Brasil
na Guerra
1942
Governo
Vargas entre a Democracia e o Totalitarismo
Em
pleno
Estado
Novo
(1937-1945),
com
o
governo
centralizador
e
antidemocrático
do
presidente-ditador
Getúlio
Vargas
(1882-1954),
o
Brasil
assistia
aos
movimentos
belicistas
e
totalitários
que
tomavam
conta
da
Europa
desde
os
fins
da
Primeira
Guerra
Mundial
(1914-1918)
e
ampliados
pelo
populismo
nacionalista
acrescido
pela
crise
econômica
pós-1929,
com
a
Quebra
da
Bolsa
de
Nova
York.
Em
fins
de
1939
a
Segunda
Guerra
Mundial
teve
seu
trágico
início
com
os
avanços
das
tropas
alemãs
rumo
ao
leste,
na
invasão
da
Polônia
(setembro
de
1939),
e
posterior
agressão
aos
países
europeus
ocidentais,
em
início
de
1940,
culminando
com
a
ocupação
da
França,
em
junho.
Assim,
a
Grã-Bretanha
ficou
isolada,
e
a
Itália
entrou
no
conflito.
Deste
modo, parecia que as forças do Eixo avançavam sem obstáculos no
terreno das democracias, que eram incapazes de deter o totalitarismo
de Direita. Hitler e Mussolini despontavam como os novos vitoriosos e
aglomerava sob os seus estandartes massas populistas nacionalistas em
toda a Europa, e também na América e Ásia.
No
Brasil,
o
Governo
Vargas
estava
dividido,
pois
se
o
ditador
era
favorável
aos
métodos
e
ideologias
da
Direita,
sendo
contra
a
'luta
de
classes',
e
a
favor
de
armamento
alemão,
muitos
de
seus
ministros
(principalmente
Oswaldo
Aranha,
responsável
pelas
Relações
Exteriores)
eram
favoráveis
a
uma
aliança
com
os
países
democratas
-entenda-se
Grã-Bretanha
e
Estados
Unidos
da
América,
ambos
países
com
apoios
informais
(os
EUA
somente
declararam
guerra
ao
Eixo
em
fins
de
1941,
como
sabemos).
Vejamos
alguns
trechos
que
demonstram
as
ambiguidades
e
hesitações
de
Vargas
entre
os
alemães
e
os
norte-americanos
quanto
às
alianças
na
terrível
guerra
que
se
ampliava
da
Europa
para
o
Oceano
Atlântico
e
para
a
Ásia.
(Em
fins
de
1941
a
guerra
começou
no
Oceano
Pacífico,
com
o
ataque
japonês
a
base
americana
de
Pearl
Harbor)
A
questão da indústria nacional : quem patrocina?
“Em
1938,
Vargas
cria
a
Comissão
Executiva
do
Plano
Siderúrgico,
entregando-a
ao
coronel
Edmundo
de
Macedo
Soares
e
Silva,
que
logo
mantém
entendimentos
com
o
governo
hitlerista,
para
concessão
de
empréstimos.
Ciente
disso,
o
presidente
norte-americano
Franklin
Roosevelt
oferece
ao
Brasil,
através
do
Export
and
Import
Bank,
um
empréstimo
de
20
milhões
de
dólares
para
a
construção
de
uma
grande
siderúrgica,
em
Volta
Redonda.
Em
troca,
o
Governo
brasileiro
garante
a
concessão
de
bases
militares
norte-americanas
em
território
nacional.
Em
1941,
é
fundada
a
Companhia
Siderúrgica
nacional,
com
o
empréstimo
norte-americano
de
20
milhões
de
dólares
e
mais
25
milhões
de
dólares
investidos
pelo
Governo
brasileiro.
Em
1943,
os
EUA
fornecem
novo
empréstimo.
Três
anos
depois,
em
1946,
Volta
Redonda
entra
em
plena
atividade.”
(p.
72)
No
conflito mundial o Governo Vargas mostra neutralidade, aproveitando
para aumentar as exportações para ambos os lados – principalmente
para alemães e norte-americanos.
“Em
2
de
setembro
de
1939,
dia
seguinte
à
invasão
da
Polônia
por
Adolf
Hitler,
o
Governo
brasileiro
declara
sua
decisão
de
abster-se
'de
qualquer
ato
que,
direta
ou
indiretamente,
facilite,
auxilie
ou
hostilize
a
ação
dos
beligerantes'.
Mostra-se
também
disposto
a
impedir
que
'os
nacionais
ou
estrangeiros,
residentes
no
país,
pratiquem
ato
algum
que
possa
ser
considerado
incompatível
com
os
deveres
de
neutralidade
do
Brasil'.
Oscilando
entre
fascistas
e
democratas,
seria
o
mesmo
Getúlio
que
em
11
de
junho
de
1940,
no
couraçado
Minas
Gerais,
reafirmaria:
'Felizmente,
no
Brasil,
criamos
um
regime
adequado
às
nossas
necessidades,
sem
imitar
outros
nem
filiar-se
a
qualquer
das
correntes
doutrinárias
e
ideológicas
existentes'.
Segundo
o
historiador
Edgar
Carone,
'o
discurso
de
Getúlio
Vargas
se
faz
no
momento
da
queda
da
França.
A
expectativa,
no
momento,
é
de
que
o
Brasil
ficaria
ao
lado
dos
países
do
Eixo.
Mas,
a
guinada
é
contrabalançada
pela
ação
imediata
dos
Estados
Unidos,
o
que
leva
o
Governo
a
recuar
e
desmentir
suas
intenções
pró-fascistas.
Na Terceira Reunião de
Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas
Americanas, em janeiro de 1942, os Estados Unidos fazem pressão para
que os países americanos rompam relações com a Alemanha e Itália.
Para o Governo brasileiro, não resta outra saída: nesse ano os
Acordos de Washington regularizam o comércio do café, cacau,
tecidos, produtos industriais e minerais e a Alemanha sofre as
primeiras derrotas militares. Com o afundamento de navios brasileiros
desde 1942 e a forte hostilidade antinazista por todo o país, em
agosto desse ano o Governo brasileiro reconhece 'a situação de
beligerância entre o Brasil e as nações agressoras – Alemanha e
Itália.” (p. 74)
“Em
15
de
janeiro
de
1942
realiza-se
no
Rio
de
Janeiro
a
III
Reunião
de
Consulta
dos
Ministros
das
Relações
Exteriores
das
Repúblicas
Americanas.
É
a
'Conferência
dos
Chanceleres'.
Representado
por
Oswaldo
Aranha,
o
Brasil
propôs
a
ruptura,
unânime,
de
todas
as
relações
comerciais,
políticas,
militares
e
diplomáticas
entre
as
nações
da
União
Pan-Americana
e
o
Eixo.
O
México
concordava.
Os
EUA
preferiam
declaração
de
guerra,
mas
aceitavam
essa
posição.
Outras
nações,
como
Argentina
e
Chile,
recusavam-se
a
romper
com
o
Eixo,
preocupadas
com
um
possível
ataque
a
seu
território.”
(p.
84)
Mais
sobre as hesitações de Vargas
“Diante
do
avanço
da
guera,
Getúlio
aparentemente
aceitava
a
tese
norte-americana
de
defesa
conjunta
do
continente,
mas
recusava-se
a
cortar
laços
com
a
Alemanha,
em
especial
com
a
empresa
aérea
Condor
(subsidiária
da
Lufthansa),
que,
além
de
deter
o
controle
das
linhas
internacionais
brasileiras,
tinha
contratos
com
a
VASP
e
a
Varig
para
reposição
de
peças.
Quanto
aos
EUA,
o
Brasil
aceitou
a
oferta
de
fornecimento
de
100
milhões
de
dólares
em
armamentos.
Mas
setores
militares
ligado
s
A
Góis
Monteiro
(ministro
da
Guerra)
e
parcelas
da
opinião
pública
desconfiavam
dos
EUA.
A
proposta
americana
de
instalar
uma
base
militar
no
nordeste
brasileiro
soava
como
tentativa
de
ocupação
do
país.
Por
outro
lado,
os
ataques
germânicos
a
países
neutros
demonstravam
que
não
se
podia
confiar
nos
alemães.
E
a
extensão
da
guerra
às
costas
africanas
criava
a
possibilidade
de
desembarques
alemães
no
nordeste
brasileiro.”
(p.
82)
Agindo
contra Quinta-Coluna do Eixo
“Até
1942,
a
polícia
política
do
Estado
Novo,
dirigida
por
Filinto
Müller,
considerava
inimigos
do
Estado
os
comunistas
e
democratas
contrários
ao
regime.
As
atividades
germanófilas,
algumas
das
quais
evidentes,
desenvolviam-se
sem
maiores
problemas.
Depois
da
Conferência
dos
Chanceleres
e
dos
primeiros
torpedeamentos
de
navios
brasileiros,
a
opinião
pública
passou
a
exigir
o
desmantelamento
da
rede
nazista
de
espionagem,
e
a
polícia
começou
a
se
movimentar.”
(p.
86)
“O
rompimento
de
relações
diplomáticas
com
os
países
do
Eixo,
em
janeiro
de
1942,
não
significava
necessariamente
que
o
Brasil
entrava
na
guerra.
Mas
a
reação
da
Alemanha
foi
imediata.
Em
fevereiro,
começaram
os
torpedeamentos
de
navios
brasileiros,
provocando
violenta
reação
popular.
Em
agosto,
o
Governo
decretou
o
'estado
de
beligerância'.
As
manifestações
populares
continuaram,
exigindo
que
o
Brasil
entrasse
na
guerra.”
(p.
90)
Ameaça
aos navios brasileiros
“O
torpedeamento
dos
navios
brasileiros
e
as
ações
de
espionagem
e
sabotagem
dos
agentes
do
Eixo,
germanófilos
e
integralistas,
só
tiveram
como
efeito
unir
a
nação
sob
o
governo
de
Vargas.
Aqueles
que
antes
criticavam
a
demora
de
Getúlio
em
assumir
posição
e
os
defensores
do
neutralismo
uniam-se
no
esforço
de
guerra.
Já
em
maio
de
1942,
a
FAB
iniciava
missões
de
patrulhamento
das
águas
territoriais,
bombardeando
submarinos
alemães.
Intensificavam-se
as
defesas
costeiras
e
a
mobilização
dos
civis.
A
população
exercitava-se
no
uso
de
máscaras
contra
gases,
no
blackout
e
na
defesa
civil
contra
a
eventualidade
de
bombardeios
aéreos.
O
alistamento
voluntário
crescia,
e
,
desde
os
primeiros
dias
de
1943,
já
estava
decidido
que
o
Brasil
enviaria
contingentes
próprios
para
participar
dos
combates
na
Europa.
Restava
treiná-los
e
equipá-los.”
(p.
89)
“A
14
de
fevereiro
de
1942
o
navio
brasileiro
Cabedelo
foi
torpedeado
por
submarinos
alemães
nas
águas
do
Atlântico.
Morreram
todos
os
seus
54
tripulantes.
Ao
mesmo
tempo
que
isso
acontecia,
na
Alemanha
o
chefe
de
propaganda
nazista
Joseph
Goebbels
escrevia
em
seu
diário
(dia
26/3/42):
'O
Ministro
das
Relações
Exteriores
informou-nos
sobre
a
situação
do
Brasil.
Enfrentam-se,
em
campos
opostos,
o
Presidente
Vargas,
que
está
muito
ao
nosso
lado,
e
o
chanceler
Aranha,
evidentemente
comprado
por
Roosevelt
e
que
parece
estar
fazendo
tudo
(…)
para
provocar
um
conflito
com
o
Reich
e
os
países
do
Eixo
(…)
Temos
em
nossas
mãos
uns
600
brasileiros,
enquanto
que,
no
Brasil,
existem
150
000
alemães'.
A política de
equilíbrio de Vargas manteve-se até o último momento. No decorrer
da guerra, contudo, seriam afundados 36 navios mercantes brasileiros,
num total de quase 1 000 mortes.” (p. 89)
mais
info
sobre
os
navios
torpedeados
fonte:
Nosso
Século.
A
Era
Vargas
– 1930/1945
– 2ª
parte.
Abril
Cultural.
1985.
seleção:
LdeM
mais
info em
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