segunda-feira, 9 de junho de 2014

Dia D - o maior desembarque anfíbio





 
O maior desembarque anfíbio

A reação das tropas germânicas

     “Foi este, então o começo. Os primeiros invasores do Dia D, quase dezoito mil americanos, britânicos e canadenses, distribuíram-se ao longo dos flancos do campo de batalha da Normandia. Entre eles, ficavam as cinco praias em que se realizaria a invasão principal e, além do horizonte, aproximando-se inexoravelmente, a poderosa frota de invasão de cinco mil navios. O primeiro dos navios, USS Bayfield, transportando o comandante da Força U da Marinha, o contra-almirante D. P. Moon, encontrava-se nesse momento a uns vinte quilômetros da praia Utah, preparando-se para lançar âncora.

      Lentamente, o grande plano de invasão estava começando a desdobrar-se – e os alemães ainda permaneciam cegos, alheios a tudo. Houve muitas razões. O mau tempo, sua falta de reconhecimento aéreo (somente alguns aviões tinham sido lançados a sobrevoar as áreas de embarque nas semanas anteriores: todos tinham sido abatidos), a crença teimosa de que a invasão devia realizar-se em Pas-de-Calais, a confusão e superposição de seus próprios comandos e o fracasso em levar a sério as mensagens destinadas ao movimento de resistência, que haviam sido devidamente decifradas – tudo isso exercera alguma influência. Até mesmo suas instalações de radar falharam naquela noite. Aquelas que não haviam sido bombardeadas, tinham ficado confusas em função dos aeroplanos aliados que haviam sobrevoado a costa, espalhando pacotes de 'janelas', tiras de folhas de estanho que recobriam as telas de radar com sinais falsos, conhecidos como 'neve'. Uma única estação tinha enviado seu relatório. Declarava somente: 'Tráfego normal ao longo do Canal.'

      Mais de duas horas haviam transcorrido desde que os primeiros paraquedistas desceram ao solo. Somente agora os comandantes alemães da Normandia estavam começando a perceber que alguma coisa importante poderia estar ocorrendo. Os primeiros relatórios isolados estavam começando a chegar e, lentamente, como um paciente despertando da anestesia, os alemães se acordavam.” pp. 184-185

      “Na França, os generais do OB West e do Grupo de Exército B [germânico] sentaram-se para esperar o desenrolar dos fatos. Eles haviam alertado suas forças e convocado as reservas blindadas: agora, a próxima decisão pertencia aos Aliados. Ninguém fazia noção da magnitude do próximo assalto. Ninguém sabia – ou sequer podia adivinhar – o tamanho da frota aliada. E, embora tudo apontasse para a Normandia, ninguém realmente tinha certeza de onde seria desfechado o ataque principal. Os generais alemães, indubitavelmente, tinham feito tudo quanto estava a seu alcance. O resto dependia dos soldados comuns da Wehrmacht que guarneciam as costas, subitamente, eles haviam adquirido grande importância. A partir de suas fortificações costeiras, os soldados do Reich olhavam para o mar, imaginando se esse era mais um alerta de treinamento ou se, finalmente, chegara ao ataque verdadeiro.

      O major Werner Pluskat, em seu bunker acima da praia Omaha, não recebera qualquer notícia de seus superiores desde a uma hora da madrugada. Estava com frio, cansado e exasperado. Sentia-se totalmente isolado. Não podia entender por que não recebera qualquer relatório ou ordem, nem do quartel-general regimental, nem do QG da Divisão. Para falar a verdade, o próprio fato de que seu telefone permanecera silencioso durante toda a noite era um bom sinal: deveria significar que nada de sério estava acontecendo. Mas... e os paraquedistas? E as formações maciças de esquadrilhas? Pluskat não conseguia livrar-se da inquietação, que parecia roer-lhe os ossos. Mais uma vez ele girou as lunetas de artilharia e esquadrinhou o mar; à esquerda, ele identificou a massa escura da península de Cherbourg e começou outra lenta varredura do horizonte. Os mesmos bancos de brumas baixas foram ampliados diante de seus olhos, os mesmos pontos em que a água refletia a luz oscilante do luar, o mesmo mar encapelado e inquieto. Nada havia mudado. Tudo parecia cheio de paz.” pp. 217-218
 


Desembarques avançam nas cinco praias

      “O ritmo aumentava. Ao largo das praias americanas, cada vez mais barcos cheios de soldados se juntavam às irrequietas embarcações de assalto que rodeavam incessantemente as naves de que tinham sido descidas. Empapados, enjoados, cheios de desconforto, eram justamente esses homens que liderariam a marcha sobre a Normandia, através das praias Omaha e Utah. Nas áreas de transporte, o transbordamento estava em plena atividade. Era uma operação complexa e perigosa. Os soldados carregavam tanto equipamento que mal conseguiam se mover. Cada um trazia um salva-vidas de borracha e, além das armas, bornais, ferramentas para cavar trincheiras, máscaras de gás, estojos de primeiros socorros, cantis, facas e rações, todos traziam quantidades adicionais de granadas, explosivos e munição muitas vezes até 250 cartuchos. Mais ainda, muitos homens estavam carregando o equipamento necessário para executar suas tarefas especializadas. Alguns homens calculam que pesavam pelo menos centro e cinquenta quilos enquanto balançavam ao longo dos tombadilhos a caminho de seus barcos de assalto. Toda essa parafernália era necessária, mas parecia ao major Gerden Johnson, da 4ª Divisão de Infantaria, que seus homens estavam sendo 'forçados a caminhar em passo de tartaruga'. O tenente Bill Williams, da 29ª, achou que seus homens estavam tão sobrecarregados que 'não lhes sobrariam forças para combater'. O praça Robert Mozgo, olhando para baixo, desde o costado de seu transporte e vendo a embarcação de assalto que se esbarrava contra o casco e subia e descia da forma mais enjoativa com o movimento das ondas, pensou que, se ele e seu equipamento pudessem embarcar em um desses botes, 'metade da batalha já estaria ganha...' ” pp. 223-224

      “As grandes rampas quadradas dos barcos de assalto, por enquanto ainda erguidas nas proas, avançavam de frente sobre cada onda, e a água verde, gelada e espumante, recobria a todos. Não havia heróis ansiosos por glória nesses barcos – apenas homens congelados, temerosos e nauseados, tão apertados uns contra os outros, tão sobrecarregados de equipamento pesado que, frequentemente, não havia lugar para vomitar, exceto sobre os companheiros. […]

      De um momento para outro, a guerra assumiu um caráter pessoal. As tropas que se dirigiam para a praia Utah viram um barco de controle, que conduzia uma das ondas de ataque, empinar subitamente para fora das águas e explodir. Segundos depois, cabeças surgiram à superfície e os sobreviventes tentaram salvar-se, agarrando-se aos destroços. Uma segunda explosão seguiu-se quase imediatamente. A tripulação de uma balsa de desembarque, tentando descarregar quatro dos trinta e dois tanques anfíbios destinados à praia Utah, tinha lançado a rampa diretamente sobre uma mina marítima submersa. A frente da embarcação saltou para cima e o sargento Orris Johnson, em uma lancha próxima, ficou congelado de horror, enquanto um tanque 'era arremessado a mais de trinta metros no ar, dava lentamente uma cambalhota, mergulhava de novo na água e desaparecia'. […]

      Centenas de homens que se dirigiam para a praia Utah viram os cadáveres e escutaram os berros e gritos de socorro dos homens que se afogavam. […]

      A visão dos corpos flutuando na água, a fadiga e a tensão da longa viagem desde os navios-transporte e a gora a agourenta proximidade das extensões de areia lisa estendidas frente às dunas da praia Utah arrancaram violentamente os homens de sua letargia. […]

      Nas águas ao largo da praia Omaha ocorrera um desastre. Quase metade da força de tanques anfíbios, destacada para apoiar as tropas de assalto, havia afundado. O plano requeria sessenta e quatro desses tanques, que seriam lançados ao mar entre três e cinco quilômetros de distância da costa. Daí em diante, eles teriam de se locomover pela força de seus próprios motores até a praia. Trinta e dois deles tinham sido designados para a área da 1ª Divisão – os setores Easy Red, Fox Green e Fox Red. Os batelões que os transportavam atingiram suas posições, as rampas de deslanche foram baixadas e vinte e nove tanques foram descidos nas ondas encapeladas. Os veículos anfíbios, que tinham um aspecto muito estranho, com seus grandes balões de lona cheios de ar lembrando as saias enfunadas de uma mulher vadeando um riacho, mas que nos testes haviam demonstrado ser capazes de suportar todo o peso do veículo na superfície da água, começaram a furar as ondas em direção à praia. Então, a tragédia surpreendeu os homens do 741º Batalhão Blindado. Sob os golpes pesados das ondas, as 'asas aquáticas' começaram a se rasgar, os suportes rebentaram, os motores foram inundados e, um após o outro, vinte e sete dos tanques afundaram. Os tripulantes, saíram às pressas pelas escotilhas, inflando os salva-vidas e saltando no mar. Alguns conseguiram inflar também barcos salva-vidas de borracha. Outros desceram até o fundo em seus ataúdes de aço.” pp. 239-243


      “Por detrás das defesas, a própria praia estava deserta: nada nem ninguém se movia sobre ela. Os barcos foram chegando cada vez mais perto. Quatrocentos e cinquenta metros … quatrocentos metros... Nada de fogo inimigo. Através de ondas da altura de um metro e vinte a um metro e meio, as embarcações de assalto lançaram-se pra a frente; agora, o grande bombardeio começou a deixar a zona da praia, indo atingir alvos mais para o interior. Os primeiros barcos estavam a uns 350 metros da praia quando os canhões alemães – os mesmos canhões que poucos ainda acreditavam tivessem sido capazes de sobreviver a um bombardeio aéreo e marítimo tão furioso e tão intenso – abriram fogo.” p. 245



fonte: RYAN, Cornelius. O Mais Longo dos Dias. [The Longest Day, 1959] trad. William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008.


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filmes

The Longest Day [1962]

Saving Private Ryan [1998]


UK / USA TV mini-serie Band of Brothers / 2001



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