Operação
Avalanche
Avanço
Aliado na Itália
setembro
1943
“A
operação Avalanche teve
início em 9 de setembro de 1943. O desembarque não foi acompanhado
de nenhum bombardeio prévio, naval ou aéreo. Os Aliados esperavam,
assim, aproveitar o elemento surpresa. No entanto, não o
conseguiram, como tinham previsto os comandantes navais, contrários
em abrir mão de um intenso bombardeio preliminar das posições
alemães. Os Aliados desembarcaram tropas em duas praias distantes 12
quilômetros uma da outra, no golfo de Salerno. O desembarque foi
apoiado por vários cruzadores (incluindo 3 norte-americanos), 2
monitores, 35 destróieres e uma força de 5 porta-aviões de escolta
com 10 destróieres.” p. 100
“No
lado alemão, apenas uma unidade de combate formada especialmente
para aquela missão, o grupo de combate Stempel, pôde conter, em
parte, o ataque norte-americano. Essa formação, improvisada no
local, serviu como uma unidade de reforço do 79º Regimento Panzer
de Granadeiros e dificultou a situação para um batalhão do 141º
Regimento da inexperiente 36ª Divisão norte-americana, que ficou
literalmente, plantada no terreno, conseguindo avançar pouco além
das posições conquistadas na costa durante todo o dia 9 de
setembro.
Ao
norte, os ingleses tiveram a sorte de os alemães abrirem fogo sobre
os LST (landing
ship tanks,
os navios aliados que podiam transportar tropas e equipamentos
pesados, como tanques, até a praia de desembarque) antes que eles se
preparassem para lançar seus LCVP (landing
craft vehicle personnel,
embarcações menores que as anteriores, também chamadas de barcos
Higgins, em homenagem a seu criador). Se isso não houvesse ocorrido,
o fogo alemão teria destroçado as lanchas aliadas em seu caminho
até a praia. Imediatamente, começou o bombardeio naval.” p. 104
A
defesa alemã
“A
palavra-chave Alarmstufe
II (2º
nível de alarme) mobilizou todas as tropas alemãs e colocou-as em
estado de alerta máximo. Em tempo praticamente recorde, os alemães
planejaram a defesa das praias. À frente deles, estava um confiante
Albert Kesselring, sobre quem Mark Clark disse: “Foi um dos
oficiais mais eficientes e hábeis do Exército de Hitler, tanto por
sua capacidade de liderança, como por sua maneira de gerir seus
recursos e pessoal.”
As
forças alemãs basearam sua defesa na 16ª Divisão Panzer,
comandada pelo general Rudolf Sieckenius, com 17 mil homens e 100
carros de combate, mas sem os modernos Tigers, cujas tripulações
estavam sendo treinadas na Alemanha naquele momento. Cerca de 30% dos
homens dessa divisão tinham experiência em combate. A unidade foi
dividida em quatro grupos para enfrentar os desembarques. A 16ª
Divisão pertencia ao 10º Exército alemão, comandado pelo general
Henrich von Vietinghoff, um oficial da escola prussiana. Competente e
seguro de si.
A
essas tropas, juntaram-se as 29ª e 15ª Divisões Panzers
de Granadeiros, evacuadas do sul da península italiana e da Sicília.
Essas forças teriam de defender 48 quilômetros de praias, uma
tarefa muito complicada para tão poucos soldados. Por isso, a baía
de Salerno foi fortemente minada.
O
plano de Kesselring tinha, porém, um erro. O Alto-Comando alemão
recusou-se a enviar mais divisões para as proximidades de Nápoles.
Segundo a recomendação de Erwin Rommel, a defesa deveria ser feita
no norte de Roma, pois, analisando as guerras no mar, era possível
ver claramente que o Mediterrâneo não representava um empecilho
para o poder naval aliado. Já os Apeninos, que se estendem do
Adriático ao golfo de Gênova, poderiam ser muitos úteis para a
defesa, sendo necessárias poucas tropas para essa tarefa. Hitler
tomou uma decisão intermediária e deixou Kesselring com poucas
forças para resistir em Salerno. Como era de se esperar, duas
estratégias, duas visões e dois generais distintos resultaram em
desavenças no momento de planejar a defesa da península italiana.
[…]
De
maneira incompreensível, na área de Mãntua e de Módena, duas
divisões blindadas alemãs permaneceram inativas – algo que
explicita a rivalidade entre Rommel (norte) e Kesselring (sul),
decorrente de seus diferentes pontos de vista sobre a defesa alemã
na Itália. Se essas duas divisões tivessem se colocado a caminho no
dia 9 (por estrada e trem), a defesa alemã teria ganhado maior
consistência. Esse erro foi posteriormente lamentado por Alfred Jodl
e Kesselring. Enquanto isso se passava em Salerno, os Aliados tinham
tomado a iniciativa em outras partes da península. Assim, às 14
horas, bombearam Frascati, sede do quartel-general do marechal
Kesselring. Embora o prédio tenha sido destruído, o militar alemão
conseguiu sobreviver, ficando totalmente isolado por várias horas,
de maneira que recebeu somente mais tarde, por intermédio do general
Jodl, a notícia sobre a rendição italiana e o desembarque aliado
em Salerno. Foi um dia terrível para as forças alemãs, que não
sabiam para onde as tropas aliadas se dirigiam nem como os italianos
reagiriam com seu posto de comando destruído por bombas. Somente ao
saber que o destino dos britânicos e norte-americanos era Salerno,
puderam respirar um pouco mais aliviados, uma vez que seu autêntico
temor era que eles se dirigissem para mais ao norte, ou pior, que
desembarcassem em sua retaguarda : em Roma.” pp. 111-112
“Em
Berlim, as oito divisões do comando sul já se davam por perdidas.
Como foi mencionado, por iniciativa de Rommel, que convencera Hitler,
os alemães tinham se resignado, no início de setembro, a ter de
ceder uma grande parte da Itália, a mais propensa a possíveis
desembarques. Com essa medida, tentariam concentrar-se na linha de
defesa que a organização de trabalho alemã, Todt, começara a
construir a partir de La Spezia até Rimini. Inicialmente, esse
complexo fortificado foi denominado Linha Verde, passando mais tarde
a ser chamado de Linha Gótica. Ela cortava uma parte da Itália
centro-meridional. Kesselring foi abandonado a sua sorte. E, como
resultado direto, Rommel obteve o controle total da frente sul.
Kesselring tinha conhecimento da manobra que Rommel estava
preparando.
Primeiro,
ele tentou demonstrar que, embora não houvesse recebido a ordem
habitual do Führer
para esses casos, de 'resistir até a morte', não estava disposto a
deixar que suas tropas se rendessem aos Aliados. As tropas de
Kesselring estavam, no entanto, em posição de controlar os
acontecimentos e manter o domínio da península que Rommel já havia
dado por perdida. Para ele, era absolutamente imprescindível manter
os aeródromos do sul da Itália, para que não caíssem nas mãos
dos Aliados, convertendo-se, nesse caso, em uma formidável
plataforma de lançamento de ataques aéreos contra a Alemanha. Mas o
mais importante foi mostrar que Hitler se equivocara ao aceitar a
sugestão de Rommel. Assim, o marechal da Luftwaffe
ordenou que suas tropas se concentrassem em Roma para aniquilar,
dessa forma, qualquer resistência italiana. Eliminando os italianos,
teriam a situação ideal para lançar todas as suas forças contra
as tropas aliadas desembarcadas no golfo de Salerno. Os planos, no
entanto, não foram cumpridos à risca.
Primeiro,
a resistência italiana reagiu ao ataque alemão, apesar de toda a
confusão e da falta de ordens claras. Na noite entre 8 e 9 de
setembro, foram travados combates ao redor de Roma, especialmente na
estrada Magliana e no oitavo quilômetro da estrada Ostiense. Durante
o dia 9, ocorreram mais combates. A Divisão Aríete, por exemplo,
posicionada em Cássia, resistiu a um pesado ataque na área de
Monterosi. A Divisão Piave, entretanto, lutou em Monterotondo e em
Mentana, o que resultou na rendição de um batalhão de
paraquedistas alemães. Mas a resistência italiana não era
coordenada e careceu de apoio aliado, rompendo-se quando os Panzers
alemães entraram em ação. E assim, no dia 10, os combates
concentraram-se em torno de Porta San Paolo. No final do dia, caíram
os últimos focos de resistência.
Apesar
de todos esses acontecimentos em Roma, os Aliados conseguiram, em
Salerno, derrubar as defesas alemãs durante as primeiras 48 horas de
desembarque. A cabeça de praia, ao que tudo indicava, estava
consolidada, de modo que o avanço para o interior começou sem
resistência alemã. O general Clark conseguira cumprir seu objetivo.
E os navios aliados desembarcavam tanques, veículos e equipamentos
com total tranquilidade. A artilharia alemã tornava-se silenciosa e
a Luftwaffe parecia ter desaparecido. Os Aliados conseguiram
tomar o aeródromo de Monte corvino. Três dias após o desembarque
já controlavam uma cabeça de praia de 100 quilômetros de extensão
e 10 de profundidade. Mas mal podiam imaginar que seus momentos mais
difíceis ainda estavam por vir.” pp. 114-115
Resgate
de Mussolini
Em
12 de setembro uma operação ousada dos alemães conseguiu resgatar
o ditador prisioneiro Mussolini.
Contra-ataque
alemão
“No
dia 11, os alemães já tinham feito cerca de 11 mil prisioneiros,
britânicos em sua maioria. Albert Kesselring percebeu que seu
contra-ataque começava a funcionar. No flanco direito da frente
aliada, colocou elementos da 15ª Divisão Panzer de
Granadeiros e da Divisão Blindada Hermann Göring. No setor sul da
frente, as tropas da 29ª Divisão Panzer de Granadeiros
seriam lançadas ao ataque.
Além
disso, desde 9 de setembro, a frota de desembarque dos Aliados havia
se tornado o alvo principal dos aviões alemães da Frota Aérea nº
2 (Luftflotte 2). E, embora não tivessem obtido nenhum
sucesso considerável durante os primeiros dias, no dia 11
conseguiram causar danos aos navios aliados. Assim, durante a manhã
do dia 11, o cruzador norte-americano Philadelphia foi
severamente danificado por uma bomba alemã Fritz X (como foi
apelidada pelos Aliados), um míssil guidado por ondas de rádio que
explodiu a 15 metros de distância. Poucos minutos depois, uma bomba
semelhante caiu perto do cruzador norte-americano Savannah,
embora, após seu navio irmão ter sido atacado, tenha sido sua
velocidade aumentada para 20 nós (cerca de 37 km/h). o navio, apesar
de danificado, conseguiu chegar ao porto de Malta, mas enfrentou
dificuldades.” pp. 119-120
“As
baixas entre os Aliados tornavam-se significativas e preocupantes. Na
verdade, a estratégia norte-americana não era a mais adequada para
enfrentar um inimigo com a firme determinação de combater e de
repelir qualquer tentativa de avanço sobre o interior da Itália. Os
norte-americanos distribuíram suas tropas em uma frente
excessivamente ampla, de modo que elas ficaram muito dispersas e,
portanto, enfraquecidas para enfrentar os alemães. Especificamente,
o 2º Batalhão da 36ª Divisão de Infantaria ficou, literalmente,
sob a mira dos tanques alemães, que não tiveram dificuldades em
aniquilá-los. Foram capturados 500 oficiais e soldados dessa
unidade. Durante todo o dia 12, o contra-ataque estendeu-se por toda
a frente. Kesselring lidou com a situação com uma situação com
uma habilidade notável, enviando para o sul as tropas que estavam
posicionadas em Roma, prevendo um provável desembarque dos Aliados.
[…]
Os
anglo-americanos começaram a vacilar, mas os alemães continuaram a
avançar incessantemente, até o centro da cabeça de praia, onde
abriram uma perigosa brecha marcada pelo rio Sele, que atuava como
linha divisória entre os setores britânico e norte-americano.”
pp. 120-121
“Para
Kesselring, era necessário expulsar o inimigo para o mar, o mais
cedo possível, pois a possibilidade de que os norte-americanos
encontrassem e reforçassem as tropas de Montgomery constituía a
maior ameaça para os alemães. Por isso, o marechal de campo da
Luftwaffe pediu insistentemente a Rommel que lhe enviasse duas
divisões blindadas. Este negou o pedido. Por quê? Por rivalidade ou
por medo de enfraquecer a força de defesa no norte. Ainda assim, os
alemães continuaram a avançar, convencidos de que conseguiriam
causar uma espécie de nova retirada de Dunquerque.
Houve
momentos de crise entre os oficiais aliados de alta patente. O
general de divisão Ernest Dawley, à frente do 6º Corpo
norte-americano, entrou em colapso por um ataque de nervos,
especialmente quando os alemães expulsaram os norte-americanos de
Altavilla. Estes tentaram recuperar a localidade, mas foram repelidos
por uma colina a cinco quilômetros da praia. Os homens de
Vietinghoff eram superiores em quantidade. O general William Wilbur,
segundo no comando da 36ª Divisão americana, não parava de repetir
a seus homens, enquanto caminhava em meio ao fogo alemão: 'Ninguém
deve deixar este morro, salvo se estiver morto'.
Percebendo
a gravidade da situação, o general Clark já havia organizado a
retirada das tropas americanas para o setor do 10º Corpo britânico.
A situação tornava-se insustentável, e a operação parecia que
sucumbiria diante do resoluto ataque alemão e da falta de
suprimentos e abastecimentos no setor norte-americano durante todo o
dia 13. O próprio Dwight Eisenhower informou a Washington: 'O que
nos preocupa é a operação Avalanche. Temos sido expulsos por um
bem-preparado contra-ataque do inimigo […] em tal situação, a
Força Aérea é nossa única esperança.' Durante os primeiros
quatro dias de combates, a Força Aérea havia lançado cerca de 3,1
mil toneladas de bombas sobre as posições alemãs, 1,3 mil apenas
no dia 13 de setembro. Claramente, o desempenho da Força Aérea
aliada, comandada pelo marechal do ar Arthur William Tedder, foi
fundamental na melhora da situação a partir de 14 de setembro.
[...]” pp. 122-123
A
operação Avalanche
não foi um sucesso
“A
operação Avalanche não foi um sucesso estratégico, porque não
alcançou os objetivos propostos, como a libertação imediata de
Nápoles e o rápido avanço sobre Roma. Para isso, seriam
necessários mais nove meses. No final de setembro, os Aliados
dominavam todo o sul da 'bota italiana'. Em 1º de outubro, Nápoles
foi tomada e, em uma semana, os Aliados estavam às margens do rio
Volturno.
As
baixas aliadas superaram os 6,2 mil mortos e desaparecidos e cerca de
7,4 mil feridos (embora o escritor Matthew Parker considere que
tenham sido 9 mil baixas). As baixas do 5º Exército, por exemplo,
elevaram-se a 5.674 mortos, feridos e desaparecidos. A 36ª Divisão
de Andrew Cunningham sofreu a pior parte, com a perda de quase 4 mil
homens (dos quais uma elevada porcentagem de tropas de primeira
linha). Além disso, 3 mil soldados aliados foram capturados, contra
apenas 630 alemães.” p. 132
Fonte:
Coleção 70º aniversário da 2ª guerra Mundial, v. 19. 1943
– Hora da Virada: Aliados desembarcam na Itália .
Trad. Fernanda Teixeira Ribeiro e Mario Miguel Fernandez Escalera.
São Paulo: Abril Coleções, 2009.
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