terça-feira, 5 de maio de 2015

Batalha de Berlim - abril / maio 1945 / 1



 







 


abril – maio 1945


 


Berlim sob bombardeio





A invasão russa-soviética arrasa a Alemanha. Avanço do Exército Vermelho dispersa tropas alemãs, recupera territórios, domina cidades inteiras. Massacre de civis, jovens e idosos, além de estupros de mulheres, tanto jovens quanto idosas.


Cap. 17 (O último aniversário do Führer)

      “O marechal Jukov [Gueorgui Zhukov, do Exército Vermelho] recordou que, naquela tarde de 20 de abril [de 1945], a 'artilharia de longa distância do 79º Corpo de Infantaria do 3º Exército de Choque abriu fogo contra Berlim'. Mas, na verdade, pouca gente na cidade tomou consciência do fato. Jukov parecia não fazer ideia de que era o aniversário de Hitler [Adolf, Chanceler do III Reich, ditador nazista]. [Jukov] estava desesperado para encontrar algo para mostrar que atacara Berlim antes de Konev [ marechal russo Ivan Konev]. Os canhões disparavam no alcance máximo e apenas os subúrbios do nordeste foram afetados.

      Quando Jukov soube ao certo de exército blindado de Konev que avançava para Berlim vindo do sul, enviou, naquela noite, uma ordem urgente a Katukov e Bogdanov, comandantes do 1º e do 2º Exércitos Blindados de Guardas. Deu-lhes 'uma missão histórica: entrar em Berlim primeiro e hastear a bandeira da vitória'. Deveriam enviar a melhor brigada de cada corpo para penetrar nos arredores de Berlim às 4horas da manhã do dia seguinte e avisar na mesma hora, para que Stalin [ditador soviético] pudesse ser informado imediatamente e o fato pudesse ser avisado à imprensa. Na verdade, a primeira de suas brigadas blindadas só chegou aos arredores da cidade na noite de 21 de abril.

      A sudeste de Berlim, enquanto isso, o marechal Konev chicoteava seus dois exércitos blindados pelo Spreewald. Seu principal interesse era o 3º Exército Blindado de Guardas, que se dirigia ao flanco sul de Berlim. O corpo blindado avançado de Ribalko tentou, ao meio-dia, invadir a cidade de Baruth, vinte quilômetros ao sul de Zossen, mas fracassou na primeira tentativa. 'O camarada Ribalko', comunicou-lhe Konev, 'está se movendo novamente como uma lesma. Uma brigada luta enquanto o exército inteiro está preso. Ordeno-lhe que cruze a linha Baruth-Luckenwalde pelo pântano, usando várias rotas, numa ordem de batalha ampliada. Informe-me do cumprimento.' A cidade foi tomada em duas horas.

      O 4º Exército Blindado de Guardas de Leliushenko, mais para o sul e para o oeste, encaminhava-se numa linha mais ou menos paralela para Jüterbog e depois Potsdam. Stalin ainda estava preocupado que os americanos pudessem, de repente, avançar de novo. O Stavka [comando supremo soviético], naquele dia, avisou Jukov, Konev e o marechal Rokossovski da possibilidade de encontrar os aliados ocidentais e passou as senhas de reconhecimento. Mas o que nem Konev nem o Stavka parecem ter avaliado totalmente foi que a 1ª Frente Ucraniana, que avançava pelo sudeste, cruzaria com o Nono Exército de Busse [general alemão Theodor Busse], que tentava recuar em torno do lado sul de Berlim. Naquela noite, despachou mensagens para seus dois comandantes de exércitos blindados. 'Pessoal aos camaradas Ribalko e Leliushenko. Ordeno categoricamente que penetrem em Berlim esta noite. Comuniquem a execução. Konev.'” pp. 325-327



      “O general Busse, com a maior parte do Nono Exército – o XI Corpo Panzer SS, o V Corpo de Montanha SS e a guarnição de Frankfurt an der Oder -, logo começou a retirada para sudoeste, rumo ao Spreewald, apesar das ordens do bunker do Führer de que a linha de defesa do Oder jamais deveria ser abandonada.

      A compulsão do Führer de lançar contra-ataques a esmo voltou na noite de 20 de abril, bem quando Jukov e Konev forçavam seus próprios comandantes de exércitos blindados a avançar mais depressa. Hitler disse ao general Krebs que lançasse um ataque partindo do oeste de Berlim contra os exércitos de Konev para evitar o cerco. A força que deveria 'rechaçar' o 3º e o 4º Exércitos Blindados de Guarda consistia da Divisão Friedrich Ludwig Jahn, formada de meninos dos destacamentos do Serviço de Mão-de-obra do Reich, e da chamada 'formação Panzer Wünsdorf', um grupo de meia dúzia de tanques da escola de instrução militar dali.

      Um batalhão da polícia foi enviado para a área de Strausberg naquele dia 'para pegar desertores e executá-los e fuzilar quaisquer soldados encontrados recuando sem ordem'. Mas até aqueles destacados como executores começaram a desertar no caminho para a frente. Um dos que se entregaram aos russos contou a seu interrogador soviético que 'cerca de 40.000 desertores estão escondidos em Berlim, já antes do avanço russo. Agora este número aumenta rapidamente'. Prosseguiu dizendo que a polícia e a Gestapo não podiam controlar a situação.” p. 331


Cap. 18 (A revoada dos faisões dourados)

      “No decorrer do dia [21 de abril de 1945], enquanto abaladas unidades alemãs e soldados extraviados recuavam, Hitler ainda insistia em Busse para que mantivesse uma linha que vinha se desintegrando há dois dias. O remanescente da ala esquerda de Busse, o CI Corpo, fora expulso da área de Bernau. Wolfram Kertz, do Regimento de Guarda Grossdeutschland, foi ferido perto do entrocamento da auto-estrada de Blumberg, a nordeste de Berlim. Dos 1.000 e tantos homens do Regimento de Guarda, só quarenta chegaram a Berlim. Muita coisa dependia da 'Soldatenglück', ou 'sorte de soldado'. Kertz estava encostado na parede de uma igreja quando os soldados russos o encontraram. Viram a Cruz de Cavaleiro em seu pescoço. 'Du General?', perguntaram. Chamaram uma carroça puxada a cavalo e o levaram para um quartel-general para ser interrogado. Um oficial superior perguntou-lhe se Hitler ainda estava vivo e o que sabia sobre planos de um contragolpe alemão com os americanos contra o Exército Vermelho.

      Isto, sem dúvida, refletia a paranoia do Kremlin. Na verdade, os americanos ainda combatiam os alemães por toda parte, inclusive no eixo de Berlim. Suas tropas terrestres e os Mustangs da Força Aérea dos EUA lançavam ataques contínuos contra a Divisão Scharnhorst do Décimo Segundo Exército, ao norte de Dessau. Era uma reação aos ataques inesperados da Luftwaffe contra a travessia e as cabeças-de-ponte do Elba. A Peter Rettich, que comandava um batalhão da Scharnhorst, só retavam cinquenta homens em 21 de abril.” pp. 335-336


      “Hitler considerou o bombardeio soviético de Berlim uma afronta pessoal, o que, levando em conta as frases rabiscadas nas granadas soviéticas, era mesmo. Sua reação instintiva foi culpar a Luftwaffe por permitir que isso acontecesse. Ameaçou o general Koller de execução, não pela primeira vez. O fato de que a Luftwaffe tinha poucas aeronaves em funcionamento e ainda menos combustível de aviação não o preocupava. A raiva, estava convencido, dava-lhe inspiração. A tentativa dos soviéticos de cercar a cidade pelo norte expôs-lhes o flanco direito. Ele ordenaria um contra-ataque e os deixaria em frangalhos. Recordava-se de ter visto num mapa da situação o III Corpo SS Germanische, comandado pelo Obergruppenführer Felix Steiner, a noroeste de Eberswalde. Hitler recusou-se a aceitar que Heinrici [general Gotthardt H.] já alocara a maior parte de suas divisões para ajudar o Nono Exército. O corpo de Steiner, segundo o quartel-general do Grupo de Exércitos do Vístula, consistia apenas de 'três batalhões e alguns blindados'.

      Hitler, ausente da realidade, começou a falar do 'Destacamento do Exército Steiner', exagero grandioso demais até mesmo pelo seu próprio padrão. Afirmou que, de qualquer forma, poderia ser reforçado com todas as unidades do CI Corpo que havia recuado para o norte de Berlim. Pensou até na guarda pessoal da Luftwaffe de Göring, em Karinhall, mas ele já tinha partido. Cada soldado, marinheiro ou aviador que se conseguisse encontrar seria lançado à batalha e qualquer comandante que retivesse seus homens enfrentaria execução em cinco horas. Hitler já adotara como palavras divinas a observação de Frederich, o Grande: 'Quem lançar seu último batalhão na luta será o vencedor.' Isto intensificava sua fantasia de que o jogo impiedoso com a vida dos outros era a marca da grandeza.” p. 340 (destaque meu)


fonte: BEEVOR, Anthony. Berlim 1945: A Queda. Trad. Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. 

Rio de Janeiro: Record, 2005.




 

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Der Untergang / A Queda 2007









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