quarta-feira, 4 de junho de 2014

Vanguarda do Dia D : paraquedistas





 

O Dia D : invasão Aliada da Normandia

A vanguarda: caça-minas no anoitecer de 5 de junho 1944

      “Ao largo da costa francesa, um pouco antes das nove horas da noite [de 5 de junho], apareceu uma dúzia de pequenos barcos. Moviam-se silenciosamente na fímbria do horizonte, tão próximo das praias que suas tripulações podiam ver claramente as casas da Normandia. Os barcos passaram sem ser percebidos. Acabaram sua tarefa e retornaram. Eram caça-minas britânicos – a vanguarda da mais poderosa armada que jamais fora reunida.

      Porque agora, cruzando o Canal da Mancha, cortando as águas cinzentas e agitadas, uma falange de navios flutuava inexoravelmente em direção à Europa de Hitler – o poder e a fúria do mundo livre finalmente desencadeados. Eles avançavam incansáveis, fileira após fileira, seguindo as dez rotas marítimas paralelas que haviam sido traçadas, ocupando uma extensão de trinta e cinco quilômetros de largura, cinco mil navios de todos os tamanhos e formatos possíveis. Havia os novos e velozes transportadores de tropas de ataque, os lentos cargueiros corroídos de ferrugem, os pequenos navios transatlânticos de passageiros, os pequenos vapores que faziam cabotagem pelos portos do Canal, além de navios-hospitais, velhos transportadores de combustível, pequenos navios costeiros e enxames de rebocadores fumacentos e ruidosos. Havia colunas infindáveis de navios de desembarque de pequeno calado – grandes veículos marítimos que balouçavam ao ritmo das ondas, alguns deles com quase cento e trinta e cinco metros de comprimento. Muitos desses e dos demais barcos de transporte mais pesados carregavam barcos menores de desembarque para o verdadeiro assalto às praias – um total de mais de mil e quinhentos. À frente dos comboios avançavam verdadeiras procissões de caça-minas, cúteres da Guarda Costeira, lançadores de boias e lanchas a motor. Balões de defesa contra ataques aéreos voavam acima das embarcações. Esquadrilhas de aviões de combate teciam essa cavalgada fantástica de navios atulhados de homens , canhões, tanques, veículos motorizados e os mais variados suprimentos, deixando de fora apenas um certo número de pequenas unidades navais desgarradas, estava um formidável conjunto de 702 belonaves.

[…]

      Lentamente, pesadamente, essa grande armada se movia através do Canal. Seguia um padrão de tráfego demarcado minuto a minuto, de um tipo que jamais fora tentado antes. Os navios se derramavam para fora dos portos britânicos e se moviam ao longo das costas em rotas demarcadas para dois comboios paralelos, convergindo para a área de concentração ao sul da ilha de Wight. Lá eles eram classificados ou encontravam os próprios lugares, cada um deles assumindo uma posição cuidadosamente predeterminada na força que se destinava à praia particular para a qual fora designado. Saindo da área de concentração, logo apelidada de Piccadilly Circus, os comboios se dirigiam para a França ao longo de cinco rotas demarcadas por boias flutuantes. E, à medida que se aproximavam da Normandia, estes cinco caminhos se dividiam em dez canais, dois para cada praia – um para tráfego rápido, outro para navegação lenta. Bem na frente, logo após a ponta-de-lança dos caça-minas, encouraçados e cruzadores, estavam os navios de comando, cinco transportes de ataque eriçados de antenas de rádio e radar. Esses postos de comando flutuantes seriam os centros nervosos da invasão.

      Por toda parte havia navios. Para os homens que estiveram a bordo, essa histórica armada ainda é lembrada como a visão 'mais impressionante e inesquecível' de suas vidas.” pp. 114-115; 117


Como reagiram as tropas germânicas ?

      “Passava um pouco das dez e um quarto dessa noite quando o tenente-Coronel Meyer, chefe do Serviço de Contra-Espionagem do 15º Exército alemão, saiu às pressas de seu escritório. Em sua mão provavelmente se encontrava a mais importante mensagem que os alemães haviam interceptado em todo o decorrer da Segunda Guerra Mundial. Meyer sabia agora que a invasão ocorreria dentro das próximas quarenta e oito horas. Com essa informação, os Aliados podiam ser jogados de volta ao mar. A mensagem, captada de uma transmissão da BBC destinada ao movimento de resistência francês, era o segundo verso do poema de [Paul] Verlaine: 'Blessent mon coeur d'une langueur monotone' (Ferem meu coração com um langor monótono).

      Meyer lançou-se para dentro da sala de jantar, onde o general Hans Von Salmuth, oficial-comandante do 15º Exército, jogava bridge com seu chefe de estado-maior e dois outros oficiais.

-General! - disse Meyer, ofegante. - A mensagem, a segunda parte, chegou!

Von Salmuth deliberou por um momento e então deu ordem para colocar o 15] Exército em prontidão total. Quando Meyer saía apressadamente da sala, Von Salmuth estava novamente olhando para as cartas de sua mão.

-Eu sou raposa velha – o próprio Von Salmuth recorda-se de haver dito na ocasião para não ficar muito excitado com isso.

      De volta a seu escritório, Meyer e seu pessoal imediatamente notificaram por telefone o OB West, quartel-general de Von Rundstedt. A seguir, também por telefone, alertaram o OKW, o quartel-general do próprio Hitler [Adolf H, ditador alemão]. Simultaneamente, todos os demais comandos foram alertados via teletipo.

     E novamente, por razões que nunca foram explicadas satisfatoriamente, o 7º Exército não foi notificado. Nesse momento, a frota aliada ainda precisaria de um pouco mais de quatro horas para atingir as áreas de transferência das tropas para as lanchas de assalto, ao largo das cinco praias normandas; dentro de três horas, dezoito mil paraquedistas seriam lançados sobre os campos e sebes progressivamente mais escuros – diretamente na zona do único exército alemão que nunca foi alertado do Dia D.” pp. 123-125


Alemães temem outro alarme falso

     “A essa altura [madrugada do dia 6 de junho 1944], relatórios vagos e contraditórios estavam sendo filtrados até os postos de comando do 7ºExército [alemão] em toda a Normandia; por toda parte, os oficiais tentavam avaliá-los. Haviam poucos dados a sopesar – silhuetas humanas entrevistas aqui, tiros disparados acolá, uma paraquedas pendurado em uma árvore mais adiante. Tomados em seu conjunto, eram pistas indicadoras de alguma coisa – mas de quê? Somente 570 militares aliados aerotransportados haviam descido. Era justamente o número necessário para criar o pior tipo de confusão.

     Os relatórios que chegavam eram fragmentados, inconclusivos, tão espalhados que até mesmo os soldados mais experientes estavam céticos e atormentados por dúvidas. Quantos homens haviam descido – dois ou duzentos? Seriam tripulações de bombardeiros abatidos que tinham saltado antes da queda? Estaria ocorrendo uma série de ataques da Resistência francesa? Ninguém tinha certeza, nem mesmo aqueles, como o general Reichert, da 711ª Divisão, que tinham visto os paraquedistas face a face. Reichert pensava que era uma incursão aérea a seu próprio QG, e foi essa a conclusão incluída no relatório transmitido a seu comandante de Corpo. Só muito mais tarde as notícias chegaram ao QG do 15º Exército, onde foram devidamente registradas no diário de guerra, com a anotação obscura: 'Não há detalhes'.

      Tantos alarmes falsos tinham sido dados no passado, que todo mundo mostrava uma cautela que chegava a ser dolorosa. Os comandantes da Companhia consideravam duas vezes antes de transmitirem relatórios aos postos de comando de seus batalhões. Enviavam patrulhas para verificar e verificar novamente. Os comandantes de Batalhão mostravam ainda maior prudência antes de passarem as informações aos oficiais regimentais. Quanto ao que realmente ocorreu e que informações de fato chegaram nos diversos quartéis-generais durante esses primeiros minutos do Dia D, há tantos relatos quanto participantes. Porém um fato parece claro: com base em relatórios tão localizados e imprecisos , ninguém se dispunha a dar alarme nesse momento – um alarme que, mais tarde, poderia demonstrar-se falso. E assim, o minutos foram passando. pp. 147-148


Os dramas e as baixas dos paraquedistas das tropas aerotransportadas

     “O inimigo mais sinistro nesses minutos de abertura do Dia D não eram os homens, mas a natureza. As precauções contra o desembarque de paraquedistas, que haviam sido tomadas por iniciativa de Rommel [Marechal de campo, o comandante alemão], pagaram bons dividendos. Os lençóis d'água e os atoladouros do vale do rio Dives artificialmente inundado demonstraram ser armadilhas mortais. Muitos dos homens da 3ª Brigada caíram diretamente nessa área, como se fossem confetes retirados de um saco e espalhados ao acaso. Para esses paraquedistas, um azar trágico seguia ao outro. Alguns pilotos, envolvidos por nuvens espessas, pensaram que a embocadura do Dives fosse a do orne e largaram os homens sobre um labirinto de pântanos e alagadiços.

[…]

     O número de paraquedistas que morreu nos baixios do [rio] Dives nunca será conhecido com exatidão. Os sobreviventes contaram que os pântanos eram atravessados por um labirinto de valas, com mais de dois metros de profundidade e um metro e vinte de largura, cujo fundo estava recoberto de um limo grudento. Um homem sozinho, carregado de armas, munição e equipamento pesado, não tinha a menor chance de sair para fora de um desses alagados. As mochilas de lona molhadas praticamente dobravam de peso e os homens que conseguiram sobreviver tiveram de abandonar todo o equipamento. E muitos homens que conseguiram, com muita luta, atravessar os pântanos, afogaram-se no rio, alguns à distância de apenas alguns metros da outra margem, onde a terra estava seca.” pp. 157-158


fonte: RYAN, Cornelius. O Mais Longo dos Dias. [The Longest Day, 1959] trad. William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008.


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filmes

The Longest Day [1962]

Saving Private Ryan [1998]


UK / USA TV mini-serie Band of Brothers / 2001


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