terça-feira, 17 de setembro de 2013

Operação Avalanche - Avanço Aliado na Itália







Operação Avalanche

Avanço Aliado na Itália

setembro 1943


A operação Avalanche teve início em 9 de setembro de 1943. O desembarque não foi acompanhado de nenhum bombardeio prévio, naval ou aéreo. Os Aliados esperavam, assim, aproveitar o elemento surpresa. No entanto, não o conseguiram, como tinham previsto os comandantes navais, contrários em abrir mão de um intenso bombardeio preliminar das posições alemães. Os Aliados desembarcaram tropas em duas praias distantes 12 quilômetros uma da outra, no golfo de Salerno. O desembarque foi apoiado por vários cruzadores (incluindo 3 norte-americanos), 2 monitores, 35 destróieres e uma força de 5 porta-aviões de escolta com 10 destróieres.” p. 100


No lado alemão, apenas uma unidade de combate formada especialmente para aquela missão, o grupo de combate Stempel, pôde conter, em parte, o ataque norte-americano. Essa formação, improvisada no local, serviu como uma unidade de reforço do 79º Regimento Panzer de Granadeiros e dificultou a situação para um batalhão do 141º Regimento da inexperiente 36ª Divisão norte-americana, que ficou literalmente, plantada no terreno, conseguindo avançar pouco além das posições conquistadas na costa durante todo o dia 9 de setembro.

Ao norte, os ingleses tiveram a sorte de os alemães abrirem fogo sobre os LST (landing ship tanks, os navios aliados que podiam transportar tropas e equipamentos pesados, como tanques, até a praia de desembarque) antes que eles se preparassem para lançar seus LCVP (landing craft vehicle personnel, embarcações menores que as anteriores, também chamadas de barcos Higgins, em homenagem a seu criador). Se isso não houvesse ocorrido, o fogo alemão teria destroçado as lanchas aliadas em seu caminho até a praia. Imediatamente, começou o bombardeio naval.” p. 104


A defesa alemã


A palavra-chave Alarmstufe II (2º nível de alarme) mobilizou todas as tropas alemãs e colocou-as em estado de alerta máximo. Em tempo praticamente recorde, os alemães planejaram a defesa das praias. À frente deles, estava um confiante Albert Kesselring, sobre quem Mark Clark disse: “Foi um dos oficiais mais eficientes e hábeis do Exército de Hitler, tanto por sua capacidade de liderança, como por sua maneira de gerir seus recursos e pessoal.”


As forças alemãs basearam sua defesa na 16ª Divisão Panzer, comandada pelo general Rudolf Sieckenius, com 17 mil homens e 100 carros de combate, mas sem os modernos Tigers, cujas tripulações estavam sendo treinadas na Alemanha naquele momento. Cerca de 30% dos homens dessa divisão tinham experiência em combate. A unidade foi dividida em quatro grupos para enfrentar os desembarques. A 16ª Divisão pertencia ao 10º Exército alemão, comandado pelo general Henrich von Vietinghoff, um oficial da escola prussiana. Competente e seguro de si.


A essas tropas, juntaram-se as 29ª e 15ª Divisões Panzers de Granadeiros, evacuadas do sul da península italiana e da Sicília. Essas forças teriam de defender 48 quilômetros de praias, uma tarefa muito complicada para tão poucos soldados. Por isso, a baía de Salerno foi fortemente minada.


O plano de Kesselring tinha, porém, um erro. O Alto-Comando alemão recusou-se a enviar mais divisões para as proximidades de Nápoles. Segundo a recomendação de Erwin Rommel, a defesa deveria ser feita no norte de Roma, pois, analisando as guerras no mar, era possível ver claramente que o Mediterrâneo não representava um empecilho para o poder naval aliado. Já os Apeninos, que se estendem do Adriático ao golfo de Gênova, poderiam ser muitos úteis para a defesa, sendo necessárias poucas tropas para essa tarefa. Hitler tomou uma decisão intermediária e deixou Kesselring com poucas forças para resistir em Salerno. Como era de se esperar, duas estratégias, duas visões e dois generais distintos resultaram em desavenças no momento de planejar a defesa da península italiana.


[…]


De maneira incompreensível, na área de Mãntua e de Módena, duas divisões blindadas alemãs permaneceram inativas – algo que explicita a rivalidade entre Rommel (norte) e Kesselring (sul), decorrente de seus diferentes pontos de vista sobre a defesa alemã na Itália. Se essas duas divisões tivessem se colocado a caminho no dia 9 (por estrada e trem), a defesa alemã teria ganhado maior consistência. Esse erro foi posteriormente lamentado por Alfred Jodl e Kesselring. Enquanto isso se passava em Salerno, os Aliados tinham tomado a iniciativa em outras partes da península. Assim, às 14 horas, bombearam Frascati, sede do quartel-general do marechal Kesselring. Embora o prédio tenha sido destruído, o militar alemão conseguiu sobreviver, ficando totalmente isolado por várias horas, de maneira que recebeu somente mais tarde, por intermédio do general Jodl, a notícia sobre a rendição italiana e o desembarque aliado em Salerno. Foi um dia terrível para as forças alemãs, que não sabiam para onde as tropas aliadas se dirigiam nem como os italianos reagiriam com seu posto de comando destruído por bombas. Somente ao saber que o destino dos britânicos e norte-americanos era Salerno, puderam respirar um pouco mais aliviados, uma vez que seu autêntico temor era que eles se dirigissem para mais ao norte, ou pior, que desembarcassem em sua retaguarda : em Roma.” pp. 111-112


Em Berlim, as oito divisões do comando sul já se davam por perdidas. Como foi mencionado, por iniciativa de Rommel, que convencera Hitler, os alemães tinham se resignado, no início de setembro, a ter de ceder uma grande parte da Itália, a mais propensa a possíveis desembarques. Com essa medida, tentariam concentrar-se na linha de defesa que a organização de trabalho alemã, Todt, começara a construir a partir de La Spezia até Rimini. Inicialmente, esse complexo fortificado foi denominado Linha Verde, passando mais tarde a ser chamado de Linha Gótica. Ela cortava uma parte da Itália centro-meridional. Kesselring foi abandonado a sua sorte. E, como resultado direto, Rommel obteve o controle total da frente sul. Kesselring tinha conhecimento da manobra que Rommel estava preparando.

Primeiro, ele tentou demonstrar que, embora não houvesse recebido a ordem habitual do Führer para esses casos, de 'resistir até a morte', não estava disposto a deixar que suas tropas se rendessem aos Aliados. As tropas de Kesselring estavam, no entanto, em posição de controlar os acontecimentos e manter o domínio da península que Rommel já havia dado por perdida. Para ele, era absolutamente imprescindível manter os aeródromos do sul da Itália, para que não caíssem nas mãos dos Aliados, convertendo-se, nesse caso, em uma formidável plataforma de lançamento de ataques aéreos contra a Alemanha. Mas o mais importante foi mostrar que Hitler se equivocara ao aceitar a sugestão de Rommel. Assim, o marechal da Luftwaffe ordenou que suas tropas se concentrassem em Roma para aniquilar, dessa forma, qualquer resistência italiana. Eliminando os italianos, teriam a situação ideal para lançar todas as suas forças contra as tropas aliadas desembarcadas no golfo de Salerno. Os planos, no entanto, não foram cumpridos à risca.

Primeiro, a resistência italiana reagiu ao ataque alemão, apesar de toda a confusão e da falta de ordens claras. Na noite entre 8 e 9 de setembro, foram travados combates ao redor de Roma, especialmente na estrada Magliana e no oitavo quilômetro da estrada Ostiense. Durante o dia 9, ocorreram mais combates. A Divisão Aríete, por exemplo, posicionada em Cássia, resistiu a um pesado ataque na área de Monterosi. A Divisão Piave, entretanto, lutou em Monterotondo e em Mentana, o que resultou na rendição de um batalhão de paraquedistas alemães. Mas a resistência italiana não era coordenada e careceu de apoio aliado, rompendo-se quando os Panzers alemães entraram em ação. E assim, no dia 10, os combates concentraram-se em torno de Porta San Paolo. No final do dia, caíram os últimos focos de resistência.

Apesar de todos esses acontecimentos em Roma, os Aliados conseguiram, em Salerno, derrubar as defesas alemãs durante as primeiras 48 horas de desembarque. A cabeça de praia, ao que tudo indicava, estava consolidada, de modo que o avanço para o interior começou sem resistência alemã. O general Clark conseguira cumprir seu objetivo. E os navios aliados desembarcavam tanques, veículos e equipamentos com total tranquilidade. A artilharia alemã tornava-se silenciosa e a Luftwaffe parecia ter desaparecido. Os Aliados conseguiram tomar o aeródromo de Monte corvino. Três dias após o desembarque já controlavam uma cabeça de praia de 100 quilômetros de extensão e 10 de profundidade. Mas mal podiam imaginar que seus momentos mais difíceis ainda estavam por vir.” pp. 114-115


Resgate de Mussolini

Em 12 de setembro uma operação ousada dos alemães conseguiu resgatar o ditador prisioneiro Mussolini.










Contra-ataque alemão

No dia 11, os alemães já tinham feito cerca de 11 mil prisioneiros, britânicos em sua maioria. Albert Kesselring percebeu que seu contra-ataque começava a funcionar. No flanco direito da frente aliada, colocou elementos da 15ª Divisão Panzer de Granadeiros e da Divisão Blindada Hermann Göring. No setor sul da frente, as tropas da 29ª Divisão Panzer de Granadeiros seriam lançadas ao ataque.

Além disso, desde 9 de setembro, a frota de desembarque dos Aliados havia se tornado o alvo principal dos aviões alemães da Frota Aérea nº 2 (Luftflotte 2). E, embora não tivessem obtido nenhum sucesso considerável durante os primeiros dias, no dia 11 conseguiram causar danos aos navios aliados. Assim, durante a manhã do dia 11, o cruzador norte-americano Philadelphia foi severamente danificado por uma bomba alemã Fritz X (como foi apelidada pelos Aliados), um míssil guidado por ondas de rádio que explodiu a 15 metros de distância. Poucos minutos depois, uma bomba semelhante caiu perto do cruzador norte-americano Savannah, embora, após seu navio irmão ter sido atacado, tenha sido sua velocidade aumentada para 20 nós (cerca de 37 km/h). o navio, apesar de danificado, conseguiu chegar ao porto de Malta, mas enfrentou dificuldades.” pp. 119-120


As baixas entre os Aliados tornavam-se significativas e preocupantes. Na verdade, a estratégia norte-americana não era a mais adequada para enfrentar um inimigo com a firme determinação de combater e de repelir qualquer tentativa de avanço sobre o interior da Itália. Os norte-americanos distribuíram suas tropas em uma frente excessivamente ampla, de modo que elas ficaram muito dispersas e, portanto, enfraquecidas para enfrentar os alemães. Especificamente, o 2º Batalhão da 36ª Divisão de Infantaria ficou, literalmente, sob a mira dos tanques alemães, que não tiveram dificuldades em aniquilá-los. Foram capturados 500 oficiais e soldados dessa unidade. Durante todo o dia 12, o contra-ataque estendeu-se por toda a frente. Kesselring lidou com a situação com uma situação com uma habilidade notável, enviando para o sul as tropas que estavam posicionadas em Roma, prevendo um provável desembarque dos Aliados. […]

Os anglo-americanos começaram a vacilar, mas os alemães continuaram a avançar incessantemente, até o centro da cabeça de praia, onde abriram uma perigosa brecha marcada pelo rio Sele, que atuava como linha divisória entre os setores britânico e norte-americano.” pp. 120-121

Para Kesselring, era necessário expulsar o inimigo para o mar, o mais cedo possível, pois a possibilidade de que os norte-americanos encontrassem e reforçassem as tropas de Montgomery constituía a maior ameaça para os alemães. Por isso, o marechal de campo da Luftwaffe pediu insistentemente a Rommel que lhe enviasse duas divisões blindadas. Este negou o pedido. Por quê? Por rivalidade ou por medo de enfraquecer a força de defesa no norte. Ainda assim, os alemães continuaram a avançar, convencidos de que conseguiriam causar uma espécie de nova retirada de Dunquerque.

Houve momentos de crise entre os oficiais aliados de alta patente. O general de divisão Ernest Dawley, à frente do 6º Corpo norte-americano, entrou em colapso por um ataque de nervos, especialmente quando os alemães expulsaram os norte-americanos de Altavilla. Estes tentaram recuperar a localidade, mas foram repelidos por uma colina a cinco quilômetros da praia. Os homens de Vietinghoff eram superiores em quantidade. O general William Wilbur, segundo no comando da 36ª Divisão americana, não parava de repetir a seus homens, enquanto caminhava em meio ao fogo alemão: 'Ninguém deve deixar este morro, salvo se estiver morto'.

Percebendo a gravidade da situação, o general Clark já havia organizado a retirada das tropas americanas para o setor do 10º Corpo britânico. A situação tornava-se insustentável, e a operação parecia que sucumbiria diante do resoluto ataque alemão e da falta de suprimentos e abastecimentos no setor norte-americano durante todo o dia 13. O próprio Dwight Eisenhower informou a Washington: 'O que nos preocupa é a operação Avalanche. Temos sido expulsos por um bem-preparado contra-ataque do inimigo […] em tal situação, a Força Aérea é nossa única esperança.' Durante os primeiros quatro dias de combates, a Força Aérea havia lançado cerca de 3,1 mil toneladas de bombas sobre as posições alemãs, 1,3 mil apenas no dia 13 de setembro. Claramente, o desempenho da Força Aérea aliada, comandada pelo marechal do ar Arthur William Tedder, foi fundamental na melhora da situação a partir de 14 de setembro. [...]” pp. 122-123

A operação Avalanche não foi um sucesso

A operação Avalanche não foi um sucesso estratégico, porque não alcançou os objetivos propostos, como a libertação imediata de Nápoles e o rápido avanço sobre Roma. Para isso, seriam necessários mais nove meses. No final de setembro, os Aliados dominavam todo o sul da 'bota italiana'. Em 1º de outubro, Nápoles foi tomada e, em uma semana, os Aliados estavam às margens do rio Volturno.

As baixas aliadas superaram os 6,2 mil mortos e desaparecidos e cerca de 7,4 mil feridos (embora o escritor Matthew Parker considere que tenham sido 9 mil baixas). As baixas do 5º Exército, por exemplo, elevaram-se a 5.674 mortos, feridos e desaparecidos. A 36ª Divisão de Andrew Cunningham sofreu a pior parte, com a perda de quase 4 mil homens (dos quais uma elevada porcentagem de tropas de primeira linha). Além disso, 3 mil soldados aliados foram capturados, contra apenas 630 alemães.” p. 132

Fonte: Coleção 70º aniversário da 2ª guerra Mundial, v. 19. 1943 – Hora da Virada: Aliados desembarcam na Itália . Trad. Fernanda Teixeira Ribeiro e Mario Miguel Fernandez Escalera. São Paulo: Abril Coleções, 2009.


mais info em


Um comentário:

  1. Esse foi o melhor relatório/post sobre a operação Avalanche que encontrei na Internet, Parabéns! Infelizmente este acontecimento da história possui uma pesquisa muito rara, pois em Salerno e Paestum, o revés aliado foi catastrófico e suas informações por dezenas de anos foi considerada classificada pelo Governo Americano. Porém as pessoas do Local, que é aonde moro na Italia a uma distancia de 30 km! Guardaram consigo seus testemunhos, como meu Pai deu Giuseppe, hoje com 86 anos presenciou a invasão de uma montanha na Costa del Cilento na Itália. O Povo conta aqui que um pequeno destacamento alemão trucidou toda uma Divisão Aliada! Existe aqui até um tour sobre o acontecimento - https://www.viator.com/pt-BR/tours/Salerno/Salerno-and-Operation-Avalanche-Day-Tour-from-Paestum/d4736-18362P5
    Contam por aqui que 3 alemães em um banker dea montanha com 2 "lurdinhas" MK 42 dizimaram mais de 300 soldados americanos na Praia de Capaccio! E na Praia de Santa Maria di Castellabate aonde moro ao Sul, apareceram dezenas de corpos nas parais por semanas! Aqui também os aliados fizeram o primeiro campo de pouso na região da Praia do Lago...Bom é isso, agradeço à informação!

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