sexta-feira, 15 de março de 2013

A Singularidade do Holocausto





foto: portão de Auschwitz e a cínica frase: 'o trabalho liberta'




A Singularidade do Holocausto



Por Maria Luiza Tucci Carneiro


In: Leituras da História especial –Grandes Genocídios – ano I – nº 2



“O extermínio de 6 milhões de judeus, conhecido como Solução final, deve ser compreendido como um processo gradual, planejado pelo Estado nazista, que tinha o monopólio da violência. A Solução Final se processou em três etapas distintas: a primeira delas compreende 1933-1938, colocou em prática o boicote econômico e a represália cultural; seguidos do prenúncio da catástrofe entre 1938 e 1941; e finalmente, entre os anos de 1941-1945, foi posto em prática o extermínio como objetivo máximo da Solução Final, decidida e executada por Hitler e seus homens, num momento decisivo da Segunda Guerra Mundial.

[...]

A partir de 1939, os campos de concentração e a política anti-semita passaram por uma grande reformulação. Em decorrência da guerra, o Reich resolveu fazer uso da infra-estrutura e da mão-de-obra judaica disponível com vistas a fortalecer o seu capital bélico.

Ao mesmo tempo, cientistas eram incentivados a acreditar que o assassinato em massa poderia ‘curar’ a Alemanha de um grande mal (os judeus), de forma a garantir a revitalização da raça ariana e da cultura alemã. Daí, alguns especialistas distinguirem genocídio físico do genocídio cultural . [...]
[...]

A execução em massa dos judeus começou na Rússia no início da ocupação alemã. No final de 1941, os judeus alemães radicados nesses territórios começaram a ser deportados para os guetos e campos de concentração no leste. Cerca de 1,5 milhão de judeus foram executados por fuzilamento, método considerado ‘muito lento’. O extermínio dos judeus na Wartheland (parte da Polônia anexada ao Reich) teve início em 1942, no campo de Chelmo. Transportados em caminhões, os judeus eram levados em direção à floresta e morriam no caminhão, asfixiados pelo gás de escapamento. Posteriormente, as vítimas começaram a ser encaminhadas para câmaras de gás, onde era aplicado o ácido prússico, fabricado por uma indústria química especializada em vermes chamada Cyclon B. outros campos mais ‘primitivos’, como o de Belzec, empregavam o monóxido de carbono, cujo efeito letal demorava horas. Na noite de 2 para 3 de agosto de 1944, foram exterminados os últimos 2.897 ciganos de Auschwitz, dos 20.943 ali registrados.


Em julho, começou o extermínio dos habitantes do gueto de Varsóvia, transferidos para Treblinka. Em seguida, as imensas instalações do campo de Auschwitz-Birkenau (um complexo de 40 m2 composto por três campos) tornaram-se o principal local de extermínio. Em 22 de junho de 1941, quando Hitler invadia a União Soviética, dezenas de milhares de judeus desapareceram das cidades de Vilna, Kovno, Riga, Bialystock e Minsk. Participaram desses massacres sistemáticos os Einsatzgruppen (unidades especiais), cuja missão ficou conhecida como Operação Barbarossa. O nazista Herbert Çucurs, mandante da matança de Riga, refugiou-se no Brasil, onde viveu até o final da década de 1960, sendo protegido pelo DEOPS/SP, após ter sido denunciado por sobreviventes judeus radicados em São Paulo.


A partir de 1942, a grande imprensa mundial começou a denunciar os atos genocidas dos nazistas, usando termos como ‘extermínio sumário’, ‘crimes monstruosos’, ‘assassinatos em massa’, ‘morte por esgotamento físico’ e ‘morte pela fome nos guetos’. Em fevereiro de 1943, a rádio BBC de Londres informava que os nazistas haviam acelerado o extermínio de judeus na Europa ocupada. A denúncia de um ‘campo de morte’ para crianças e jovens em Radom, na Polônia, veio a público em setembro de 1942.
[...]


O povo judeu estava sendo morto; todos foram avisados, e a maioria das nações aliadas continuava afirmando que ‘não sabiam de nada’. Em 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho liberou Auschwitz, identificado como a própria imagem da morte. Os 7.650 prisioneiros ainda vivos eram apenas espectros humanos. Só nesse campo morreram 1,5 milhão de judeus e 100 mil não judeus (russos, poloneses e ciganos). Em abril de 1945, autoridades inglesas e americanas ordenaram que as atrocidades cometidas pelos nazistas fossem documentadas no local. Diante da ‘abertura dos campos de morte’ pelas tropas aliadas, a humanidade pôde constatar até que ponto pode chegar a crueldade humana.”





MARIA LUIZA TUCCI CARNEIRO é historiadora, professora Livre-Docente da Universidade de São Paulo, coordenadora do LEER-Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação/USP e autora de diversos livros, entre os quais O anti-semitismo na Era Vargas e O veneno da serpente, ambos pela Perspectiva.



Fonte: Leituras da História especial –Grandes Genocídios – ano I – nº 2, pp. 40-45



Seleção: LdeM



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