quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Negociações entre os Aliados - Conferências de 1943









Negociações entre os Aliados

Conferências de 1943
De Quebec a Teerã

Campanha na Itália e nos Balcãs
Campanha no Sudeste Asiático

As principais divergências a respeito da política para a Europa foram solucionadas pelos próprios Chefes do Estado-maior Conjunto durante reuniões reservadas; nas sessões plenárias de Quadrant [Conferência em Quebec, 17 a 24 agosto], quando Churchill e Roosevelt tratavam dos assuntos em companhia dos respectivos assessores, a Birmânia e o Pacífico dominavam os debates. Quebec produziu decisões definitivas sobre uma variedade ampla de assuntos, - desde os desembarques na Normandia até Tube Alloys [projeto para a bomba atômica] – mas o que não teve solução foi exatamente a estratégia em relação ao Japão. Portanto, era indispensável que os ingleses entrassem na discussão deste assunto delicado e controvertido não só com um espírito de harmonia, igual ao que existia entre Churchill e seus Chefes de Estado-Maior, mas também com ideias precisas sobre o que poderia ser feito sem ofender os americanos, e que até mesmo pudesse ser aprovado por eles.

Para os Estados unidos a Birmânia e a posse efetiva da Índia só tinham importância enquanto pudessem se constituir em rotas e bases de suprimentos para a China; entretanto, para eles este fato implicava na remoção do bloco japonês entre Rangum e a estrada da Birmânia. Para os Chefes de Estado-Maior ingleses a política ideal era diferente. Achava-se sintetizada em uma nota redigida pelos seus planejadores: 'a estratégia correta, e aquela que apressaria o fim da guerra, impõe que a conquista de Cingapura e do norte de Sumatra precede à conquista da Birmânia'.

[…] Sumatra continuava a ser um sonho do Primeiro-Ministro [Churchill]. Entretanto, perceberam que seria fatal chegar a Quebec com as mãos vazias. Foi daí que surgiu a ideia, depois de amplos debates com Wingate [Major-General Orde Wingate, em operação na Birmânia] a bordo do Queen Mary, de realizar uma grande operação com os Grupos de Penetração Profunda, na próxima estação seca, com a finalidade de dominar o norte da Birmânia, efetuar a ligação com Stillwell [General Joseph Stilwell, do Exércitos dos EUA, em operação no Sudeste Asiático] e os chineses e, desta forma, proteger e ampliar as rotas terrestres e aéreas para os exércitos de Chiang Kai-shek.

[…]

Assim, em sentido geral, a estratégia na Birmânia continuou a ser um futuro indefinido para os ingleses. Na realidade, foram os japoneses que criaram a possibilidade da própria derrota, ao tomarem uma iniciativa equivocada em 1944. Todavia, para que chegassem àquela iniciativa, e para a vitória final contra o Japão, Churchill teve que impor sua vontade em dois temas importantes durante Quadrant. O primeiro dizia respeito ao problema de um Comandante Supremo. O Primeiro-Ministro e os Chefes de Estado-Maior estavam ansiosos pela nomeação de um plenipotenciário, por analogia com Eisenhower no Mediterrâneo – mas com duas diferenças: deveria ser um inglês e, ao contrário de Eisenhower, ficar subordinado aos Chefes de Estado-Maior ingleses e não aos Chefes do Estado-Maior ingleses e não aos Chefes do Estado-Maior Conjunto.” pp. 247-249


Para quem quer que viesse a assumir finalmente o comando de Overlord haveria, pelo menos, um plano pronto, aprovado em Whitehall e em Washington. Convém recordar que na última conferência de cúpula, em maio, o General Morgan (Cossac) recebeu instrução para apresentar aos chefes do Estado-Maior Conjunto, até 1º de agosto, as propostas de plano para uma invasão aliada da Europa. Entre as intenções dos ingleses estava a de ter estas propostas em mãos de Churchill e seus assessores a bordo do Queen Mary, durante a viagem para Quebec. […]

Evidentemente Jupiter, uma invasão da Noruega, era uma obsessão do Primeiro-Ministro. Os Chefes do Estado-Maior Conjunto foram condescendentes com ele ao permitirem que Jupiter ficasse registrada na ata, mas é claro que ninguém levou o assunto a sério; e com razão. De muito maior importância foi o fracasso dos Chefes de Estado-Maior ingleses – e de Churchill – ao deixarem de perceber imediatamente a significação completa de uma proposta americana, no sentido de que os desembarques no norte da França fossem complementados com desembarques no sul daquele país – o embrião de Anvil, operação que manteve os aliados em franca controvérsia durante os meses seguintes. O fato da vulnerabilidade da proposta não haver sido exposta imediatamente pode ser considerado como decorrência de um outro fato: em Quebec, todas as discussões que envolveram o teatro de operações do sul foram dominadas por um aspecto de maior destaque, isto é, pela tentativa inglesa de fazer os americanos compreenderam que uma política de avanço pelo Mediterrâneo contribuiria diretamente para o sucesso de Overlord [invasão da Normandia] e não deveria ser considerada como diversionária.

[…]

O efeito consistiu na aceitação de uma certa latitude para o aproveitamento da derrota da Itália, ao invés de se estabelecer uma pausa nas operações aliadas no teatro do Mediterrâneo, cuja iminência manteve Churchill em Washington, mesmo depois de encerrada a conferência; sim, porque ele percebeu que o assunto teria que ser resolvido através de negociações dia a dia, ou até hora a hora, entre ele e o Presidente. Isto proporcionou-lhe também uma experiência ímpar: a comprovação daquele sentimento de unidade anglo-americana, o qual escora todas as rachaduras superficiais da estrutura. No fim da sua estada, no dia 11 de setembro, Roosevelt saiu de Washington e deixou a Casa Branca à disposição do Primeiro-Ministro. Churchill realizou ali uma reunião final entre os chefes das forças armadas americanas e representantes dos Chefes de Estado-maior ingleses. 'É pra mim uma honra presidir esta reunião de Chefes do Estado-Maior Conjunto e de autoridades americanas e inglesas na sala de reuniões da Casa Branca e isto parece constituir um acontecimento na história das relações anglo-americanas.

Todavia, a ópera bufa da rendição italiana nada mais foi do que um interlúdio tragicômico cuja conclusão assinalou o início do último ato do drama mundial da guerra. Agora tudo se aproximava de um dénouement. As políticas traçadas em Quebec seriam alteradas e ampliadas, mas não seriam radicalmente deturpadas. Os alemães estavam recuando no sul da União Soviética a fim de liberar mais divisões para a Itália e para os Balcãs. Kharkov foi reconquistada; logo depois, Taganrog. Assim, o telegrama de Stalin a Roosevelt e Churchill, datado de 14 de setembro, era inusitadamente otimista e amistoso:

'Congratulo-me com os senhores pelos novos sucessos, particularmente com o desembarque em Nápoles. Não há dúvida de que o desembarque bem sucedido em Nápoles e a ruptura entre a Itália e a Alemanha constituirá mais um golpe contra a Alemanha hitlerista e facilitará consideravelmente as ações dos exércitos soviéticos na frente germano-soviética. Por ora a ofensiva das unidades soviéticas desenvolve-se com sucesso. Acho que estaremos em condições de alcançar novas vitórias dentro de duas ou três semanas. É possível que reconquistemos Novorossisk nos próximos dias.'

Nos Balcãs, Tito aproveitou a oportunidade com rapidez. No fim de outubro já melhorara consideravelmente a sua situação, desarmando ou recrutando divisões italianas, ocupando as vias de acesso a Trieste e cercando Zagreb, deslocando-se para Split e para as ilhas Dálmatas; de acordo com os dados enviados pelo General-de-Brigada Fitzroy Macleau, Tito já dispunha de 26 divisões, com cerca de 220.000 homens, e dominava a melhor parte da Iugoslávia. Já se podiam discernir no pacífico as rotas ao longo das quais os americanos avançariam, uma vez que a criação, no dia 5 de agosto, de uma nova Força do Pacífico Central, sob o comando do Almirante Nimitz, significava que haveriam duas grande linhas centrais, no futuro; uma comandada por MacArthur, desdobrando-se pelo arquipélago de Bismarck e Nova Guiné e outra, comandada por Nimitz, desdobrando-se pelas ilhas Gilbert, Marshall e Carolinas. Os navios para essas operações haviam sido incluídos no programa de construção naval de 1940 e, desde então, vinham sendo regularmente incorporados à Marinha; em fins de 1943 estavam prontos nada menos do que 50 navios-aeródromos [i.e. Porta-aviões]. Além do mais, na Birmânia, os japoneses já estavam elaborando o plano da campanha que haveria de conduzi-los ao desastre.” pp. 252-255


Fonte: LEWIN, Ronald. Churchill – O Lorde da Guerra. Trad. Cel. Álvaro Galvão. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1979.


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Conference in Quebec

Conference in Teerã

Tube Alloys

Orde Wingate

Joseph Stillwell

Dwight Eisenhower


Campanha na Birmânia 1942-1945





Tropas no Sudeste Asiático

Os Chindits



Os Tigres Voadores





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