quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A Retirada do Afrika Korps - 1942-1943

 


A Retirada do Afrika Korps

Após a derrota na Segunda Batalha de El Alamein

1942-1943

Rommel [General alemão] não tinha dúvidas sobre a inevitabilidade da retirada para a Linha Mareth, onde esta fechava os caminhos de acesso à Tunísia pelo sul, pois era evidente que Montgomery [General britânico] só para acumular suprimentos suficientes par leva-lo até Tripoli. Em Mareth, com forças intactas, Rommel tinha possibilidade de realizar uma defesa prolongada, embora entre aquele local e Agheila, certas posições talvez pudessem oferecer tréguas temporárias. Quanto ao AK [Afrika Korps], as confabulações havidas entre seu comandante e os Comandos Superiores não foram reveladas, embora os boatos de que recursos estavam sendo despejados na Tunísia provocassem comentários sardônicos. Tivessem eles sabido que Hitler e Mussolini haviam decidido defender El Agheila por motivos puramente políticos, sem considerar o inevitável sacrifício do AK, e sua reação, sem dúvida, teria sido diferente.

Acontece que Rommel ludibriou os políticos, à perigosa moda antiga e no último minuto. A 11 de dezembro, o 8º Exército avançou para Mersa Brega enviou poderosa força móvel para contornar o flanco do deserto – sua meta era o Arco de Mármore (Marble Arch), na retaguarda do AK. As lentas divisões de infantaria não-motorizadas italianas já haviam sido mandadas de volta (a despeito da ordem de imobilidade dada pelos ditadores) de modo que a defesa era formada apenas de forças móveis. No devido tempo, o reconhecimento aéreo comunicou a aproximação do golpe na direção do Arco de mármore, o sinal, independente de ordens contrárias, para o AK, duas divisões blindadas italianas e a 90ª Ligeira se movimentarem novamente, dirigindo-se para Buerat.

A jornada foi extraordinária. Independente das exigências táticas, as formações do Eixo que recuavam tinham de calcular todos os movimentos em relação a cada litro de gasolina. As paradas eram mais condicionadas pela escassez de combustível do que por necessidade tática, embora muitas vezes tivesse sido melhor recuar ou contra-atacar mais cedo, para aliviar parte da terrível crise. Por conseguinte, o perigo aumentava a cada atraso verificado nas partidas, e a coisa começava a ficar dispendiosa em homens e máquinas, na corrida de último minuto para escapar às forças blindadas e canhões britânicos que se avolumavam, vindos do deserto aberto para bloquear os desfiladeiros na retaguarda. O bombardeio incessante ameaçava fazer cair a confusão sobre os fugitivos. O fato de terem chegado mais ou menos em ordem a Buerat, enquanto os britânicos ‘limpavam’ um bolsão vazio perto de Nofilia, era tanto resultado de sorte e nervos fortes como também da organização adequada.

O futuro do AK agora dependia da capacidade de Rommel de evitar as mortíferas ordens de imobilidade.

A 21ª Panzer, já guardando o flanco sul em Buerat, reuniu-se a 15ª Panzer – marcando o reagrupamento temporário do AK – pois finalmente o Alto-Comando chegara à conclusão de que não era mais possível defender a Tripolitânia. Ficou acordado que a partida do grupo se realizaria segundo a rapidez do avanço de Montgomery.

Não é provável que a soldadesca do AK estivesse no conhecimento da ação diplomática de retaguarda que seu comandante travava contra a intransigência do Alto-Comando, enquanto eles defendiam essa retaguarda aos ataques dos britânicos. Quando viam Rommel, a sua atitude não deixava transparecer senão confiança. Além do mais, as dificuldades que vinham enfrentando de modo algum afetavam o prestígio do comandante, porque normalmente ele os safava e os encorajava, fazendo-os observar que só raramente os britânicos os seguiam. Agora, diante das novidades vindas da Tunísia, muitos dos soldados em Buerat partiram imediatamente para ocupar as defesas próximo de Mareth. Portanto, a marcha à ré dos italianos na direção de Tarhuna e a retirada da 21ª Panzer, a 13 de janeiro, para Gabes, militarmente faziam sentido – mais ainda porque os primeiros indícios de um ataque anglo-americano contra Mareth, vindo do norte, já tinham sido observados.

A redução do AK na Tripolitânia demonstrou, melhor do que qualquer outra coisa, que Rommel abandonara todas as operações ofensivas ali: assim, quando o 8º Exército reiniciou seu avanço, a 15 de janeiro, foi para ser envolvido num mar de minas colocadas por um inimigo que atirava e corria, e por um AK formado da 15ª Panzer (com apenas 36 tanques), a 90ª Ligeira, a 164ª Divisão e a Brigada Ramcke. Cada vez mais rápida, a retirada prosseguia, com uma ligeira pausa em Tarhuna e sem qualquer parada em Trípoli. Não obstante, o progresso britânico demonstrava o cauteloso respeito ao ferrão da cauda do AK. O avanço se fazia com cautela e por etapas, sempre tenso, à espera da resposta que, como acontecera em Buerat, podia destruir repentinamente doze tanques, com perda de apenas duas máquinas alemãs.

A 22 de janeiro, o AK despediu-se de Trípoli, dirigindo-se para a Tunísia e para a Linha Mareth, esperançoso de ali encontrar meios para montar razoável defesa, uma vez que o extenuante esforço Aliado no norte da Tunísia, contra os reforços recebidos pelos germânicos, diminuía já a força de seus golpes. Teoricamente, a Linha Mareth, construída pelos franceses, contra os italianos, antes da guerra, e apoiada em obstáculos profundos, com um flanco sul supostamente incontornável, prometia ser uma posição sólida. O melhor de tudo é que ela oferecia uma possibilidade de ser defendida com infantaria, enquanto as tropas móveis descansavam e se preparavam para operações ofensivas.


Para Rommel, porém, a velha posição francesa parecia mal situada e altamente vulnerável ao flanqueio. Preferia algo mais forte, mais ao norte e alinhado com Wadi Akarit. mas seu prestígio pessoal fora abalado, e a saúde começava a declinar. na Alemanha, seus superiores não o perdoavam por haver descumprido a ordem de não recuar. a 26 de janeiro, ele soube que seria substituído por um italiano, o General messe. sua preocupação era para com aqueles que por tanto tempo o seguiriam. "Eles me eram muito caros”, escreveu.”

pp. 123, 126-27


fonte: MACKSEY, Kenneth. Afrika Korps - Rommel no deserto. Rio de Janeiro: Renes, 1974.


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seleção : LdeM

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