domingo, 24 de julho de 2011

As Etapas do Holocausto / Shoah / Solução Final



Endlösung der Judenfrage

Final Solution

ou Holocaust

ou Shoah


As Etapas do Holocausto


1/ Recenseamento (desde 1933/34)

2/ Segregação (na Alemanha)
após as Leis de Nuremberg (1935)

3/ Segregação na Europa (1939-42)

4/ Trabalhos forçados

Eliminação (Einsatgruppen SS)

Solução Final (pós-1942)
Conferência de Wannsee
(os Carrascos Voluntários)

1942: Ápice do Eixo
antes das Derrotas em El Alamein e Stalingrad

5/Tentativa de eliminação de vestígios
(principalmente no Leste)
(desenterrar e incinerar)




O que foi o Holocausto ou Shoah?


documentário BBC

outros


Shoah o filme
(diretor: Claude Lanzmann)

videos

 ...


O Recenseamento


O recenseamento possibilita - além de contagem da população – um controle, uma supervisão, tudo atraveś de uma instrumentalização de estatísticas demográficas.

Os dados devidamente classificados possibilitam uma política de exclusão social, econômica e geográfica. Primeiro os judeus perdem os empregos, o acesso ao consumo (lojas não negociam mais com judeus, ou 'judeus não são bem-vindos'), depois são segregados em certos bairros das cidades – formam-se os guettos.

O governo nazista sistematiza o 'monitoramento' dos cidadãos, e a IBM (Internacional Business Machine, através da 'filial' Dehomag, Deutsche Hollerith Maschinen Gesellschaft) fornece os serviços de catalogação, fichamento, computação e estatística. Ou seja, o que chamamos de 'processamento de dados'. Tudo através das máquinas tabuladoras 'alimentadas' com os cartões perfurados (os 'hollerith').

A IBM que crescera ao longo do governo de Roosevelt, que se notabilizou por uma crescente burocratização, com intervenção estatal na economia (ver 'New Deal'), com fartura de formulários, relatórios, etc. O importante era catalogar, classificar, quantificar, identificar. Então eis o serviço da IBM.

Na Alemanha, o recenseamento começou em abril de 1933, primeiramente no leste (na Prússia), onde o Censo recolhia informações tais como nome, idade, descendência, escolaridade, profissão, religião, etc.

Além do serviço de Censo, a Dehomag cuidava de outras informações vitais para o centralismo alemão da época: horário dos trens, peças para armamentos e aviões, etc.

Enquanto o III Reich se preocupava com a 'higiene racial' e almejava a segregação (e posterior eliminação, a 'ethnic cleasing' da Endlösung) a IBM atuava com o processamento de informação na política demográfica, através do serviço de estatística.

A identificação dos judeus foi apenas o primeiro passo da trajetória de destruição anti-semita na Alemanha.” (p. 49, c. 2)

e mais,

Mas só seria possível extinguir a vida judaica se os nazistas primeiro conseguissem identificar os judeus. Quais dos 60 milhões de cidadãos alemãos eram judeus? E qual era extamente a definição de 'judeu'? Os judeus alemães estavam entre os mais assimilados de toda a Europa.” (p. 58, c. 3; grifo meu)

Os judeus viviam na Alemanha desde o século IV d.C., e numa processo de 'assimilação', ao integrarem o modo de vida europeu, a religião cristã, considerando mesmo europeu, ou alemão. Outros seguiam um 'Judaísmo Reformista', enquanto outros eram 'livre-pensadores' – jornalistas, filósofos, poetas, etc. Os ortodoxos eram aqueles judeus que mantinham a religiosidade judaica, recusando a 'assimilação'.

Na criação do II Reich (1871) houve mais liberdade (i.e., menos restrição) para os judeus assimilados, que ascenderam a vários cargos pequenos-burgueses (comércio, advocacia, vida acadêmica, etc)

O Censo se inicia com o recenseamento prussiano (segundo o capítulo 3, “Identificando os Judeus”),

“Em 16 de junho de 1933, meio milhão de recenseadores, recrutados nas fileiras dos imbuídos de 'mentalidade nacionalista', partiram para a jornada porta a porta em busca de informações. Quadros de milicianos nazistas [SA] e de oficiais das SS também se juntaram ao empreendimento, constituindo um verdadeiro exército censitário. Em algumas localidades, quando o recrutamento se mostrava insatisfatório, as pessoas eram arregimentadas à força. As entrevistas abrangiam perguntas diretas sobre a religião do chefe de família e se no caso o casamento era misto.

Basicamente, a quantidade de dados armazenados num cartão era função do número de orifícios e colunas. [...] Esses 600 orifícios nos cartões, distribuídos em infindáveis combinações, proporcionavam milhares de permutações demográficas. [...] Em breve, o Reich tinha condições de iniciar o processo de identificação – quem era ariano e quem era judeu.

As estatísticas demográficas haviam transposto a fronteira crucial entre ciência das massas anônimas e a investigação das características pessoais.”

p. 62

“Uma vez perfuradas [nos cartões hollerith], as colunas passavam a dispor de informações pessoais sobre os indivíduos: local de residência, comunidade, sexo, idade, religião, língua materna, quantidade de filhos, ocupação atual e segundo emprego, se existente.” p. 64

“Quando se descobriam judeus dentro da população, registrava-se o local de nascimento num 'cartão de contagem de judeus', com características especiais, processados à parte.” p. 64


Dehomag (Deutsche Hollerith Maschinen Gesellschaft)


“As preciosas informações da Dehomag agora ajudaram a impelir a nova e florescente parelha oficial de pseudociência e ódio racial. Na flata de estatísticas genuínas, higiene racial, política étnica e uma constelação de disciplinas anti-semitas correlatas eram até então nada mais do que conversa fiada. Agora, a capacidade de identificar os judeus pelo nome deflagaria toda uma tormenta trovejante de leis e regulamentos anti-semitas, restringindo a presença de judeus em todas as manifestações da vida acadêmica, profissional, comercial e governamental. [...]” (grifos meus)



ver as Leis de Nuremberg / 1935



A perseguição aos judeus – banimento da vida profissional e econômica – ocupava as páginas do New York Times nos anos de 1933-34 – logo, não havia 'inocência': quem era 'informado' (tinha acesso aos jornais) sabia das práticas racistas dos novos governantes alemães.

Tanto que várias comundidades judaicas realizaram manifestações de protesto em cidades americanas e capitais europeias. Havia uma tendência de boicote aos produtos alemães em New York – além de pressão sobre empresas que negociavam com alemães.

Mas os protestos antinazistas não desencorajaram o Sr. Watson da IBM. Por mais que os nazistas agora limitassem, e até proibissem, a saída de capitais – e lucros – das empresas multinacionais na Alemanha, pois as empresas estrangeiras também se ajustavam à 'coordenação total' [Gleichschaltung] dos nazistas – se submeter, se integrar, a estrutura organizacional do estatismo fascista – o Estado controla os negócios ( o anti-liberalismo do 'mercado livre', afinal o fascismo é um capitalismo antiliberal, do tipo 'corporativo').

Para as corporações importa ganhar dinheiro, ter lucros, “com verdadeiro 'darwinismo social', culto corporativo, chauvinismo dinástico e ganância egocêntrica” (p. 77), não importam os 'imperativos morais', mas se há Lucro. Assim se negociam vendas de armas, segredos de Estado, assim se é cúmplice com guerras civis, guerras mundiais e genocídios.

Watson tinha contatos no alto escalaão nazista, com o embaixador alemão nos EUA, além de 'livre entrada' no governo de Roosevelt, reeleito. E há uma correspondência entre Watson e Roosevelt sobre política. Watson foi convidado para cargo no governo [Secretário de Comércio], mas preferiu ficar na IBM.

A IBM tinha outras filiais importantes na Europa – em Paris e Genebra – para transferir lucros da Alemanha, ao mesmo tempo em que mantinha vigilância sobre os negócios da Dehomag.

[...]

fonte:

BLACK, Edwin, IBM e o Holocausto. (IBM and the Holocaust, 2001)
Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2001. trad. Afonso Celso da Cunha Serra


internet

fontes:

sobre a IBM


videos sobre IBM e Holocausto

material da TV Globo





Mais sobre estatísticas e segregação

Minha fonte é o livro “IBM e o Holocausto” (Edwin Black)
(pp. 100-101)


“A ideologia nazista definia judaísmo não em função da prática religiosa, mas pelo sangue. Até onde remontar? Os teóricos nazistas discutiam sobre o rastreamento das origens. Alguns limitavam-se aos avós. Outros sugeriam que se pesquisassem quatro gerações. Ainda outros se fixavam no ano de 1800, antes da emancipação dos judeus, ou seja, anterior à assimilação na sociedade alemã.

[...] Os especialistas raciais judeus desenvolveram uma fórmula matemática bizarra que classificava os descendentes de judeus numa série de graus, como judeu pleno, meio judeu, um quarto judeu, dependente de quantos ancestrais judeus eram identificados nas respectivas estirpes. [...]” (pp. 103-104)

“[...] Cadastros de não alemães se espalhavam por delegacias policiais, birôs de emprego, associações profissionais, organizações religiosas, unidades locais do Partido nazista e a Agência de Segurança da SS, Sicherheitsdienst, conhecida como SD, sob o controle de Reinhard Heydrich, alcunhado o carrasco.” p. 106


Catalogação e discriminação
Tabulação e Eugenia

“As denúncias e as avaliações de rotina, de natureza genética, eram julgadas pelas Cortes de Saúde Genética, com base na acombinação de provas circunstanciais e dados Hollerith. Os acusados abrangiam pais culpados por não mais do que a infelicidade de darem à luz crianças com defeitos de nascença; os inocentes recém-nascidos dos estatisticamente suspeitos; indivíduos desamparados, condenados por depressão e outros problemas psiquiátricos, num mundo enlouquecido; e os que simplesmente não se ajustavam ao novo ambiente nazista.” (p. 111)

“Em fins de 1934, as atividades médicas, de benefícios sociais e de seguros foram integradas nos programas de registro em cartões perfurados pelos asilos de idosos e pelos sanatórios de doenças crônicas, assim como por um número cada vez maior de profissionais da área de assistência médica. Iniciou-se o cadastro de pessoas anti-sociais. Heinrich Himmler, chefe da SS, inaugurou o Anuário Estatístico da SS. Além disso, cursos de 'educação continuada' em higiene racial, ministradas por renomados estatísticos, recebiam ampla publicidade.” (p. 119)


A segregação – carteiras de trabalho e cartões de racionamento

Quem não tivesse carteira de trabalho não podia conseguir emprego, e muito menos acesso aos cartões de racionamento. Estava, assim, condenado a mendicância ou a morte por fome.

“Finalmente, cartão por cartão, seleção por seleção, todas as pessoas de qualquer estirpe judaica seriam erradicadas de todos os segmentos da sociedade alemã, por mais que tentassem ocultar-se.” (p. 120)

“A alvorada da Era da Informação começava com o ocaso da decência humana.” (p. 120)




BLACK, Edwin, IBM e o Holocausto. (IBM and the Holocaust, 2001)
Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2001. trad. Afonso Celso da Cunha Serra

internet

fontes:

sobre a IBM

resumo da obra

sobre o processamento de dados
durante a Segunda Guerra Mundial e depois


LdeM

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