quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Avanços Científicos - Projeto Manhattan








Avanços científicos


Projeto Manhattan


Armas nucleares


À medida que as cláusulas [do Tratado ] de Versalhes eram rompidas uma a uma, e a Alemanha se rearmava, poderosas tradições de engenhosidade e inventividade deram ao novo Reich visíveis vantagens em aplicações militares, despertando os conhecidos espectros dos tempos de guerra, da ciência como caixa de Pandora e pacto faustiano. Na década de 1930 e durante toda a guerra, os cientistas e os engenheiros alemães criaram uma impressionante lista de inovações; fusos de proximidade, visão noturna por infravermelho, motores a jato, radar, codificação mecânica, combustíveis sintéticos, mísseis balísticos, submarinos auxiliados por respiradouros snorkel e peróxido de hidrogênio. De 1933 até o fim da guerra, cientistas trabalhando sob controle militar começaram a pesquisar a reação nuclear em cadeia, na perspectiva de armar Hitler com uma bomba atômica. Na maioria dessas atividades, e especialmente na pesquisa de mísseis, criação e produção, métodos racionais de alta tecnologia, com recursos exorbitantes, foram empregados para fins irracionais. Em 1943, porém, e após sete anos de suspensão seletiva do império da lei, poucas áreas da ciência, da tecnologia, da medicina e da indústria não haviam sido manchadas por brutalidade, trabalho escravo, tortura, experiências com seres humanos sem consentimento e assassinato brutal.” p. 23


Hitler e a Bomba
À medida que os pensamentos de Hitler se voltavam para a conquista da Europa, porém, sua necessidade de compreender o poder e o escopo da ciência e da tecnologia para fins bélicos assumiu uma urgência prática. Ele se interessava muitíssimo por armas, e compreendia logo como funcionava um equipamento. Comentou-se muitas vezes que ele podia reformular uma longa e complexa explicação técnica num resumo conciso e de alta precisão. [Albert] Speer escreveu que Hitler ‘era antimoderno nas decisões sobre armamentos’. Opunha-se à metralhadora porque, segundo Speer, ‘tornava os soldados covardes e o combate de perto impossível’ [fonte: Speer, A , The Slave State: Heinrich Himmler’s Masterplan for SS Supremacy, trad. Joachim Neugroschel (Londres, 1981), p. 83]. Era contra a propulsão a jato, por achar que a extrema velocidade era um obstáculo ao combate aéreo, e desconfiava das tentativas alemãs de criar uma bomba atômica, chamando tais esforços, segundo Speer, de ‘uma desova da pseudociência judia’.


A 23 de junho de 1942, Albert Speer discutiu a bomba atômica com Hitler. Escreveu em suas memórias que a capacidade intelectual do Führer era obviamente forçada pela ideia, e que ‘ele era incapaz de compreender a natureza revolucionária da física nuclear’. Speer observou que, de 2.200 pontos levantados em suas conferências com Hitler, a fissão nuclear surgiu apenas uma vez, e mesmo então só foi mencionada brevemente. Parecia que Hitler adquirira uma visão embaralhada da ciência atômica do seu fotógrafo, Heinrich Hoffmann, que por sua vez a pegara de um ministro que patrocinava um desgarrado projeto de pesquisa atômica para o Correio. Speer, enquanto isso, informava que o diretor do programa de pesquisa nuclear oficial, Werner Heisenberg, fora incapaz de confirmar se se podia controlar a reação em cadeia ‘com absoluta certeza’. Houvera suspeitas entre os cientistas de que a reação em cadeia, liberação em massa de energia em material físsil pela divisão instantânea de sua estrutura atômica, uma vez começada, prosseguiria cindindo a matéria de todo o planeta. Speer escreveu que, em consequência, Hitler ‘visivelmente não estava contente com a possibilidade de que a terra sob seu domínio pudesse transformar-se numa estrela fulgurante’. O Führer, continuou Speer, gostava de pilheriar com os cientistas dizendo que ‘a vontade provinciana deles de desvendar todos os segredos sob o céu podia um dia atear fogo ao globo’.


Contudo, quando invadiu a Polônia em setembro de 1939, havia físicos na Alemanha que sabiam pelo menos tanto quanto os anglo-americanos, se não mais do que eles, e que organizavam programas de pesquisas para utilizar o poder do átomo como arma. Na verdade, fora um alemão, Otto Hahn, em Berlim, auxiliado por Fritz Strassmann, com a crucial contribuição de Lise Meitner e seu sobrinho Otto Frisch, quem descobrira a fissão nuclear, ou divisão do átomo, em dezembro do ano anterior, embora isso provavelmente tivesse sido conseguido primeiro, sem que ele próprio o soubesse, por Enrico Fermi na Itália.


Ao mesmo tempo, em Peenemünde, na costa báltica, cerca de 300 quilômetros ao norte de Berlim, o exército alemão havia reunido centenas de cientistas e engenheiros, com instalações de pesquisa e desenvolvimento sem precedentes, para criar e produzir em massa foguetes supersônicos, a fim de possibilitar que Hitler atingisse os inimigos a centenas de quilômetros de distância. No último ano da guerra, os cientistas traçavam planos para impulsionar foguetes que levassem cargas úteis até a 600 quilômetros de distância e mesmo mais. Houvesse sido o Terceiro Reich o primeiro a construir um artefato explosivo nuclear, ou mesmo uma ‘bomba suja’ composta de explosivo convencional e materiais radiativos, é provável que seu primeiro emprego contra um inimigo envolvesse o transporte por mísseis teleguiados de longo alcance, e a história teria sido bem diferente. Pouca dúvida pode haver de que Hitler haveria usado a bomba atômica se tivesse uma. Albert Speer lembra da reação dele à cena final de um cinejornal no outono de 1939. Em montagem, um avião mergulha para as Ilhas Britânicas: ‘Seguia-se um clarão, e a ilha voava em pedaços’. Speer escreveu que o entusiasmo de Hitler não teve limites. Do mesmo modo, quando Walter Dornberger, chefe do projeto alemão de criação de foguetes, falou com Hitler sobre o potencial dos mísseis balísticos no verão de 1943, ‘um brilho estranho, fanático’, surgiu nos olhos do Führer. Ele declarou: ‘O que eu quero é aniquilação – efeito aniquilador’.


Os historiadores da ciência discutem até hoje sobre ser era factível uma bomba atômica nazista. É claro que os cientistas de Hitler não haviam superado os principais problemas tecnológicos no final da guerra; também é visível que faltavam à Alemanha o material e os recursos humanos e econômicos necessários para criar tal arma durante a guerra. As políticas racistas de Hitler, além disso, haviam resultado na demissão de centenas de físicos judeus dedicados à física teórica e nuclear. Sua ignorância sobre ciência e tecnologia, cientistas e engenheiros, assim como a natureza ‘policrática’ grotescamente incompetente e corrupta das estruturas de poder do Terceiro Reich, minaram a capacidade alemã de vencer uma guerra de longo prazo baseada em ciência e tecnologia sofisticadas, que exigiam grandes recursos, pluralidade de criação e capacidade de sobra para erros. O Projeto Manhattan, o programa americano da bomba atômica, abrangeu duas rotas diferentes – uma bomba de urânio e uma de plutônio -, enquanto a pesquisa e desenvolvimento envolviam uma equipe de cerca de 150 mil pessoas e gastos de 2 bilhões de dólares na época. Os estados Unidos podiam usar esses vastos recursos sem tensão. Com a Alemanha, à qual faltava capacidade em toda a área de produção de armas, o caso seria diferente.” pp.34-36


“O êxodo de cientistas judeus foi devastador nas consequências para a Alemanha. O país perdeu cerca de 25 por cento da comunidade de físicos pré-1933, incluindo Einstein, Franck, Gustav Hertz, Shrödinger, Hess e Debye – todos laureados com o Nobel. Entre os outros laureados perdidos estavam Stern, Bloch, Born, Wigner, Bethe, Gabor, Hevesy e Herzberg, assim como os matemáticos Richard Courant, Hermann Weyl e Emmy Noether. A maioria desses físicos eram cientistas de grande originalidade e experiência única; eram insubstituíveis. Quase metade dos físicos teóricos da Alemanha se foi, e também muitos de seus altos expertos em mecânica quântica e física nuclear.


A perda para a Alemanha foi um imenso ganho para Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Na primeira, William Beveridge (que depois dirigiu a Escola de Economia de Londres e inspirou a formação do Estado assistencial), A. V. Hill e o bioquímico laureado com o Nobel Frederick Gowland Hopkins estabeleceram o Conselho de Assistência Acadêmica para oferecer empregos a acadêmicos deslocados. Os que foram para a Grã-Bretanha iam ter um profundo e duradouro efeito sobre a cultura do país, em toda uma gama de disciplinas e influências culturais. Leo Szilar, o incansável físico e polímata, trabalhou em colaboração como Beveridge para estabelecer cientistas demitidos da Alemanha, antes de mudar-se em 1939 para os Estados Unidos, onde, como veremos, se tornou ativo na pesquisa da fissão e na política da bomba atômica.


Em números totais na década de 1930, a comunidade de físicos da Alemanha não encolheu em termos absolutos devido só aumento em físicos aplicados nas universidades; mas a qualidade dos cientistas caiu, e a pesquisa básica estagnou-se. De todas as universidades alemãs, com exceção da de Berlim, a de Göttingen, um centro mundial de física matemática, foi a que mais sofreu. Pedidos para berço da mecânica quântica estavam Max Born, James Franck, Walter Heitler, Heirich Kuhn, Lothar Nordheim, Eugene Rabinowich e Hertha Sponer.


Além da perda de muitos dos principais pesquisadores, a ciência alemã foi ficando cada vez mais isolada, uma vez que os cientistas estrangeiros evitavam viajar à Alemanha, cessavam a colaboração em programas de pesquisa com os alemães e cancelavam filiações em sociedades científicas e assinaturas de publicações. Ao mesmo tempo, o regime tornava difícil aos acadêmicos viajar para fora do país e impunha restrições a filiações a organizações consideradas inimigas do nacional-socialismo.” pp. 129-130


Fonte: CORNWELL, John. Os cientistas de Hitler: ciência, guerra e o pacto com o demônio. (Hitler’s Scientists – Science, War and the Devil’s Pact, 2003) trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2003.




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