Relações
do Papado com o
Nazismo – continuação 3
fonte:
CORNWELL, John. O Papa de
Hitler – A História
Secreta de Pio XII.
Após
a encíclica e a Noite dos Cristais
Após
a encíclica Mit brennender Sorge
[1937] o clero católico alemã manteve um período de críticas e
resistências, mas acabou por se silenciar – pelo menos
publicamente – pois acreditavam que manter a submissão era o
'preço da sobrevivência' e que melhor manter os cultos e
organizações católicas do que enfrentar o totalitarismo nazista. O
regime hitlerista chegara a se intrometer em assuntos de ordem
religiosa – até criando um órgão governamental [Ministério de
Assuntos Religiosos] para tanto, em contradição com a concordata .
“Não
houve protestos claros do Vaticano ou da hierarquia alemã depois da
Kristallnacht [Noite dos Cristais, 09 de novembro de 1938]. E,
no entanto, Pacelli reivindicara para si mesmo e para a Santa Sé uma
posição de elevada coragem moral, no início do ano, quando dissera
à multidão de fiéis no Congresso Eucarístico, em Budapeste, assim
como para o mundo em geral: […]
A
política de Pacelli, como já ressaltamos, era de silêncio público
e indiferença particular na questão judaica. Como a correspondência
entre a hierarquia alemã e o gabinete de Pacelli demonstrou em
inúmeras ocasiões, a atitude era a seguinte: os judeus devem cuidar
de si mesmos. Contudo, há indicações de que Pio XI começou a
assumir uma posição mais simpática, embora restrita, sobre a
terrível situação dos judeus, à medida que os acontecimentos se
sucederam.” p. 208
“O
que tornava extremamente difícil o protesto público dos católicos,
num nível local, como esta narrativa tem reiterado, era a política
de supremacia papal centralizadora, que enfraqueceu o catolicismo
político ao longo de duas décadas. Durante um período crítico nas
décadas de 1920 e 1930, quando os partidos católicos – o Partido
popular, na Itália, e o Partido do Centro na Alemanha – eram de
fato a única opção para o eleitorado do centro democrata cristão,
o vaticano preferiu repudiá-los, apoiada pela Igreja 9como ocorreu
com o Solidariedade, na Polônia, nas décadas de 1970 e 1980), não
podia (pois) havia uma resistência viável e eficaz.
A
imensa tragédia da abdicação do catolicismo político pode ser
vislumbrada pela consideração de dois exemplos de protesto
católico, um antes e outro durante a guerra: as reações à
retirada dos crucifixos, em 1936, e ao programa de 'eutanásia', em
1941. Se esses protestos fossem repetidos e se estendessem numa
multiplicidade de exemplos locais por toda a Alemanha, de 1933 em
diante, a história do regime nazista poderia ter seguido por um
curso diferente. Se os católicos protestassem, em termos mais
específicos, contra a Kristallnacht (Noite dos Cristais) e o
crescimento do anti-semitismo, o destino dos judeus na Alemanha
nazista e por toda a Europa poderia ser diferente. Esta foi a
conclusão de pelo menos três eminentes historiadores do período:
Nathan Stoltzfus, J.P. Stern e Guenter Lewy. 'Parece acima e além de
qualquer dúvida que se as igrejas se opusessem à matança e à
perseguição dos judeus, como se opuseram à execução dos que
tinham insanidade e doenças congênitas, não teria havido a Solução
final', escreve Stern.” (pp. 217-18)
A
morte do Papa Pio XI – que se apresentava declaradamente contra o
racismo e o totalitarismo, principalmente o nazismo – foi motivo de
alegria para os ditadores. Tanto Mussolini quanto Hitler tinha agora
um 'velho amigo' para ousarem mais negociações para garantir o
poder na Europa. Pio XI considerava os líderes ingleses e franceses
muito fracos e lentos para deterem a maré fascista – ainda mais
depois da vergonha de Munique, quando o destino trágico da
Tchecoslováquia foi selado.
“O
conclave de 1º – 2 de março de 1939, depois da morte de Pio XI, a
10 de fevereiro, foi um evento de crítico significado internacional
numa época de conflito iminente entre as grandes potências. Pio XI
acabara falando abertamente contra o regime na Alemanha, com sua
encíclica Mit brennender Sorge,
em 1937. além disso, seu relacionamento com a Itália fascista
chegara ao máximo de deterioração por ocasião de sua morte.
Apesar disso, o Tratado de Latrão e a Concordata do Reich
ainda persistiam. Um novo papa, se fosse pró-Hitler e pŕo-Mussolini,
poderia consolidar o eixo Roma-Berlim dos ditadores,
proporcionando-lhes um estímulo de apoio moral aos olhos do mundo.
Por outro lado, ele poderia permanecer neutro, um 'homem de oração',
um papa pastoral que se recusasse a falar por qualquer lado; ou
poderia se pôr do lados das democracias e encorajar a opinião
pública americana a apoiar a França e a Inglaterra no conflito
iminente.” (p. 226)
Quando
Pacelli assumiu o trono do Vaticano com o título de Pio XII, ele
manteve a aprovação ao Herr Hitler, ao qual enviou carta,
com o intuito de 'manter os vínculos diplomáticos'. É de se pensar
se Pio XII aprovava Hitler ou temia alguma retaliação do Führer.
“Desde o início de seu pontificado, portanto, que o tratamento
dispensado por Pacelli a Hitler ultrapassava a cortesia da
diplomacia. Seus bispos alemães seguiram a deixa. Sua carta
excepcionalmente cordial para o 'ilustre Hitler' cruzou com a chegada
dos 'cumprimentos mais efusivos do Führer e seu governo'.”
(pp. 230-31)
“No
momento mesmo em que a multidão se concentrava diante da Basílica
de São Pedro, 40 divisões alemãs haviam se mobilizado e chegavam
informações sobre movimentação de tropas da Wehrmacht na
fronteira tcheca, preparando-se para o avanço até Praga.” (p.
232)
“Ao
contemplar as forças poderosas que se concentravam para a guerra,
Pacelli podia invocar a lealdade e devoção de meio bilhão de almas
– por exemplo, metade da população do novo Grance Reich de
Hitler era de católicos, inclusive um quarto da SS - e isto numa
ocasião em que bispos, padres, religiosos e fieis tinham uma unidade
de disciplina sem precedentes. Pacelli não tinha exércitos para
mobilizar, mas meio século de crescente autoridade papal
centralizadora lhe proporcionavam uma extraordinária influência
sobre os corações e mentes dos fieis católicos. O papa, por sua
própria avaliação, era o supremo árbitro dos valores morais no
mundo, em consequência, suas responsabilidades eram ainda mais
excepcionais. Com a instituição do papado, com Pacelli, o homem que
personificava esta instituição, enfrentariam os desafios à frente,
os mais extraordinários desafios na longa história da Igreja?”
(p. 237)
fonte:
CORNWELL, John. O Papa de
Hitler – A História
Secreta de Pio XII.
mais info
para
a cerimônia de coroação de Pio XII
Seleção
/ comentários : LdeM
Leia mais sobre as relações nazi-vaticanas em
ResponderExcluirhttp://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2012/12/515000.shtml
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue//2012/10/513635.shtml