segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ataques atômicos - Japão - Nagasaki - agosto 1945







Ataques atômicos

Japão

Agosto 1945


Nagasaki


Necessidade de guerra ou terrorismo?


       No dia 9 [de agosto 1945] outra bomba atômica foi lançada sobre a cidade de Nagasaki. Os norte-americanos haviam treinado durante meses uma esquadrilha de B-29 para um ataque especial. Nos aviões, quase ninguém sabia o que transportava. Morreram cerca de 100 mil pessoas em Hiroxima e 80 mil em Nagasaki. As vítimas eram civis, cidadãos comuns, já que nenhuma das duas cidades era alvo militar muito importante. O cenário histórico dessa tragédia que permanece até hoje na memória de milhares de japoneses era a guerra no Pacífico, entre Japão e Estados Unidos no contexto do término da Segunda Guerra Mundial.

       Os generais japoneses ainda tentaram resistir, até serem convencidos do contrário pelo próprio imperador Hiroíto. No dia 15 de agosto de 1945 os japoneses escutam pelo rádio a rendição incondicional do país. Em 2 de setembro o encouraçado norte-americano Missouri entrou na baía de Tóquio e a paz foi assinada. A Segunda Guerra chegava ao fim, deixando um salde de 50 milhões de mortos em seis anos. A bomba atômica tinha sido mais um episódio desumano na história da Segunda Guerra Mundial.





EUA decidem o futuro do mundo

      Pela forma como transcorriam os acontecimentos da Segunda Guerra no início de agosto de 1945, a vitória americana no Pacífico estava assegurada. Era apenas uma questão tempo até a rendição japonesa. Por ordem do Presidente Harry Truman, o fim do conflito foi precipitado.

     Os dois bombardeios atômicos no Japão, num intervalo de pouco mais de 72h, mostraram ao mundo o efeito devastador de uma guerra atômica. E comprovaram a todas as nações o grau de ousadia a que estava disposta a potência americana na disputa pela hegemonia mundial.







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terça-feira, 4 de agosto de 2015

Ataques atômicos no Japão - agosto 1945






Ataques atômicos


Japão

Agosto 1945



Hiroshima


Necessidade de guerra ou terrorismo?


      Passados 28 meses desde que os Estados Unidos entraram na guerra, ao custo abismal de US$ 2 bilhões (valor daquela época), no dia 16 de julho de 1945, deu-se a primeira explosão experimental no deserto de Álamo Gordo, no Estado de Nevada. Foi um sucesso. O passo seguinte foi jogá-la sobre o Japão, que ainda resistia à ofensiva aérea norte-americana. A decisão final de jogá-la sobre a população civil de um cidade nipônica foi tomada pelo Presidente Harry Truman, que, desde maio de 1945, havia sucedido o falecido Roosevelt.

     No dia 6 de agosto de 1945, às 8h15 da manhã, pelo horário local, o avião "Enola Gay", o B-29 do coronel Paul Tibbetts, sentiu-se aliviado ao desafazer-se da "Little Boy", o artefato atômico de 4 t. que ele carregara penosamente durante as seis horas de vôo até chegar sobre o alvo.

     A tripulação chegou a receber uma onda de impacto daquela nuvem de 9 mil m de altura, resultante da explosão, mas nada se equiparava com que ocorria lá embaixo na ex-cidade de Hiroshima. A mesma operação foi repetida três dias depois, em 9 de agosto de 1945, sobre a cidade de Nagasaki.


     Tempos depois Julius Oppenheimer, com a consciência atormentada pelos estragos causados pela superbomba, comentou que "esses físicos conheceram o pecado de uma forma tão crua que nem a vulgaridade, o humor ou o exagero podem apagar... e esse é um conhecimento do qual eles não podem lançar mão".

     Provavelmente, se os Estados Unidos tivessem sido derrotados na guerra contra o Japão, o presidente Harry Truman, o general Leslie Groves, apelidado de o General Atômico, o coronel-aviador Paul Tibbetts, e os físicos chefiados por Oppenheimer certamente seriam julgados por crimes contra a humanidade. Afinal, o artefato mortífero que lançaram sobre as duas cidades nipônicas ceifou a vida de mais de 200 mil civis, exterminadas numa área considerada não-estratégica. Mas a vitória, como sempre acontece, absolve tudo e, aos olhos dos cidadãos americanos, tornou todos eles seus heróis. 
 









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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Conferência de Potsdam - julho - agosto 1945





Conferência de Potsdam


julho – agosto 1945


A partir de 17 de julho de 1945, os EUA, o Reino Unido e a União Soviética passaram a estabelecer as diretrizes político-econômicas para a Alemanha no pós-Guerra. A seguir, enviaram ultimato ao Japão, exigindo rendição.

      Em 17 de julho de 1945, os chefes de governo dos Estados Unidos, Reino Unido e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), vencedores da Segunda Guerra Mundial, reuniram-se pela terceira vez no contexto do conflito. Antes, haviam acontecido as conferências de Teerã (em 1943) e de Ialta (fevereiro de 1945).
Quando os Aliados se reuniram em Potsdam, nas proximidades de Berlim, em julho de 1945, começava a se desgastar a aliança estabelecida em junho de 1941, com a invasão da Alemanha nazista.


      A Conferência de Potsdam significou uma reviravolta nas relações Leste-Oeste. Seus principais protagonistas foram o novo presidente norte-americano, Harry S. Truman, que em abril de 1945 havia substituído Franklin Delano Roosevelt; o ditador soviético Josef Stalin; e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, destituído durante a conferência e substituído por Clement Attlee.

      Os chefes de governo e seus ministros do Exterior pareciam entre dois mundos: com a incursão de suas Forças Armadas no Leste Europeu, a URSS havia criado uma hegemonia que tão cedo não seria equiparada. Já a Inglaterra consolidava sua posição como parceira dos Estados Unidos. Enquanto isso, o governo Truman tentava inverter a política pró-russa de seu antecessor.









Repartição da Alemanha


     Após a capitulação da Alemanha hitlerista, a Conferência de Potsdam, reunida de 17 de julho a 2 de agosto de 1945, ordena o destino do país e da Europa: reparações in natura; estabelecimento da fronteira oriental da Alemanha sobre o Oder-Neisse; independência da Áustria; anexação pela União Soviética dos Estados Bálticos, da Prússia Oriental e da Polônia Oriental.

     Contudo, rapidamente emerge a rivalidade entre a União Soviética e as Potências Ocidentais. É o começo da “Guerra Fria”. Uma “cortina de ferro”, segundo as palavras de Churchill, separa a Europa em dois: de um lado os países ocidentais sob a proteção dos Estados Unidos e beneficiários do Plano Marshall; de outro a União Soviética e seus “satélites”. A própria Alemanha se vê dividida em dois Estados hostis um ao outro.

     A conferência de Potsdam consagra o triunfo de Stalin. O líder soviético alegava em seu favor a morte de 20 milhões de combatentes do Exército Vermelho que sacrificaram sua vida para derrotar o nazi-fascismo e salvar a humanidade para justificar suas exigências.

     Em matéria de reparações, James Byrnes propôs a retenção in natura – máquinas, matérias primas, etc – pelos vencedores em sua zona de ocupação respectiva, por um valor total de 20 bilhões de dólares, a metade para os Ocidentais, a outra para a União Soviética.

     Os Acordos de Potsdam ratificaram as gigantescas transferências de populações – alemães e poloneses do leste; alemães transferidos da Silésia, dos Sudetos, da Transilvânia, etc – contentando-se em recomendar que fossem deslocados de forma “ordenada e segundo regras humanitárias”. No total foram deslocados 11 milhões de alemães entre 1945 e 1947.

     A conferência demoliu definitivamente o “Reich de Mil Anos” da propaganda nazista. Reconstituiu uma Áustria independente e neutra, que antes da guerra havia sido anexada à Alemanha e, de resto, reconheceu à Polônia o direito de administrar as províncias alemãs situadas a leste da linha Oder-Neisse, à espera de um plebiscito e de um tratado de paz.






Consequências da Conferência de Potsdam

  • Reversão de todas as anexações Alemãs na Europa após 1937 e a separação da Áustria da Alemanha.
  • Estabelecimento dos objetivos da ocupação da Alemanha pelos Aliados: desmilitarização, desnazificação, democratização e descartelização.
  • O Acordo de Potsdam, que denunciava a divisão da Alemanha e da Áustria em quatro zonas de ocupação (anteriormente decidido na Conferência de Ialta), e a similar divisão de Berlim e Viena em quatro zonas (americana, britânica, francesa e soviética). Posteriormente, em 1961, a zona soviética seria isolada das demais pelo Muro de Berlim.
  • Julgamento dos criminosos de guerra Nazis.
  • O estabelecimento da fronteira da Alemanha com a Polônia nos rios Rio Oder e Neisse ("linha Oder-Neisse").
  • A expulsão das populações Germânicas permanecentes fora das fronteiras da Alemanha.
  • Acordo sobre as indenizações de guerra. Os Aliados estimaram as suas perdas em 200 bilhões ou 200 mil milhões de dólares. Após insistências das forças ocidentais (excluindo assim a URSS), a Alemanha foi obrigada apenas ao pagamento de 20 bilhões ou 20 mil milhões, em propriedades, produtos industriais e força de trabalho. No entanto, a Guerra Fria impediu que o pagamento se processasse na totalidade.
  • Stalin propôs que a Polônia não tivesse direito a uma indenização direta, mas sim que tivesse direito a 15% da compensação da União Soviética (esta situação nunca aconteceu).
     Os Aliados editaram a Declaração de Potsdam que ultimou os termos de capitulação do Japão. Todos os outros assuntos seriam tratados na conferência de paz final, que seria convocada assim que possível.







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terça-feira, 26 de maio de 2015

Queda de Berlim - abr - mai 1945 / 4











 
Queda de Berlim – maio 1945

      “Com a iminente queda de Berlim, o quartel-general do SHAEF [comando-supremo aliado ocidental] em Rheims enviou um pedido ao Stavka [comando-supremo soviético], em Moscou, naquele dia [25 de abril]. 'O General Eisenhower deseja mandar um mínimo de trinta e três correspondentes de guerra aliados credenciados a Berlim depois da captura da cidade pelo Exército Vermelho. Deseja mandar mais que este número se for possível, já que, como aforma, 'a queda de Berlim será uma das maiores notícias do mundo'.' Não houve resposta do Kremlin [sede do governo soviético]. Stalin claramente não queria nenhum jornalista em Berlim, quanto mais da incontrolável variedade ocidental. Contudo, seria perturbado por eles de um modo totalmente inesperado.

      Durante aquele dia, a principal emissora de rádio nazista, a Deutschlandsender, silenciou-se, mas a data de 25 de abril ficou famosa por um acontecimento que logo correu mundo. Em Torgau, no [rio] Elba, elementos avançados da 58ª Divisão de Infantaria de Guarda do general Vladimir Rusakov encontraram-se com soldados americanos da 69ª Divisão. A Alemanha nazista estava cortada ao meio. As mensagens dispararam por ambas as cadeias de comando até Bradley, depois Eisenhower no SHAEF, e até Konev, depois o general Antonov no Stavka. Os chefes de Estado foram imediatamente informados e aí Stalin e Truman trocaram telegramas concordando com o anúncio do evento. A primeira reação de Eisenhower foi mandar chamar os jornalistas, decisão que logo viria a lamentar.” p. 382


      “Stalin queria Berlim cercada o mais depressa possível com um cordon sanitaire. Isto significava a ocupação urgente de todo o território até o Elba que fora considerado parte da futura zona soviética. Os exércitos de Konev não envolvidos no ataque a Berlim ou na luta contra o Nono e o Décimo Segundo Exércitos foram enviados para oeste. O Elba foi alcançado no decorrer de 24 e 25 de abril, em numerosos pontos além de Torgau. Unidades do 5º Exército de Guardas, o 32º Corpo de Infantaria de Guardas, comandado pelo general Rodimtsev, que ficara famoso em Stalingrado, e o 4º Corpo Blindado de Guardas também alcançaram o rio. O 1º Corpo de Cavalaria de Guardas do general Baranov avançou ainda mais. […]

      Para satisfazer a impaciência de Stalin por detalhes sobre Berlim, o general Serov, representante do NKVD na 1ª Frente Bielo-Russa, forneceu um relatório detalhado sobre as condições da cidade. Beria o colocou na mesa de Stalin em 25 de abril. Serov observava que a destruição era bem pior na direção do centro da cidade, onde muitos prédios ainda fumegavam devido ao fogo da artilharia soviética.” pp. 381-85



Cap. 21 (A Luta na Cidade)

      “O regime nazista, que nunca quis que as mulheres fossem manchadas pela guerra nem mesmo por qualquer coisa que interferisse com a criação dos filhos, agora afirmava, em seu desespero, que as moças combatiam ao lado dos homens. Numa das pouquíssimas estações de rádio ainda no ar, houve um apelo a mulheres e moças: 'Pegai as armas dos soldados feridos e caídos e participai da luta. Defendei vossa liberdade, vossa honra e vossa vida!' Os alemães que ouviram este apelo longe de Berlim ficaram chocados com esta 'consequência mais extremada da guerra total'. Mas apenas pouquíssimas jovens pegaram em armas. A maioria era de auxiliares das SS. Um punhado delas, contudo, viu-se envolvida no combate, por circunstâncias extraordinárias ou por um impulso mal avaliado de romantismo. Para ficar com seu amante, Ewald von Demandowsky, a atriz Hildegard Knef vestiu uma farda e se uniu a ele em Schmargendorf, defendendo os pátios de transporte com sua companhia improvisada.” p. 390


       “As Waffen SS [tropas SS com formação de exército] não acreditavam em ficar atrás das barricadas improvisadas construídas perto das esquinas. Sabiam que esses obstáculos pouco eficazes seriam as primeiras coisas varridas pelo fogo de canhões. Era bom colocar atiradores nas janelas dos andares superiores e nos telhados, porque os tanques não podiam elevar suficientemente seus canhões. Mas com o panzerfaust [portáteis armas antitanque] faziam suas emboscadas nas janelas dos porões. Assim era melhor porque era muito difícil atirar de cima o panzerfaust com boa pontaria. A Juventude Hitlerista [Hitlerjugend] copiava com entusiasmo as SS e logo a Volkssturm – os que tinham visto a ação na Primeira Guerra Mundial e permanecido em seus postos – seguiu a mesma tática. Os soldados do Exército Vermelho referiam-se à Juventude Hitlerista e à Volkssturm como 'totais', porque eram o produto da 'total mobilização'. Os oficiais da Wehrmacht chamavam-nos de 'caçarola', porque eram uma mistura de carne velha e legumes verdes.” p. 396


      “Durante a retirada rumo ao centro, ao Setor Z, a batalha se intensificou. Sempre que os alemães conseguiam derrubar um tanque soviético com um panzerfaust, o comandante soviético local tentava retaliar com um ataque de Katiuchas [lança-foguetes em série]. Mas a vingança com tal arma de cobertura era semelhante a fuzilar reféns como reação a um ataque de guerrilheiros.

      Um pequeno grupo de SS franceses com panzerfaust foi capturado por soldados soviéticos. O sargento francês afirmou que eram trabalhadores forçados obrigados pelos alemães a vestir a farda quando o Exército Vermelho lançara o ataque no Oder. Tiveram a sorte de receberem crédito. Naquele estágio, os soldados soviéticos nada sabiam das tatuagens das SS.

[…]

      No dia seguinte, 27 de abril, o general Krebs seguiu os líderes nazistas que enganavam os soldados sob seu comando. Embora evasivo na questão das negociações, afirmou que 'os americanos poderiam cruzar os noventa quilômetros entre o Elba e Berlim no mais curto espaço de tempo e então tudo mudaria para melhor'. “ p. 402

      “Considerando o fato de que em 1945 metade das Waffen SS não era alemã, este [presença de tropas estrangeiras lutando em prol do nazismo] não era um fato assim tão notável. E quando se impôs ao mundo uma guerra civil internacional, como os comunistas e fascistas fizeram entre si pela manipulação inescrupulosa de alternativas, a queda de Berlim era uma pira funerária nada surpreendente para o que restava da extrema-direita europeia.” p. 403


Cap. 23 (A Traição do Testamento)

      “Com a Juventude Hitlerista e as SS abrindo fogo sobre qualquer casa que exibisse uma bandeira branca, os civis viram-se esmagados pela violenta intransigência de ambos os lados. O cheiro de cadáveres em decomposição espalhava-se das pilhas de destroços que já tinham sido prédios, e o cheiro de carne queimada dos esqueletos enegrecidos das casas incendiadas. Mas não foram essas cenas terríveis, mas sim os três anos de propaganda, que deram forma à atitude dos soldados soviéticos. Eles viam Berlim como 'esta cidade cinzenta, assustadora, sombria, misantrópica, esta capital bandida'.

       Nem os comunistas alemães foram poupados. Em Wedding, reduto da esquerda até 1933, ativistas da Jülicherstrasse saíram para congratular os oficiais soviéticos que comandavam a unidade que ocuparia seu distrito, mostrando suas carteiras do partido [Kommunistichen Partei], que tinham escondido durante doze anos de ilegalidade. Apresentaram suas esposas e filhas como voluntárias para ajudar lavando e cozinhando mas, segundo um prisioneiro de guerra francês, os oficiais da unidade estupraram-nas 'naquela mesma noite'. Enquanto os ocupantes do bunker do Führer preocupavam-se com os T-34 e os tanques Stalin que avançavam da Potsdamerplatz e subiam a Wilhelmstrasse, os olhos soviéticos estavam fixos no lado norte do centro de Berlim. O 3º Exército de Choque infletiu seu avanço por Moabit, logo a nordeste do Spree, para alinhar-se para um ataque ao Reichstag.” p. 429


fonte: BEEVOR, Anthony. Berlim 1945: A Queda. Trad. Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.




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Der Untergang / A Queda 2007








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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Batalha de Berlim - abril / maio 1945 / 3


 







Berlim 1945 – A Derrocado do III Reich


 


Cap. 20 (Falsas Esperanças)

 
      “Enquanto os exércitos soviéticos avançavam sobre Berlim, eram saudados por uma 'Internacional real' de 'prisioneiros de guerra soviéticos, franceses, britânicos, americanos e noruegueses', além de mulheres e moças que tinham sido levadas para a Alemanha como escravas, todos indo na direção contrária. O marechal Konev, que chegava a Berlim pelo sul, ficou impressionado ao ver que caminhavam nos sulcos das lagartas dos tanques, sabendo que pelo menos ali não haveria minas.

       Grossman [Vasili, escritor russo, correspondente de guerra], que vinha do leste, também viu 'centenas de camponeses russos barbados com mulheres e crianças'. Observou 'uma expressão de feroz desespero no rosto daqueles 'tios' barbados e devotos velhinhos das aldeias. São starosti [líderes das aldeias nomeados pelos alemães] e vilões da polícia que tinham fugido até Berlim e agora não tinham opção além de serem 'libertados'.'

[…]

       Embora Hitler ainda não conseguisse aceitar totalmente a ideia de transferir tropas da Frente ocidental para enfrentar o Exército Vermelho, Keitel e Jodl reconheceram que agora não havia alternativa. O Estado-maior de operações da Wehrmacht emitiu as ordens necessárias. As suspeitas de Stalin [ditador soviético], combinadas à política soviética de vingança, tornaram-se a profecia que provocava sua própria realização.

       Stalin também estava preocupado com sua bête noire, a Polônia. Não tinha absolutamente nenhuma intenção de apoiar a composição do governo provisório. No que lhe dizia respeito, a questão era evidente por si só e os desejos do povo polonês não contavam. 'A União Soviética', escreveu ele ao Presidente Truman em 24 de abril [de 1945], 'tem o direito de esforçar-se para que exista na Polônia um governo amigável.' Isto, claro, significava completamente sob o controle soviético. 'Também é necessário levar em conta o fato de que a Polônia tem fronteira com a União Soviética, o que não se pode dizer da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.' Com Berlim agora praticamente cercada e os Aliados ocidentais do lado de fora, Stalin não via razão para ser condescendente. Apesar de todas as acusações soviéticas anteriores contra a Força Aérea dos EUA, não houve indício de desculpas quando dois aviões americanos foram atacados e um deles destruído naquela tarde por seis caças soviéticos.

       Stalin mantinha a pressão sobre seus dois marechais estimulando sua rivalidade. Desde a madrugada de 23 de abril, a fronteira entre a 1ª Frente Bielo-Russa de Jukov [Zhukov, Marechal soviético] e a 1ª Frente Ucraniana de Konev partia de Lübben, mas agora virava-se para o norte até o centro de Berlim. O limite direito de Konev ia até a Anhalter Bahnhof. O corpo blindado de Ribalko em Mariendorf, no canal Teltow, estava exatamente cinco quilômetros ao sul deste limite. Jukov só soube que o exército de Ribalko chegara a Berlim bem tarde, em 23 de abril, quando um oficial de ligação do 1º Exército Blindado de Guardas de Katukov, que vinha do leste, entrou em contato. Jukov ficou apavorado.

       Desde que chegaram ao canal Teltow na noite de 22 de abril, os três corpos de Ribalko tiveram um dia para preparar-se para um ataque total em sua travessia. As margens de concreto do canal e os armazéns defendidos do lado norte pareciam uma barreira formidável. E embora os destacamentos da Volkssturm [militares e civis, tanto velhos e jovens, recrutados para a defesa] à sua frente não fossem oponentes à altura do 3º Exército Blindado de Guarda, tinham recebido as 'barbatanas de colete' das 18ª e 20ª Divisões Panzergrenadier. As formações de artilharia de assalto tinham recebido ordem de avançar dois dias antes, mas havia tamanho engarrafamento de veículos na estrada de Zossen, incluindo carroças de suprimento puxadas por cavalos, que o progresso foi lento. Se a Luftwaffe ainda possuísse alguma aeronave em condições de uso, a rota seria um alvo perfeito. A 48ª Divisão de Infantaria de Guardas de Lutchinski chegou a tempo de preparar-se para ocupar cabeças-de-ponte do outro lado do canal e a artilharia correu para suas posições. Não foi coisa fácil. Quase 3.000 canhões e morteiros pesados precisariam ser posicionados na noite de 23 de abril. Era um concentração de 650 peças por quilômetro, incluindo obuseiros de 152 mm e 203 mm.

       Às 6h20 de 24 de abril, o bombardeio começou no canal Teltow. Foi uma concentração de fogo ainda mais maciça que na travessia do Neisse ou do Vístula. Konev chegou ao posto de comando de Ribalko quando estava quase terminado. Do telhado plano de um prédio de escritórios de oito andares, um aglomerado de comandantes da 1ª Frente Ucraniana observava a artilharia pesada demolir os prédios do outro lado do canal e onda após onda de bombardeiros da aviação de apoio. A infantaria começou a atravessar em embarcações de assalto desmontáveis e barcos a remo de madeira. Às 7 horas da manhã os primeiros batalhões de infantaria estavam do outro lado, ocupando uma cabeça-de-ponte. Logo após o meio-dia os primeiros pontilhões estavam em seu lugar e os blindados começaram a passar.” pp. 371-73 [destaques meus]




 

       “Os berlinenses agora referiam-se à sua cidade como 'Reichsscheiterhaufen' – 'a pira mortuária do Reich'. Os civis já sofriam baixas nos combates de rua e na limpeza das casas. O capitão Ratenko, oficial originário de Tula do 2º Exército Blindado de Guardas de Bogdanov, bateu à porta de um porão em Reinickendorf, distrito no noroeste. Ninguém a abriu, e ele a chutou. Houve uma rajada de submetralhadoras e ele foi morto. Os soldados do 2º Exército Blindado de Guardas que estavam com ele começaram a disparar pela porta e pelas janelas. Mataram o atirador, aparentemente um jovem oficial da Wehrmacht em roupas civis, mas também uma mulher e uma criança. 'O prédio foi então cercado por nossos homens e incendiado', afirmava o relatório.

       A SMERSH [agência de contra-inteligência] mostrou interesse imediato pela questão dos oficiais escondidos da Wehrmacht. Criou um grupo de caça especial, com um informante que era membro do Partido nazista desde 1927. ele prometeu encontrar-lhes oficiais, sem dúvida em troca da própria vida. No total, pegou vinte, inclusive um coronel. 'Outro oficial matou a esposa e depois cometeu suicídio quando a SMERSH bateu à sua porta', dizia o relatório.

[…]
Um historiador observou que os soldados soviéticos deflagaram uma onda de violência que passava muito depressa, mas o processo costumava acontecer de novo assim que chegava uma nova unidade.

          Em 24 de abril, o 3º Exército de Choque usou sua 5ª Divisão de Artilharia de Ruptura num setor estreito onde os alemães vinham resistindo duramente. Os canhões pesados destruíram dezessete casas, matando 120 defensores. Os atacantes soviéticos afirmaram que, em quatro daquelas casas, os alemães haviam pendurado bandeiras brancas de rendição e depois atiraram de novo. Este tornou-se um evento frequente no combate. Alguns soldados, em especial da Volkssturm, queriam render-se e, sub-repticiamente, abanavam um lenço branco, mas elementos fanáticos continuavam a lutar.” pp. 376-77 [destaque meu]


fonte: BEEVOR, Anthony. Berlim 1945: A Queda. Trad. Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.


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Der Untergang / A Queda 2007








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