segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Papado e Nazismo - Vaticano e regimes de direita - cont1




Relações do Papado com o Nazismocontinuação 1

fonte: CORNWELL, John. O Papa de HitlerA História Secreta de Pio XII. (Hitler's Pope: the secret history of Pius XII. 1999) Trad. A . B. Pinheiro de Lemos. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2000


Vaticano e regimes de direita

Pio XI e Pacelli [ futuro Pio XII ] compreenderam que não poderia haver nenhuma conciliação com o comunismo, em qualquer lugar do mundo. Era diferente no caso dos movimentos e regime s totalitários de direita. Na Itália , a Santa assinara um pacto com Mussolini em fevereiro de 1929, prenunciando o acordo de Pacelli com Hitler, em 1933. negociado e elaborado pelo irmão de Pacelli, Francesco, e seu antecessor na secretaria de Estado, Pietro Gasparri, o acordo encerrava, pelo menos por algum tempo, os antagonismos que existiam entre a Santa e a Itália desde 1870.

Segundo os termos do Tratado de Latrão, o catolicismo romano tornava-se a única religião reconhecida no país. Num ponto crucial, o acordo reconhecia o direito de a Santa impor dentro da Itália o Código de Direito Canônico. [] Nas eleições em março, depois do Tratado de Latrão, os padres por toda a Itália foram estimulados pelo Vaticano a apoiar os fascistas. O papa falou de Mussolini como ' um homem enviado pela Providência'.

No lugar do catolicismo político na Itália, a Santa teve permissão, pelo artigo 43, para encorajar o movimento conhecido como Ação Católica, uma forma anêmica de mobilização popular., dominada pelos clérigos e descrita por Pio XI como ' participação organizada da laicidade no apostolado hierárquico da igreja, transcendendo a política partidária'. []

Na Alemanha, no final da década de 1920, muito antes da Concordata do Reich, Pacelli também promovera a Ação Católica, anunciando sua instituição numa concentração eucarística em Magdeburgo, em 1928. como ressaltamos, a aversão de Pacelli ao catolicismo políticodatando da era Pio X e das turbulentas relações Igreja-Estado na Françaera profunda, embora nessa ocasião estivesse abafada. Seu interesse pelo Partido do Centro e por quaisquer católicos no governo da Alemanha, como se tornou cada vez mais patente, baseava-se à medida que podia usá-los como instrumentos de negociação para obter uma Concordata do Reich em termos favoráveis à Santa Sé. O Tratado de Latrão, elaborado e negociado por seu irmão mais velho, Francesco, com todos os seus dispositivos para reprimir o catolicismo social e político, continha tudo o que Pacelli ansiava para uma Concordata do Reich.

Ironicamentee também um sinistro presságio - , uma figura fundamental na política alemã que sentiu uma satisfação similar pela assinatura do Tratado de Latrão, e que acalentava a esperança de um acordo idêntico para seu futuro regime, foi Adolf Hitler. Poucos dias depois da assinatura do Tratado de Latrão, Hitler escreveu um artigo para o Völkischer Beobachter, publicado em 22 de fevereiro de 1929, aplaudindo o acordo. {}

Apesar das confiantes declarações de Hitler, o Vaticano não era absolutamente favorável ao Partido nazista. A Santa não endossava o racismo implícito ou explícito do nacional-socialismo. Alertava para o seu potencial de instituir um credo idólatra, baseado em fantasias pagãs e um história folclórica espúria. Mas também era verdade que o Vaticano, desde os dias de Pio Nono, encorajava a desconfiança da democracia social, como precursora do socialismo e depois do comunismo. Por isso, a avaliação pragmática do Vaticano sobre qualquer partido politico era influenciada por sua posição em relação à ameaça comunista. [...]

Depois de 1930, quando o Partido do Centro na Alemanha tinha mais necessidade do que nunca de criar estabilidade, pela colaboração com os social democratas, Pacelli pressionou sua liderança para rejeitar os socialistas e cortejar os nacional-socialistas. Como os nacional-socialistas haviam declarado guerra aberta ao socialismo e ao comunismo, Pio XI e Pacelli sentiam-se propensos a estudar as vantagens de uma aliança temporária e tática com Hitler. Era uma circunstância que Hitler trataria de aproveitar ao máximo, quando chegasse o momento oportuno. Logo se tornará evidente até que ponto essa aliança em potencial com o demônio do nazismo foi decorrente dos receios pelo futuro da Igreja na Alemanha, e até que ponto foi uma tática para promover os objetivos do poder papal.(pp. 130-32; 133)


Para Papen [Franz von P., 1879-1969, o chanceler alemão em 1932], no entanto, sendo um homem de direita, uma coalização com Hitler parecia ser a melhor perspectiva para a sobrevivência de seu governo. Uma coalização que incluísse os nacional-socialistas também atraía Pacelli em Roma, embora por razões diferentes. Mais uma vez, ele tentava vender a ideia de uma coalização para bloquear os socialistas e impedir a bolchevização da Alemanha. [] Hitler, no entanto, jogava por apostas mais altas, recusando-se a aceitar qualquer coisa menos que o controle total. Queria a chancelaria e os postos principais do gabinete para seu partido. Hindenburg [Paul von H., Presidente da República de Weimar, 1925-34], porém, ainda hesitava, censurando Hitler por seu desprezo à Constituição.p. 145

um ditador poderia conceder a Pacelli o tipo de concordata que ele queria. um ditador com a astúcia de Hitler poderia perceber a concordata como um meio de enfraquecer a Igreja católica na Alemanha. Depois que tudo acabouquando Pacelli e Hitler chegaram a seu fatídico acordo em julho de 1933 -, os dois expressaram em separado suas ideias sobre o significado do tratado. A distância entre seus objetivos era extraordinária.(p. 147)

Explica-se: o líder nazista apresentava o acordo como uma aprovação do Vaticano ao governo direitista acusado de neopagão, enquanto o futuro papa lembrava que o acordo, na verdade, mostrava a provação do nacional-socialismo ao Direito Canônico da Santa Sé. Cada um considerava o seu próprio lado como vencedor. Cada um usava o outro para um objetivo. Entãoos objetivos em dramático contraste de Pacelli e Hitler foram o trágico contexto das negociações da concordata, conduzidas em grande sigilo por cima das cabeças do episcopado e da liderança católica leiga, ao longo de seis meses, enquanto Hitler assumia o poder.(p. 148)

fonte: CORNWELL, John. O Papa de HitlerA História Secreta de Pio XII. (Hitler's Pope: the secret history of Pius XII. 1999) Trad. A . B. Pinheiro de Lemos. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2000


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