quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Japão 1941 - Diplomacia ou Guerra




Japão 1941


Diplomacia ou a guerra


A diplomacia ainda agia junto aos governos anglo-saxônicos, os 'ocidentais', enquanto os militares organizam cronogramas e estratégias para atacar as bases de ingleses, holandeses e norte-americanos. Tojo mantinha-se no poder mantendo o jogo duplo, uma diplomacia de armas na mão,

As deliberações precedentes foram envoltas em extremo segredo, mas é surpreendente notar, por uma releitura da imprensa estrangeira da época mesmo tão tardiamente, que alguns observadores acreditavam que Tojo estava pisando nos freios ao mal velado entusiasmo do seu país pela guerra. Houve apreensão generalizada quando o gabinete Tojo foi anunciado, disse a revista Time, a 3 de novembro, de que 'a Navalha talvez seja o facão violento pelo qual o exército japonês vem implorando, que os meses de indecisão do Japão seriam agora resolvidos por ataques loucos à Sibéria e contra Cingapura'. Como a maioria das outras publicações, dizia a Time que um ataque para o norte ainda era possível, mas esta publicação, muito lida, observava sobriamente que não parecia que o 'arrojado Primeiro-Ministro Tojo ia começar a engolir chamas imediatamente'.

[General] Sato recorda que nessa conjuntura difícil o Primeiro-Ministro chamou-o, a 31 de outubro, para discutir três recursos alternativos de ação que Tojo vinha propondo desde os últimos dias do gabinete Konoye: 1- Evitar decididamente as hostilidades. 2- Decidir imediatamente pela guerra, sem uma continuação de providências diplomáticas. 3- Prosseguir com os preparativos para a guerra, ao mesmo tempo que se tentaria obter êxito nas negociações diplomáticas. Embora Tojo esperasse que o alto comando não concordaria com o item 3 (sua preferência pessoal) mas provavelmente insistiria no item 2, ele queria que Sato visitasse o General Sugiyama para obter sua concordância com o 3. Sato, longe de ser otimista, considerava isto como um gesto de desespero da parte de Tojo. A missão fracassou. Em lugar de ceder, Sugiyama defendeu uma decisão governamental de ir à guerra imediatamente. Tendo coordenado as questões com o Ministro da Marinha, o das Relações Exteriores e o das Finanças, como também com o diretor da Junta de Planejamento, e tendo sido informado da preferência geral pelo item 3, Tojo falou diretamente com Sugiyama no dia 1º de novembro, antes do início da conferência ministerial. O resultado não foi mais satisfatório do que a conversa de Sato com o chefe do Estado-maior do exército. Assim, quando a conferência de 1º de novembro, que duraria 17 horas, começou, o governo e o alto comando do exército entraram numa falta extraordinária de consenso.”

Naturalmente, houve violenta discussão sobre as condições em que se verificariam as negociações diplomáticas com os americanos. O Ministro do Exterior, Togo, apresentou duas propostas, rotuladas A e B. A primeira representava uma modificação da posição japonesa, em particular o abandono da exigência de tratamento preferencial na China, em virtude da proximidade geográfica, e a promessa de retirada de tropas da China no futuro (de dois a cinco,ou vinte e cinco anos, dependendo das circunstâncias ) e da Indochina, depois que o Incidente Chinês tivesse sido resolvido satisfatoriamente para o Japão.

A proposta B, a ser adotada caso os Estados Unidos não concordassem com a proposta A, representava simplesmente um modus vivendi, um último recurso destinado a evitar a guerra. Visava ela não propriamente ao problema chinês, mas às questões mais prementes do Sudeste Asiático e do Pacífico Sul, incluindo a evacuação de tropas japonesas do Vietnã do Sul, se lhe assegurassem acesso a suprimentos de petróleo. Nas palavras de Togo, ele queria aplacar as suspeitas dos americanos 'demonstrando de fato que o Japão não tinha desígnios de um avanço para o sul, acalmando assim a atmosfera...' O exército opôs-se violentamente a Togo, com a altercação chegando a um ponto em que 'a conferência quase foi interrompida, porque os soldados achavam que isto era ceder demais ais Estados Unidos'. […]


O cansaço marcava o rosto de Tojo, fazendo Sato dizer-lhe que o meio-termo visado na proposta B era, sem dúvida, apenas acadêmico, 'porque os Estados unidos já devem ter-se decidido por uma guerra para a qual se preparavam febrilmente'. Por menores que fossem os desideratos japoneses, as condições americanas eram inarredáveis, uma situação que, na opinião de Sato, tinha um lado agradável, porquanto justificaria a própria decisão do japão de iniciar hostilidades depois de ter cedido tanto sem reciprocidade. Contudo, Tojo aconselhou [o General] Sato a não confundir as coisas; a defesa do plano B pelo Primeiro-Ministro não ocultava nenhum pretexto para a guerra. Embora não fosse otimista, Tojo disse que estava rezando aos deuses para que as coisas se saíssem bem, por meio do plano mais recente. De qualquer modo, Sato deveria ficar atento às atividades dos Estados-Maiores inferiores do exército e da marinha, onde poderia haver dificuldades em gestação.

Tojo mais tarde afirmou que se os americanos tivessem feito concessões, ainda que insignificantes, ele não teria se lançado às hostilidades. Sato acrescenta que ficou muito comovido com o visível sofrimento de Tojo, tentando ajustar a necessidade de honrar as injunções imperiais post factum à poderosa insistência do alto comando de que era irrevogável a decisão fundamental de 6 de setembro. Assim, o Primeiro-Ministro,usando dois chapéus, procurava equilibrar os dois pratos de uma balança que continha pesos desiguais,ou seja, o Ministro do Exterior renunciaria se não fosse dada chance à diplomacia, mas se isso fosse feito, haveria o perigo de os chefes de Estado-Maior do exército e da marinha terem de ser substituídos, acarretando problemas novos e imprevisíveis, caso houvesse choque frontal entre as exigências do governo e as do alto comando. Sem dúvida o Imperador pensava nessas questões quando Tojo lhe pediu audiência para informá-lo das recomendações da conferência ministerial de 1º de novembro. Embora ao monarca não fosse difícil compreender a necessidade de prosseguir com as providências de prontidão militar, ele esperava muito que o governo Tojo pudesse obter êxito na frente diplomática, afastando a possibilidade de guerra.”


pp. 101, 108-109


A 5 de novembro realizou-se uma conferência imperial para sancionar as recomendações resultantes de oito reuniões anteriores. O Japão decidira lutar contra os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e os Países Baixos. As forças armadas completariam preparativos para que as hostilidades começassem em princípios de dezembro. Entrementes,prosseguiram os esforços visando a um acordo com os Estados Unidos, segundo o estabelecido nas propostas A ou B, para cujo êxito se fixara a data-limite de 1º de dezembro. O estreitamento das relações com a Tailândia seria buscado imediatamente, antes das hostilidades, mediante pressão ou pela força, se necessário.”

O programa recomendado, disse Tojo, era fruto de estudo intenso dos problemas e probabilidades. Ele esperava impedir que os parceiros europeus do Eixo explorassem os êxito japoneses no sul para fazer a paz com a Inglaterra ou com os Estados Unidos, e planejava impedir que as hostilidades se transformassem numa 'guerra racial'. Quanto à questão da base moral para entrada do japão na guerra, Tojo declarou: 'É imperioso que se deixe bem claro que a Grã-Bretanha e os Estados Unidos representam séria ameaça à autopreservação do Japão.”

pp. 111, 113



fonte: COOX, Alvin D. “Tojo” Renes, 1976 trad. Edmond Jorge



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