandez Escaleira.
mais info em
videos
filme
(trecho de A
Grande Batalha / 1969)
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