segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Campanha da Birmânia 1943-1944








Campanha da Birmânia


1943-1944


[Major-General] Wingate acompanhou [o Primeiro-Ministro Winston] Churchill `’Conferência de Quebec’, em agosto de 1943, onde a estrutura de comando das forças aliadas foi completamente reorganizada e o Comando do Sudeste Asiático (SEAC) foi criado, tendo à frente um comandante supremo. A escolha para o exercício do cargo recaiu na pessoa do Vice-Almirante Lorde Louis Mountbatten, tendo sido vencida a indicação dos americanos, que optavam por Wingate, pelos chefes de Estado-Maior britânicos. [General] Stilwell foi nomeado Subcomandante Supremo de Mountbatten, e um Estado-Maior britânico-americano serviria sob o comando de ambos. Os comandos da Índia e do Sudeste Asiático funcionariam separadamente. Todas as forças de terra a leste de Calcutá ficariam sob o SEAC (South East Asia Command), e seriam formadas por elementos do 11º Grupo de Exércitos, sob o General Sir George Giffard, da África Oriental. O 14º Exército, agora comandado por [Tenente-General Sir William] Slim, seria parte do 11º Grupo de Exércitos, e incluiria as divisões que se encontravam no Arakan, as da área de Imphal e, também, a projetada nova força Chindit, quando esta entrasse na área de operações. Assim começou uma bem sucedida parceria que durou quase dois anos, pois Giffard e Slim se respeitavam e tinham um pelo outro muita simpatia.
A maneira óbvia de recapturar a Birmânia e destruir as forças japonesas que a dominavam seria tomar seu único porto, Rangum, sem o qual as forças nipônicas ‘definhariam’. Esta possibilidade fora abandonada, devido à falta de barcaças de desembarque, de modo que os planos para 1944 giraram em torno do interesse americano na Birmânia – ou seja, como a única rota por onde uma linha de abastecimento poderia chegar à China e, assim, impedi-la de sair de todo da guerra.
Deste modo, a ‘Conferência de Quebec’ decidiu que o objetivo principal da ofensiva na Birmânia, em 1944, seria abrir uma estrada e um oleoduto em Ledo, passando por Mogaung e Myitkyna, até Kunming. O oleoduto abasteceria um grupo de bombardeiros americanos que atacariam alvos japoneses e esquadrões de caça incumbidos de apoiar as forças chinesas no continente. Uma área ao sul, que compreendia Indaw, seria defendida pelos Aliados para proteger esta rota para a China. O 14º Exército ajudaria, com uma ofensiva do Imphal para Indaw. Mas a figura central do plano seria Wingate que, com uma força Chindit ampliada, composta por seis brigadas de quatro batalhões cada uma, deveria cortar e manter cortadas as comunicações entre o sul e as forças japonesas que enfrentavam Stilwell na estrada de Ledo e os chineses do rio Mekong, a leste, até o momento em que essa área pudesse ser tomada por divisões regulares do IV Corpo.
Dessa forma, Slim se limitaria, em 1944, a apoiar os Chindits, enquanto os chineses treinados pelos americanos de Stilwell e os exércitos chineses em Kunming fariam o avanço. Stilwell foi colocado sob o comando de Slim nesta ofensiva, mas sendo também subcomandante supremo, ele podia fazer o que bem quisesse. Uma razão para que Slim recebesse papel tão limitado era que o Comando da Índia, sob [General] Auchinleck, de tal forma exagerara as dificuldades administrativas e de engenharia que o 14º Exército encontraria na penetração da Birmânia pelo leste, que Churchill e Roosevelt, com seus consultores, acharam que não poderiam obter muita ação ofensiva do exército indiano. Auchinleck ainda não compreendera os novos poderes, mobilidade e liberdade de ação que o abastecimento aéreo oferecia.


Os japoneses, contudo, também estavam pensando em ação ofensiva. A primeira operação Chindit [em maio de 1943] mostrara-lhes que suas comunicações eram agora vulneráveis a ataque pelas montanhas. Em junho de 1943, o comando japonês na Birmânia realizou uma conferência para estudar a melhor maneira de defender a Birmânia à luz das operações Chindits daquele ano. Na conferência ficou decidido que o melhor modo de frustrar a ofensiva britânica, da qual havia muitas indicações, seria atacar e cortar as vulneráveis comunicações do IV Corpo, que se evidenciavam como um cacho de uvas pendente do Dimapur, no vale do Brahmaputra. Eles poderiam então voltar-se e destruir as três divisões britânico-indianas baseadas na região Imphal – Kohima. Primeiro fariam um ataque diversivo no Arakan, para afastar as reservas do 14º Exército, para, a seguir, lançar seu ataque no norte. Como resultado dessa conferência, o Exército de Área da Birmânia também informou que um avanço para o centro de Assam estava além da capacidade do exército, naquele momento.
Tóquio examinou todo o plano do ponto de vista político e militar. Os japoneses haviam formado a Liga Nacional Indiana e o Exército Nacional Indiano (ENI) e adotado política agressiva para com a Índia, na esperança de reforçar o formidável movimento de independência antibritânico, para que os britânicos se vissem impossibilitados de usar a Índia como base de operações. O Q-G imperial decidiu que faria dessa ofensiva (que esperava pudesse compensar suas derrotas no Pacífico) um meio de provocar mais distúrbios na Índia, através do ENI, que consistia de cerca de uma brigada de soldados efetivos. Também reforçou a Birmânia com mais duas divisões e uma brigada independente.
O 14º Exército, de Slim, foi atraído para a campanha pela ofensiva nipônica. Os japoneses ainda desprezavam os britânicos – forças indianas que, até então, sempre puderam derrotar com forças inferiores. Desta vez eles próprios estavam excessivamente estendidos, pois não compreendiam todo o valor do abastecimento e apoio aéreos. Sem perceber que a planície de Imphal era uma região adequada à ação de tanques, eles avançaram praticamente sem blindados, num esforço por destruir as forças britânicas de um só golpe. Também dependiam da captura de suprimentos para se manterem, e suas linhas de comunicação eram vulneráveis à penetração Chindit.
Slim estava preocupado primeiramente com a ofensiva dos japoneses no Arakan e, depois, com o ataque que dirigiam contra Imphal - Kohima. Seu objetivo seria perseguir os derrotados japoneses Birmânia adentro, após ter conseguido os objetivos Mogaung – Myitkyina e depois que o oleoduto e a estrada para a China estivessem abertos.” pp. 60-61; 65-66


Forças Japonesas


Pelo final de 1943, os japoneses tinham seis divisões na Birmânia (15ª, 18ª, 31ª, 33ª, 55ª e 56ª), com a 53ª Divisão por chegar. Destas, a 55ª Divisão seria lançada numa ofensiva diversiva no Arakan, e três divisões (15ª, 31ª e 33ª) iriam com o ENI atacar Imphal e Kohima. Os japoneses também estavam preocupados com um desembarque naval perto de Rangum, e colocaram suas brigadas de reserva no sul da Birmânia, como precaução contra essa possibilidade. Seus efetivos aéreos haviam sido consideravelmente reduzidos pela retirada de unidades para reforçar as depauperadas forças aéreas do Pacífico, passando os britânicos, diante disso, a contar com efetiva superioridade aérea.
Para enfrentar este ataque de duas pontas, feito com quatro divisões (uma no Arakan e três em Imphal), Slim de início tinha, além da superioridade aérea, o XV Corpo (5ª e 7ª Divisões indianas e a 87ª Divisão Oeste-Africana) no Arakan e o IV Corpo (17ª, 20ª, 23ª Divisões indianas) na área de Imphal, além da 26ª Divisão e da 254ª Brigada de Tanques na reserva.
Slim também tinha, sob o comando de Stilwell, três divisões chinesas (22ª, 30ª e 38ª) na estrada de Ledo, no norte, e em 1944 teria as seis brigadas das Forças Especiais (os Chindits) disponíveis para ação ofensiva contra as comunicações japonesas.
Para completar o quadro, o XXXIII Corpo (2ª britânica, 36ª indiana e 5ª Brigada de paraquedistas) estava na reserva do 15º Grupo de Exércitos, com as 19ª e 25ª Divisões indianas, a 50ª Brigada de Tanques e a 3ª Brigada de Serviços Especiais também disponível, como parte da reserva geral. No leste da Birmânia, dois exércitos chineses estavam estacionados no Salween.


Por conseguinte, Slim dispunha de uma força formidável, mas encontrava dificuldades em aplicar seus efetivos contra os japoneses devido à falta de boas estradas. Os japoneses também tinham a vantagem inicial de estar em linhas internas, atrás de um obstáculo maciço, de modo que podiam mover facilmente divisões de um setor para outro, enquanto que os Aliados tendiam a ficar retidos na periferia.
Mas, excluindo-se os chineses, na frente de Salween, e incluindo as reservas mantidas no Ceilão, os Aliados dispunham de 15 divisões, duas brigadas de tanques e cerca de nove ou dez brigadas independentes para enfrentar no máximo sete divisões japonesas e uma brigada mista na Birmânia.” p. 69


Fonte: CALVERT, Michael. Campanha da Birmânia. Trad. Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Renes, 1978.


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