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http://ciencia.hsw.uol.com.br/projeto-manhattan2.htm
Avanços
científicos
Projeto
Manhattan
Armas
nucleares
“À medida que as cláusulas
[do Tratado ] de Versalhes eram rompidas uma a uma, e a Alemanha se
rearmava, poderosas tradições de engenhosidade e inventividade
deram ao novo Reich visíveis vantagens em aplicações militares,
despertando os conhecidos espectros dos tempos de guerra, da ciência
como caixa de Pandora e pacto faustiano. Na década de 1930 e durante
toda a guerra, os cientistas e os engenheiros alemães criaram uma
impressionante lista de inovações; fusos de proximidade, visão
noturna por infravermelho, motores a jato, radar, codificação
mecânica, combustíveis sintéticos, mísseis balísticos,
submarinos auxiliados por respiradouros snorkel
e peróxido de hidrogênio. De 1933 até o fim da guerra, cientistas
trabalhando sob controle militar começaram a pesquisar a reação
nuclear em cadeia, na perspectiva de armar Hitler com uma bomba
atômica. Na maioria dessas atividades, e especialmente na pesquisa
de mísseis, criação e produção, métodos racionais de alta
tecnologia, com recursos exorbitantes, foram empregados para fins
irracionais. Em 1943, porém, e após sete anos de suspensão
seletiva do império da lei, poucas áreas da ciência, da
tecnologia, da medicina e da indústria não haviam sido manchadas
por brutalidade, trabalho escravo, tortura, experiências com seres
humanos sem consentimento e assassinato brutal.” p. 23
Hitler
e a Bomba
“À medida que os
pensamentos de Hitler se voltavam para a conquista da Europa, porém,
sua necessidade de compreender o poder e o escopo da ciência e da
tecnologia para fins bélicos assumiu uma urgência prática. Ele se
interessava muitíssimo por armas, e compreendia logo como funcionava
um equipamento. Comentou-se muitas vezes que ele podia reformular uma
longa e complexa explicação técnica num resumo conciso e de alta
precisão. [Albert] Speer escreveu que Hitler ‘era antimoderno nas
decisões sobre armamentos’. Opunha-se à metralhadora porque,
segundo Speer, ‘tornava os soldados covardes e o combate de perto
impossível’ [fonte: Speer, A , The
Slave State: Heinrich Himmler’s Masterplan for SS Supremacy,
trad. Joachim
Neugroschel (Londres, 1981), p. 83]. Era
contra a propulsão a jato, por achar que a extrema velocidade era um
obstáculo ao combate aéreo, e desconfiava das tentativas alemãs de
criar uma bomba atômica, chamando tais esforços, segundo Speer, de
‘uma desova da pseudociência judia’.
A 23 de junho de 1942, Albert
Speer discutiu a bomba atômica com Hitler. Escreveu em suas memórias
que a capacidade intelectual do Führer
era obviamente forçada pela ideia, e que ‘ele era incapaz de
compreender a natureza revolucionária da física nuclear’. Speer
observou que, de 2.200 pontos levantados em suas conferências com
Hitler, a fissão nuclear surgiu apenas uma vez, e mesmo então só
foi mencionada brevemente. Parecia que Hitler adquirira uma visão
embaralhada da ciência atômica do seu fotógrafo, Heinrich
Hoffmann, que por sua vez a pegara de um ministro que patrocinava um
desgarrado projeto de pesquisa atômica para o Correio. Speer,
enquanto isso, informava que o diretor do programa de pesquisa
nuclear oficial, Werner Heisenberg, fora incapaz de confirmar se se
podia controlar a reação em cadeia ‘com absoluta certeza’.
Houvera suspeitas entre os cientistas de que a reação em cadeia,
liberação em massa de energia em material físsil pela divisão
instantânea de sua estrutura atômica, uma vez começada,
prosseguiria cindindo a matéria de todo o planeta. Speer escreveu
que, em consequência, Hitler ‘visivelmente não estava contente
com a possibilidade de que a terra sob seu domínio pudesse
transformar-se numa estrela fulgurante’. O Führer, continuou
Speer, gostava de pilheriar com os cientistas dizendo que ‘a
vontade provinciana deles de desvendar todos os segredos sob o céu
podia um dia atear fogo ao globo’.
Contudo, quando invadiu a
Polônia em setembro de 1939, havia físicos na Alemanha que sabiam
pelo menos tanto quanto os anglo-americanos, se não mais do que
eles, e que organizavam programas de pesquisas para utilizar o poder
do átomo como arma. Na verdade, fora um alemão, Otto Hahn, em
Berlim, auxiliado por Fritz Strassmann, com a crucial contribuição
de Lise Meitner e seu sobrinho Otto Frisch, quem descobrira a fissão
nuclear, ou divisão do átomo, em dezembro do ano anterior, embora
isso provavelmente tivesse sido conseguido primeiro, sem que ele
próprio o soubesse, por Enrico Fermi na Itália.
Ao mesmo tempo, em Peenemünde,
na costa báltica, cerca de 300 quilômetros ao norte de Berlim, o
exército alemão havia reunido centenas de cientistas e engenheiros,
com instalações de pesquisa e desenvolvimento sem precedentes, para
criar e produzir em massa foguetes supersônicos, a fim de
possibilitar que Hitler atingisse os inimigos a centenas de
quilômetros de distância. No último ano da guerra, os cientistas
traçavam planos para impulsionar foguetes que levassem cargas úteis
até a 600 quilômetros de distância e mesmo mais. Houvesse sido o
Terceiro
Reich o
primeiro a construir um artefato explosivo nuclear, ou mesmo uma
‘bomba suja’ composta de explosivo convencional e materiais
radiativos, é provável que seu primeiro emprego contra um inimigo
envolvesse o transporte por mísseis teleguiados de longo alcance, e
a história teria sido bem diferente. Pouca dúvida pode haver de que
Hitler haveria usado a bomba atômica se tivesse uma. Albert Speer
lembra da reação dele à cena final de um cinejornal no outono de
1939. Em montagem, um avião mergulha para as Ilhas Britânicas:
‘Seguia-se um clarão, e a ilha voava em pedaços’. Speer
escreveu que o entusiasmo de Hitler não teve limites. Do mesmo modo,
quando Walter Dornberger, chefe do projeto alemão de criação de
foguetes, falou com Hitler sobre o potencial dos mísseis balísticos
no verão de 1943, ‘um brilho estranho, fanático’, surgiu nos
olhos do Führer.
Ele declarou: ‘O que eu quero é aniquilação – efeito
aniquilador’.
Os historiadores da ciência
discutem até hoje sobre ser era factível uma bomba atômica
nazista. É claro que os cientistas de Hitler não haviam superado os
principais problemas tecnológicos no final da guerra; também é
visível que faltavam à Alemanha o material e os recursos humanos e
econômicos necessários para criar tal arma durante a guerra. As
políticas racistas de Hitler, além disso, haviam resultado na
demissão de centenas de físicos judeus dedicados à física teórica
e nuclear. Sua ignorância sobre ciência e tecnologia, cientistas e
engenheiros, assim como a natureza ‘policrática’ grotescamente
incompetente e corrupta das estruturas de poder do Terceiro
Reich,
minaram a capacidade alemã de vencer uma guerra de longo prazo
baseada em ciência e tecnologia sofisticadas, que exigiam grandes
recursos, pluralidade de criação e capacidade de sobra para erros.
O Projeto
Manhattan, o
programa americano da bomba atômica, abrangeu duas rotas diferentes
– uma bomba de urânio e uma de plutônio -, enquanto a pesquisa e
desenvolvimento envolviam uma equipe de cerca de 150 mil pessoas e
gastos de 2 bilhões de dólares na época. Os estados Unidos podiam
usar esses vastos recursos sem tensão. Com a Alemanha, à qual
faltava capacidade em toda a área de produção de armas, o caso
seria diferente.” pp.34-36
“O
êxodo de cientistas judeus foi devastador nas consequências para a
Alemanha. O país perdeu cerca de 25 por cento da comunidade de
físicos pré-1933, incluindo Einstein, Franck, Gustav Hertz,
Shrödinger, Hess e Debye – todos laureados com o Nobel. Entre os
outros laureados perdidos estavam Stern, Bloch, Born, Wigner, Bethe,
Gabor, Hevesy e Herzberg, assim como os matemáticos Richard Courant,
Hermann Weyl e Emmy Noether. A maioria desses físicos eram
cientistas de grande originalidade e experiência única; eram
insubstituíveis. Quase metade dos físicos teóricos da Alemanha se
foi, e também muitos de seus altos expertos em mecânica quântica e
física nuclear.
A
perda para a Alemanha foi um imenso ganho para Grã-Bretanha e os
Estados Unidos. Na primeira, William Beveridge (que depois dirigiu a
Escola de Economia de Londres e inspirou a formação do Estado
assistencial), A. V. Hill e o bioquímico laureado com o Nobel
Frederick Gowland Hopkins estabeleceram o Conselho de Assistência
Acadêmica para oferecer empregos a acadêmicos deslocados. Os que
foram para a Grã-Bretanha iam ter um profundo e duradouro efeito
sobre a cultura do país, em toda uma gama de disciplinas e
influências culturais. Leo Szilar, o incansável físico e polímata,
trabalhou em colaboração como Beveridge para estabelecer cientistas
demitidos da Alemanha, antes de mudar-se em 1939 para os Estados
Unidos, onde, como veremos, se tornou ativo na pesquisa da fissão e
na política da bomba atômica.
Em
números totais na década de 1930, a comunidade de físicos da
Alemanha não encolheu em termos absolutos devido só aumento em
físicos aplicados nas universidades; mas a qualidade dos cientistas
caiu, e a pesquisa básica estagnou-se. De todas as universidades
alemãs, com exceção da de Berlim, a de Göttingen, um centro
mundial de física matemática, foi a que mais sofreu. Pedidos para
berço da mecânica quântica estavam Max Born, James Franck, Walter
Heitler, Heirich Kuhn, Lothar Nordheim, Eugene Rabinowich e Hertha
Sponer.
Além
da perda de muitos dos principais pesquisadores, a ciência alemã
foi ficando cada vez mais isolada, uma vez que os cientistas
estrangeiros evitavam viajar à Alemanha, cessavam a colaboração em
programas de pesquisa com os alemães e cancelavam filiações em
sociedades científicas e assinaturas de publicações. Ao mesmo
tempo, o regime tornava difícil aos acadêmicos viajar para fora do
país e impunha restrições a filiações a organizações
consideradas inimigas do nacional-socialismo.” pp. 129-130
Fonte:
CORNWELL, John. Os
cientistas de Hitler: ciência, guerra e o pacto com o demônio.
(Hitler’s
Scientists – Science, War and
the Devil’s Pact,
2003) trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2003.
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