segunda-feira, 18 de maio de 2015

Batalha de Berlim - abril / maio 1945 / 3


 







Berlim 1945 – A Derrocado do III Reich


 


Cap. 20 (Falsas Esperanças)

 
      “Enquanto os exércitos soviéticos avançavam sobre Berlim, eram saudados por uma 'Internacional real' de 'prisioneiros de guerra soviéticos, franceses, britânicos, americanos e noruegueses', além de mulheres e moças que tinham sido levadas para a Alemanha como escravas, todos indo na direção contrária. O marechal Konev, que chegava a Berlim pelo sul, ficou impressionado ao ver que caminhavam nos sulcos das lagartas dos tanques, sabendo que pelo menos ali não haveria minas.

       Grossman [Vasili, escritor russo, correspondente de guerra], que vinha do leste, também viu 'centenas de camponeses russos barbados com mulheres e crianças'. Observou 'uma expressão de feroz desespero no rosto daqueles 'tios' barbados e devotos velhinhos das aldeias. São starosti [líderes das aldeias nomeados pelos alemães] e vilões da polícia que tinham fugido até Berlim e agora não tinham opção além de serem 'libertados'.'

[…]

       Embora Hitler ainda não conseguisse aceitar totalmente a ideia de transferir tropas da Frente ocidental para enfrentar o Exército Vermelho, Keitel e Jodl reconheceram que agora não havia alternativa. O Estado-maior de operações da Wehrmacht emitiu as ordens necessárias. As suspeitas de Stalin [ditador soviético], combinadas à política soviética de vingança, tornaram-se a profecia que provocava sua própria realização.

       Stalin também estava preocupado com sua bête noire, a Polônia. Não tinha absolutamente nenhuma intenção de apoiar a composição do governo provisório. No que lhe dizia respeito, a questão era evidente por si só e os desejos do povo polonês não contavam. 'A União Soviética', escreveu ele ao Presidente Truman em 24 de abril [de 1945], 'tem o direito de esforçar-se para que exista na Polônia um governo amigável.' Isto, claro, significava completamente sob o controle soviético. 'Também é necessário levar em conta o fato de que a Polônia tem fronteira com a União Soviética, o que não se pode dizer da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.' Com Berlim agora praticamente cercada e os Aliados ocidentais do lado de fora, Stalin não via razão para ser condescendente. Apesar de todas as acusações soviéticas anteriores contra a Força Aérea dos EUA, não houve indício de desculpas quando dois aviões americanos foram atacados e um deles destruído naquela tarde por seis caças soviéticos.

       Stalin mantinha a pressão sobre seus dois marechais estimulando sua rivalidade. Desde a madrugada de 23 de abril, a fronteira entre a 1ª Frente Bielo-Russa de Jukov [Zhukov, Marechal soviético] e a 1ª Frente Ucraniana de Konev partia de Lübben, mas agora virava-se para o norte até o centro de Berlim. O limite direito de Konev ia até a Anhalter Bahnhof. O corpo blindado de Ribalko em Mariendorf, no canal Teltow, estava exatamente cinco quilômetros ao sul deste limite. Jukov só soube que o exército de Ribalko chegara a Berlim bem tarde, em 23 de abril, quando um oficial de ligação do 1º Exército Blindado de Guardas de Katukov, que vinha do leste, entrou em contato. Jukov ficou apavorado.

       Desde que chegaram ao canal Teltow na noite de 22 de abril, os três corpos de Ribalko tiveram um dia para preparar-se para um ataque total em sua travessia. As margens de concreto do canal e os armazéns defendidos do lado norte pareciam uma barreira formidável. E embora os destacamentos da Volkssturm [militares e civis, tanto velhos e jovens, recrutados para a defesa] à sua frente não fossem oponentes à altura do 3º Exército Blindado de Guarda, tinham recebido as 'barbatanas de colete' das 18ª e 20ª Divisões Panzergrenadier. As formações de artilharia de assalto tinham recebido ordem de avançar dois dias antes, mas havia tamanho engarrafamento de veículos na estrada de Zossen, incluindo carroças de suprimento puxadas por cavalos, que o progresso foi lento. Se a Luftwaffe ainda possuísse alguma aeronave em condições de uso, a rota seria um alvo perfeito. A 48ª Divisão de Infantaria de Guardas de Lutchinski chegou a tempo de preparar-se para ocupar cabeças-de-ponte do outro lado do canal e a artilharia correu para suas posições. Não foi coisa fácil. Quase 3.000 canhões e morteiros pesados precisariam ser posicionados na noite de 23 de abril. Era um concentração de 650 peças por quilômetro, incluindo obuseiros de 152 mm e 203 mm.

       Às 6h20 de 24 de abril, o bombardeio começou no canal Teltow. Foi uma concentração de fogo ainda mais maciça que na travessia do Neisse ou do Vístula. Konev chegou ao posto de comando de Ribalko quando estava quase terminado. Do telhado plano de um prédio de escritórios de oito andares, um aglomerado de comandantes da 1ª Frente Ucraniana observava a artilharia pesada demolir os prédios do outro lado do canal e onda após onda de bombardeiros da aviação de apoio. A infantaria começou a atravessar em embarcações de assalto desmontáveis e barcos a remo de madeira. Às 7 horas da manhã os primeiros batalhões de infantaria estavam do outro lado, ocupando uma cabeça-de-ponte. Logo após o meio-dia os primeiros pontilhões estavam em seu lugar e os blindados começaram a passar.” pp. 371-73 [destaques meus]




 

       “Os berlinenses agora referiam-se à sua cidade como 'Reichsscheiterhaufen' – 'a pira mortuária do Reich'. Os civis já sofriam baixas nos combates de rua e na limpeza das casas. O capitão Ratenko, oficial originário de Tula do 2º Exército Blindado de Guardas de Bogdanov, bateu à porta de um porão em Reinickendorf, distrito no noroeste. Ninguém a abriu, e ele a chutou. Houve uma rajada de submetralhadoras e ele foi morto. Os soldados do 2º Exército Blindado de Guardas que estavam com ele começaram a disparar pela porta e pelas janelas. Mataram o atirador, aparentemente um jovem oficial da Wehrmacht em roupas civis, mas também uma mulher e uma criança. 'O prédio foi então cercado por nossos homens e incendiado', afirmava o relatório.

       A SMERSH [agência de contra-inteligência] mostrou interesse imediato pela questão dos oficiais escondidos da Wehrmacht. Criou um grupo de caça especial, com um informante que era membro do Partido nazista desde 1927. ele prometeu encontrar-lhes oficiais, sem dúvida em troca da própria vida. No total, pegou vinte, inclusive um coronel. 'Outro oficial matou a esposa e depois cometeu suicídio quando a SMERSH bateu à sua porta', dizia o relatório.

[…]
Um historiador observou que os soldados soviéticos deflagaram uma onda de violência que passava muito depressa, mas o processo costumava acontecer de novo assim que chegava uma nova unidade.

          Em 24 de abril, o 3º Exército de Choque usou sua 5ª Divisão de Artilharia de Ruptura num setor estreito onde os alemães vinham resistindo duramente. Os canhões pesados destruíram dezessete casas, matando 120 defensores. Os atacantes soviéticos afirmaram que, em quatro daquelas casas, os alemães haviam pendurado bandeiras brancas de rendição e depois atiraram de novo. Este tornou-se um evento frequente no combate. Alguns soldados, em especial da Volkssturm, queriam render-se e, sub-repticiamente, abanavam um lenço branco, mas elementos fanáticos continuavam a lutar.” pp. 376-77 [destaque meu]


fonte: BEEVOR, Anthony. Berlim 1945: A Queda. Trad. Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.


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Der Untergang / A Queda 2007








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