Berlim
1945 – A Derrocado do III
Reich
Cap.
20 (Falsas Esperanças)
“Enquanto
os exércitos soviéticos avançavam sobre Berlim, eram saudados por
uma 'Internacional real' de 'prisioneiros de guerra soviéticos,
franceses, britânicos, americanos e noruegueses', além de mulheres
e moças que tinham sido levadas para a Alemanha como escravas, todos
indo na direção contrária. O marechal Konev, que chegava a Berlim
pelo sul, ficou impressionado ao ver que caminhavam nos sulcos das
lagartas dos tanques, sabendo que pelo menos ali não haveria minas.
Grossman
[Vasili, escritor russo, correspondente de guerra], que vinha do
leste, também viu 'centenas de camponeses russos barbados com
mulheres e crianças'. Observou 'uma expressão de feroz desespero no
rosto daqueles 'tios' barbados e devotos velhinhos das aldeias. São
starosti
[líderes
das aldeias nomeados pelos alemães] e vilões da polícia que tinham
fugido até Berlim e agora não tinham opção além de serem
'libertados'.'
[…]
Embora
Hitler ainda não conseguisse aceitar totalmente a ideia de
transferir tropas da Frente ocidental para enfrentar o Exército
Vermelho, Keitel e Jodl reconheceram que agora não havia
alternativa. O Estado-maior de operações da Wehrmacht
emitiu as ordens necessárias. As suspeitas de Stalin [ditador
soviético], combinadas à política soviética de vingança,
tornaram-se a profecia que provocava sua própria realização.
Stalin
também estava preocupado com sua bête
noire,
a Polônia. Não tinha absolutamente nenhuma intenção de apoiar a
composição do governo provisório. No que lhe dizia respeito, a
questão era evidente por si só e os desejos do povo polonês não
contavam. 'A
União Soviética',
escreveu ele ao Presidente Truman em 24 de abril [de 1945], 'tem
o direito de esforçar-se para que exista na Polônia um governo
amigável.'
Isto, claro, significava completamente sob o controle soviético.
'Também
é necessário levar em conta o fato de que a Polônia tem fronteira
com a União Soviética, o que não se pode dizer da Grã-Bretanha e
dos Estados Unidos.'
Com
Berlim agora praticamente cercada e os Aliados ocidentais do lado de
fora, Stalin não via razão para ser condescendente.
Apesar de todas as acusações soviéticas anteriores contra a Força
Aérea dos EUA, não houve indício de desculpas quando dois aviões
americanos foram atacados e um deles destruído naquela tarde por
seis caças soviéticos.
Stalin
mantinha a pressão sobre seus dois marechais estimulando sua
rivalidade.
Desde a madrugada de 23 de abril, a fronteira entre a 1ª Frente
Bielo-Russa de Jukov [Zhukov, Marechal soviético] e a 1ª Frente
Ucraniana de Konev partia de Lübben, mas agora virava-se para o
norte até o centro de Berlim. O limite direito de Konev ia até a
Anhalter Bahnhof. O corpo blindado de Ribalko em Mariendorf, no canal
Teltow, estava exatamente cinco quilômetros ao sul deste limite.
Jukov só soube que o exército de Ribalko chegara a Berlim bem
tarde, em 23 de abril, quando um oficial de ligação do 1º Exército
Blindado de Guardas de Katukov, que vinha do leste, entrou em
contato. Jukov ficou apavorado.
Desde
que chegaram ao canal Teltow na noite de 22 de abril, os três corpos
de Ribalko tiveram um dia para preparar-se para um ataque total em
sua travessia. As margens de concreto do canal e os armazéns
defendidos do lado norte pareciam uma barreira formidável. E embora
os destacamentos da Volkssturm
[militares e civis, tanto velhos e jovens, recrutados para a defesa]
à sua frente não fossem oponentes à altura do 3º Exército
Blindado de Guarda, tinham recebido as 'barbatanas de colete' das 18ª
e 20ª Divisões Panzergrenadier.
As formações de artilharia de assalto tinham recebido ordem de
avançar dois dias antes, mas havia tamanho engarrafamento de
veículos na estrada de Zossen, incluindo carroças de suprimento
puxadas por cavalos, que o progresso foi lento. Se
a Luftwaffe
ainda possuísse alguma aeronave em condições de uso, a rota seria
um alvo perfeito.
A 48ª Divisão de Infantaria de Guardas de Lutchinski chegou a tempo
de preparar-se para ocupar cabeças-de-ponte do outro lado do canal e
a artilharia correu para suas posições. Não foi coisa fácil.
Quase 3.000 canhões e morteiros pesados precisariam ser posicionados
na noite de 23 de abril. Era um concentração de 650 peças por
quilômetro, incluindo obuseiros de 152 mm e 203 mm.
Às
6h20 de 24 de abril, o bombardeio começou no canal Teltow. Foi uma
concentração de fogo ainda mais maciça que na travessia do Neisse
ou do Vístula. Konev chegou ao posto de comando de Ribalko quando
estava quase terminado. Do telhado plano de um prédio de escritórios
de oito andares, um aglomerado de comandantes da 1ª Frente Ucraniana
observava a artilharia pesada demolir os prédios do outro lado do
canal e onda após onda de bombardeiros da aviação de apoio. A
infantaria começou a atravessar em embarcações de assalto
desmontáveis e barcos a remo de madeira. Às 7 horas da manhã os
primeiros batalhões de infantaria estavam do outro lado, ocupando
uma cabeça-de-ponte. Logo após o meio-dia os primeiros pontilhões
estavam em seu lugar e os blindados começaram a passar.” pp.
371-73 [destaques meus]
“Os
berlinenses agora referiam-se à sua cidade como
'Reichsscheiterhaufen'
– 'a pira mortuária do Reich'.
Os civis já sofriam baixas nos combates de rua e na limpeza das
casas. O capitão Ratenko, oficial originário de Tula do 2º
Exército Blindado de Guardas de Bogdanov, bateu à porta de um porão
em Reinickendorf, distrito no noroeste. Ninguém a abriu, e ele a
chutou. Houve uma rajada de submetralhadoras e ele foi morto. Os
soldados do 2º Exército Blindado de Guardas que estavam com ele
começaram a disparar pela porta e pelas janelas. Mataram o atirador,
aparentemente um jovem oficial da Wehrmacht
em roupas civis, mas também uma mulher e uma criança. 'O prédio
foi então cercado por nossos homens e incendiado', afirmava o
relatório.
A
SMERSH
[agência de contra-inteligência] mostrou interesse imediato pela
questão dos oficiais escondidos da Wehrmacht.
Criou um grupo de caça especial, com um informante que era membro do
Partido nazista desde 1927. ele prometeu encontrar-lhes oficiais, sem
dúvida em troca da própria vida. No total, pegou vinte, inclusive
um coronel. 'Outro oficial matou a esposa e depois cometeu suicídio
quando a SMERSH
bateu à sua porta', dizia o relatório.
[…]
Um
historiador observou que os soldados soviéticos deflagaram uma onda
de violência que passava muito depressa, mas o processo costumava
acontecer de novo assim que chegava uma nova unidade.
Em
24 de abril, o 3º Exército de Choque usou sua 5ª Divisão de
Artilharia de Ruptura num setor estreito onde os alemães vinham
resistindo duramente. Os canhões pesados destruíram dezessete
casas, matando 120 defensores. Os atacantes soviéticos afirmaram
que, em quatro daquelas casas, os alemães haviam pendurado bandeiras
brancas de rendição e depois atiraram de novo. Este tornou-se um
evento frequente no combate. Alguns soldados, em especial da
Volkssturm,
queriam render-se e, sub-repticiamente, abanavam um lenço branco,
mas elementos fanáticos continuavam a lutar.” pp. 376-77
[destaque meu]
fonte:
BEEVOR, Anthony. Berlim
1945: A Queda.
Trad. Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.
mais
info em
videos
filme
Der
Untergang / A Queda
2007
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