quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ataque alemão à Stalingrado




Ataque alemão à Stalingrado


fonte: BEEVOR, Antony. Stalingrado. O Cerco Fatal. Trad. Alda Porto. Record, 2005.


Cap. 8 - “Alcançado o Volga”


“Em 21 de agosto de 1942, as companhias de infantaria LI do Corpo do general von Seydlitz atravessaram o Don ao amanhecer em barcos de ataque infláveis. Logo estabeleceram uma cabeça-de-ponte perto da aldeia de Luchinski. Mais e mais companhias remavam furiosamente pela imensa extensão de água. Alguns quilômetros corrente abaixo, em Vertiachi, todo um batalhão atravessou o Don em turnos em menos de setenta minutos.

...

“Logo depois do meio-dia de 22 de agosto, a ponte ficou pronta, e a divisão de panzers do general Hube, 'os aríetes da corporação', começaram a atravessar. Os tanques, meias-lagartas, canhões de ataque autopropulsores, veículos de reconhecimento de oito rodas e caminhões chocalhavam, ensurdecedores, pela ponte de troncos.


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“Para os cidadãos de Stalingrado, domingo, 23 de agosto, foi 'um dia que jamais será esquecido'. A cidade-modelo de que tanto se orgulhavam, com seus jardins ao longo da margem direita do Volga e os altos prédios brancos de apartamentos, que davam ao lugar sua aparência moderna, cubista, tornou-se um inferno.

Os alto-falantes nas ruas, presos a postes de luz, começaram a repetir:
-Camaradas, soou na cidade um alarme de ataque aéreo. Atenção, camaradas, um alarme de ataque aéreo...

A população já ouvir tantos falsos alarmes de ataque aéreo, que a princípio poucos levaram esse a sério. Só depois que as baterias antiaéreas abriram fogo, as pessoas puseram-se a correr em busca de abrigo.

As que faziam piquenique no Mamaev Kurgan, o imenso túmulo de pedras tártaro num monte que dominava o centro da cidade, eram as mais expostas. Abaixo, nas longas ruas largas que corriam paralelas ao Volga, as massas de refugiados dos distritos afastados encontraram pouca proteção, fora as trincheiras em pátios internos e jardins cavadas por comitês de quarteirões para aqueles que não conseguissem chegar a tempo a um porão.

A força aérea de Richthofen começou a bombardear por turnos, 'não apenas alvos industriais, mas tudo', disse um estudante presente naquele dia. As bombas de alto poder explosivo oscilavam delicadamente ao caírem dos Heinkels em bastões. As descrições de cenas na cidade tornam difícil imaginar alguém sobrevivendo fora de um porão. (...)

O ataque aéreo a Stalingrado, o mais concentrado no Ostfront, representou a culminação natural da carreira de Richthofen desde Guernica. A força aérea da Quarta Frota Aérea fez um total de 1.600 saídas naquele dia e despejou mil toneladas de bombas com a perda de apenas três aparelhos. Segundo algumas estimativas, havia quase 600 mil pessoas em Stalingrado, e 40 mil foram mortas na primeira semana de bombardeio.

O motivo de tantos cidadãos e refugiados ainda permanecerem na margem ocidental do Volga era característico do regime. O NKVD requisitara quase todas as embarcações do rio, atribuindo ao mesmo tempo prioridade muito pequena à evacuação da população civil. Depois, Stalin, decidindo que não se devia criar nenhum pânico, recusou-se a permitir que os habitantes de Stalingrado fossem evacuados pelo Volga. Segundo ele, isso obrigaria as tropas, sobretudo a milícia formada no local, a defender com mais desespero uma cidade.
-Ninguém se importava com os seres humanos – observou um dos garotos cercados atrás com as mães. - Nós também éramos apenas bucha de canhões.”

pp. 127, 129-130, 131-132



“Os defensores soviéticos de Stalingrado achavam-se numa posição perigosa, em parte porque o general Ieremenko concentrara a maior parte de suas forças disponíveis para diminuir a velocidade do Quarto Exército de panzers de Hoth, que avançava para a cidade vindo do sudoeste. Jamais imaginara que as forças de Paulus iriam entrar com tanta rapidez e ousadia à sua direita.

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Stalin ficou furioso quando soube que as tropas alemãs haviam chegado ao Volga. Proibiu a instalação de minas nas fábricas, a evacuação de maquinaria ou qualquer outra reação que 'pudesse ser tomada como uma decisão de entregar Stalingrado'. A cidade seria defendida até o fim. O Conselho Militar mandou aficar cartazes em toda a cidade proclamando um estado de sítio: 'Jamais entregaremos a cidade do nosso nascimento. Ergamos barricadas em cada rua. Transformemos cada distrito, cada quarteirão, cada prédio numa fortaleza inexpugnável.' Muitos homens entraram em pânico, entre eles o secretário do Comitê do Komsomol [Juventude Comunista] de Stalingrado, que 'abandonou seu posto' e fugiu para a margem oriental sem permissão.

Os operários não envolvidos diretamente na produção de armas para uso imediato foram mobilizados em 'brigadas especiais' de milícia, sob o comandante da 10ª Divisão de Fuzileiros da NKVD, coronel Saraiev. Distribuíram-se munições e fuzis, mas muitos homens só recebiam uma arma depois que um camarada era morto. (...)

“Os regimentos da aviação do Exército Vermelho também foram lançados na batalha em 24 de agosto, mas um Iak [Yakovlev] tinha pouca chance contra um Messerschmitt 109, e os caça-bombardeiros Shturmovik, embora blindados na superfície inferior, eram extremamente vulneráveis quando voavam com um piloto competente na cola. Os soldados alemães davam vivas embaixo quando pilotos da Luftwaffe despachavam seus inimigos 'mit Eleganz' [com elegância], como se a guerra aérea fosse uma espécie de tourada realizada para o prazer dos espectadores em terra.”


“Em 28 de agosto, caças russos também tentaram atacar a nova base da Luftwaffe perto de Kalach, mas um grupo de caça Messerschimitt 109 rechaço-os. Orgulhosos de sua vitória, os jovens pilotos bronzeados reuniram-se para o interrogatório após a missão, mas seu austero comandante – conhecido como 'o Príncipe', por causa da semelhanças com uma estátua medieval de catedral – não os parabenizou. Em vez disso, transmitiu a ordem que tanto irritara Richthofen.

-Senhores, voar por diversão e ver quem consegue derrubar mais máquinas inimigas precisa parar. Cada máquina, cada gota de combustível, cada hora de voo é insubstituível. A vida fácil em terra que andamos levando é completamente irresponsável: no ar, mais ainda. Toda bala deverá socorrer a infantaria, se não houver alvo no ar.

Murmúrios ressentidos acolheram suas palavras.

Como ocorre com frequência em fins de agosto, a temperatura mudou de repente. No sábado, 29 de agosto, choveu durante quase todo o dia e a noite. Os soldados ficaram encharcados e as trincheiras, cheias de água. 'Essa Rússia desgraçada' era uma reação comum em cartas para casa nessa época. Pareciam tão próximos do que achavam que era seu objetivo final, após um avanço de quase quatro meses sem trégua.”
pp. 134-135, 136; 142


fonte: BEEVOR, Antony. Stalingrado. O Cerco Fatal. Trad. Alda Porto. Record, 2005.


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