segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Holocausto - Trechos de “A Lista de Schindler”


 

Holocausto - Trechos deA Lista de Schindler


fonte: A Lista de Schindler(Schindler's List, 1982)
de Thomas Keneally (1935- ) trad. Tati Moraes

Cap. 15 intensificada a perseguição aos judeus no guetto)

Rumores horripilantes perseguiam-nos em seus quartos, nas ruas, no local de trabalho. [Symche] Spira tinha outra lista que era duas ou três vezes mais longa do que a última. Todas as crianças seriam mandadas para Tarnow para serem fuziladas, Stutthof para serem afogadas, Breslav para serem doutrinadas, desarraigadas, operadas. Você tem algum parente idoso? Eles estão enviando todos acima de cinquenta anos para as minas de sal em Wieliczka. Para trabalhar? Não, para serem trancafiados em câmaras em desuso.” (p. 121)

Os OD armados de cassetetes trabalhavam com os SS. Os SS estavam usando judeus para espancarem judeus. Contido, no decorrer do dia Oskar se convenceu de que alguns dos OD espancavam seus patrícios para salvá-los de coisas piores. E, de qualquer maneira, havia um novo regulamento para o OD: se deixasse de despejar uma família, a sua própria família seria despejada.” (p. 122)


(A violência no guetto)

A infâmia de homens nascidos de mulheres e que tinham de escrever cartas para suas famílias (o que diziam nessas cartas?) não era o pior aspecto do que Schindler presenciara. Sabia que os SS não tinham vergonha alguma do que estavam fazendo, pois o guarda na retaguarda da coluna não vira necessidade de impedir a garotinha de vermelho de assistir toda a cena. Mas o pior era que, se não havia a menor vergonha, isso significava sanção oficial. Ninguém mais podia encontrar segurança na ideia de cultura alemã, nem nos pronunciamentos de líderes, que condenavam homens anônimos por terem ultrapassado seus limites, ou por olharem pelas janelas de seus escritórios para a realidade na rua. Oskar tinha visto na Rua Krakusa uma prova da política de seu governo, que não podia ser justificada como uma aberração temporária. Acreditava que os SS estavam cumprindo as ordens de seu líder pois, do contrário, o colega na retaguarda da coluna não teria deixado uma criança assistir à cena.

Mais tarde, nesse dia, depois de ter ingerido uma dose de conhaque, Oskar compreendeu o teorema em seus termos mais claros. Eles permitiam testemunhas, tais como a garotinha de vermelho, porque julgavam que as testemunhas iam todas igualmente perecer.” (p. 125)


Cap. 16 (Judeus contra judeus)

Em Zablocie, Schindler não ousava acreditar que a garotinha de vermelho havia sobrevivido aos métodos da Aktion. Através de Toffel e outros conhecidos da central de polícia na Rua Pomorska, ele soube que 7.000 pessoas haviam sido postas para fora do gueto. Um funcionário da Gestapo no Escritório de Questões Judaicas estava radiante de poder confirmar a 'limpeza'. Entre os burocratas da Rua Pomorska, a Aktion de junho foi considerada um sucesso.” (p. 129)

De nada adiantava transmitir ao Judenrat esses dados. O Conselho do Judenrat não considerava aconselhável, do ponto de vista civil, informar os habitantes do gueto sobre os campos (de concentração). As pessoas certamente se encheriam de pavor; haveria desordens nas ruas, as quais não ficariam sem punição. (...) O Judenrat não tinha mais interesse algum em informar os habitantes do gueto sobre os seus prováveis destinos, que estavam confiantes de que ele próprios não estriam incluídos nas listas fatídicas.” (p. 130)

De alguns prisioneiros do campo de Auschwitz tinham chegado cartões-postais para parentes. Portanto, o que acontecera em Belzec [câmara de gás] não podia ser verdade em Auschwitz. E era para acreditar? Tão escassas eram as rações emocionais do gueto que as pessoas podiam manter seu equilíbrio acreditando numa lógica.” (p. 131)

Pelas suas fontes de informação, Schindler descobriu que as câmaras de Belzec tinham sido terminadas em março daquele ano [1942], sob supervisão de uma firma de engenharia de Hamburgo e engenheiros da SS de Oranienburg. Pelo testemunho de Bachner, ao que parecia, 3.000 matanças por dia eram o cálculo da capacidade das câmaras. Crematórios estavam sendo construídos, para o caso de o meio tradicional de dispor de cadáveres pudesse provocar um atraso no novo método de extermínio. A mesma companhia em atividade em Belzec instalara facilidades idênticas em Sobibor, também no distrito de Lublin. Haviam sido abertas concorrências e as construções estavam muito avançadas para instalações similares em Treblinka, perto de Varsóvia [Warsaw]. E câmaras de gás e fornos se achavam ambos em funcionamento no campo principal de Auschwitz e no vasto campo Auschwitz II , a poucos quilômetros de Birkenau. A Resistência afirmava que 10.000 assassinatos por dia estavam dentro da capacidade de Auschwitz II (perto de Birkenau).” (pp. 131-132)

O Oskar Schindler, que sai de seu gabinete nas manhãs gélidas de uma Aktion para falar com o membro da SS, com o auxiliar ucraniano, com a Polícia Azul e com o destacamento da OD, que teriam marchado de Podgorze para escoltar o seu turno da noite, o Oskar Schindler que, enquanto toma seu café, telefona para o escritório do Wachtmeister Bosko próximo ao gueto e prega uma mentira a respeito da necessidade de seu turno da noite permanecer esta manhã na Rua Lipowa – esse Oskar está se comprometendo agora além dos limites de negócios cautelosos. Os homens influentes que, por duas vezes, tiraram Oskar da prisão não poderiam fazê-lo indefinidamente, embora Oskar se mostre generoso nos aniversários deles. Nesse ano, eles estavam mandando homens influentes para Auschwitz. Se eles morrem lá, suas viúvas recebem um telegrama seco e ingrato do comandante: SEU MARIDO MORREU EM KONZENTRATIONSLAGER AUSCHWITZ.” (pp. 132-133)


(a Resistência contra o III Reich)


A Organização Judaica de Combate (ZOB) era forte em Cracóvia. Compunha-se sobretudo de membros de clubes juvenis, especialmente de membros do AKIVAum clube assim nomeado em homenagem ao lendário Rabino Akiva Ben Joseph, um erudito da Mishna. (...) Seus membros necessitavam entrar e sair livremente do gueto, levando dinheiro em espécie, documentos forjados e exemplares do jornal da Resistência. Tinham contatos com o Exército Polonês do Povo, de tendência esquerdista, que se abrigava nas florestas nos arredores de Cracóvia (...)” (pp. 133-134)

O que em junho [de 1942] parecera um horror supremo, em outubro se tornara um processo de rotina. (...) quando o assassinato é programado, habitual, uma indústria, como ali em Cracóvia, não havia maneira, mesmo com tentativas heroicas, de desviar o rumo devastador do sistema. Os mais ortodoxos do gueto tinham um refrão: 'Uma hora de vida é ainda vida.'” (p. 137)

Os sionistas da Juventude Halutz Youth e a ZOB preparavam um ato de resistência mais concreto. (...) Era intenção deliberada agirem contra o tradicional pacifismo do gueto, convertê-lo numa rebelião universal. (...) Contudo, o estilo de resistência para os habitantes de guetos permanecia o mesmo que o de Artur Rosenzweig; quando lhe disseram em junho que fizesse uma lista de milhares de conterrâneos seus para serem deportados, colocou o seu próprio nome, o de sua mulher e o da filha em primeiro lugar na lista.” (pp. 137-138)


Cap. 17 (As notícias sobre o extermínio espalham-se pela Europa e chegam à Palestina)

Até mesmo na pequena equipe de Sedlacek, seu clube vienense anti-nazista, não se imaginava que a perseguição aos judeus tornara-se tão sistemática. Não somente a história que Schindler era assustadoramente primária em termos morais, como lhe pediam que acreditasse que, em meio de uma batalha desesperada, os nacionalistas empregavam milhares de homens, os recursos de preciosas estradas de ferro, técnicas de engenharia dispendiosas, uma parcela fatídica dos seus cientistas e pesquisadores, uma vasta burocracia, arsenais inteiros de armas automáticas, uma profusão de depósitos de munições, todo esse potencial para o extermínio, que não tinha nenhum objetivo militar ou econômico mas um mero objetivo psicológico. Dr. Sedlacek tinha esperado apenas histórias de horrorfome, restrições econômicas, pogroms violentos em uma ou outra cidade, violações de propriedadetodas as arbitrariedades historicamente habituais.” (p. 142)

Cap. 18 (os campos de trabalho e os campos de extermínio, Vernichtungslagers)

Naquelas últimas semanas, informou Oskar, uns 2.000 habitantes do gueto de Cracóvia tinham sido reunidos e enviados não para as câmaras de Belzec, mas para campos de trabalhos forçados nas cercanias da cidade. Um campo ficava em Wieliczka, outro em Prokocim, ambos com estações ferroviárias da linha Ostbahn, que corria para a fronteira russa. De Wieliczka e Prokocim, os prisioneiros marchavam todos os dias para um local na aldeia de Plaszóvia, na periferia da cidade, onde estavam sendo preparadas as fundações para um vasto campo de trabalho.” (p. 147)

Wieliczka, Prokocim e o campo em construção em Plazóvia estavam sob o controle dos chefes de polícia de Cracóvia, Julian Schemer e Rolf Czurda; ao passo que os Vernichtungslagers eram dirigidos pelo Escritório Central de Administração e Economia em Oranienburg, perto de Berlim. Os Vernichtungslagers usavam também pessoas vivas por algum tempo, para mão-de-obra , mas a sua indústria principal era a morte e seus subprodutosa reciclagem de roupas, das joias e óculos que restassem, de brinquedos e até da pele e cabelo dos mortos.” (p. 148)

No Cap. 16 temos um trecho onde uma sobrevivente narra que os cabelos são recolhidos para serem usados em filtros para calçados das tripulações dos U-Boots,Depois de despidos os prisioneiros tinham suas cabeças raspadas na barbearia, e eram informados por um NCO SS que seus cabelos eram necessários para fabricar algo para as tripulações de submarinos.” (p. 130)


Fonte:A Lista de Schindler(Schindler's List, 1982)
de Thomas Keneally (1935- ) trad. Tati Moraes


sobre os Judenrat




Link para video

'Schindler's List' trailer


Shoahtrailer


The Nazis: The Road to Treblinka




seleção: LdeM


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