terça-feira, 10 de setembro de 2013

Itália anuncia o Armistício - setembro 1943





Itália anuncia o Armistício

setembro 1943


Armistício com a Itália
e Desembarque em Salerno

Em 8 de setembro de 1943, após 1.184 dias de guerra, a Itália seria o palco
de acontecimentos importantes. O fascismo caíra havia 45 dias e, cinco
dias antes, após conquistar a Sicília, os Aliados pisaram no continente,
na Calábria


No mesmo dia 8, Salerno foi novamente bombardeada. A cidade tornara-se, naqueles últimos dias, o principal alvo dos bombardeiros aliados. Os ataques ocorriam diariamente, de modo que só o que restava de Salerno eram ruínas. Os habitantes da cidade viviam em túneis e abrigos, sofrendo com a fome e o medo.

No final da tarde, a voz do marechal Pietro Badoglio, transmitida pelo rádio, invadiu as ruas da cidade, anunciando o armistício entre a Itália e os Aliados. Muitos pensaram que esse acordo significava que a guerra tinha acabado e prepararam-se para demonstrar sua alegria nas ruas da cidade. A felicidade da manifestação durou pouco, pois uma grande frota naval apareceu no horizonte e apontou ameaçadoramente em direção ao golfo de Salerno. O medo e o terror voltaram a tomar conta dos moradores da cidade, que haviam nutrido uma vã esperança, e eles retornaram apressadamente para seus abrigos.

O desembarque, que se seguiu ao anúncio do armistício, mal foi notado pelos italianos, mas, sem dúvida, foi um acontecimento de enorme importância. Sua falta de coordenação, no entanto, impediu um sucesso ainda maior, o que, talvez, poderia ter colocado ponto final na guerra muito cedo. No entanto, a ação não foi tão bem-sucedida.

Embora tomados de surpresa, os alemães tiveram tempo suficiente para reagir e, por pouco, não repeliram as forças aliadas para o mar.

Os Aliados pensavam que, com a saída dos italianos da guerra, o desembarque seria praticamente uma brincadeira. E isso teria realmente ocorrido se os italianos tivessem neutralizado as tropas alemãs terrestres presentes na área. Entretanto, o Exército italiano estava longe de estar preparado para essa tarefa. Além disso, a partir de 25 de julho, as unidades alemãs tinham começado a chegar em massa na Itália. Embora [o ditador Adolf] Hitler tivesse cancelado a operação Alarico (a ocupação militar da Itália), não abriu mão, até então, de enviar um número significativo de tropas para garantir, pelo menos, o controle do vale do Pó e das cidades industriais do norte da Itália, como Milão [Milano] e Turim [Torino], diante da iminente capitulação italiana. Assim, em poucos dias, a situação militar na Itália mudou radicalmente. Encontravam-se no país 18 divisões alemãs, divididas em dois grupos de exército. Ao norte, estava o Grupo de Exércitos B, comandado pelo marechal Erwin Rommel, encarregado de vigiar os italianos e desarmá-los em caso de capitulação; ao sul, o comando estava a cargo do marechal Albert Kesselring, que deveria impedir qualquer tentativa de invasão aliada. Dois chefes, dois exércitos – 'dois galos no mesmo galinheiro', pode-se dizer. Tudo favorecia uma discussão interna. Essas desavenças entre generais enfraqueciam consideravelmente a preparação alemã.

Os alemães já esperavam o desembarque dos Aliados. Mas eles não tinham ideia do local onde ocorreria. Consideravam várias possibilidades: um desembarque nas praias da região da Apúlia, ou na área de Nápoles, ou mesmo em Roma ou, por último, mais ao norte, entre Grosseto e la Spezia. O que os alemães sabiam era que suas chances de manter o controle da parte sul da Itália, no caso de um desembarque aliado, eram quase nulas. Dessa forma, investiram na construção de uma linha de contenção, a Linha Gótica, que dependeria diretamente do marechal Rommel. Os homens de Kesselring já eram considerados perdidos, mesmo antes do início dos combates.

[…]


“Finalmente, as condições dos Aliados impuseram-se. Resignados, os italianos aceitaram a rendição incondicional. Antes de assinar o armistício (em Cassibile, em 3 de setembro de 1943), o general Castellano insistiu para que o anúncio do armistício coincidisse com um desembarque na península italiana. A intervenção aliada seria necessária para impedir que o Exército alemão ocupasse a Itália. Os Aliados, no entanto, mantiveram seus planos em segredo para os italianos. O desembarque em Salerno foi uma consequência direta da rendição italiana ou teria ocorrido mesmo se a Itália tivesse continuado a luta ao lado da Alemanha?

Segundo Catellano, a operação foi mantida em segredo pelos Aliados até o último momento. Os italianos que negociaram a rendição em Salerno nunca souberam desses planos. Mas o desembarque foi decidido antes que a Itália aceitasse a rendição. O plano vinha sendo estudado havia bastante tempo. Os soldados que desembarcaram nas praias de Salerno não sabiam nada sobre a rendição italiana. Pode-se dizer que o desembarque seria realizado mesmo que a Itália não se rendesse incondicionalmente. Os planos dos Aliados seguiam, portanto, seu ritmo próprio. Nem eles, nem os alemães dependiam dos italianos para seus planos.

Por parte dos alemães, a resposta para a rendição italiana foi imediata. A operação Eixo foi lançada com a firme intenção de desarmar as tropas italianas rapidamente. O objetivo era tomar o controle não apenas do vale do Pó, mas de toda a península.

[…]


“Do lado alemão, seis divisões estavam sobre o terreno, perfeitamente situadas ao longo da costa oeste da Itália, posicionadas em áreas que poderiam servir para que os Aliados desembarcassem tropas, especialmente área entre Roma e a ponta da 'bota' italiana. Entre essas unidades, encontravam-se a Divisão Blindada Hermann Göring, as 26ª e 16ª Divisões Panzers, as 15ª e 29ª Divisões Panzers de Granadeiros e, finalmente, a 2ª Divisão de Paraquedistas. Heinrich von Vietinghoff, comandante do 10º Exército alemão, posicionou a 16ª Divisão Panzer estrategicamente nas colinas ao redor da planície de Salerno.

Na manhã do dia 8 de setembro, uma grande frota de desembarque comandada pelo general norte-americano Mark Clark, que não tinha experiência em operações anfíbias dessa envergadura, partiu dos portos da Sicília e da Argélia em direção ao golfo de Salerno. O 5º Exército de Clark zarpou de Argel, Orã e Palermo, e as divisões britânicas o fizeram a partir de Bizerte e Trípoli. No total, somavam 586 navios (entre eles, 333 lanchas de desembarque), sob o comando do vice-almirante norte-americano Kent Hewitt, com 22 mil veículos, assim como 55 mil soldados britânicos e norte-americanos a bordo, que precederiam outros cerca de 115 mil, que chegariam em ondas de desembarque subsequentes. A presença de um comboio aliado de tamanha proporção não passou despercebida pela Luftwaffe, que localizou as unidades navais que transportavam a 36ª Divisão norte-americana pouco depois que esta zarpou do porto de Orã, em 5 de setembro, por volta das 17 horas. O mesmo ocorreu com as embarcações da 46ª Divisão de Infantaria britânica, que saiu do porto de Bizerte. No dia 8, elas foram alvo de dois ataques realizados por aviões alemães.

[…]

Durante todo o tempo em que a frota aliada esteve nas proximidades da costa de Salerno, a Luftwaffe atacou-a usando bombas guiadas por rádio, lançadas por aeronaves Do-127. Assim, no dia 13, o cruzador Uganda foi danificado, enquanto apoiava as forças terrestres com seu fogo. No dia 16, depois que o Warspite realizou seu trabalho de apoio, foi atingido por três bombas guiadas alemãs. Teve de ser rebocado para malta, após sofrer sérios danos.

[…]

E a tarefa que aguardava os Aliados não era pequena: eles iriam realizar o primeiro grande desembarque em solo europeu. No entanto, os soldados que se dirigiam para as praias a bordo da frota aliada não sabiam nada sobre as conversações entre italianos e Aliados. A libertação de grande parte da Itália dependia, em grande medida, do sucesso do desembarque nas praias. Eles estavam convencidos de que a resistência de alemães e italianos seria obstinada. Mal podiam imaginar que, naquele momento, a Itália tinha deixado de pertencer ao grupo de parceiros da Alemanha, e que, em seu discurso no rádio, Badoglio iria recomendar que os italianos não combatessem contra britânicos e norte-americanos. A notícia foi divulgada rapidamente. Às 19h20 de 8 de setembro, quando os navios se aproximavam da costa de Salerno, anunciou-se que o governo italiano tinha assinado a rendição incondicional.” pp. 83-89, 91-92



fonte: Coleção 70º aniversário da 2ª Guerra Mundial, v. 19. São Paulo: Abril Coleções, 2009. trad. Fernanda Teixeira Ribeiro e Mario Miguel Fernandez Escaleira.


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