quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Militares Japoneses rumo à guerra

Novembro / 1941


Militares Japoneses rumo à guerra

General Tojo assume o cargo de Primeiro-Ministro


No Japão, em plena guerra na Mandchúria (desde 1931), e com a expansão da guerra europeia (desde 1939), a consolidação do poder dos militares é crescente. As forças japonesas atuavam na China (em muitos massacres de civis), e avançava para territórios do sudeste asiático – Indochina, Indonésia,  até então colônias do imperialismo europeu - ainda mais depois da derrota das potências francesa e holandesa, em 1940.

Certos estudiosos argumentam que o poderio dos militares cresceu mais por interesse dos monarcas. A Casa Imperial permitiu que os Militares tomassem o poder, para serem culpados se a guerra fosse um fracasso. Assim a Monarquia não seria diretamente abalada.

É uma forma de ver a questão. É mais complexa. Os militares eram apenas os mais agressivos, num momento de crise. E sabiam das pressões econômicas. Não se decidiram prontamente ao conflito, mas também não queria aceitar as imposições dos 'ocidentais'. Entre a diplomacia e a luta aberta, tramavam nos bastidores, enquanto novos recrutas eram convocados. Falavam em paz, e aumentavam os gastos com peças bélicas.


Vejamos alguns trechos do livro de Alvin D. Coox sobre o General Tojo,

“Na noite de 17 de outubro de 1941, o Ministério da Guerra japonês recebeu um telefonema do palácio dizendo que Tojo deveria apresentar-se para uma audiência. Admitindo que Tojo iria ser repreendido pelas críticas que tinha feito ao gabinete, no dia 14, quanto à necessidade de se conservarem tropas na China para combater o comunismo, o General Sato aconselhou o Ministro da Guerra a levar consigo as notas que tinha sobre o assunto. Tojo concordou, embora dissesse que pretendia apenas ouvir os comentários do Imperador e não defender a sua posição. […]

Como Tojo havia achado tão vigorosamente que a decisão de uma conferência imperial não podia ser infringida nem um pouco, ele provavelmente não teria aceito o encargo de formar um gabinete, a menos que o Imperador o autorizasse a começar tudo novamente. Mas se, como era teoricamente possível, as conclusões da conferência de setembro podiam ser invertidas, ou pelo menos modificadas, Tojo precisava de autoridade maior que a posição de Primeiro-Ministro lhe conferiria. […]

Não haveria problema se o Japão se lançasse numa guerra, mas se a reconsideração da decisão de setembro conduzisse realmente à ' capitulação' para o ocidente, poderia muito bem haver oposição militar e assassinatos ou desordens públicas fomentadas pelos direitistas. […]

Agindo com rapidez e decisão, Tojo pôde anunciar seu novo governo no dia 18 de outubro. Em sua primeira declaração, o novo governo afirmou ao público que 'a política imutável do Japão é solucionar com êxito o Incidente da China e contribuir para a paz mundial, estabelecendo a Esfera de Co-prosperidade do Grande Leste Asiático. Enfrentando uma situação de gravidade sem precedentes, o governo pretende promover relações cada vez mais amistosas com potências amigas [do Eixo] e está absolutamente decidido a aperfeiçoar um estado de defesa nacional; e assim, sob a augusta virtude de Sua Majestade o Imperador, partir o país, unido, coeso, para a realização da sua sagrada tarefa.' Tojo anunciou esse programa num breve discurso levado pelo rádio ao país inteiro.”

“[...] A 20 de outubro, [Joseph] Grew [embaixador americano] lembrou a Washington que se podia esperar que Tojo, como general da ativa, exerceria 'maior grau de controle sobre os elementos extremistas do exército' – provavelmente uma consideração importante por trás da renúncia de Konoye no interesse de facilitar as conversações com os Estados Unidos.”

“Tojo, mais tarde, negou com veemência que o novo gabinete estivesse decidido desde o início a ir à guerra. No tocante ao Ministro do Exterior, o acordo que celebrou com tojo na noite de 17 de outubro deveria demonstrar que seu 'propósito, ao ingressar no gabinete, não era o de começar, e sim de evitar uma guerra'. [Shigenori] Togo afirma que o engano 'está em acreditar que eu alcançaria uma solução apenas dentro dos termos do meu acordo com Tojo, quando nenhum dos dois estávamos cônscios de que as relações [com os Estados Unidos] haviam deteriorado tanto que a outra parte já se decidiria ir à guerra.' [...]”

“O fator do equilíbrio de forças ocupava muito a atenção de Tojo e de seus associados no exército e marinha. Durante o inverno de 1940, solicitara-se ao departamento de mobiliação econômica que examinasse a posição de poder do Japão, postulasse sobre as hostilidades contra os Estados Unidos e Grã-Bretanha já na primavera de 1941, ou sobre a total evitação da guerra. O relatório resultante salientara a vulnerabilidade do país em navios mercantes e recursos naturais, especialmente combustível líquido. O departamento empreendeu novo estudo no verão de 1941, girando em torno de novembro de 1941 como o prazo hipotético final para uma guerra contra as potências anglo-saxônicas. Os analistas verificaram que 'o futuro não dava esperanças para o Japão, mesmo que ele aguardasse com prudência e circunspeção'. A capacidade econômica e industrial do país não sugeria confiança além de dois anos após o início das hostilidades, mesmo que o Japão resolvesse começar a guerra por iniciativa própria. Se, com os estoques de combustível disponíveis depois dos gastos contínuos no teatro de operações da China, o Japão desfechasse hostilidades intensivas contra os Estados Unidos e a Inglaterra, as forças armadas só poderiam realizar operações aéreas durante cerca de um ano. No mar, a batalha decisiva teria de ocorrer dentro de seis meses. Essas sérias considerações explicam a defesa, por parte dos líderes militares, da chamada tese do 'declínio gradual' do Japão. Como diz o Coronel Hayashi: 'Sabe-se muito bem que esta opinião tornou-se uma justificativa usada pelos que propunham iniciar a guerra em 1941.'”


“A 27 de outubro Tojo admitiu, numa conferência ministerial, que o exército poderia 'arranjar-se de algum modo' em 1942 e 1943, mas 'não sabemos o que acontecerá depois de 1944'. de igual interesse é a relação entre estes comentários, cautelosamente feitos em particular, e as notas propagandísticas dirigidas ao público. No dia 26, tojo convocou 200 altos funcionários a Osaka, para enfrentar a crise sem precedentes com 'solidariedade férrea'. […]”

“Entrementes, as difíceis conferências ministeriais prosseguiam. Numa reunião a 28 de outubro, os conferencistas examinaram a sério a possibilidade do adiamento das hostilidades até março de 1942, mas os chefes de Estado-Maior das forças armadas insistiam em que o tempo já estava contra o Japão e que a marinha, em particular, precisava começar a agir até o fim de novembro de 1941, do ponto de vista dos recursos. A produção de óleo sintético não oferecia solução imediata para a crise da energia. O Ministro das Finanças, Kaya, tentou chegar ao âmago da questão do potencial nacional, perguntando se a guerra – ou a paz – seria melhor para o Japão, como uma função do suprimento de materiais, mas nenhuma vantagem nítida se apresentou; ao que Tojo desculpou-se aos chefes de Estado-maior pela lentidão das deliberações.”


pp. 92, 94, 98-101


fonte: COOX, Alvin D. “Tojo” Renes, 1976 trad. Edmond Jorge



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