foto: portão de Auschwitz e a cínica frase: 'o trabalho liberta'
A
Singularidade do Holocausto
Por Maria Luiza Tucci
Carneiro
In: Leituras da História especial –Grandes Genocídios – ano I – nº 2
“O extermínio de 6 milhões
de judeus, conhecido como Solução final, deve ser compreendido como um processo
gradual, planejado pelo Estado nazista, que tinha o monopólio da violência. A
Solução Final se processou em três etapas distintas: a primeira delas
compreende 1933-1938, colocou em prática o boicote econômico e a represália
cultural; seguidos do prenúncio da catástrofe entre 1938 e 1941; e finalmente,
entre os anos de 1941-1945, foi posto em prática o extermínio como objetivo
máximo da Solução Final, decidida e executada por Hitler e seus homens, num
momento decisivo da Segunda Guerra Mundial.
[...]
A partir de 1939, os campos
de concentração e a política anti-semita passaram por uma grande reformulação.
Em decorrência da guerra, o Reich resolveu fazer uso da infra-estrutura e da
mão-de-obra judaica disponível com vistas a fortalecer o seu capital bélico.
Ao mesmo tempo, cientistas
eram incentivados a acreditar que o assassinato em massa poderia ‘curar’ a
Alemanha de um grande mal (os judeus), de forma a garantir a revitalização da
raça ariana e da cultura alemã. Daí, alguns especialistas distinguirem genocídio físico do genocídio cultural . [...]
[...]
A execução em massa dos
judeus começou na Rússia no início da ocupação alemã. No final de 1941, os
judeus alemães radicados nesses territórios começaram a ser deportados para os
guetos e campos de concentração no leste. Cerca de 1,5 milhão de judeus foram
executados por fuzilamento, método considerado ‘muito lento’. O extermínio dos
judeus na Wartheland (parte da Polônia anexada ao Reich) teve início em 1942,
no campo de Chelmo. Transportados em caminhões, os judeus eram levados em
direção à floresta e morriam no caminhão, asfixiados pelo gás de escapamento.
Posteriormente, as vítimas começaram a ser encaminhadas para câmaras de gás,
onde era aplicado o ácido prússico, fabricado por uma indústria química
especializada em vermes chamada Cyclon B. outros campos mais ‘primitivos’, como
o de Belzec, empregavam o monóxido de carbono, cujo efeito letal demorava
horas. Na noite de 2 para 3 de agosto de 1944, foram exterminados os últimos
2.897 ciganos de Auschwitz, dos 20.943 ali registrados.
Em julho, começou o
extermínio dos habitantes do gueto de Varsóvia, transferidos para Treblinka. Em
seguida, as imensas instalações do campo de Auschwitz-Birkenau (um complexo de
40 m2
composto por três campos) tornaram-se o principal local de extermínio. Em 22 de
junho de 1941, quando Hitler invadia a União Soviética, dezenas de milhares de
judeus desapareceram das cidades de Vilna, Kovno, Riga, Bialystock e Minsk.
Participaram desses massacres sistemáticos os Einsatzgruppen (unidades especiais), cuja missão ficou conhecida
como Operação Barbarossa. O nazista
Herbert Çucurs, mandante da matança de Riga, refugiou-se no Brasil, onde viveu
até o final da década de 1960, sendo protegido pelo DEOPS/SP, após ter sido
denunciado por sobreviventes judeus radicados em São Paulo.
A partir de 1942, a grande
imprensa mundial começou a denunciar os atos genocidas dos nazistas, usando
termos como ‘extermínio sumário’, ‘crimes monstruosos’, ‘assassinatos em
massa’, ‘morte por esgotamento físico’ e ‘morte pela fome nos guetos’. Em
fevereiro de 1943, a rádio BBC de
Londres informava que os nazistas haviam acelerado o extermínio de judeus na
Europa ocupada. A denúncia de um ‘campo de morte’ para crianças e jovens em
Radom, na Polônia, veio a público em setembro de 1942.
[...]
O povo judeu estava sendo
morto; todos foram avisados, e a maioria das nações aliadas continuava
afirmando que ‘não sabiam de nada’. Em 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho liberou Auschwitz,
identificado como a própria imagem da morte. Os 7.650 prisioneiros ainda vivos
eram apenas espectros humanos. Só nesse campo morreram 1,5 milhão de judeus e
100 mil não judeus (russos, poloneses e ciganos). Em abril de 1945, autoridades
inglesas e americanas ordenaram que as atrocidades cometidas pelos nazistas
fossem documentadas no local. Diante da ‘abertura dos campos de morte’ pelas
tropas aliadas, a humanidade pôde constatar até que ponto pode chegar a
crueldade humana.”
MARIA LUIZA TUCCI CARNEIRO é
historiadora, professora Livre-Docente da Universidade de São Paulo,
coordenadora do LEER-Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e
Discriminação/USP e autora de diversos livros, entre os quais O anti-semitismo na Era Vargas e O veneno da serpente, ambos pela
Perspectiva.
Fonte: Leituras da História especial –Grandes Genocídios – ano I – nº 2, pp.
40-45
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