quinta-feira, 7 de março de 2013

Rosa Branca contra o nazismo





A Vitória póstuma da Rosa Branca


por Christine Levisse-Touzé

 in: História Viva, Ano IV, 41, pp. 38-41)

“Em 1941, com alguns colegas, os estudantes Hans e Sophie Scholl, de Munique, fundaram um movimento de resistência ao regime nazista, denunciando os seus crimes e utilizando panfletos para conclamar os alemães à rebelião.”

“A Rosa Branca [Weise Rose] é o mais conhecido dos movimentos alemães de resistência a Hitler. A obra de Inge Scholl, irmã de Hans e Sophie, fundadores do movimento, foi publicada pela primeira vez em 1953, em versão francesa, La Rose Blanche, six Allemands contre le nazisme [A Rosa Branca, seis alemães contra o nazismo, Éditions de Mnuit, 1995], e, desde então, vem sendo regularmente reeditada. Exposições lhe foram dedicadas na Alemanha, em especial em Munique, berço do movimento.

[...]

Diferentemente de outros movimentos, a Rosa Branca logo passou a simbolizar uma resistência pura e moral. O nome foi escolhido por Hans Scholl. Seus membros passaram rapidamente à ação, por meio da divulgação de panfletos em que acusavam o regime, encorajando os colegas a se revoltar. Denunciavam crimes cometidos na frente soviética em nome da guerra de extermínio, e chegaram até mesmo a pregar a resistência passiva.

Sua ação se desenvolveu em três fases bem marcadas: em junho e julho de 1942, houve a divulgação dos quatro primeiros panfletos; de novembro de 1942 ao final de janeiro de 1943, deu-se a produção do quinto panfleto; em fevereiro de 1943, ocorreu a radicalização de sua ação, com inscrições nos muros e a redação do sexto panfleto. Entre 27 de junho a 12 de julho de 1942, Hans Scholl e Alexander Schmorell distribuíram as quatro primeiras Folhas da Rosa Branca em Munique. Seu objetivo era provocar uma reação dos membros da ‘cultura cristã ocidental’ e da intelligentsia alemã, e suscitar o patriotismo. Segundo seus redatores, os intelectuais foram os responsáveis pelo fracasso político da Alemanha.

[...]

De novembro de 1942 ao final de janeiro de 1943, o grupo se esforçou para convencer a população, e se estendeu a outras cidades, em especial Hamburgo. Hans Scholl e Alexander Schmorell fizeram contato com Falk Harnack, irmão de Arvid, um dos chefes da Rote Kapelle [Orquestra Vermelha], cuja existência haviam descoberto. Ao estabelecer relações com um marxista convicto, esperavam poder atingir grupos de resistentes de Berlim.

[...]

Quando do anúncio da capitulação alemã de Stalingrado, em 3 de fevereiro de 1943, os resistentes decidiram exacerbar sua ação, redigindo um sexto panfleto. O grupo visava prioritariamente os estudantes de Munique, que tinham ousado enfrentar a autoridade do Gauleiter Giesler, em 13 de janeiro de 1943, por ocasião das cerimônias ligadas ao 470º aniversário da universidade. Redigido por Kurt Huber, Hans Scholl e Alexander Schmorell, o panfleto dirigia-se diretamente aos estudantes: ‘A derrota de Stalingrado atirou nosso povo no estupor. A vida de 300 mil alemães, eis o que custou a estratégia genial desse soldado de segunda classe, promovido a general dos exércitos. Führer, nós te agradecemos. [...] Nunca mais! Chegou o dia de exigir explicações da mais execrável tirania que este povo jamais suportou. Em nome da juventude alemã, nós exigimos do Estado de Adolf Hitler o retorno às liberdades individuais. [...] Para nós só existe um imperativo: lutar contra a ditadura! [...]’

[...]

Os estudantes eram convidados a se lançar contra o regime, à imagem da luta de 1813 contra Napoleão. Aproveitando o desmoronar do mito de Hitler, em seguida à derrota de Stalingrado, eles se tornaram mais audaciosos. Durante as noites de 3 a 16 de fevereiro, nas paredes da universidade e de outros prédios públicos, escreveram frases como ABAIXO HITLER, HITLER, ASSASSSINO DAS MASSAS, LIBERDADE, com suásticas riscadas.


O epílogo foi dramático. Em 18 de fevereiro de 1943, Hans e Sophie Scholl dispuseram várias pilhas de panfletos na saída das salas de aula e corredores da universidade. Subiram até outro andar, de onde Sophie lançou o restante dos panfletos no pátio. O encarregado da universidade, Jakob Schmid, os interpelou. Dos 1.200 panfletos distribuídos, a Gestapo interceptou 800. Hans e Sophie, detidos pela Gestapo, foram levados ao palácio de Wittelsbach e interrogados durante quatro dias. [...] Seu processo foi aberto em 22 de fevereiro, no tribunal do Palácio de Justiça de Munique. Roland Freisler, presidente do Tribunal do Povo, vindo expressamente de Berlim para o caso, comportou-se mais como acusador do que como juiz durante todo o processo. Eles foram acusados de ‘apoio pérfido ao inimigo, organização de alta traição e desagregação dos exércitos’. [...] Os próprios acusados fizeram sua defesa. Sophie Scholl confessou sua participação na distribuição de panfletos: ‘O que nós dissemos e escrevemos muitos pensam, mas não ousam admitir’.

Os três acusados deram prova de surpreendente dignidade, quando do anúncio do veredicto. Hans escreveu nas paredes da prisão a seguinte citação de Goethe: ‘Enfrentar todas as forças contrárias’. Logo depois das 17 horas, os três amigos foram guilhotinados. Alexander Schimorell, Willi Graf e Kurt Huber foram condenados à morre em 19 de abril de 1943. Três novos processos julgaram outros membros, mas as penas de morte não foram aplicadas, porque a população de Munique reagiu contra a dureza dos julgamentos.

A maioria dos membros da Rosa Branca foi detida e o movimento, desmantelado. A determinação daqueles jovens de enfrentar o terror fez deles resistentes no sentido literal do termo. Eles acreditaram que podiam interferir no curso da guerra e provocar uma mudança de opinião. Sua grande vitória foi demonstrar que havia uma outra Alemanha para além do nazismo.”


Fonte: História Viva, Ano IV, 41, pp. 38-41



Seleção: LdeM



Mais info


Filmes baseados
na resistência da Rosa Branca

Sophie Scholl – Último dias

A Rosa Branca / 1982

A Rosa Branca / 2005

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