segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Relações do Papado com o Nazi-Fascismo / c3





Relações do Papado com o Nazismo – continuação 3


fonte: CORNWELL, John. O Papa de HitlerA História Secreta de Pio XII.

Após a encíclica e a Noite dos Cristais

Após a encíclica Mit brennender Sorge [1937] o clero católico alemã manteve um período de críticas e resistências, mas acabou por se silenciar – pelo menos publicamente – pois acreditavam que manter a submissão era o 'preço da sobrevivência' e que melhor manter os cultos e organizações católicas do que enfrentar o totalitarismo nazista. O regime hitlerista chegara a se intrometer em assuntos de ordem religiosa – até criando um órgão governamental [Ministério de Assuntos Religiosos] para tanto, em contradição com a concordata .

Não houve protestos claros do Vaticano ou da hierarquia alemã depois da Kristallnacht [Noite dos Cristais, 09 de novembro de 1938]. E, no entanto, Pacelli reivindicara para si mesmo e para a Santa Sé uma posição de elevada coragem moral, no início do ano, quando dissera à multidão de fiéis no Congresso Eucarístico, em Budapeste, assim como para o mundo em geral: […]

A política de Pacelli, como já ressaltamos, era de silêncio público e indiferença particular na questão judaica. Como a correspondência entre a hierarquia alemã e o gabinete de Pacelli demonstrou em inúmeras ocasiões, a atitude era a seguinte: os judeus devem cuidar de si mesmos. Contudo, há indicações de que Pio XI começou a assumir uma posição mais simpática, embora restrita, sobre a terrível situação dos judeus, à medida que os acontecimentos se sucederam.” p. 208


O que tornava extremamente difícil o protesto público dos católicos, num nível local, como esta narrativa tem reiterado, era a política de supremacia papal centralizadora, que enfraqueceu o catolicismo político ao longo de duas décadas. Durante um período crítico nas décadas de 1920 e 1930, quando os partidos católicos – o Partido popular, na Itália, e o Partido do Centro na Alemanha – eram de fato a única opção para o eleitorado do centro democrata cristão, o vaticano preferiu repudiá-los, apoiada pela Igreja 9como ocorreu com o Solidariedade, na Polônia, nas décadas de 1970 e 1980), não podia (pois) havia uma resistência viável e eficaz.

A imensa tragédia da abdicação do catolicismo político pode ser vislumbrada pela consideração de dois exemplos de protesto católico, um antes e outro durante a guerra: as reações à retirada dos crucifixos, em 1936, e ao programa de 'eutanásia', em 1941. Se esses protestos fossem repetidos e se estendessem numa multiplicidade de exemplos locais por toda a Alemanha, de 1933 em diante, a história do regime nazista poderia ter seguido por um curso diferente. Se os católicos protestassem, em termos mais específicos, contra a Kristallnacht (Noite dos Cristais) e o crescimento do anti-semitismo, o destino dos judeus na Alemanha nazista e por toda a Europa poderia ser diferente. Esta foi a conclusão de pelo menos três eminentes historiadores do período: Nathan Stoltzfus, J.P. Stern e Guenter Lewy. 'Parece acima e além de qualquer dúvida que se as igrejas se opusessem à matança e à perseguição dos judeus, como se opuseram à execução dos que tinham insanidade e doenças congênitas, não teria havido a Solução final', escreve Stern.” (pp. 217-18)

A morte do Papa Pio XI – que se apresentava declaradamente contra o racismo e o totalitarismo, principalmente o nazismo – foi motivo de alegria para os ditadores. Tanto Mussolini quanto Hitler tinha agora um 'velho amigo' para ousarem mais negociações para garantir o poder na Europa. Pio XI considerava os líderes ingleses e franceses muito fracos e lentos para deterem a maré fascista – ainda mais depois da vergonha de Munique, quando o destino trágico da Tchecoslováquia foi selado.

O conclave de 1º – 2 de março de 1939, depois da morte de Pio XI, a 10 de fevereiro, foi um evento de crítico significado internacional numa época de conflito iminente entre as grandes potências. Pio XI acabara falando abertamente contra o regime na Alemanha, com sua encíclica Mit brennender Sorge, em 1937. além disso, seu relacionamento com a Itália fascista chegara ao máximo de deterioração por ocasião de sua morte. Apesar disso, o Tratado de Latrão e a Concordata do Reich ainda persistiam. Um novo papa, se fosse pró-Hitler e pŕo-Mussolini, poderia consolidar o eixo Roma-Berlim dos ditadores, proporcionando-lhes um estímulo de apoio moral aos olhos do mundo. Por outro lado, ele poderia permanecer neutro, um 'homem de oração', um papa pastoral que se recusasse a falar por qualquer lado; ou poderia se pôr do lados das democracias e encorajar a opinião pública americana a apoiar a França e a Inglaterra no conflito iminente.” (p. 226)

Quando Pacelli assumiu o trono do Vaticano com o título de Pio XII, ele manteve a aprovação ao Herr Hitler, ao qual enviou carta, com o intuito de 'manter os vínculos diplomáticos'. É de se pensar se Pio XII aprovava Hitler ou temia alguma retaliação do Führer. “Desde o início de seu pontificado, portanto, que o tratamento dispensado por Pacelli a Hitler ultrapassava a cortesia da diplomacia. Seus bispos alemães seguiram a deixa. Sua carta excepcionalmente cordial para o 'ilustre Hitler' cruzou com a chegada dos 'cumprimentos mais efusivos do Führer e seu governo'.” (pp. 230-31)


No momento mesmo em que a multidão se concentrava diante da Basílica de São Pedro, 40 divisões alemãs haviam se mobilizado e chegavam informações sobre movimentação de tropas da Wehrmacht na fronteira tcheca, preparando-se para o avanço até Praga.” (p. 232)

Ao contemplar as forças poderosas que se concentravam para a guerra, Pacelli podia invocar a lealdade e devoção de meio bilhão de almas – por exemplo, metade da população do novo Grance Reich de Hitler era de católicos, inclusive um quarto da SS - e isto numa ocasião em que bispos, padres, religiosos e fieis tinham uma unidade de disciplina sem precedentes. Pacelli não tinha exércitos para mobilizar, mas meio século de crescente autoridade papal centralizadora lhe proporcionavam uma extraordinária influência sobre os corações e mentes dos fieis católicos. O papa, por sua própria avaliação, era o supremo árbitro dos valores morais no mundo, em consequência, suas responsabilidades eram ainda mais excepcionais. Com a instituição do papado, com Pacelli, o homem que personificava esta instituição, enfrentariam os desafios à frente, os mais extraordinários desafios na longa história da Igreja?” (p. 237)


fonte: CORNWELL, John. O Papa de HitlerA História Secreta de Pio XII.



mais info


para a cerimônia de coroação de Pio XII




Seleção / comentários : LdeM


 

Um comentário:

  1. Leia mais sobre as relações nazi-vaticanas em
    http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2012/12/515000.shtml

    http://prod.midiaindependente.org/pt/blue//2012/10/513635.shtml

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