Frente
Oriental
Julho-Agosto
1942
Avanço
alemão rumo a Stalingrado
fonte:
BEEVOR,
Antony.
Stalingrado.
Trad.
Alda
Porto.
Record, 2005.
Cap.
7 -“Nem Um Passo Atrás”
“Em
28
de
julho
de
1942,
enquanto
Hitler
continuava
comemorando
a
captura
de
Rostov,
Stalin
sentiu
que
o
momento
de
crise
se
aproximava.
As
forças
soviéticas
que
se
retiravam
diante
do
Sexto
Exército
de
Paulus
enfrentavam
aniquilação
a
oeste
do
Don.
Se
os
alemães
depois
avançassem
até
o
outro
lado
do
Volga,
quase
sessenta
e
cinco
quilômetros
mais,
o
país
seria
cortado
em
dois.
O
comboio
PQ-17
acabara
de
ser
destruído
no
mar
de
Barents,
e
a
nova
linha
de
abastecimento
anglo-americana
pela
Pérsia
[atual
Irã]
logo
seria
ameaçada.
A
União
Soviética
enfrentava
estrangulamento.
[...]
“[O
general]
Vasilevski
retornou
naquela
noite
com
o
rascunho
da
Ordem
nº
227,
mais
comumente
conhecida
como
'Nem
Um
Passo
Atrás',
Stalin
fez
várias
alterações,
assinando-a
em
seguida.
A
ordem
deveria
ser
lida
para
todas
as
tropas
do
Exército
Vermelho.
'Os
alarmistas
e
covardes
precisam
ser
destruídos
no
local.
A
mentalidade
de
retirada
deve
ser
definitivamente
eliminada.
Os
comandantes
de
exército
que
permitirem
o
abandono
voluntário
de
posições
têm
de
ser
afastados
e
enviados
a
imediato
julgamento
por
um
tribunal
militar.'
Todo
aquele
que
se
entregasse
era
'um
traidor
da
Pátria'.
Todo
exército
tinha
de
organizar
'de
três
a
cinco
destacamentos
(até
200
homens
cada)'
para
formar
uma
segunda
linha
e
fuzilar
qualquer
soldado
que
tentasse
fugir.
Jukov
pôs
essa
ordem
em
prática
na
Frente
Ocidental
em
dez
dias,
usando
tanques
equipados
com
oficiais
especialmente
escolhidos.
Eles
seguiam
a
primeira
onda
de
um
ataque,
dispostos
'a
combater
a
covardia',
abrindo
fogo
contra
quaisquer
soldados
que
vacilassem.
“Foram
construídos três campos para o interrogatório de todos que
houvessem escapado da detenção ou cerco alemães. Os comandantes
que permitiam a retirada deveriam ser privados do seu posto e
mandados para as companhias ou batalhões penais. A primeira, na
Frente de Stalingrado, começou a funcionar três semanas depois, em
22 de agosto, véspera da chegada dos alemães ao Volga.
“As
companhias
penais
– shtrafroti
– teriam
de
desempenhar
missões
semi-suicidas,
como
a
retirada
de
minas
durante
um
ataque.
Ao
todo,
uns
322.700
homens
do
Exército
Vermelho
iriam
'expiar
com
seu
sangue
os
crimes
que
cometeram
perante
a
Pátria'.
A
ideia
atraiu
tanto
as
autoridades
soviéticas
que
os
prisioneiros
civis
eram
transferidos
do
gulag
para
unidades
shtraf
,
quase
um
milhão,
segundo
alguns,
mas
isto
bem
pode
ser
um
exagero.
Promessas
de
redenção
por
bravura
em
geral
acabavam
revelando-se
falsas,
sobretudo
por
causa
da
indiferença
burocrática.
Os
homens
eram
abandonados
para
morrer
em
suas
fileiras.
[...]”
pp.
107, 108
More
Info
Sobre
a destruição do comboio aliado PQ- 17
“A
destruição
do
PQ
17
provocou
a
suspensão
de
todos
os
comboios
para
a
União
Soviética
até
ao
mês
de
Agosto
quando
saiu
da
Islândia
o
PQ
18
com
quarenta
navios
providos
de
uma
boa
escolta
que
incluía
o
porta-aviões
Avenger
de
10.366
toneladas
de
deslocamento
e
uma
dúzia
de
Hurricanes.”
http://naval.blogs.sapo.pt/37676.html
...
“O
avanço pela estepe do Don proporcionou muitas experiências
contraditórias ao Sexto Exército após as neves de inverno. O
general Strecker, comandante do XI Corpo, achou-a 'quente como a
África, com imensas nuvens de poeira'. Em 22 de julho, seu chefe de
estado-maior, Helmuth Groscurth, registrou uma temperatura de '53
graus centígrados ao sol'.
“Chuvas
repentinas, logo transformando as trilhas em lama, pouco faziam para
resolver a escassez de água, principal preocupação do Landser
[soldado raso] alemão naquela época. O Exército Vermelho poluía
poços durante a retirada, enquanto destruía os prédios das
fazendas coletivas e levava tratores e gado para a retaguarda. Os
suprimentos que não podiam ser deslocados a tempo eram inutilizados.
'Os russos despejaram petróleo nos armazenamentos de grãos',
escreveu um cabo para casa em 10 de agosto. 'Os bombardeiros
soviéticos soltam bombas de fósforo à noite para atear fogo na
estepe', comunicou uma divisão de panzers. Mas muitas colunas
de fumaça preta no horizonte eram propagadas por queimas de cordite
em volta de posições de artilharia.
...
“Para
os soldados do Sexto Exército, o verão de 1942 ofereceu os últimos
idílios de guerra. No campo cossaco do Don, as aldeias de casinhas
caiada com telhados de colmo, cercadas por pequenos pomares de
cerejeira, salgueiros e cavalos nas pradarias, proporcionavam um
atraente contraste para a dilapidação geral das aldeias tomadas por
fazendas coletivas. A maioria dos civis que ficara para trás, em
desafio às ordens comunistas de evacuação, era amistosa. Muitos
dos mais velhos haviam lutado contra os bolcheviques na guerra civil
russa. Só na primavera anterior, apenas algumas semanas antes da
invasão alemã, os cossacos haviam-se insurgido numa revolta em
Shakhti, no norte de Rostov, declarando uma república independente.
Isso foi esmagado por tropas do NKVD com rápida e previsível
brutalidade.”
...
“Os
alemães não paravam de surpreender-se com o desperdício dos
comandantes russos com as vidas dos seus homens. Um dos piores
exemplos ocorreu durante as batalhas defensivas a oeste do Don. Três
batalhões de oficiais estagiários, sem armas nem rações, foram
mandados contra a 16ª Divisão de panzers. O comandante
deles, que se rendeu após o massacre, disse aos captores que quando
protestara 'sobre essa missão absurda', o comandante do exército,
visivelmente embriagado, berrara com ele para que a levasse adiante.
“O
Exército Vermelho continuava sofrendo do antigo medo da iniciativa
incutido pelos expurgos. Mas dos últimos desastres no sul, que
acabaram destruindo a reputação dos caçadores de bruxa
stalinistas, começava a surgir uma nova cepa de comandante –
enérgico, impiedoso e muito menos temerosos dos comissários e do
NKVD. Os êxitos de Jukov forneceram a luz e a esperança para muitos
outros oficiais em ascensão, furiosos com as humilhações sofridas
pelo Exército Vermelho.”
pp.
110, 111-112
fonte:
BEEVOR, Antony. Stalingrado. Trad. Alda Porto. Record, 2005.
Sobre
os Expurgos
...
“O
ataque alemão pelo flanco da direita do 62º Exército até o Don
logo causou o caos. Espalhou-se em 26 de julho o rumor nos escalões
da retaguarda do 64º Exército de Chuikov de que os tanques alemães
estavam prestes a isolá-los. Deu-se início então a uma debandada
para a ponte flutuante sobre o Don. O pânico em seguida contagiou as
tropas da linha de frente. Chuikov enviou oficiais do estado-maior à
margem do rio para restaurar a ordem, mas a força aérea alemã já
identificara a oportunidade. Surgiram ondas dos Stukas de
Richthofen e vários dos oficiais superiores de Chuikov ficaram entre
os mortos.
...
Apesar
dos desastres e caos causados pelas más comunicações, as unidades
do Exército Vermelho continuaram revidando. Davam o máximo de si na
maioria das investidas rápidas à noite, pois um ataque durante a
luz do dia logo provocava uma resposta da Luftwaffe. O
comandante de companhia alemã que mantinha um diário na 384ª
Divisão de Infantaria relatou em 2 de agosto: 'Russos resistindo com
muita intensidade. São tropas novas e jovens.' E mais uma vez no dia
seguinte: 'Russos resistindo com muita intensidade. Estão recebendo
reforços o tempo todo. Uma das nossas companhias de sapadores evitou
a batalha. Muito vergonhoso.' Seus próprios soldados começaram
então a sofrer terríveis dores de estômago, talvez devido à água
contaminada. 'É terrível aqui', escreveu alguns dias depois. 'Essas
noites horripilantes. Cada um de nós está muito tenso. Os nervos
não têm nenhuma chance.'
...
“Muitos
comandantes de panzers de Hube faziam observações
depreciativas sobre a estupidez do inimigo, que deixava tanques
parados no descampado e assim oferecia perfeitos alvos para os Stukas
ou canhões antiaéreos 88 mm, mortíferos numa função de solo.
Sabiam que o T-34, no conjunto, era um veículo blindado,
muito melhor do que qualquer outra coisa já produzida pela Alemanha.
Por outro lado, seu visor de mira não era muito bom, poucos
comandantes russos tinham binóculos decentes, menos ainda rádios. O
maior ponto fraco do Exército Vermelho , contudo, era a pobreza de
táticas. Suas forças de tanque não usavam o terreno corretamente e
demonstravam pouca familiaridade com os princípios de disparo e
movimento. E, como Chuikov logo reconheceu, eram incapazes de
coordenar ataques com a aviação do Exército Vermelho.
...
(...)
nos últimos oito dias o Exército Vermelho enviara quase mil tanques
ao outro lado do Don: só pouco mais da metade fora destruída. Esses
números eram muito exagerados. O comandante do Exército Vermelho só
tinha 550 tanques alocados, e muitos jamais conseguiram atravessar o
Don. Grande parte da culpa disso se deve ao exagerado otimismo dos
relatórios do front. Um membro da guarnição de panzers
observou que 'sempre que um tanque russo era atingido, quase todo
panzer na batalha alardeava a ação como uma baixa'. Mas a
visão de tantos tanques russos destruídos impressionou todos que a
viram. O general von Seydlitz disse que, de longe, os KVs
liquidados pareciam 'uma enorme manda de elefantes'. Qualquer que
seja a quantidade exata destruída, muitos alemães ficaram
convencidos de que deviam estar próximo da vitória final. A hidra
russa não poderia continuar para sempre criando mais cabeças para
eles cortarem.”
pp.
116, 118-119
“O
combate fora de fato acirrado. Muitos soldados alemães não
compartilhavam a confiança de Paulus nem a opinião de Hitler de que
o inimigo estava liquidado. No primeiro dia, o batalhão antitanques
da 371ª Divisão de Infantaria perdeu vinte e três homens. Com
frequência cada vez maior, os soldados do Sexto Exército, como os
da 389[ Divisão de Infantaria, ouviam os 'Urrah!' da infantaria
soviética atacando. (...)
...
Em
nenhuma outro lugar era mais aplicável a ordem de 'nem um passo
atrás' de Stalin do que na cidade com seu nome. A batalha da guerra
civil, ocorrida quando a cidade ainda se chamava Tsaritsin (em
tártaro, querida dizer a cidade no Tsaritsa, ou rio amarelo), era
invocada junto com o mito de que a liderança de Stalin ali invertera
a maré contra os exércitos brancos e salvara a Revolução. O
comitê militar regional não se esquivou de usar todas as medidas
para transformar a cidade numa fortaleza. A tarefa foi difícil.
Stalingrado fazia uma curva de mais de trinta e dois quilômetros ao
longo da alta margem ocidental do Volga. Os defensores encontrariam
um amplo estirão de água exposta atrás deles, através do qual
teriam de chegar todos os suprimentos e reforços.”
...
Enquanto
isso, do lado alemão, começou a intensificar-se uma sensação de
inquietação, apesar de suas vitórias. 'Após o Don, avançaremos
para o Volga', escreveu o comandante de companhia da 384ª Divisão
de Infantaria que mantinha um diário. Mas reconheceu o perigo. A
Alemanha simplesmente não tinha 'tropas suficientes para avançar ao
longo de todo o front'. Começou a desconfiar que a guerra
criara um impulso independente. Não terminaria quando eles chegassem
ao grande rio que deveria assinalar seu destino final”
pp.
120-121, 125
fonte:
BEEVOR, Antony. Stalingrado. Trad. Alda Porto. Record, 2005.
Seleção
: LdeM
...
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Stalingrado
/
1993
Enemy
at The Gates
...
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