segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Avanço Alemão rumo a Stalingrado


 
Frente Oriental
Julho-Agosto 1942


Avanço alemão rumo a Stalingrado


fonte: BEEVOR, Antony. Stalingrado. Trad. Alda Porto. Record, 2005.


Cap. 7 -“Nem Um Passo Atrás

Em 28 de julho de 1942, enquanto Hitler continuava comemorando a captura de Rostov, Stalin sentiu que o momento de crise se aproximava. As forças soviéticas que se retiravam diante do Sexto Exército de Paulus enfrentavam aniquilação a oeste do Don. Se os alemães depois avançassem até o outro lado do Volga, quase sessenta e cinco quilômetros mais, o país seria cortado em dois. O comboio PQ-17 acabara de ser destruído no mar de Barents, e a nova linha de abastecimento anglo-americana pela Pérsia [atual Irã] logo seria ameaçada. A União Soviética enfrentava estrangulamento.

[...]

[O general] Vasilevski retornou naquela noite com o rascunho da Ordem 227, mais comumente conhecida como 'Nem Um Passo Atrás', Stalin fez várias alterações, assinando-a em seguida. A ordem deveria ser lida para todas as tropas do Exército Vermelho. 'Os alarmistas e covardes precisam ser destruídos no local. A mentalidade de retirada deve ser definitivamente eliminada. Os comandantes de exército que permitirem o abandono voluntário de posições têm de ser afastados e enviados a imediato julgamento por um tribunal militar.' Todo aquele que se entregasse era 'um traidor da Pátria'. Todo exército tinha de organizar 'de três a cinco destacamentos (até 200 homens cada)' para formar uma segunda linha e fuzilar qualquer soldado que tentasse fugir. Jukov pôs essa ordem em prática na Frente Ocidental em dez dias, usando tanques equipados com oficiais especialmente escolhidos. Eles seguiam a primeira onda de um ataque, dispostos 'a combater a covardia', abrindo fogo contra quaisquer soldados que vacilassem.

Foram construídos três campos para o interrogatório de todos que houvessem escapado da detenção ou cerco alemães. Os comandantes que permitiam a retirada deveriam ser privados do seu posto e mandados para as companhias ou batalhões penais. A primeira, na Frente de Stalingrado, começou a funcionar três semanas depois, em 22 de agosto, véspera da chegada dos alemães ao Volga.

As companhias penaisshtrafrotiteriam de desempenhar missões semi-suicidas, como a retirada de minas durante um ataque. Ao todo, uns 322.700 homens do Exército Vermelho iriam 'expiar com seu sangue os crimes que cometeram perante a Pátria'. A ideia atraiu tanto as autoridades soviéticas que os prisioneiros civis eram transferidos do gulag para unidades shtraf , quase um milhão, segundo alguns, mas isto bem pode ser um exagero. Promessas de redenção por bravura em geral acabavam revelando-se falsas, sobretudo por causa da indiferença burocrática. Os homens eram abandonados para morrer em suas fileiras. [...]”

pp. 107, 108


More Info
Sobre a destruição do comboio aliado PQ- 17

A destruição do PQ 17 provocou a suspensão de todos os comboios para a União Soviética até ao mês de Agosto quando saiu da Islândia o PQ 18 com quarenta navios providos de uma boa escolta que incluía o porta-aviões Avenger de 10.366 toneladas de deslocamento e uma dúzia de Hurricanes.http://naval.blogs.sapo.pt/37676.html

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O avanço pela estepe do Don proporcionou muitas experiências contraditórias ao Sexto Exército após as neves de inverno. O general Strecker, comandante do XI Corpo, achou-a 'quente como a África, com imensas nuvens de poeira'. Em 22 de julho, seu chefe de estado-maior, Helmuth Groscurth, registrou uma temperatura de '53 graus centígrados ao sol'.

Chuvas repentinas, logo transformando as trilhas em lama, pouco faziam para resolver a escassez de água, principal preocupação do Landser [soldado raso] alemão naquela época. O Exército Vermelho poluía poços durante a retirada, enquanto destruía os prédios das fazendas coletivas e levava tratores e gado para a retaguarda. Os suprimentos que não podiam ser deslocados a tempo eram inutilizados. 'Os russos despejaram petróleo nos armazenamentos de grãos', escreveu um cabo para casa em 10 de agosto. 'Os bombardeiros soviéticos soltam bombas de fósforo à noite para atear fogo na estepe', comunicou uma divisão de panzers. Mas muitas colunas de fumaça preta no horizonte eram propagadas por queimas de cordite em volta de posições de artilharia.

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Para os soldados do Sexto Exército, o verão de 1942 ofereceu os últimos idílios de guerra. No campo cossaco do Don, as aldeias de casinhas caiada com telhados de colmo, cercadas por pequenos pomares de cerejeira, salgueiros e cavalos nas pradarias, proporcionavam um atraente contraste para a dilapidação geral das aldeias tomadas por fazendas coletivas. A maioria dos civis que ficara para trás, em desafio às ordens comunistas de evacuação, era amistosa. Muitos dos mais velhos haviam lutado contra os bolcheviques na guerra civil russa. Só na primavera anterior, apenas algumas semanas antes da invasão alemã, os cossacos haviam-se insurgido numa revolta em Shakhti, no norte de Rostov, declarando uma república independente. Isso foi esmagado por tropas do NKVD com rápida e previsível brutalidade.”

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Os alemães não paravam de surpreender-se com o desperdício dos comandantes russos com as vidas dos seus homens. Um dos piores exemplos ocorreu durante as batalhas defensivas a oeste do Don. Três batalhões de oficiais estagiários, sem armas nem rações, foram mandados contra a 16ª Divisão de panzers. O comandante deles, que se rendeu após o massacre, disse aos captores que quando protestara 'sobre essa missão absurda', o comandante do exército, visivelmente embriagado, berrara com ele para que a levasse adiante.

O Exército Vermelho continuava sofrendo do antigo medo da iniciativa incutido pelos expurgos. Mas dos últimos desastres no sul, que acabaram destruindo a reputação dos caçadores de bruxa stalinistas, começava a surgir uma nova cepa de comandante – enérgico, impiedoso e muito menos temerosos dos comissários e do NKVD. Os êxitos de Jukov forneceram a luz e a esperança para muitos outros oficiais em ascensão, furiosos com as humilhações sofridas pelo Exército Vermelho.”

pp. 110, 111-112


fonte: BEEVOR, Antony. Stalingrado. Trad. Alda Porto. Record, 2005.


Sobre os Expurgos




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O ataque alemão pelo flanco da direita do 62º Exército até o Don logo causou o caos. Espalhou-se em 26 de julho o rumor nos escalões da retaguarda do 64º Exército de Chuikov de que os tanques alemães estavam prestes a isolá-los. Deu-se início então a uma debandada para a ponte flutuante sobre o Don. O pânico em seguida contagiou as tropas da linha de frente. Chuikov enviou oficiais do estado-maior à margem do rio para restaurar a ordem, mas a força aérea alemã já identificara a oportunidade. Surgiram ondas dos Stukas de Richthofen e vários dos oficiais superiores de Chuikov ficaram entre os mortos.

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Apesar dos desastres e caos causados pelas más comunicações, as unidades do Exército Vermelho continuaram revidando. Davam o máximo de si na maioria das investidas rápidas à noite, pois um ataque durante a luz do dia logo provocava uma resposta da Luftwaffe. O comandante de companhia alemã que mantinha um diário na 384ª Divisão de Infantaria relatou em 2 de agosto: 'Russos resistindo com muita intensidade. São tropas novas e jovens.' E mais uma vez no dia seguinte: 'Russos resistindo com muita intensidade. Estão recebendo reforços o tempo todo. Uma das nossas companhias de sapadores evitou a batalha. Muito vergonhoso.' Seus próprios soldados começaram então a sofrer terríveis dores de estômago, talvez devido à água contaminada. 'É terrível aqui', escreveu alguns dias depois. 'Essas noites horripilantes. Cada um de nós está muito tenso. Os nervos não têm nenhuma chance.'

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Muitos comandantes de panzers de Hube faziam observações depreciativas sobre a estupidez do inimigo, que deixava tanques parados no descampado e assim oferecia perfeitos alvos para os Stukas ou canhões antiaéreos 88 mm, mortíferos numa função de solo. Sabiam que o T-34, no conjunto, era um veículo blindado, muito melhor do que qualquer outra coisa já produzida pela Alemanha. Por outro lado, seu visor de mira não era muito bom, poucos comandantes russos tinham binóculos decentes, menos ainda rádios. O maior ponto fraco do Exército Vermelho , contudo, era a pobreza de táticas. Suas forças de tanque não usavam o terreno corretamente e demonstravam pouca familiaridade com os princípios de disparo e movimento. E, como Chuikov logo reconheceu, eram incapazes de coordenar ataques com a aviação do Exército Vermelho.

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(...) nos últimos oito dias o Exército Vermelho enviara quase mil tanques ao outro lado do Don: só pouco mais da metade fora destruída. Esses números eram muito exagerados. O comandante do Exército Vermelho só tinha 550 tanques alocados, e muitos jamais conseguiram atravessar o Don. Grande parte da culpa disso se deve ao exagerado otimismo dos relatórios do front. Um membro da guarnição de panzers observou que 'sempre que um tanque russo era atingido, quase todo panzer na batalha alardeava a ação como uma baixa'. Mas a visão de tantos tanques russos destruídos impressionou todos que a viram. O general von Seydlitz disse que, de longe, os KVs liquidados pareciam 'uma enorme manda de elefantes'. Qualquer que seja a quantidade exata destruída, muitos alemães ficaram convencidos de que deviam estar próximo da vitória final. A hidra russa não poderia continuar para sempre criando mais cabeças para eles cortarem.”


pp. 116, 118-119


O combate fora de fato acirrado. Muitos soldados alemães não compartilhavam a confiança de Paulus nem a opinião de Hitler de que o inimigo estava liquidado. No primeiro dia, o batalhão antitanques da 371ª Divisão de Infantaria perdeu vinte e três homens. Com frequência cada vez maior, os soldados do Sexto Exército, como os da 389[ Divisão de Infantaria, ouviam os 'Urrah!' da infantaria soviética atacando. (...)

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Em nenhuma outro lugar era mais aplicável a ordem de 'nem um passo atrás' de Stalin do que na cidade com seu nome. A batalha da guerra civil, ocorrida quando a cidade ainda se chamava Tsaritsin (em tártaro, querida dizer a cidade no Tsaritsa, ou rio amarelo), era invocada junto com o mito de que a liderança de Stalin ali invertera a maré contra os exércitos brancos e salvara a Revolução. O comitê militar regional não se esquivou de usar todas as medidas para transformar a cidade numa fortaleza. A tarefa foi difícil. Stalingrado fazia uma curva de mais de trinta e dois quilômetros ao longo da alta margem ocidental do Volga. Os defensores encontrariam um amplo estirão de água exposta atrás deles, através do qual teriam de chegar todos os suprimentos e reforços.”

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Enquanto isso, do lado alemão, começou a intensificar-se uma sensação de inquietação, apesar de suas vitórias. 'Após o Don, avançaremos para o Volga', escreveu o comandante de companhia da 384ª Divisão de Infantaria que mantinha um diário. Mas reconheceu o perigo. A Alemanha simplesmente não tinha 'tropas suficientes para avançar ao longo de todo o front'. Começou a desconfiar que a guerra criara um impulso independente. Não terminaria quando eles chegassem ao grande rio que deveria assinalar seu destino final”


pp. 120-121, 125
fonte: BEEVOR, Antony. Stalingrado. Trad. Alda Porto. Record, 2005.


Seleção : LdeM

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Stalingrado / 1993

Enemy at The Gates

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