quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Queda de Tobruk - 21 junho 1942




A Queda de Tobruk


Norte da África, junho 1942


“Em 15 de junho [de 1942], o grande ambição de Rommel era capturar Tobruk. Acontece que os britânicos hesitaram em lutar por ela, já que suas defesas careciam do poderio de um ano atrás: o oficial do Estado-Maior que pediu os planos do campo minado verificou que ele estava terrivelmente ultrapassado, porque muitas minas haviam sido retiradas para fortificar a Linha de Gazala. Não obstante, uma guarnição predominantemente de infantaria, formada de sul-africanos, indianos e britânicos, sem artilharia e com apenas dois fracos batalhões de tanques, foi disposta para barrar as pretensões de Rommel.

Embora algumas fortes 'guaritas' britânicas no deserto, apoiadas por blindados, lhe impedissem a aproximação do alvo de sua arremetida, ele não hesitou. Sobretudo no moral, o AK [Afrika Korps] e os italianos lutaram como um exército invencível ante o qual os britânicos recuaram em confusão para o Egito.

Varrendo em torno do perímetro da cidade e empurrando tudo à sua frente (com outras perdas importantes de tanques dos britânicos), o AK completou o cerco de Tobruk no dia 18 e a 90ª Ligeira ocupou Bardia no dia seguintecolocando largo território deserto entre as colunas britânicas mais avançadas e o porto isolado. Retirando do arquivo os planos de assalto anteriores à 'Operação Cruzado', o Estado-Maior do Q-G do Panzerarmee tinha de atualizá-lostarefa facilitada pelo fato de ser apanhada no setor a munição acumulada para a operação de novembro. Rommel deu ordens para atacar quando o anel se fechou em torno de Tobruk: os britânicos não receberiam nem aviso nem trégua.

Na verdade, a rapidez era a essência do plano; não haveria movimento para as áreas de reunião antes da tarde anterior ao ataque e, assim, o reconhecimento e os preparativos da artilharia foram reduzidos a uma fração do volume normalmente esperado para uma operação tão importante. Tendo em mente que, segundo os planos originais, a captura de Tobruk terminaria a 'Operação Teseu', o cuidado que Rommel dispensou aos seus blindados nesse momento trai a intenção estudada de continuar as operações móveis para leste, após a queda de Tobruk. Resistindo a todas as sugestões feitas para usar blindados na limpeza das 'guaritas' britânicas isoladas entre Tobruk e o Egito, e insistindo em abrir o assalto ao perímetro com infantaria e engenharia, apoiadas por bombardeio intensona maior parte pela LuftwaffeRommel conservou seus tanques para futuras contingências.

[]

Nenhuma operação de guerra sai totalmente de acordo com os planos, mas a manutenção do impulso dentro de uma estrutura de tempo planejada pode ser imensamente encorajadorae o AK experimentou isto desde o início. Formando-se desimpedida à noite, a infantaria avançou lentamente antes que a Luftwaffe fustigasse as posições britânicas fronteiras próximo do amanhecer. Menos de duas horas depoisàs 07:00hos engenheiros alemães haviam começado a encher a vala enquanto a infantaria, protegida por cortinas de fumaça, se infiltrava, passando de trincheira em trincheira e limpando o terreno no caminho. Quando os primeiros tanques da 15ª Panzer cruzaram a vala, às 080 h, eram visíveis os sinais de vitória, pois a resposta britânica não tinha nada da controlada violência do ano anterior e seu fogo de artilharia começou a cair atrasado e longe dos alvosuma deficiência crítica na defesa. Bastante encorajado, o avanço começou a engrossar, na vanguarda o General Nehring, parando apenas momentaneamente, quando baterias inimigas isoladas entravam em ação ou quando esquadrões isolados de tanques faziam sua contribuição. Por volta das 14:00 h, o AK dominava a Serra de Pilastrino, de onde podia bombardear a baía; agora, como a última força blindada britânica fora destruída, a guarnição estática estava à mercê de um inimigo eminentemente móvel.

Praticamente não escapou nenhum defensor, pois o colapso fora tão rápido que não houve tempo para planejar a fuga: as últimas tropas britânicas depuseram armas n manhã de 22, embora a maioria o tivesse feito na noite de 21. um italiano registrou o seguinte: 'Tudo aconteceu depressa; fortificações, baía e cidade, tudo recapturado no espaço de poucas horas. A grande massa de alvenaria e metal retorcido ainda estava quente e palpitante, como um corpo imenso recém-morto...

Mas o caos não impediu os alemães de colocar guardas nos armazéns … havia pilhas de cerveja em lata, cabanas estourando com farinha branca, cigarros, fumo e geleias; galões de uísque; quantidade inestimável de toda sorte de comida em lata; e toneladas de roupa cáqui...'

Mais importantes ainda, como o Estado-Maior de Rommel logo descobriu, eram os estoques consideráveis de água e, sobretudo, de veículos e gasolina que haviam escapado à destruição. À disposição de Rommel estavam os elementos para o passo seguintepois, naturalmente, antes de soarem os últimos tiros em Tobruk, Rommel trabalhava intensamente para convencer o Eixo a mudar dua estratégia. Carregado de congratulações e de propostas para redesenvolver a 'Operação Hércules' [o ataque da Ilha de Malta], Kesselring chegou ao QG do Panzerarmee na noite de 21, sendo recebido por um Rommel vibrante, que insistia em não se desperdiçar os frutos da vitórianão haveria tempo a perder para capturar Malta, se uma invasão do Egito chegasse ao Canal de Suez antes que os britânicos se recuperassem. Friamente, Kesselring observou que, sem forte apoio aéreo, um avanço como este falhariae o apoio aéreo fora destinado a Maltaque, incidentalmente, na ausência da Luftwaffe, empenhada em batalhas terrestres, estava recomeçando a agir ofensivamente contra as rotas marítimas. Von Mellenthin diz: 'as discussões tornaram-se por demais acaloradas'. Os dois comandantes não chegaram a um acordo e Rommel despachou um oficial de ligação pessoal para apresentar seus pontos de vista a Hitler e enviou um comunicado, no mesmo sentido, a Mussolini.

No dia seguinte, Rommel soube que Hitler o promovera a Feldmarechal [ou Marechal-de-Campo], e celebrou isto mandando o AK [Afrika Korps] para a fronteira egípcia, supondo que Hitler daria permissão retroativa. E julgou bem, pois Hilter sempre fora indiferente à 'Operação Hércules', temendo que a força de assalto italiana fracasse e exigisse mais um salvamento pelo Eixo, pouco depois da grande ofensiva desencadeada contra a Rússia, no Cáucaso. A 23 de junho, Rommel penetrou no Egito, com a permissão dos dois ditadores, que também decidiram adiar a 'Operação Hércules' até setembro. Isto não era nenhum Rubicãoteoricamente, ele poderia recuar se a oposição aumentasse.

À frente, uma aturdida força britânica entrincheirou-se em Mersa Matruh, onde havia estado no começo da Guerra do Deserto, pois seu Comandante-Chefe [Auchinleck] não acreditava que Rommel tivesse meios para chegar ao Cairo, e comentou: 'Não nenhuma posição natural, a leste de Halfaya, que o inimigo possa defender com êxito contra forças superiores'. Estaria ele mais uma vez errado, como o AK demonstrara com tanta frequência?
pp. 83-85


fonte: MACKSEY, Kenneth. Afrika KorpsRommel no deserto. Renes, 1974.


...


“Em 20 de junho de 1942, as tropas alemãs iniciaram o ataque decisivo ao porto líbio de Tobruk, cuja importância era estratégica para o avanço do Afrikakorps de Hitler. A batalha foi o ponto alto da carreira de Rommel.

Às 5h20 da manhã de 20 de junho de 1942, o Afrikakorps alemão atacou a cidade portuária de Tobruk, na Líbia. Sob o comando do general Erwin Rommel, uma infantaria e duas divisões de tanques, apoiadas pela Força Aérea e pelo 20º Exército italiano, abriram fogo.
Por volta das 9 horas, os agressores atingiram o cruzamento da Via Balbia com a estrada para El Adem, chamada King's Cross pelos ingleses. A contraofensiva da 32ª brigada de tanques britânicos chegou tarde demais. Com a tomada do King's Cross, às 13h30, a queda de Tobruk estava praticamente selada.
A resistência ainda continuou até o dia seguinte. Vinte e quatro horas depois do primeiro tiro, os alemães chegaram ao porto. Um correspondente de guerra narrou assim os acontecimentos: "São 5h10 da manhã. Começou o segundo dia da batalha por Tobruk e, a verdade, ele prenuncia o fim da operação. A noite passada foi iluminada pelos lança-chamas. Agora, aqui no porto de Tobruk, ergue-se uma enorme coluna de fumaça, uma parede que se estende de Leste a Oeste. A nuvem de fumaça sobe de um depósito de petróleo, incendiado por soldados em fuga. Ela paira como um sinal de infortúnio sobre a fortaleza".






Em 21 de junho de 1942, o premier Churchill estava em conversações com o presidente Roosevelt, e ficou perplexo com a Queda de Tobruk, segundo mostra R. Lewin, emChurchillO Lorde da Guerra, pp. 174-75,


“Entretanto, 21 de junho também foi o dia em que, sentado no seu estúdio, Roosevelt entregou a Churchill a notícia sobre a queda de Tobruk. A reação foi sintetizada de forma lapidar pelo Ministro da Guerra dos Estados Unidos, Stimson, ao escrever que o golpe 'desviou a atenção da reunião de Washington, da grande estratégia para o trabalho de consertos imediatos'. Sem hesitar, Roosevelt formulou o pedido memorável: desejava saber em que podia ser útil; Churchill solicitou os carros de combate Sherman. Quando o dia chegou ao fim Marshall comparecera a três reuniões, no mínimo, na Casa Branca e trouxe o oferecimento de enviar para o Oriente Médio uma divisão blindada totalmente equipada, embora isto implicasse em recolher carros de combate de unidades que haviam acabado de recebê-los. 'É um coisa horrível tirar a arma da mão de um soldado', disse ele a Churchill, 'mas se a necessidade dos ingleses é tão grande assim, ele receberão as armas'. [Aliás foi aí que se deu o aparecimento de Patton no cenário anglo-americano, pois foi a ele que Marshall deu a ordem para deixar a 2ª Divisão Blindada em condições de embarcar para o Egito, acrescentando que não queria ouvir nenhuma referência a corpo de exército. Na manhã seguinte Patton sugeriu, jovialmente, que poderia ser enviada uma segunda divisão. Marshall despachou Patton imediatamente para a Califórnia, onde ele refletiu e chegou à conclusão que uma única divisão resolveria o problema. Com isto, foi chamado de volta a Washington; Marshall costumava dizer 'que esta era a forma de lidar com Patton'.]


Enquanto isto, um reexame do assunto revelou que o Exército seria melhor servido com material, dispensando-se a remessa de pessoal. Diante disto, Marshall ofereceu-se para enviar um comboio urgente com 300 carros de combate e 100 canhões autopropulsados de 105 mm. A chegada deste material em setembro constituiu um fator preponderante em Alamein. Os autores ingleses ainda não prestaram o tributo devido a esta transferência de material. Tratou-se de um gesto extraordinário não da parte de Roosevelt, indivíduo espontâneo e de bom coração, como da parte de Marshall, um homem frio e calculista. Sim, os americanos estavam praticando um gesto extraordinário ao fornecer uma tal quantidade de equipamento, numa época em que o Exército dos Estados Unidos ainda se achava em situação precária e quando, segundo uma ótica bastante objetiva, a escassez de material no Pacífico poderia exigir que para ali fosse a prioridade na distribuição dos recursos disponíveis.


Em outro sentido, tratou-se de um feito extraordinário da parte de Churchill. O fato de obter este auxílio com tanta rapidez, exatamente no dia em que ele conseguira destruir, habilmente, a ambição mais acalentada pelo Ministério da Guerra dos Estados Unidos [aqui trata-se da operação Sledgehammer em 1942], constitui um episódio sem precedentes na história das alianças militares. Era uma manifestação da confiança que ele inspirava como parceiro, agora consolidada durante alguns meses, e que sobrepujava todos os sentimentos a cerca de sua influência maligna ou os rumores sub-reptícios sobre a perfídia de Albion. O que não quer dizer que tais sentimentos hajam sido anulados. [...]pp. 174-75




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