quarta-feira, 27 de junho de 2012

Brasil na Guerra - 1942




Brasil na Guerra

1942


Governo Vargas entre a Democracia e o Totalitarismo


Em pleno Estado Novo (1937-1945), com o governo centralizador e antidemocrático do presidente-ditador Getúlio Vargas (1882-1954), o Brasil assistia aos movimentos belicistas e totalitários que tomavam conta da Europa desde os fins da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e ampliados pelo populismo nacionalista acrescido pela crise econômica pós-1929, com a Quebra da Bolsa de Nova York.

Em fins de 1939 a Segunda Guerra Mundial teve seu trágico início com os avanços das tropas alemãs rumo ao leste, na invasão da Polônia (setembro de 1939), e posterior agressão aos países europeus ocidentais, em início de 1940, culminando com a ocupação da França, em junho. Assim, a Grã-Bretanha ficou isolada, e a Itália entrou no conflito.

Deste modo, parecia que as forças do Eixo avançavam sem obstáculos no terreno das democracias, que eram incapazes de deter o totalitarismo de Direita. Hitler e Mussolini despontavam como os novos vitoriosos e aglomerava sob os seus estandartes massas populistas nacionalistas em toda a Europa, e também na América e Ásia.

No Brasil, o Governo Vargas estava dividido, pois se o ditador era favorável aos métodos e ideologias da Direita, sendo contra a 'luta de classes', e a favor de armamento alemão, muitos de seus ministros (principalmente Oswaldo Aranha, responsável pelas Relações Exteriores) eram favoráveis a uma aliança com os países democratas -entenda-se Grã-Bretanha e Estados Unidos da América, ambos países com apoios informais (os EUA somente declararam guerra ao Eixo em fins de 1941, como sabemos).

Vejamos alguns trechos que demonstram as ambiguidades e hesitações de Vargas entre os alemães e os norte-americanos quanto às alianças na terrível guerra que se ampliava da Europa para o Oceano Atlântico e para a Ásia. (Em fins de 1941 a guerra começou no Oceano Pacífico, com o ataque japonês a base americana de Pearl Harbor)

A questão da indústria nacional : quem patrocina?

Em 1938, Vargas cria a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico, entregando-a ao coronel Edmundo de Macedo Soares e Silva, que logo mantém entendimentos com o governo hitlerista, para concessão de empréstimos. Ciente disso, o presidente norte-americano Franklin Roosevelt oferece ao Brasil, através do Export and Import Bank, um empréstimo de 20 milhões de dólares para a construção de uma grande siderúrgica, em Volta Redonda. Em troca, o Governo brasileiro garante a concessão de bases militares norte-americanas em território nacional. Em 1941, é fundada a Companhia Siderúrgica nacional, com o empréstimo norte-americano de 20 milhões de dólares e mais 25 milhões de dólares investidos pelo Governo brasileiro. Em 1943, os EUA fornecem novo empréstimo. Três anos depois, em 1946, Volta Redonda entra em plena atividade.(p. 72)

No conflito mundial o Governo Vargas mostra neutralidade, aproveitando para aumentar as exportações para ambos os lados – principalmente para alemães e norte-americanos.

Em 2 de setembro de 1939, dia seguinte à invasão da Polônia por Adolf Hitler, o Governo brasileiro declara sua decisão de abster-se 'de qualquer ato que, direta ou indiretamente, facilite, auxilie ou hostilize a ação dos beligerantes'. Mostra-se também disposto a impedir que 'os nacionais ou estrangeiros, residentes no país, pratiquem ato algum que possa ser considerado incompatível com os deveres de neutralidade do Brasil'. Oscilando entre fascistas e democratas, seria o mesmo Getúlio que em 11 de junho de 1940, no couraçado Minas Gerais, reafirmaria: 'Felizmente, no Brasil, criamos um regime adequado às nossas necessidades, sem imitar outros nem filiar-se a qualquer das correntes doutrinárias e ideológicas existentes'. Segundo o historiador Edgar Carone, 'o discurso de Getúlio Vargas se faz no momento da queda da França. A expectativa, no momento, é de que o Brasil ficaria ao lado dos países do Eixo. Mas, a guinada é contrabalançada pela ação imediata dos Estados Unidos, o que leva o Governo a recuar e desmentir suas intenções pró-fascistas.

Na Terceira Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, em janeiro de 1942, os Estados Unidos fazem pressão para que os países americanos rompam relações com a Alemanha e Itália. Para o Governo brasileiro, não resta outra saída: nesse ano os Acordos de Washington regularizam o comércio do café, cacau, tecidos, produtos industriais e minerais e a Alemanha sofre as primeiras derrotas militares. Com o afundamento de navios brasileiros desde 1942 e a forte hostilidade antinazista por todo o país, em agosto desse ano o Governo brasileiro reconhece 'a situação de beligerância entre o Brasil e as nações agressoras – Alemanha e Itália.” (p. 74)

Em 15 de janeiro de 1942 realiza-se no Rio de Janeiro a III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas. É a 'Conferência dos Chanceleres'. Representado por Oswaldo Aranha, o Brasil propôs a ruptura, unânime, de todas as relações comerciais, políticas, militares e diplomáticas entre as nações da União Pan-Americana e o Eixo. O México concordava. Os EUA preferiam declaração de guerra, mas aceitavam essa posição. Outras nações, como Argentina e Chile, recusavam-se a romper com o Eixo, preocupadas com um possível ataque a seu território.(p. 84)


Mais sobre as hesitações de Vargas

Diante do avanço da guera, Getúlio aparentemente aceitava a tese norte-americana de defesa conjunta do continente, mas recusava-se a cortar laços com a Alemanha, em especial com a empresa aérea Condor (subsidiária da Lufthansa), que, além de deter o controle das linhas internacionais brasileiras, tinha contratos com a VASP e a Varig para reposição de peças. Quanto aos EUA, o Brasil aceitou a oferta de fornecimento de 100 milhões de dólares em armamentos. Mas setores militares ligado s A Góis Monteiro (ministro da Guerra) e parcelas da opinião pública desconfiavam dos EUA. A proposta americana de instalar uma base militar no nordeste brasileiro soava como tentativa de ocupação do país. Por outro lado, os ataques germânicos a países neutros demonstravam que não se podia confiar nos alemães. E a extensão da guerra às costas africanas criava a possibilidade de desembarques alemães no nordeste brasileiro.(p. 82)


Agindo contra Quinta-Coluna do Eixo

Até 1942, a polícia política do Estado Novo, dirigida por Filinto Müller, considerava inimigos do Estado os comunistas e democratas contrários ao regime. As atividades germanófilas, algumas das quais evidentes, desenvolviam-se sem maiores problemas. Depois da Conferência dos Chanceleres e dos primeiros torpedeamentos de navios brasileiros, a opinião pública passou a exigir o desmantelamento da rede nazista de espionagem, e a polícia começou a se movimentar.(p. 86)

O rompimento de relações diplomáticas com os países do Eixo, em janeiro de 1942, não significava necessariamente que o Brasil entrava na guerra. Mas a reação da Alemanha foi imediata. Em fevereiro, começaram os torpedeamentos de navios brasileiros, provocando violenta reação popular. Em agosto, o Governo decretou o 'estado de beligerância'. As manifestações populares continuaram, exigindo que o Brasil entrasse na guerra.(p. 90)

Ameaça aos navios brasileiros

O torpedeamento dos navios brasileiros e as ações de espionagem e sabotagem dos agentes do Eixo, germanófilos e integralistas, tiveram como efeito unir a nação sob o governo de Vargas. Aqueles que antes criticavam a demora de Getúlio em assumir posição e os defensores do neutralismo uniam-se no esforço de guerra.

em maio de 1942, a FAB iniciava missões de patrulhamento das águas territoriais, bombardeando submarinos alemães. Intensificavam-se as defesas costeiras e a mobilização dos civis. A população exercitava-se no uso de máscaras contra gases, no blackout e na defesa civil contra a eventualidade de bombardeios aéreos. O alistamento voluntário crescia, e , desde os primeiros dias de 1943, estava decidido que o Brasil enviaria contingentes próprios para participar dos combates na Europa. Restava treiná-los e equipá-los.(p. 89)

A 14 de fevereiro de 1942 o navio brasileiro Cabedelo foi torpedeado por submarinos alemães nas águas do Atlântico. Morreram todos os seus 54 tripulantes. Ao mesmo tempo que isso acontecia, na Alemanha o chefe de propaganda nazista Joseph Goebbels escrevia em seu diário (dia 26/3/42): 'O Ministro das Relações Exteriores informou-nos sobre a situação do Brasil. Enfrentam-se, em campos opostos, o Presidente Vargas, que está muito ao nosso lado, e o chanceler Aranha, evidentemente comprado por Roosevelt e que parece estar fazendo tudo () para provocar um conflito com o Reich e os países do Eixo () Temos em nossas mãos uns 600 brasileiros, enquanto que, no Brasil, existem 150 000 alemães'.

A política de equilíbrio de Vargas manteve-se até o último momento. No decorrer da guerra, contudo, seriam afundados 36 navios mercantes brasileiros, num total de quase 1 000 mortes.” (p. 89)



mais info sobre os navios torpedeados



fonte: Nosso Século. A Era Vargas1930/1945 parte. Abril Cultural. 1985.



seleção: LdeM



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