Queda de
Berlim
– maio 1945
“Com
a iminente queda de Berlim, o quartel-general do SHAEF
[comando-supremo aliado ocidental] em Rheims enviou um pedido ao
Stavka
[comando-supremo soviético], em Moscou, naquele dia [25 de abril].
'O General Eisenhower deseja mandar um mínimo de trinta e três
correspondentes de guerra aliados credenciados a Berlim depois da
captura da cidade pelo Exército Vermelho. Deseja mandar mais que
este número se for possível, já que, como aforma, 'a queda de
Berlim será uma das maiores notícias do mundo'.' Não houve
resposta do Kremlin
[sede do governo soviético]. Stalin claramente não queria nenhum
jornalista em Berlim, quanto mais da incontrolável variedade
ocidental. Contudo, seria perturbado por eles de um modo totalmente
inesperado.
Durante
aquele dia, a principal emissora de rádio nazista, a
Deutschlandsender,
silenciou-se, mas a data de 25 de abril ficou famosa por um
acontecimento que logo correu mundo. Em Torgau, no [rio] Elba,
elementos avançados da 58ª Divisão de Infantaria de Guarda do
general Vladimir Rusakov encontraram-se com soldados americanos da
69ª Divisão. A Alemanha nazista estava cortada ao meio. As
mensagens dispararam por ambas as cadeias de comando até Bradley,
depois Eisenhower no SHAEF,
e até Konev, depois o general Antonov no Stavka.
Os chefes de Estado foram imediatamente informados e aí Stalin e
Truman trocaram telegramas concordando com o anúncio do evento. A
primeira reação de Eisenhower foi mandar chamar os jornalistas,
decisão que logo viria a lamentar.” p. 382
“Stalin
queria Berlim cercada o mais depressa possível com um cordon
sanitaire.
Isto significava a ocupação urgente de todo o território até o
Elba que fora considerado parte da futura zona soviética. Os
exércitos de Konev não envolvidos no ataque a Berlim ou na luta
contra o Nono e o Décimo Segundo Exércitos foram enviados para
oeste. O Elba foi alcançado no decorrer de 24 e 25 de abril, em
numerosos pontos além de Torgau. Unidades do 5º Exército de
Guardas, o 32º Corpo de Infantaria de Guardas, comandado pelo
general Rodimtsev, que ficara famoso em Stalingrado, e o 4º Corpo
Blindado de Guardas também alcançaram o rio. O 1º Corpo de
Cavalaria de Guardas do general Baranov avançou ainda mais. […]
Para
satisfazer a impaciência de Stalin por detalhes sobre Berlim, o
general Serov, representante do NKVD na 1ª Frente Bielo-Russa,
forneceu um relatório detalhado sobre as condições da cidade.
Beria o colocou na mesa de Stalin em 25 de abril. Serov observava que
a destruição era bem pior na direção do centro da cidade, onde
muitos prédios ainda fumegavam devido ao fogo da artilharia
soviética.” pp. 381-85
Cap.
21 (A Luta na Cidade)
“O
regime nazista, que nunca quis que as mulheres fossem manchadas pela
guerra nem mesmo por qualquer coisa que interferisse com a criação
dos filhos, agora afirmava, em seu desespero, que as moças combatiam
ao lado dos homens. Numa das pouquíssimas estações de rádio ainda
no ar, houve um apelo a mulheres e moças: 'Pegai
as armas dos soldados feridos e caídos e participai da luta.
Defendei vossa liberdade, vossa honra e vossa vida!'
Os alemães que ouviram este apelo longe de Berlim ficaram chocados
com esta 'consequência mais extremada da guerra total'. Mas apenas
pouquíssimas jovens pegaram em armas. A maioria era de auxiliares
das SS.
Um punhado delas, contudo, viu-se envolvida no combate, por
circunstâncias extraordinárias ou por um impulso mal avaliado de
romantismo. Para ficar com seu amante, Ewald von Demandowsky, a atriz
Hildegard Knef vestiu uma farda e se uniu a ele em Schmargendorf,
defendendo os pátios de transporte com sua companhia improvisada.”
p. 390
“As
Waffen
SS
[tropas SS
com formação de exército] não acreditavam em ficar atrás das
barricadas improvisadas construídas perto das esquinas. Sabiam que
esses obstáculos pouco eficazes seriam as primeiras coisas varridas
pelo fogo de canhões. Era bom colocar atiradores nas janelas dos
andares superiores e nos telhados, porque os tanques não podiam
elevar suficientemente seus canhões. Mas com o panzerfaust
[portáteis armas antitanque] faziam suas emboscadas nas janelas dos
porões. Assim era melhor porque era muito difícil atirar de cima o
panzerfaust
com boa pontaria. A Juventude Hitlerista [Hitlerjugend]
copiava com entusiasmo as SS
e logo a Volkssturm
– os que tinham visto a ação na Primeira
Guerra Mundial
e permanecido em seus postos – seguiu a mesma tática. Os soldados
do Exército Vermelho referiam-se à Juventude Hitlerista e à
Volkssturm
como 'totais', porque eram o produto da 'total mobilização'. Os
oficiais da Wehrmacht
chamavam-nos
de 'caçarola', porque eram uma mistura de carne velha e legumes
verdes.” p. 396
“Durante
a retirada rumo ao centro, ao Setor Z, a batalha se intensificou.
Sempre que os alemães conseguiam derrubar um tanque soviético com
um panzerfaust,
o comandante soviético local tentava retaliar com um ataque de
Katiuchas
[lança-foguetes em série]. Mas a vingança com tal arma de
cobertura era semelhante a fuzilar reféns como reação a um ataque
de guerrilheiros.
Um
pequeno grupo de SS franceses com panzerfaust
foi
capturado por soldados soviéticos. O sargento francês afirmou que
eram trabalhadores forçados obrigados pelos alemães a vestir a
farda quando o Exército Vermelho lançara o ataque no Oder. Tiveram
a sorte de receberem crédito. Naquele estágio, os soldados
soviéticos nada sabiam das tatuagens das SS.
[…]
No
dia seguinte, 27 de abril, o general Krebs seguiu os líderes
nazistas que enganavam os soldados sob seu comando. Embora evasivo na
questão das negociações, afirmou que 'os americanos poderiam
cruzar os noventa quilômetros entre o Elba e Berlim no mais curto
espaço de tempo e então tudo mudaria para melhor'. “ p. 402
“Considerando
o fato de que em 1945 metade das Waffen
SS
não era alemã, este [presença de tropas estrangeiras lutando em
prol do nazismo] não era um fato assim tão notável. E quando se
impôs ao mundo uma guerra civil internacional, como os comunistas e
fascistas fizeram entre si pela manipulação inescrupulosa de
alternativas, a queda de Berlim era uma pira funerária nada
surpreendente para o que restava da extrema-direita europeia.” p.
403
Cap.
23 (A Traição do Testamento)
“Com
a Juventude
Hitlerista
e as SS
abrindo fogo sobre qualquer casa que exibisse uma bandeira branca, os
civis viram-se esmagados pela violenta intransigência de ambos os
lados. O cheiro de cadáveres em decomposição espalhava-se das
pilhas de destroços que já tinham sido prédios, e o cheiro de
carne queimada dos esqueletos enegrecidos das casas incendiadas. Mas
não foram essas cenas terríveis, mas sim os três anos de
propaganda, que deram forma à atitude dos soldados soviéticos. Eles
viam Berlim como 'esta cidade cinzenta, assustadora, sombria,
misantrópica, esta capital bandida'.
Nem
os comunistas alemães foram poupados. Em Wedding, reduto da esquerda
até 1933, ativistas da Jülicherstrasse saíram para congratular os
oficiais soviéticos que comandavam a unidade que ocuparia seu
distrito, mostrando suas carteiras do partido [Kommunistichen
Partei],
que tinham escondido durante doze anos de ilegalidade. Apresentaram
suas esposas e filhas como voluntárias para ajudar lavando e
cozinhando mas, segundo um prisioneiro de guerra francês, os
oficiais da unidade estupraram-nas 'naquela mesma noite'. Enquanto os
ocupantes do bunker
do Führer
preocupavam-se com os T-34
e os tanques Stalin que avançavam da Potsdamerplatz e subiam a
Wilhelmstrasse, os olhos soviéticos estavam fixos no lado norte do
centro de Berlim. O 3º Exército de Choque infletiu seu avanço por
Moabit, logo a nordeste do Spree, para alinhar-se para um ataque ao
Reichstag.”
p. 429
fonte:
BEEVOR, Anthony. Berlim
1945: A Queda.
Trad. Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.
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Der
Untergang / A Queda
2007
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