Ataque
alemão à Stalingrado
fonte:
BEEVOR, Antony. Stalingrado. O Cerco Fatal. Trad.
Alda Porto. Record, 2005.
Cap.
8 - “Alcançado o Volga”
“Em
21 de agosto de 1942, as companhias de infantaria LI do Corpo do
general von Seydlitz atravessaram o Don ao amanhecer em barcos de
ataque infláveis. Logo estabeleceram uma cabeça-de-ponte perto da
aldeia de Luchinski. Mais e mais companhias remavam furiosamente pela
imensa extensão de água. Alguns quilômetros corrente abaixo, em
Vertiachi, todo um batalhão atravessou o Don em turnos em menos de
setenta minutos.
...
“Logo
depois do meio-dia de 22 de agosto, a ponte ficou pronta, e a divisão
de panzers do general Hube, 'os aríetes da corporação',
começaram a atravessar. Os tanques, meias-lagartas, canhões de
ataque autopropulsores, veículos de reconhecimento de oito rodas e
caminhões chocalhavam, ensurdecedores, pela ponte de troncos.
...
“Para
os cidadãos de Stalingrado, domingo, 23 de agosto, foi 'um dia que
jamais será esquecido'. A cidade-modelo de que tanto se orgulhavam,
com seus jardins ao longo da margem direita do Volga e os altos
prédios brancos de apartamentos, que davam ao lugar sua aparência
moderna, cubista, tornou-se um inferno.
Os
alto-falantes nas ruas, presos a postes de luz, começaram a repetir:
-Camaradas,
soou na cidade um alarme de ataque aéreo. Atenção, camaradas, um
alarme de ataque aéreo...
A
população já ouvir tantos falsos alarmes de ataque aéreo, que a
princípio poucos levaram esse a sério. Só depois que as baterias
antiaéreas abriram fogo, as pessoas puseram-se a correr em busca de
abrigo.
As
que faziam piquenique no Mamaev Kurgan, o imenso túmulo de pedras
tártaro num monte que dominava o centro da cidade, eram as mais
expostas. Abaixo, nas longas ruas largas que corriam paralelas ao
Volga, as massas de refugiados dos distritos afastados encontraram
pouca proteção, fora as trincheiras em pátios internos e jardins
cavadas por comitês de quarteirões para aqueles que não
conseguissem chegar a tempo a um porão.
A
força aérea de Richthofen começou a bombardear por turnos, 'não
apenas alvos industriais, mas tudo', disse um estudante presente
naquele dia. As bombas de alto poder explosivo oscilavam
delicadamente ao caírem dos Heinkels em bastões. As
descrições de cenas na cidade tornam difícil imaginar alguém
sobrevivendo fora de um porão. (...)
O
ataque aéreo a Stalingrado, o mais concentrado no Ostfront,
representou a culminação natural da carreira de Richthofen desde
Guernica. A força aérea da Quarta Frota Aérea fez um total de
1.600 saídas naquele dia e despejou mil toneladas de bombas com a
perda de apenas três aparelhos. Segundo algumas estimativas, havia
quase 600 mil pessoas em Stalingrado, e 40 mil foram mortas na
primeira semana de bombardeio.
O
motivo de tantos cidadãos e refugiados ainda permanecerem na margem
ocidental do Volga era característico do regime. O NKVD requisitara
quase todas as embarcações do rio, atribuindo ao mesmo tempo
prioridade muito pequena à evacuação da população civil. Depois,
Stalin, decidindo que não se devia criar nenhum pânico, recusou-se
a permitir que os habitantes de Stalingrado fossem evacuados pelo
Volga. Segundo ele, isso obrigaria as tropas, sobretudo a milícia
formada no local, a defender com mais desespero uma cidade.
-Ninguém
se importava com os seres humanos – observou um dos garotos
cercados atrás com as mães. - Nós também éramos apenas bucha de
canhões.”
pp.
127, 129-130, 131-132
“Os
defensores soviéticos de Stalingrado achavam-se numa posição
perigosa, em parte porque o general Ieremenko concentrara a maior
parte de suas forças disponíveis para diminuir a velocidade do
Quarto Exército de panzers de Hoth, que avançava para a
cidade vindo do sudoeste. Jamais imaginara que as forças de Paulus
iriam entrar com tanta rapidez e ousadia à sua direita.
...
Stalin
ficou furioso quando soube que as tropas alemãs haviam chegado ao
Volga. Proibiu a instalação de minas nas fábricas, a evacuação
de maquinaria ou qualquer outra reação que 'pudesse ser tomada como
uma decisão de entregar Stalingrado'. A cidade seria defendida até
o fim. O Conselho Militar mandou aficar cartazes em toda a cidade
proclamando um estado de sítio: 'Jamais entregaremos a cidade do
nosso nascimento. Ergamos barricadas em cada rua. Transformemos cada
distrito, cada quarteirão, cada prédio numa fortaleza
inexpugnável.' Muitos homens entraram em pânico, entre eles o
secretário do Comitê do Komsomol [Juventude Comunista] de
Stalingrado, que 'abandonou seu posto' e fugiu para a margem oriental
sem permissão.
Os
operários não envolvidos diretamente na produção de armas para
uso imediato foram mobilizados em 'brigadas especiais' de milícia,
sob o comandante da 10ª Divisão de Fuzileiros da NKVD, coronel
Saraiev. Distribuíram-se munições e fuzis, mas muitos homens só
recebiam uma arma depois que um camarada era morto. (...)
“Os
regimentos da aviação do Exército Vermelho também foram lançados
na batalha em 24 de agosto, mas um Iak [Yakovlev] tinha
pouca chance contra um Messerschmitt 109, e os
caça-bombardeiros Shturmovik, embora blindados na superfície
inferior, eram extremamente vulneráveis quando voavam com um piloto
competente na cola. Os soldados alemães davam vivas embaixo quando
pilotos da Luftwaffe despachavam seus inimigos 'mit
Eleganz' [com elegância], como se a guerra aérea fosse uma
espécie de tourada realizada para o prazer dos espectadores em
terra.”
“Em
28 de agosto, caças russos também tentaram atacar a nova base da
Luftwaffe perto de Kalach, mas um grupo de caça
Messerschimitt 109 rechaço-os. Orgulhosos de sua vitória, os
jovens pilotos bronzeados reuniram-se para o interrogatório após a
missão, mas seu austero comandante – conhecido como 'o Príncipe',
por causa da semelhanças com uma estátua medieval de catedral –
não os parabenizou. Em vez disso, transmitiu a ordem que tanto
irritara Richthofen.
-Senhores,
voar por diversão e ver quem consegue derrubar mais máquinas
inimigas precisa parar. Cada máquina, cada gota de combustível,
cada hora de voo é insubstituível. A vida fácil em terra que
andamos levando é completamente irresponsável: no ar, mais ainda.
Toda bala deverá socorrer a infantaria, se não houver alvo no ar.
Murmúrios
ressentidos acolheram suas palavras.
Como
ocorre com frequência em fins de agosto, a temperatura mudou de
repente. No sábado, 29 de agosto, choveu durante quase todo o dia e
a noite. Os soldados ficaram encharcados e as trincheiras, cheias de
água. 'Essa Rússia desgraçada' era uma reação comum em cartas
para casa nessa época. Pareciam tão próximos do que achavam que
era seu objetivo final, após um avanço de quase quatro meses sem
trégua.”
pp.
134-135, 136; 142
fonte:
BEEVOR, Antony. Stalingrado. O Cerco Fatal. Trad.
Alda Porto. Record, 2005.
...
mais
info:
luta
nas ruas
Komsomol
seleção:
LdeM
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