O maior desembarque anfíbio
A reação das tropas germânicas
“Foi este, então o começo. Os
primeiros invasores do Dia D, quase dezoito mil americanos,
britânicos e canadenses, distribuíram-se ao longo dos flancos do
campo de batalha da Normandia. Entre eles, ficavam as cinco praias em
que se realizaria a invasão principal e, além do horizonte,
aproximando-se inexoravelmente, a poderosa frota de invasão de cinco
mil navios. O primeiro dos navios, USS Bayfield, transportando
o comandante da Força U da Marinha, o contra-almirante D. P. Moon,
encontrava-se nesse momento a uns vinte quilômetros da praia Utah,
preparando-se para lançar âncora.
Lentamente, o grande plano de invasão
estava começando a desdobrar-se – e os alemães ainda permaneciam
cegos, alheios a tudo. Houve muitas razões. O mau tempo, sua falta
de reconhecimento aéreo (somente alguns aviões tinham sido lançados
a sobrevoar as áreas de embarque nas semanas anteriores: todos
tinham sido abatidos), a crença teimosa de que a invasão devia
realizar-se em Pas-de-Calais, a confusão e superposição de seus
próprios comandos e o fracasso em levar a sério as mensagens
destinadas ao movimento de resistência, que haviam sido devidamente
decifradas – tudo isso exercera alguma influência. Até mesmo suas
instalações de radar falharam naquela noite. Aquelas que não
haviam sido bombardeadas, tinham ficado confusas em função dos
aeroplanos aliados que haviam sobrevoado a costa, espalhando pacotes
de 'janelas', tiras de folhas de estanho que recobriam as telas de
radar com sinais falsos, conhecidos como 'neve'. Uma única estação
tinha enviado seu relatório. Declarava somente: 'Tráfego normal ao
longo do Canal.'
Mais de duas horas haviam
transcorrido desde que os primeiros paraquedistas desceram ao solo.
Somente agora os comandantes alemães da Normandia estavam começando
a perceber que alguma coisa importante poderia estar ocorrendo. Os
primeiros relatórios isolados estavam começando a chegar e,
lentamente, como um paciente despertando da anestesia, os alemães se
acordavam.” pp. 184-185
“Na França, os generais do OB West
e do Grupo de Exército B [germânico] sentaram-se para esperar o
desenrolar dos fatos. Eles haviam alertado suas forças e convocado
as reservas blindadas: agora, a próxima decisão pertencia aos
Aliados. Ninguém fazia noção da magnitude do próximo assalto.
Ninguém sabia – ou sequer podia adivinhar – o tamanho da frota
aliada. E, embora tudo apontasse para a Normandia, ninguém realmente
tinha certeza de onde seria desfechado o ataque principal. Os
generais alemães, indubitavelmente, tinham feito tudo quanto estava
a seu alcance. O resto dependia dos soldados comuns da Wehrmacht
que guarneciam as costas, subitamente, eles haviam adquirido grande
importância. A partir de suas fortificações costeiras, os soldados
do Reich olhavam para o mar, imaginando se esse era mais um
alerta de treinamento ou se, finalmente, chegara ao ataque
verdadeiro.
O major Werner Pluskat, em seu bunker
acima da praia Omaha, não recebera qualquer notícia de seus
superiores desde a uma hora da madrugada. Estava com frio, cansado e
exasperado. Sentia-se totalmente isolado. Não podia entender por que
não recebera qualquer relatório ou ordem, nem do quartel-general
regimental, nem do QG da Divisão. Para falar a verdade, o próprio
fato de que seu telefone permanecera silencioso durante toda a noite
era um bom sinal: deveria significar que nada de sério estava
acontecendo. Mas... e os paraquedistas? E as formações maciças de
esquadrilhas? Pluskat não conseguia livrar-se da inquietação, que
parecia roer-lhe os ossos. Mais uma vez ele girou as lunetas de
artilharia e esquadrinhou o mar; à esquerda, ele identificou a massa
escura da península de Cherbourg e começou outra lenta varredura do
horizonte. Os mesmos bancos de brumas baixas foram ampliados diante
de seus olhos, os mesmos pontos em que a água refletia a luz
oscilante do luar, o mesmo mar encapelado e inquieto. Nada havia
mudado. Tudo parecia cheio de paz.” pp. 217-218
Desembarques avançam nas cinco
praias
“O ritmo aumentava. Ao largo das
praias americanas, cada vez mais barcos cheios de soldados se
juntavam às irrequietas embarcações de assalto que rodeavam
incessantemente as naves de que tinham sido descidas. Empapados,
enjoados, cheios de desconforto, eram justamente esses homens que
liderariam a marcha sobre a Normandia, através das praias Omaha
e Utah. Nas áreas de transporte, o transbordamento estava em
plena atividade. Era uma operação complexa e perigosa. Os soldados
carregavam tanto equipamento que mal conseguiam se mover. Cada um
trazia um salva-vidas de borracha e, além das armas, bornais,
ferramentas para cavar trincheiras, máscaras de gás, estojos de
primeiros socorros, cantis, facas e rações, todos traziam
quantidades adicionais de granadas, explosivos e munição muitas
vezes até 250 cartuchos. Mais ainda, muitos homens estavam
carregando o equipamento necessário para executar suas tarefas
especializadas. Alguns homens calculam que pesavam pelo menos centro
e cinquenta quilos enquanto balançavam ao longo dos tombadilhos a
caminho de seus barcos de assalto. Toda essa parafernália era
necessária, mas parecia ao major Gerden Johnson, da 4ª Divisão de
Infantaria, que seus homens estavam sendo 'forçados a caminhar em
passo de tartaruga'. O tenente Bill Williams, da 29ª, achou que seus
homens estavam tão sobrecarregados que 'não lhes sobrariam forças
para combater'. O praça Robert Mozgo, olhando para baixo, desde o
costado de seu transporte e vendo a embarcação de assalto que se
esbarrava contra o casco e subia e descia da forma mais enjoativa com
o movimento das ondas, pensou que, se ele e seu equipamento pudessem
embarcar em um desses botes, 'metade da batalha já estaria ganha...'
” pp. 223-224
“As grandes rampas quadradas dos
barcos de assalto, por enquanto ainda erguidas nas proas, avançavam
de frente sobre cada onda, e a água verde, gelada e espumante,
recobria a todos. Não havia heróis ansiosos por glória nesses
barcos – apenas homens congelados, temerosos e nauseados, tão
apertados uns contra os outros, tão sobrecarregados de equipamento
pesado que, frequentemente, não havia lugar para vomitar, exceto
sobre os companheiros. […]
De um momento para outro, a guerra
assumiu um caráter pessoal. As tropas que se dirigiam para a praia
Utah viram um barco de controle, que conduzia uma das ondas de
ataque, empinar subitamente para fora das águas e explodir. Segundos
depois, cabeças surgiram à superfície e os sobreviventes tentaram
salvar-se, agarrando-se aos destroços. Uma segunda explosão
seguiu-se quase imediatamente. A tripulação de uma balsa de
desembarque, tentando descarregar quatro dos trinta e dois tanques
anfíbios destinados à praia Utah, tinha lançado a rampa
diretamente sobre uma mina marítima submersa. A frente da embarcação
saltou para cima e o sargento Orris Johnson, em uma lancha próxima,
ficou congelado de horror, enquanto um tanque 'era arremessado a mais
de trinta metros no ar, dava lentamente uma cambalhota, mergulhava de
novo na água e desaparecia'. […]
Centenas de homens que se dirigiam
para a praia Utah viram os cadáveres e escutaram os berros e
gritos de socorro dos homens que se afogavam. […]
A visão dos corpos flutuando na
água, a fadiga e a tensão da longa viagem desde os
navios-transporte e a gora a agourenta proximidade das extensões de
areia lisa estendidas frente às dunas da praia Utah
arrancaram violentamente os homens de sua letargia. […]
Nas águas ao largo da praia Omaha
ocorrera um desastre. Quase metade da força de tanques anfíbios,
destacada para apoiar as tropas de assalto, havia afundado. O plano
requeria sessenta e quatro desses tanques, que seriam lançados ao
mar entre três e cinco quilômetros de distância da costa. Daí em
diante, eles teriam de se locomover pela força de seus próprios
motores até a praia. Trinta e dois deles tinham sido designados para
a área da 1ª Divisão – os setores Easy Red, Fox Green e
Fox Red. Os batelões que os transportavam atingiram suas
posições, as rampas de deslanche foram baixadas e vinte e nove
tanques foram descidos nas ondas encapeladas. Os veículos anfíbios,
que tinham um aspecto muito estranho, com seus grandes balões de
lona cheios de ar lembrando as saias enfunadas de uma mulher vadeando
um riacho, mas que nos testes haviam demonstrado ser capazes de
suportar todo o peso do veículo na superfície da água, começaram
a furar as ondas em direção à praia. Então, a tragédia
surpreendeu os homens do 741º Batalhão Blindado. Sob os golpes
pesados das ondas, as 'asas aquáticas' começaram a se rasgar, os
suportes rebentaram, os motores foram inundados e, um após o outro,
vinte e sete dos tanques afundaram. Os tripulantes, saíram às
pressas pelas escotilhas, inflando os salva-vidas e saltando no mar.
Alguns conseguiram inflar também barcos salva-vidas de borracha.
Outros desceram até o fundo em seus ataúdes de aço.” pp.
239-243
“Por detrás das defesas, a própria
praia estava deserta: nada nem ninguém se movia sobre ela. Os barcos
foram chegando cada vez mais perto. Quatrocentos e cinquenta metros …
quatrocentos metros... Nada de fogo inimigo. Através de ondas da
altura de um metro e vinte a um metro e meio, as embarcações de
assalto lançaram-se pra a frente; agora, o grande bombardeio começou
a deixar a zona da praia, indo atingir alvos mais para o interior. Os
primeiros barcos estavam a uns 350 metros da praia quando os canhões
alemães – os mesmos canhões que poucos ainda acreditavam tivessem
sido capazes de sobreviver a um bombardeio aéreo e marítimo tão
furioso e tão intenso – abriram fogo.” p. 245
fonte: RYAN, Cornelius. O
Mais Longo dos Dias. [The
Longest Day, 1959] trad. William
Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008.
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The Longest Day
[1962]
Saving Private Ryan
[1998]
UK / USA TV mini-serie Band
of Brothers / 2001
D Day
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