Avanço
Aliado na Europa
outubro
- dezembro 1944
“A controvérsia iniciou-se com um
desacordo técnico entre Montgomery [general britânico] e Eisenhower
[general norte-americano, comandante das forças aliadas] a respeito
do modo como os aliados deveriam progredir para leste. Durante o mês
de agosto Montgomery começou a pressionar o Comandante Supremo em
favor da sua própria proposta, no sentido de que todas as
prioridades logísticas fossem atribuídas a um grupo compacto de 40
divisões, retiradas do seu 21º Grupo de Exércitos e do 12º Grupo
de Bradley, o qual deveria progredir como um ataque único, passando
pelo franco esquerdo das Ardenas, atravessando o Ruhr sem se deter e
alcançando Berlim através do terreno limpo no norte da Alemanha.
Esta força deveria ter um comando único – ele próprio, de
preferência, embora estivesse disposto a aceitar Bradley [general
norte-americano]. Todavia, não houve nada que convencesse Eisenhower
a deter as forças americanas no seu flanco direito para facilitar um
ataque de 40 divisões no flanco esquerdo. Ao invés disto, ele
insistiu em uma progressão com duas pontas, uma ao longo da linha
proposta por Montgomery e outra orientada para leste, pelo sul das
Ardenas, com a finalidade de penetrar na Alemanha pelo Sarre.
No dia 29 de agosto Eisenhower endereçou
uma carta extensa a Montgomery e a Bradley, na qual explicava suas
intenções com absoluta clareza. Foi este o cerne de uma
controvérsia que se prolongou pelos meses seguintes, alcançando a
intensidade máxima quando Hitler desencadeou a ofensiva das Ardenas
e que ressurgiu nas últimas semanas da campanha europeia. Além
disto, o que se iniciara como um desacordo legítimo entre
comandantes em campanha, a respeito de uma estratégia correta,
ampliou-se em discussões sobre o restabelecimento de um comando
único para as forças terrestres; desta forma, uma disputa no campo
de batalha alcançou os círculos da alta política e penetrou nas
áreas mais sensíveis do acordo anglo-americano.
Embora Churchill e os Chefes de
Estado-Maior estivessem naturalmente a par do que sucedia,
mantiveram-se afastados da disputa na sua fase inicial.
Oficialmente, os Chefes do Estado-Maior
Conjunto não foram chamados a opinar sobre a divergência de ideias.
Em que pese o vulto e a gravidade da divergência, por sua própria
natureza ela não constituía assunto da alçada deles. As
alternativas ocorriam exclusivamente no seio de um plano de campanha
cujo objetivo e forma eles já haviam aprovado, e envolvia forças
enquadradas em um teatro de operações e que não poderiam ser
imediatamente reforçadas por nenhuma resolução que tomassem. Os
Chefes de Estado-Maior americanos e ingleses, e o Primeiro-ministro,
recebiam informações pessoais sobre a discussão e acompanhavam-na
com interesse, mas não estavam envolvidos de nenhuma forma no
resultado. Trata-se, sem dúvida, de uma bom exemplo, no mais alto
escalão, da divisão de responsabilidade entre um teatro de
operações e o comando central.
Entretanto, na medida em que corriam os
meses aumentava inevitavelmente a impaciência em Londres – tendo
Arnheim [i.e. o objetivo da operação Market
Garden] constituído um
desapontamento, continuando a Antuérpia a não poder ser utilizada
como porto e com os exércitos aliados parecendo uma força impotente
estendida ao longo da fronteira alemã, como resultado da estratégia
de frente ampla de Eisenhower. Ao surgir a ideia de interpor um
oficial competente entre o Comandante Supremo e seus exércitos,
Londres teve que examinar qual a ação prática a adotar, diante de
um assunto que afetaria diretamente as relações com Washington. E
havia implicações mais profundas. A progressão aparentemente
frouxa na Europa era mais ameaçadora para Churchill e o governo
inglês do que para os americanos. A economia inglesa distendera-se
ao máximo e as reservas em recursos humanos eram nulas – na
verdade, depois da Normandia, foi preciso dissolver uma divisão de
Infantaria para proporcionar recompletamento para outras.
Além disto, os ingleses tinham uma
finalidade tanto política como militar quando se colocavam a favor
de um avanço contra Berlim pelo norte da Alemanha, comandado por
Montgomery, se possível. Por exemplo, isto significaria uma rápida
libertação da Holanda (por quem a Grã-Bretanha sentia grande
responsabilidade) e a limpeza dos locais de lançamento das V-2,
além da conquista dos portos e bases navais alemães (de interesse
capital para a Inglaterra) e a presença britânica na capital
germânica antes da chegada dos russos (de importância incalculável
para Churchill).
De qualquer maneira, Churchill manteve-se
comedido até a última fase da guerra. Seu repúdio desdenhoso (e
injusto) a Eisenhower por inépcia militar ficou circunscrito a
Alanbrooke e Montgomery. Em particular, o Primeiro-ministro não era
favorável à ideia de um comando geral para as forças terrestres.
Em face da sua grande afinidade por Alexander, estava pronto a
ventilar a ideia de chamar Tedder de volta ao Estado-Maior da
Aeronáutica, em Londres, e trazer Alexander do Mediterrâneo para
ser subcomandante de Eisenhower. Mas nunca fez muita força por isto.
Na verdade, foi Hitler quem resolveu a controvérsia temporariamente,
lançando através das Ardenas, em dezembro, o Exército Panzer
reunido sigilosamente.
Ao nascer do dia 16 de dezembro o problema
deixou de ser como avançar na Alemanha para ser como deter o avanço
dos alemães. Churchill escreveu a Smuts: 'Na tarde do dia 20 falei
com Eisenhower pelo telefone e sugeri que ele atribuísse a
Montgomery o comando das tropas situadas ao norte da penetração
inimiga e a Omar Bradley tudo o que ficou ao sul, mantendo com ele o
comando geral da operação. Respondeu-me que já havia expedido
ordem exatamente neste sentido na parte da manhã'. Assim, as
circunstâncias criaram as condições desejadas por Montgomery e
seus superiores, mas Montgomery desperdiçou a oportunidade, em que
pese a sua contribuição legítima para a vitória na Batalha
do Bolsão [ou Bulge].
Alanbrooke chamara a sua atenção para isto.”
pp.
293-295
fonte:
LEWIN, Ronald. Churchill – O
Lorde da Guerra. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1979.
mais
info
Comandante
Supremo Eisenhower
Ofensiva
das Ardenas / dezembro 1944
bombas
voadoras V-1 e
V-2
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