1941
Guerra no Pacífico
Pearl Harbor
"Nos dias em que a ofensiva alemã se detém às portas de Moscou, o
Pacífico se torna o novo teatro do conflito. Com pontual sincronia, o
governo americano envia para Tóquio uma proposta de acordo que
mais uma vez exige o abandono da China e que é julgada inaceitável
pelo Conselho da Coroa. Antes de ceder às pressões de um aliado
que lançou a operação Barba-Roxa [Operação Barbarossa] sem sequer consultá-lo, e que agora se apressa em reivindicar sua intervenção
na frente oriental russa, no dia 7 de dezembro de 1941 o Japão
desencadeia a guerra no Sudeste Asiático e no Pacífico e ataca de
surpresa a frota americana ancorada em Pearl Harbor, no Havaí.
Se para os japoneses é um fulgurante sucesso, para a América é
o "dia da infâmia". No dia seguinte, os Estados Unidos e a
Grã-Bretanha declaram guerra ao Japão. No dia 11 de dezembro
Hitler e Mussolini, embora a condição do Japão como país agressor
não seja contemplada pelo pacto tripartite, declaram guerra aos
Estados Unidos.
A guerra se torna mundial. Os Estados Unidos são envolvidos em
um conflito em dois oceanos, ainda que o Atlântico norte permaneça
o centro de gravidade do sistema anglo-americano de defesa estratégica.
As potências ocidentais ficarão empenhadas em frentes muito distantes
entre si, mas os Estados Unidos arcarão com o ônus principal da
guerra na Pacífico. A União Soviética - fiel a seu pacto de neutralidade firmado com o Japão - pode concentrar todos os seus recursos humanos
e materiais contra o Terceiro Reich e, no decorrer do conflito, combaterá sempre em uma única frente. doravante será o desenvolvimento de três grandes campanhas que vai determinar a sorte do conflito: as operações aeronavais no Pacífico e na Ásia meridional, a guerra terrestre na
frente russa e a ofensiva submarina alemã no Atlântico norte.
Os alinhamentos da Segunda Guerra Mundial, portanto, se delineiam
de modo definitivo. De um lado, as potências do pacto tripartite (mas,
de fato, apenas Alemanha e o Japão, uma vez que a Itália jamais constituirá , no curso do conflito, uma potência em condições de combater de forma autônoma); de outro, a coalização entre Grã-Bretanha, Estados Unidos e União Soviética, que registra uma significativa lacuna: o Japão não é,
de fato, o inimigo comum de americanos e soviéticos e, ao mesmo
tempo, entre Moscou e Tóquio não haverá qualquer estado de guerra
até agosto de 1945." pp. 121 e 123
"Pearl Harbor: Um triunfo japonês?”
O plano de ataque do almirante Isoroku Yamamoto conta com a grande vantagem da surpresa para destruir a frota americana no Pacífico.
Protegida por nuvens e fortes chuvas e mantendo um rigoroso silêncio
no rádio, a formação japonesa sob o comando do vice-almirante Chuiki Nagumo (seis porta-aviões, dois couraçados, dois cruzadores pesados,
um cruzador leve, nove destroieres, três submarinos e oito entre navios
de apoio e petroleiros) toma posição 250 milhas ao norte de Pearl Harbor.
A bordo dos porta-aviões há 392 aparelhos entre contratorpedeiros, caças e bombardeiros. A operação Z (código içado no mastro para sinalizar ao almirante Togo a ordem de atacar a frota russa na batalha de Tsushima,
em maio de 1905) dispara no dia 7 de dezembro de 1941. às 7h49 da
manhã de um tranquilo domingo, uma impressionante chuva de fogo
se abate do céu sobre os navios americanos na base de Pearl Harbor.
A primeira onda de ataques (181 contratorpedeiros e bombardeiros
decolaram dos porta-aviões escoltados por caças Zero) destrói ou
inflige graves danos aos couraçados Utah, Arizona, Oklahoma e
California.
Apesar das sinalizações dos radares, os americanos são colhidos de
surpresa. A segunda onda (180 aviões) chega duas horas depois e
destrói 11 unidades navais menores. mas é perdida uma ocasião única,
porque três porta-aviões americanos estão longe da base e um está em reparos na Califórnia.
Além disso, os japoneses não destroem o arsenal da marinha e os
depósitos de combustível (equivalente nesse momento a todas as
reservas de que dispõe o Japão). A ilha de Cahu, onde estão os depósitos,
não é ocupada, porque as tropas terrestres japonesas estão empenhadas
nas operações que começam simultaneamente nos mares do sul. Os
cinco submarinos suicidas, que têm a tarefa de afundar o resto da
frota da base, são destruídos. Apenas 29 aviões japoneses são abatidos.
Em menos de duas horas, grande parte da frota americana do Pacífico
é posta fora de combate. O balanço das perdas americanas é desastroso:
três couraçados afundados e seis gravemente danificados, cinco
cruzadores postos fora de combate, 188 aviões destruídos ou
danificados. é uma humilhação sem precedentes na história dos
Estados Unidos. A frota do Japão volta para a pátria sem ser
incomodada e é dona do Pacífico ocidental." p. 124
fonte: FIORANI, Flavio. História Ilustrada da II Guerra Mundial. Volume 2. Larousse, 2009. trad. Ciro Mioranza.
Diplomacia e Guerra
"Uma conferência realizada a 4 de dezembro estabeleceu que a última
nota diplomática do Japão aos Estados Unidos - cortando as relações e,
com efeito, declarando guerra - deveria ser coordenada com as
necessidades do alto comando. A última comunicação deveria chegar
a Washington nem cedo demais, nem tarde demais, tendo em vista as projetadas operações militares dos japoneses. o mais importante agora, observou um conferencista, "é vencer a guerra'.
Enquanto o Ministério do Exterior japonês trabalhava na longa notificação final aos Estados Unidos, as forças de ataque do exército e da marinha japonesa estavam tomando posição no Pacífico Sudoeste e no Pacífico
Central. quando o governo americano, a 2 de dezembro, pediu uma
explicação para a concentração de unidades japonesas na Indochina,
os porta-vozes de Tojo responderam, no dia 5, que movimentos de
tropas haviam sido feitos por ter sido constatada atividade nacionalista chinesa na fronteira norte do Vietnã, mas que os informes sobre tais movimentos eram exagerados.
Contudo, o Presidente Roosevelt não podia ignorar as agourentas informações, passadas pelo Serviço de Inteligência,de que os
japoneses estavam rumando para a Tailândia e Malásia, e outra áreas.
Por conseguinte, o chefe do Executivo americano despachou uma
mensagem pessoal ao Imperador do Japão, no dia 6 de dezembro,
pedindo uma retirada de forças da região da Indochina e a
neutralização de toda a zona.
Se Roosevelt acalentava esperanças de sucesso, ou se enviara a mensagem simplesmente para fins de registro, não vem ao caso. a mensagem foi arbitrariamente retida pelo exército japonês, durante dez horas, em Tóquio, e o Ministro do Exterior, Togo, só a viu depois da meia-noite de 8 de dezembro (hora do Japão), quando Grew finalmente lhe entregou uma cópia. Depois de mandar verter o comunicado para o idioma japonês e de providenciar uma audiência imperial com Kido, o MInistro do Exterior foi ao encontro de Tojo.
[...]
Quando o Ministro do Exterior conseguiu avistar-se com Kido e ser
recebido pelo Imperador (às 03h15), retornando a sua residência oficial.
Pearl Harbor já havia sido atacada. assim, a resposta à mensagem de Roosevelt só chegou a Washington a 10 de dezembro. Mas, como é sabido,
a embaixada japonesa nos Estados Unidos complicara as coisas ainda mais,
ao entregar a notificação final a Hull com uma hora e vinte minutos de
atraso, no dia 7 de dezembro (hora de Washington) - uma hora depois do ataque japonês (08h, hora local). o fato de que o setor de comunicação
do Serviço de Inteligência americano já interceptara e decifrara o texto
da última nota não absolve a equipe japonesa que negociava na capital americana da acusação de negligência, fato que o próprio Ministro do Exterior, mais tarde reconheceu. sendo informado por transmissões radiofônicas americanas sobre a suposta duplicidade japonesa ao atacar militarmente enquanto as negociações diplomáticas ainda prosseguiam ,
o Ministro do Exterior notificou Tojo, que ficou atônito. Sua primeira
reação foi imaginar que os americanos haviam adiado deliberadamente
a entrega do fatídico telegrama.
A despeito das confusões surgidas nos últimos momentos, certa sensação
de anticlimax se abateu sobre as hostes nipônicas na última semana antes
do ataque a Pearl Harbor. na verdade, togo usa a palavra 'despreocupação' para descrever a atitude do alto comendo depois de se haver decidido pela guerra. meses antes, Tojo falara a Konoye da necessidade de se fazer, um
dia, um salto desesperado do alto do templo Kiyomizu. agora o Japão, com Tojo à frente, dera exatamente aquele salto, muito embora, como disse Thoreau, certa feita: 'Seja uma característica da sensatez não fazer coisas desesperadas.' mesmo naquela época - em fins de novembro de 1941 - o Primeiro-Secretário da embaixada japonesa em Washington (Terasaki) admitira em particular que 'o Japão, como qualquer outra nação
empenhada numa guerra prolongada, é psicologicamente 'anormal' e
está um 'pouco fora' do seu raciocínio'. a observação aplicava-se a
Hideki Tojo e a seus conterrâneos, quando do início da catastrófica