A Vitória
póstuma da Rosa Branca
por Christine Levisse-Touzé
in: História Viva, Ano IV, 41, pp. 38-41)
“Em 1941, com alguns
colegas, os estudantes Hans e Sophie Scholl, de Munique, fundaram um movimento
de resistência ao regime nazista, denunciando os seus crimes e utilizando
panfletos para conclamar os alemães à rebelião.”
“A Rosa Branca [Weise Rose] é o mais conhecido dos
movimentos alemães de resistência a Hitler. A obra de Inge Scholl, irmã de Hans
e Sophie, fundadores do movimento, foi publicada pela primeira vez em 1953, em
versão francesa, La Rose Blanche, six
Allemands contre le nazisme [A Rosa Branca, seis alemães contra o nazismo,
Éditions de Mnuit, 1995], e, desde então, vem sendo regularmente reeditada.
Exposições lhe foram dedicadas na Alemanha, em especial em Munique, berço do
movimento.
[...]
Diferentemente de outros
movimentos, a Rosa Branca logo passou a simbolizar uma resistência pura e
moral. O nome foi escolhido por Hans Scholl. Seus membros passaram rapidamente
à ação, por meio da divulgação de panfletos em que acusavam o regime,
encorajando os colegas a se revoltar. Denunciavam crimes cometidos na frente
soviética em nome da guerra de extermínio, e chegaram até mesmo a pregar a
resistência passiva.
Sua ação se desenvolveu em
três fases bem marcadas: em junho e julho de 1942, houve a divulgação dos
quatro primeiros panfletos; de novembro de 1942 ao final de janeiro de 1943,
deu-se a produção do quinto panfleto; em fevereiro de 1943, ocorreu a
radicalização de sua ação, com inscrições nos muros e a redação do sexto
panfleto. Entre 27 de junho a 12 de julho de 1942, Hans Scholl e Alexander
Schmorell distribuíram as quatro primeiras Folhas da Rosa Branca em Munique.
Seu objetivo era provocar uma reação dos membros da ‘cultura cristã ocidental’
e da intelligentsia alemã, e suscitar
o patriotismo. Segundo seus redatores, os intelectuais foram os responsáveis
pelo fracasso político da Alemanha.
[...]
De novembro de 1942 ao final
de janeiro de 1943, o grupo se esforçou para convencer a população, e se
estendeu a outras cidades, em especial Hamburgo. Hans Scholl e Alexander
Schmorell fizeram contato com Falk Harnack, irmão de Arvid, um dos chefes da Rote Kapelle [Orquestra Vermelha], cuja
existência haviam descoberto. Ao estabelecer relações com um marxista convicto,
esperavam poder atingir grupos de resistentes de Berlim.
[...]
Quando do anúncio da
capitulação alemã de Stalingrado, em 3 de fevereiro de 1943, os resistentes
decidiram exacerbar sua ação, redigindo um sexto panfleto. O grupo visava
prioritariamente os estudantes de Munique, que tinham ousado enfrentar a
autoridade do Gauleiter Giesler, em
13 de janeiro de 1943, por ocasião das cerimônias ligadas ao 470º aniversário
da universidade. Redigido por Kurt Huber, Hans Scholl e Alexander Schmorell, o
panfleto dirigia-se diretamente aos estudantes: ‘A derrota de Stalingrado
atirou nosso povo no estupor. A vida de 300 mil alemães, eis o que custou a
estratégia genial desse soldado de segunda classe, promovido a general dos
exércitos. Führer, nós te
agradecemos. [...] Nunca mais! Chegou o dia de exigir explicações da mais
execrável tirania que este povo jamais suportou. Em nome da juventude alemã,
nós exigimos do Estado de Adolf Hitler o retorno às liberdades individuais.
[...] Para nós só existe um imperativo: lutar contra a ditadura! [...]’
[...]
Os estudantes eram
convidados a se lançar contra o regime, à imagem da luta de 1813 contra
Napoleão. Aproveitando o desmoronar do mito de Hitler, em seguida à derrota de
Stalingrado, eles se tornaram mais audaciosos. Durante as noites de 3 a 16 de
fevereiro, nas paredes da universidade e de outros prédios públicos, escreveram
frases como ABAIXO HITLER, HITLER, ASSASSSINO DAS MASSAS, LIBERDADE, com
suásticas riscadas.
O epílogo foi dramático. Em
18 de fevereiro de 1943, Hans e Sophie Scholl dispuseram várias pilhas de
panfletos na saída das salas de aula e corredores da universidade. Subiram até
outro andar, de onde Sophie lançou o restante dos panfletos no pátio. O
encarregado da universidade, Jakob Schmid, os interpelou. Dos 1.200 panfletos
distribuídos, a Gestapo interceptou
800. Hans e Sophie, detidos pela Gestapo, foram levados ao palácio de
Wittelsbach e interrogados durante quatro dias. [...] Seu processo foi aberto
em 22 de fevereiro, no tribunal do Palácio de Justiça de Munique. Roland
Freisler, presidente do Tribunal do Povo, vindo expressamente de Berlim para o
caso, comportou-se mais como acusador do que como juiz durante todo o processo.
Eles foram acusados de ‘apoio pérfido ao inimigo, organização de alta traição e
desagregação dos exércitos’. [...] Os próprios acusados fizeram sua defesa. Sophie
Scholl confessou sua participação na distribuição de panfletos: ‘O que nós
dissemos e escrevemos muitos pensam, mas não ousam admitir’.
Os três acusados deram prova
de surpreendente dignidade, quando do anúncio do veredicto. Hans escreveu nas
paredes da prisão a seguinte citação de Goethe: ‘Enfrentar todas as forças
contrárias’. Logo depois das 17 horas, os três amigos foram guilhotinados. Alexander
Schimorell, Willi Graf e Kurt Huber foram condenados à morre em 19 de abril de
1943. Três novos processos julgaram outros membros, mas as penas de morte não
foram aplicadas, porque a população de Munique reagiu contra a dureza dos
julgamentos.
A maioria dos membros da
Rosa Branca foi detida e o movimento, desmantelado. A determinação daqueles
jovens de enfrentar o terror fez deles resistentes no sentido literal do termo.
Eles acreditaram que podiam interferir no curso da guerra e provocar uma
mudança de opinião. Sua grande vitória foi demonstrar que havia uma outra
Alemanha para além do nazismo.”
Fonte: História Viva, Ano IV, 41, pp. 38-41
Seleção: LdeM
Mais info
Filmes baseados
na resistência da Rosa Branca
Sophie
Scholl – Último dias
A
Rosa Branca / 1982
A
Rosa Branca / 2005
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