segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Conferência de Casablanca - janeiro 1943




Conferência de Casablanca
14 – 24 janeiro 1943

era uma felicidade o fato de estar próxima a realização de uma conferência de cúpula, considerada indispensável não só para unificar a estratégia anglo-americana no ocidente, mas igualmente indispensável para a elaboração de uma doutrina comum no oriente."


"Roosevelt [presidente dos Estados Unidos da América] tinha plena consciência desta necessidade. Na verdade, a reunião de Casablanca originou-se de um telegrama por ele endereçado a Churchill [ primeiro-ministro britânico] em 26 de novembro. Dizia: “Acho que devemos convocar uma conferência militar sobre estratégia entre a Grã-Bretanha, a União Soviética e os Estados Unidos, tão logo expulsemos os alemães da Tunísia”. Rápida e sabiamente Churchill alçou a ideia para um escalão mais elevado, recomendando não apenas a reunião entre os estados-maiores, mas sim entre os lideres: “Em Moscou Stalin [ditador soviético] deu-me a entender que gostaria de encontrar-se com o senhor e comigo em algum lugar, neste inverno; mencionou a Islândia.” Entretanto, no momento Stalin não pensava em afastar-se da União Soviética, pois a batalha de Stalingrado atravessava uma fase crítica; como consequência, procedeu-se a uma reunião anglo-americana com a participação do Primeiro-Ministro, do Presidente e dos Chefes do Estado-Maior Conjunto, em local que Churchill descrevera para Roosevelt como sendo “um lugar seguro e agradável, logo ao norte de Casablanca”. E com sua queda especial para batizar as coisas, propôs que o codinome da reunião fosse Symbol – escolha bem mais acertada do que o codinome que, por motivos de segurança, o Presidente selecionara para si próprio: “Almirante Q”.
[...]
Foram necessários cinco dias e meio para que surgisse uma área de concordância. A abertura oficial da conferência deu-se no dia 13 de janeiro. No dia 17 o diário de Alanbrooke [general britânico] registrava: “Um dia terrível. Estamos mais longe do que nunca para chegar a um acordo”. E no dia 18: “De 10h30 min às 13 horas uma reunião muito agitada dos Chefes do Estado-Maior Conjunto; parece que não fizemos nenhum progresso”. Por trás da discussão havia temor... temor justificável, de parte a parte. Os meses controvertidos de 1942 haviam confirmado na cabeça dos americanos a suspeita de que não só o interesse dos ingleses concentrava-se no ocidente, isto é, revelavam pouco interesse pelo oriente, como também que não continuariam a compartilhar da luta contra o Japão, depois de derrotada a Alemanha. Por sua vez os ingleses achavam que os líderes políticos e militares dos Estados Unidos já estavam com a atenção mais voltada para o Pacífico do que para a Europa, e que esta tendência poderia se tornar irreversível. Cada lado dispunha de indícios suficientes para alimentar os respectivos temores.


[...]


A exposição de Churchill em “A Segunda Guerra Mundial” a respeito de Casablanca é parcial e superficial; errou visivelmente ao escrever que “as divergências não decorriam da diferença de nacionalidades, pois restringiam-se principalmente aos Chefes do Estado-Maior Conjunto e aos planejadores”. As divergências surgiram por causa da diferença entre os interesses nacionais de cada país e suas respectivas posições veiculados pelos próprios Chefes de Estado-Maior em antagonismo ostensivo. De qualquer maneira, às 17h30 min daquela tarde Churchill encontrou-se com os Chefes do Estado-Maior Conjunto e dirigiram-se todos para a vila ocupada por Roosevelt; Alanbrooke foi solicitado a comunicar o resultado das discussões. “Foi um momento difícil. Mal acabáramos de conseguir que os Chefes de Estado-Maior americanos concordassem conosco. A explicação saiu boa, foi aprovada pelos americanos, pelo Presidente, pelo Primeiro-Ministro e abençoada por todos...”
[...]


No Extremo Oriente a reconquista da Birmânia estava prevista para 1943, juntamente com avanços no Pacífico dentro da escala desejada pelos ingleses. Além disto, constava do memorando a condição fundamental de que “na opinião dos Chefes de Estado-Maior Conjunto tais operações devem ser conduzidas dentro de limites que não venham a prejudicar a capacidade das Nações Unidas de aproveitar qualquer oportunidade que surja para impor à Alemanha uma derrota decisiva em 1943”. Ao chegar a este acordo a conferência de Casablanca fez a estratégia anglo-americana retornar às bases que haviam sido fixadas, pela primeira vez, na reunião de Washington, logo depois de Pearl Harbor.


É importante observar que não há no documento nenhuma referência à “rendição incondicional”. A primeira vez que o mundo ouviu esta expressão, como que caracterizado um objetivo de guerra anglo-americano, foi em uma entrevista à imprensa no dia 24 de janeiro, quando Roosevelt observou:


Alguns ingleses conhecem a velha história – tivemos um general chamado U.S. Grant. Seu nome era Ulysses Simpson Grant, mas quando eu e o Primeiro-Ministro éramos jovens este general também foi citado como “Unconditional Surrender” (rendição incondicional) Grant. A eliminação da máquina bélica alemã, japonesa e italiana significa a rendição incondicional da Alemanha, Japão ou Itália. O que representa também uma garantia razoável de paz mundial futura. Não significa a destruição da população da Alemanha, Japão ou Itália, mas representa a destruição da filosofia desses países, baseada na conquista e domínio de outros povos.
Esta reunião poderia ser denominada de reunião da ‘rendição incondicional’.”


Churchill endossou a declaração de Roosevelt no ato. Na obra “A Segunda Guerra Mundial” seu relato sobre as origens da declaração ficou contrafeito e evasivo. Depois da guerra, sua declaração perante a Câmara dos Comuns de que “de forma alguma a expressão ‘rendição incondicional’ foi submetida à minha apreciação antes de ser pronunciada pelo nosso grande amigo, nosso ilustre e poderoso aliado Presidente Roosevelt” pode ser atribuída seja a um lapso de memória de um homem idoso, seja a uma imprecisão semântica. Porque os fatos são claros e estão documentados. Muito antes de Casablanca, em uma reunião com os seus Chefes de Estado-Maior no dia 7 de janeiro, o próprio Roosevelt declarara que pretendia apoiar a rendição incondicional como uma prioridade dos aliados.”
pp. 207-209, 212-215


Fonte: LEWIN, Ronald. Churchill – o Lorde da Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1979.


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seleção: LdeM

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