abr – mai 1945
Berlim sob bombardeio
A invasão russa-soviética arrasa a Alemanha. Avanço
do Exército Vermelho dispersa tropas alemãs, recupera territórios, domina
cidades inteiras. Massacre de civis, jovens e idosos, além de estupros de
mulheres, tanto jovens quanto idosas.
Cap. 18 (A Revoada dos faisões
dourados)
“Um
dos sinais da queda do fascismo foi o colapso dos serviços alemães de
propaganda. Em 21 de abril, a Agência de Notícias Transoceânica ficou em
silêncio, assim como a Reichssender Berlim. No dia seguinte, os
nacionalistas irlandeses pró-nazistas na Irland-Redaktion culparam os
britânicos e americanos por reduzirem a Europa a uma zona de influência
soviética. Foi sua penúltima transmissão. A emissora, em Nauen, foi capturada
dois dias depois.
Cada
vez mais berlinenses assumiam o risco de escutar a BBC e chegavam a
ousar discutir as notícias. Mas os cortes de energia criavam agora uma censura
mais eficaz das transmissões estrangeiras do que aquela jamais conseguida pelo
estado policial. Londres tinha pouca ideia da grande ofensiva soviética, mas o
anúncio de que o campo de concentração de Sachsenhausen-Oranienburg
tinha sido libertado logo ao norte de Berlim deu uma boa ideia do progresso do
Exército Vermelho e de sua intenção de cercar a cidade. A revelação dos
horrores ali encontrados foi também outro lembrete da vingança que Berlim
enfrentaria. Isto não impediu que a maioria dos berlinenses se convencesse de
que as histórias dos campos de concentração deviam ser propaganda inimiga.” p.
347
Ataque de nervos
“Hitler,
pelo contrário, já percebera então que a História era tudo o que lhe restava –
só que sua noção de História estava fatalmente dominada pelo desejo obsessivo
de imortalidade. Diversamente de Himmler [chefe das tropas SS], não
tentou mudar sua imagem com concessões. No mínimo, seu apego ao derramamento de
sangue e à destruição intensificou-se. Uma das principais razões de sua decisão
de ficar em Berlim era muito simples. A Queda do Berchtesgaden não soava
tão bem quanto a Queda de Berlim. Nem oferecia as mesmas imagens espetaculares
de monumentos esmagados e prédios em chamas.
[…]
Parece que, quando [Hitler] não estava nas conferências sobre a situação,
passava a maior parte de seus dias e noites no bunker sentado no quarto,
perdido em pensamentos, muitas vezes fitando o retrato de Frederico, o Grande.
Ele se tornara o seu ícone.
Durante
quase toda a manhã de 22 de abril, Hitler exigiu febrilmente notícias do ataque
de Steiner ao norte. Disse ao general Koller, chefe do estado-maior da Luftwaffe,
que enviasse aeronaves para ver se as tropas de Steiner já tinham começado a
deslocar-se. Entrou em contato com Himmler para pedir-lhe a mesma coisa. O Reichsführer
SS não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Ele e sua camaleônica
eminência, o Gruppenführer Walter Schellenberg, ainda estavam
preocupados com a ideia de contatos secretos com os aliados ocidentais através
do conde Bernadotte. Himmler deu apenas uma resposta cuidadosamente otimista, a
qual Hitler se agarrou como se fosse um fato.
Na conferência do meio-dia sobre a
situação, contudo, Hitler soube com certeza que Steiner não avançara. As forças
soviéticas também tinham rompido o anel de defesa perimetral ao norte da
cidade. Começou a gritar e berrar. Agora as SS o estavam traindo, assim como o
Exército. Sua raiva foi muito pior que qualquer uma das brigas com Guderian [general
comandante de tropas Panzer]. Acabou deixando-se cair numa poltrona,
exausto e choroso. Disse bem abertamente, pela primeira vez, que a guerra
estava perdida. Keitel, Jodl, Krebs e Burgdorf ficaram abalados. Hitler
prosseguiu dizendo que, como não podia morrer lutando por ser fraco demais,
simplesmente daria um tiro em si mesmo para evitar que caísse nas mãos do
inimigo. Tentaram convencê-lo a partir para Berchtesgaden, mas estava
claro que ele já se decidira. Ordenou a Keitel, Jodl e Bormann que partissem
para o sul, mas eles se recusaram. Quem mais quisesse poderia ir, disse-lhes,
mas ele ficaria em Berlim até o final. Queria que fosse feito um anúncio a
respeito.” pp. 348-349 (destaque meu)
Cap. 19 (A Cidade bombardeada)
“Em
23 de abril, a estação de rádio controlada pelos nazistas em Praga afirmou que
a decisão do Führer de ficar na capital do Reich dava 'à batalha
um significado europeu'. Na mesma manhã, a manchete do jornal do 3º Exército
de Choque dizia: 'Pátria, alegra-te!
Estamos nas ruas de Berlim!' O nacional-socialismo reivindicava uma causa
internacional, enquanto o comunismo internacional tornara-se
desavergonhadamente patriótico.
Para
os civis de Berlim, as causas ideológicas
não faziam mais muita diferença. A sobrevivência era o que contava sob o
bombardeio. O pior estava por vir. O general Kazakov trazia canhões de sítio de
6000 mm em lagartas especialmente largas pela linha que seguia para a Schlesicher
Bahnhof, a leste da cidade. Cada granada pesava meia tonelada.” pp. 355 (destaque meu)
“O 7º Departamento da 1ª Frente
Bielo-Russa lançou uma blitz de propaganda sobre Berlim, com folhetos
jogados de avião que diziam aos soldados alemães 'que não havia esperanças de
continuar lutando'. A prisão soviética era a única maneira de lhes salvar a
vida, que não valia a pena perder pelo governo fascista. Outros eram 'passes de
salvo-conduto' a serem mostrados aos soldados do Exército Vermelho na hora da
rendição. O departamento afirmou ter obtido sucesso porque 'quase 50% dos
alemães que se renderam em Berlim' tinham um folheto e o mostravam a seus
captores soviéticos. No total noventa e cinco folhetos diferentes, quase 50
milhões de cópias ao todo, foram lançados.
Outros, cerca de 1,66 milhão, foram distribuídos entre os civis alemães
e os soldados que eram enviados de volta cruzando as linhas. Durante a Operação
Berlim, 2.365 civis foram mandados de volta para infiltrar-se na cidade.
Além disso, 2.130 prisioneiros de guerra alemães foram mandados de volta, dos
quais 1.845 retornaram trazendo mais 8.340 prisioneiros. Esta tática foi
considerada um sucesso tamanho que o comandante do 3º Exército de Choque
ordenou a libertação em massa de prisioneiros de guerra alemães sob a
supervisão dos oficiais políticos.” pp. 358-359
“O
outro general alemão importante na batalha de Berlim a surgir desta vez foi o
general Helmuth Weidling, comandante do LVI Corpo Panzer. Weidling
parecia mais uma versão professoral de Erich von Stroheim, só que com cabelo.
Na
manhã de 23 de abril, Weidling ligou para o bunker do Führer para
fazer seu relatório. O general Krebs respondeu 'com manifesta frieza' e
informou-lhe que tinha sido condenado à morte. Demonstrando notável coragem
moral e física, ele apareceu em pessoa no bunker do Führer aquela
tarde. Hitler ficou visivelmente impressionado, tanto que decidiu que o homem
que quisera executar por covardia era o homem para comandar a defesa da capital
do Reich. Foi, como observou o coronel Refior, uma 'tragicomédia' típica
do regime.
[…]
A
defesa da cidade fora organizada em oito setores, designados pelas letras A a
H. Cada um era comandado por um general ou coronel, mas poucos deles tinham
alguma experiência na linha de frente. Dentro da linha de defesa perimetral, um
anel de defesa interna seguia os trilhos circulares da ferrovia urbana da S-Bahn.
[…]
Weidling
descobriu que esperavam que defendesse Berlim de 1,5 milhão de soldados
soviéticos com cerca de 45.000 soldados da Wehrmacht e das SS,
incluindo seu próprio Corpo, e pouco mais de 40.000 membros da Volksstrum.
Quase todos os sessenta tanques na cidade vinham de suas próprias formações.
Também supunha-se que houvesse um batalhão Panzerjagd, equipado com Volkswagens,
cada um deles com trilhos para seis foguetes antitanque, mas ninguém viu nem
traço deles. No distrito central do governo, o Brigadeführer Mohnke
comandava mais de 2.000 homens de sua base na Chancelaria do Reich.” pp.
361-363 [trechos]
fonte: BEEVOR, Anthony. Berlim 1945: A Queda.
Trad. Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.
mais info em
videos
filme
Der Untergang / A Queda 2007
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