terça-feira, 24 de junho de 2014

1944 Grande Tiro ao Pato nas Ilhas Marianas / Batalha de Saipan



 


fonte da imagem de Saipan : http://ww2db.com/image.php?image_id=4782


Guerra no Pacífico

1944


Grande Tiro ao Pato nas Ilhas Marianas
 
Batalha de Saipan

19 de junho de 1944: a marinha japonesa luta para defender as ilhas Marianas naquela que estava destinada a ser a última das grandes batalhas de porta-aviões da guerra do Pacífico


      Em 15 de junho de 1944 (apenas nove dias depois dos desembarques na Normandia), uma força de invasão americana de 535 navios alcançou Saipan, nas (Ilhas) Marianas, depois de uma passagem de nove dias pelas ilhas Marshalls. Esse grande passo na reconquista do Pacífico Central foi possível apenas pela maciça concentração de poder aéreo disponibilizada pela frota de porta-aviões dos EUA.

      A operação provocou a resposta poderosa dos japoneses que os americanos esperavam. Quase toda a força de superfície do inimigo foi reagrupada, formando a 1ª Frota Móvel, que reunia cerca de cinco frotas e quatro porta-aviões leves, com o comando-geral exercido pelo Vice-Almirante Jisaburo Ozawa, sucessor de Nagumo [comandante Chuichi Nagumo, 1887-1944] no comando da força de ataque da Marinha Imperial. Às 430 aeronaves dos porta-aviões de Ozawa seriam somados mais 540, cujas bases estavam em um anel de pistas aéreas nas ilhas. Assim, se os americanos fossem atraídos para batalha dentro desse perímetro, os aviões de Ozawa poderiam ter sua força dobrada, reabastecendo em qualquer ponto das ilhas e atacando os invasores por todos os lados.
 
     No entanto, os japoneses eram inferiores em todos os aspectos, menos no alcance das armas. A Força-Tarefa 58 (com comando geral da 5ª Frota do Almirante Raymond Spruance, mas controlada taticamente pelo Vice-Almirante Marc Mitscher) tinha sete frotas e oito porta-aviões leves, com 900 aeronaves e tripulação com treinamento superior, contando ainda com o apoio de porta-aviões de escolta como reforços.


      “Depois de deixar as Filipinas em 15 de junho, a frota japonesa avançou sem problemas, mas sua posição era reportada pelos submarinos dos EUA. Por outro lado, os aviões de longo alcance de Ozawa conseguiram localizar Spruance. A Força-Tarefa 58 estava operando em quatro grupos de porta-aviões rápidos, espaçados em 20 km no centro e protegidos a 24 km ao oeste pelo grupo de batalha de superfície do Vice-Almirante Willis Lee (incluindo sete couraçados) disposto em uma barreira.

      Na manhã de 19 de junho, a Força-Tarefa ainda se ocupava em passar pelas ilhas quando, às 08h30 (e ainda sem ter sido avistado), Ozawa realizou um ataque de 69 aeronaves a 480 km de distância, as aeronaves recebendo ordens de atacar e então reabastecer na praia antes de retornar. Felizmente, Lee detectou o ataque no radar a 240 km, dando tempo para reunir uma força de Grumman F6F Hellcats, que destruiu 45 inimigos com o registro de apenas uma perda. Por esse sacrifício, os japoneses acertaram de raspão três navios e atingiram o couraçado South Dakota com uma bomba.

      Apenas uma hora depois da primeira manifestação inimiga chegou uma segunda e mais poderosa onda de atacantes, com 110 aviões. Os americanos, totalmente alertas e preparados, derrubaram mais 79 aviões, ao custo de outro acerto de raspão – a recente introdução de munição de proximidade tinha aumentado muito a eficiência da artilharia americana.


     “Incrivelmente, o Almirante japonês parecia não estar ciente da escala de suas perdas e acreditava nos relatos otimistas de seus pilotos. Com cerca de 100 aviões a bordo, mas ainda sem ter sido localizado pelos aviões de reconhecimento americanos, Ozawa rumou para o oeste para reabastecer durante a noite e voltar à batalha na manhã seguinte. Ele, na realidade, já havia sido derrotado, tendo sofrido em 19 de junho um total de perdas de 346 de aviões, contra 30 perdas americanas. Não é à toa que os americanos apelidaram o episódio de 'Grande Tiro ao Pato em Marianas'.

      “A controvérsia vai continuar a rondar a questão de se [os Almirantes] Spruance e Mitscher deveriam ter tomado mais cuidado ou então ter aproveitado a oportunidade em Saipan e partir para aniquilar [o vice-almirante] Ozawa. O comandante japonês, embora completamente derrotado, lutou uma excelente batalha tática. Seja como for, a vitória americana no mar das Filipinas marcou a destruição final do poder aéreo naval japonês.” pp. 222-223


fonte: BISHOP, Chris & Mcnar, Chris. II Guerra Mundial: campanhas dia a dia: a Guerra no Pacífico : Vol. 03. trad. Tatiana Napoli. São Paulo: Ed. Escala, 2009.



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segunda-feira, 16 de junho de 2014

A ofensiva soviética : Operação Bagration






A ofensiva soviética: a Operação Bragation


Da Rússia Branca até fronteira da Polônia


      “A 20 de junho de 1944, os russos já haviam concentrado impressionante quantidade de forças ao longo de suas frentes, num total de 166 divisões e 9 brigadas de infantaria, apoiadas por cerca de 31 mil peças de artilharia de grosso calibre e morteiros, 5.200 tanques e canhões autopropulsionados e cerca de 6 mil aviões. Dispunham de uma superioridade sobre o inimigo, em termos de artilharia, de três para um, e de quatro para um no tocante a blindados.


      A 22 de junho, os preparativos da ofensiva tinham sido ultimados e pouco antes do início do ataque unidades de vanguarda efetuaram um reconhecimento, a fim de obter informações a respeito da verdadeira situação do sistema defensivo alemão.


      A Primeira Frente do Báltico atacou a 23 de junho, mas o progresso que realizou foi insignificante, em virtude do péssimo estado das estradas e da feroz resistência encontrada. A Terceira Frente da Rússia Branca juntou-se ao ataque e, embora seu progresso tenha sido também muito lento, ao fim do terceiro dia de operações conseguira avançar cerca de 50 quilômetros.


      A primeira e Segunda Frentes da Rússia Branca, comandadas por Zhukov, entraram em ação ao mesmo tempo que suas vizinhas, logrando fazer, igualmente, progresso muito escasso. Por fim, após cinco dias de luta feroz, a Primeira Frente da Rússia Branca conseguiu penetrar as linhas alemãs ao longo de uma frente de cerca de 150 quilômetros e avançar a uma profundidade de quase 100 quilômetros. Unidades da Segunda Frente da Rússia Branca reconquistam Mogilev, depois de atravessarem o Dnieper, atingindo em fins de junho a sua confluência com o Prut.


      Os exércitos alemães deram, então, início a uma retirada ao longo de toda a frente –do sul do Dvina até o Pripyat (Pripet). A Stavka [Supremo Comando Soviético] expediu novas instruções para as quatro Frentes, determinando um avanço gral na direção de Minsk, a fim de recapturá-la e, ao mesmo tempo, destruir todas as reservas inimigas que se aproximavam, com o objetivo de impedir a consolidação, pelos alemães, de seu sistema defensivo. Forças de três Frentes russo-brancas convergiram para Minsk e a 3 de julho a capital da Rússia Branca – então inteiramente em ruínas – foi reconquistada.


      Ao Exército Vermelho foram atribuídas novas missões: completar a libertação da Rússia Branca e expulsar os alemães da Lituânia e da Polônia. A 20 de julho, a ofensiva teve um início promissor, pois os grupos de assalto da ala esquerda da Primeira Frente da Rússia Branca cruzaram o Bug, ao longo da ampla faixa de terreno e penetraram território polonês. [...]” pp. 126-127



fonte: CHANEY Jr., Otto Preston. Zhukov – Marechal da União Soviética. Trad. Alcídio de Souza. Rio de Janeiro: Renes, 1976.





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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Dia D - o maior desembarque anfíbio





 
O maior desembarque anfíbio

A reação das tropas germânicas

     “Foi este, então o começo. Os primeiros invasores do Dia D, quase dezoito mil americanos, britânicos e canadenses, distribuíram-se ao longo dos flancos do campo de batalha da Normandia. Entre eles, ficavam as cinco praias em que se realizaria a invasão principal e, além do horizonte, aproximando-se inexoravelmente, a poderosa frota de invasão de cinco mil navios. O primeiro dos navios, USS Bayfield, transportando o comandante da Força U da Marinha, o contra-almirante D. P. Moon, encontrava-se nesse momento a uns vinte quilômetros da praia Utah, preparando-se para lançar âncora.

      Lentamente, o grande plano de invasão estava começando a desdobrar-se – e os alemães ainda permaneciam cegos, alheios a tudo. Houve muitas razões. O mau tempo, sua falta de reconhecimento aéreo (somente alguns aviões tinham sido lançados a sobrevoar as áreas de embarque nas semanas anteriores: todos tinham sido abatidos), a crença teimosa de que a invasão devia realizar-se em Pas-de-Calais, a confusão e superposição de seus próprios comandos e o fracasso em levar a sério as mensagens destinadas ao movimento de resistência, que haviam sido devidamente decifradas – tudo isso exercera alguma influência. Até mesmo suas instalações de radar falharam naquela noite. Aquelas que não haviam sido bombardeadas, tinham ficado confusas em função dos aeroplanos aliados que haviam sobrevoado a costa, espalhando pacotes de 'janelas', tiras de folhas de estanho que recobriam as telas de radar com sinais falsos, conhecidos como 'neve'. Uma única estação tinha enviado seu relatório. Declarava somente: 'Tráfego normal ao longo do Canal.'

      Mais de duas horas haviam transcorrido desde que os primeiros paraquedistas desceram ao solo. Somente agora os comandantes alemães da Normandia estavam começando a perceber que alguma coisa importante poderia estar ocorrendo. Os primeiros relatórios isolados estavam começando a chegar e, lentamente, como um paciente despertando da anestesia, os alemães se acordavam.” pp. 184-185

      “Na França, os generais do OB West e do Grupo de Exército B [germânico] sentaram-se para esperar o desenrolar dos fatos. Eles haviam alertado suas forças e convocado as reservas blindadas: agora, a próxima decisão pertencia aos Aliados. Ninguém fazia noção da magnitude do próximo assalto. Ninguém sabia – ou sequer podia adivinhar – o tamanho da frota aliada. E, embora tudo apontasse para a Normandia, ninguém realmente tinha certeza de onde seria desfechado o ataque principal. Os generais alemães, indubitavelmente, tinham feito tudo quanto estava a seu alcance. O resto dependia dos soldados comuns da Wehrmacht que guarneciam as costas, subitamente, eles haviam adquirido grande importância. A partir de suas fortificações costeiras, os soldados do Reich olhavam para o mar, imaginando se esse era mais um alerta de treinamento ou se, finalmente, chegara ao ataque verdadeiro.

      O major Werner Pluskat, em seu bunker acima da praia Omaha, não recebera qualquer notícia de seus superiores desde a uma hora da madrugada. Estava com frio, cansado e exasperado. Sentia-se totalmente isolado. Não podia entender por que não recebera qualquer relatório ou ordem, nem do quartel-general regimental, nem do QG da Divisão. Para falar a verdade, o próprio fato de que seu telefone permanecera silencioso durante toda a noite era um bom sinal: deveria significar que nada de sério estava acontecendo. Mas... e os paraquedistas? E as formações maciças de esquadrilhas? Pluskat não conseguia livrar-se da inquietação, que parecia roer-lhe os ossos. Mais uma vez ele girou as lunetas de artilharia e esquadrinhou o mar; à esquerda, ele identificou a massa escura da península de Cherbourg e começou outra lenta varredura do horizonte. Os mesmos bancos de brumas baixas foram ampliados diante de seus olhos, os mesmos pontos em que a água refletia a luz oscilante do luar, o mesmo mar encapelado e inquieto. Nada havia mudado. Tudo parecia cheio de paz.” pp. 217-218
 


Desembarques avançam nas cinco praias

      “O ritmo aumentava. Ao largo das praias americanas, cada vez mais barcos cheios de soldados se juntavam às irrequietas embarcações de assalto que rodeavam incessantemente as naves de que tinham sido descidas. Empapados, enjoados, cheios de desconforto, eram justamente esses homens que liderariam a marcha sobre a Normandia, através das praias Omaha e Utah. Nas áreas de transporte, o transbordamento estava em plena atividade. Era uma operação complexa e perigosa. Os soldados carregavam tanto equipamento que mal conseguiam se mover. Cada um trazia um salva-vidas de borracha e, além das armas, bornais, ferramentas para cavar trincheiras, máscaras de gás, estojos de primeiros socorros, cantis, facas e rações, todos traziam quantidades adicionais de granadas, explosivos e munição muitas vezes até 250 cartuchos. Mais ainda, muitos homens estavam carregando o equipamento necessário para executar suas tarefas especializadas. Alguns homens calculam que pesavam pelo menos centro e cinquenta quilos enquanto balançavam ao longo dos tombadilhos a caminho de seus barcos de assalto. Toda essa parafernália era necessária, mas parecia ao major Gerden Johnson, da 4ª Divisão de Infantaria, que seus homens estavam sendo 'forçados a caminhar em passo de tartaruga'. O tenente Bill Williams, da 29ª, achou que seus homens estavam tão sobrecarregados que 'não lhes sobrariam forças para combater'. O praça Robert Mozgo, olhando para baixo, desde o costado de seu transporte e vendo a embarcação de assalto que se esbarrava contra o casco e subia e descia da forma mais enjoativa com o movimento das ondas, pensou que, se ele e seu equipamento pudessem embarcar em um desses botes, 'metade da batalha já estaria ganha...' ” pp. 223-224

      “As grandes rampas quadradas dos barcos de assalto, por enquanto ainda erguidas nas proas, avançavam de frente sobre cada onda, e a água verde, gelada e espumante, recobria a todos. Não havia heróis ansiosos por glória nesses barcos – apenas homens congelados, temerosos e nauseados, tão apertados uns contra os outros, tão sobrecarregados de equipamento pesado que, frequentemente, não havia lugar para vomitar, exceto sobre os companheiros. […]

      De um momento para outro, a guerra assumiu um caráter pessoal. As tropas que se dirigiam para a praia Utah viram um barco de controle, que conduzia uma das ondas de ataque, empinar subitamente para fora das águas e explodir. Segundos depois, cabeças surgiram à superfície e os sobreviventes tentaram salvar-se, agarrando-se aos destroços. Uma segunda explosão seguiu-se quase imediatamente. A tripulação de uma balsa de desembarque, tentando descarregar quatro dos trinta e dois tanques anfíbios destinados à praia Utah, tinha lançado a rampa diretamente sobre uma mina marítima submersa. A frente da embarcação saltou para cima e o sargento Orris Johnson, em uma lancha próxima, ficou congelado de horror, enquanto um tanque 'era arremessado a mais de trinta metros no ar, dava lentamente uma cambalhota, mergulhava de novo na água e desaparecia'. […]

      Centenas de homens que se dirigiam para a praia Utah viram os cadáveres e escutaram os berros e gritos de socorro dos homens que se afogavam. […]

      A visão dos corpos flutuando na água, a fadiga e a tensão da longa viagem desde os navios-transporte e a gora a agourenta proximidade das extensões de areia lisa estendidas frente às dunas da praia Utah arrancaram violentamente os homens de sua letargia. […]

      Nas águas ao largo da praia Omaha ocorrera um desastre. Quase metade da força de tanques anfíbios, destacada para apoiar as tropas de assalto, havia afundado. O plano requeria sessenta e quatro desses tanques, que seriam lançados ao mar entre três e cinco quilômetros de distância da costa. Daí em diante, eles teriam de se locomover pela força de seus próprios motores até a praia. Trinta e dois deles tinham sido designados para a área da 1ª Divisão – os setores Easy Red, Fox Green e Fox Red. Os batelões que os transportavam atingiram suas posições, as rampas de deslanche foram baixadas e vinte e nove tanques foram descidos nas ondas encapeladas. Os veículos anfíbios, que tinham um aspecto muito estranho, com seus grandes balões de lona cheios de ar lembrando as saias enfunadas de uma mulher vadeando um riacho, mas que nos testes haviam demonstrado ser capazes de suportar todo o peso do veículo na superfície da água, começaram a furar as ondas em direção à praia. Então, a tragédia surpreendeu os homens do 741º Batalhão Blindado. Sob os golpes pesados das ondas, as 'asas aquáticas' começaram a se rasgar, os suportes rebentaram, os motores foram inundados e, um após o outro, vinte e sete dos tanques afundaram. Os tripulantes, saíram às pressas pelas escotilhas, inflando os salva-vidas e saltando no mar. Alguns conseguiram inflar também barcos salva-vidas de borracha. Outros desceram até o fundo em seus ataúdes de aço.” pp. 239-243


      “Por detrás das defesas, a própria praia estava deserta: nada nem ninguém se movia sobre ela. Os barcos foram chegando cada vez mais perto. Quatrocentos e cinquenta metros … quatrocentos metros... Nada de fogo inimigo. Através de ondas da altura de um metro e vinte a um metro e meio, as embarcações de assalto lançaram-se pra a frente; agora, o grande bombardeio começou a deixar a zona da praia, indo atingir alvos mais para o interior. Os primeiros barcos estavam a uns 350 metros da praia quando os canhões alemães – os mesmos canhões que poucos ainda acreditavam tivessem sido capazes de sobreviver a um bombardeio aéreo e marítimo tão furioso e tão intenso – abriram fogo.” p. 245



fonte: RYAN, Cornelius. O Mais Longo dos Dias. [The Longest Day, 1959] trad. William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008.


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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Vanguarda do Dia D : paraquedistas





 

O Dia D : invasão Aliada da Normandia

A vanguarda: caça-minas no anoitecer de 5 de junho 1944

      “Ao largo da costa francesa, um pouco antes das nove horas da noite [de 5 de junho], apareceu uma dúzia de pequenos barcos. Moviam-se silenciosamente na fímbria do horizonte, tão próximo das praias que suas tripulações podiam ver claramente as casas da Normandia. Os barcos passaram sem ser percebidos. Acabaram sua tarefa e retornaram. Eram caça-minas britânicos – a vanguarda da mais poderosa armada que jamais fora reunida.

      Porque agora, cruzando o Canal da Mancha, cortando as águas cinzentas e agitadas, uma falange de navios flutuava inexoravelmente em direção à Europa de Hitler – o poder e a fúria do mundo livre finalmente desencadeados. Eles avançavam incansáveis, fileira após fileira, seguindo as dez rotas marítimas paralelas que haviam sido traçadas, ocupando uma extensão de trinta e cinco quilômetros de largura, cinco mil navios de todos os tamanhos e formatos possíveis. Havia os novos e velozes transportadores de tropas de ataque, os lentos cargueiros corroídos de ferrugem, os pequenos navios transatlânticos de passageiros, os pequenos vapores que faziam cabotagem pelos portos do Canal, além de navios-hospitais, velhos transportadores de combustível, pequenos navios costeiros e enxames de rebocadores fumacentos e ruidosos. Havia colunas infindáveis de navios de desembarque de pequeno calado – grandes veículos marítimos que balouçavam ao ritmo das ondas, alguns deles com quase cento e trinta e cinco metros de comprimento. Muitos desses e dos demais barcos de transporte mais pesados carregavam barcos menores de desembarque para o verdadeiro assalto às praias – um total de mais de mil e quinhentos. À frente dos comboios avançavam verdadeiras procissões de caça-minas, cúteres da Guarda Costeira, lançadores de boias e lanchas a motor. Balões de defesa contra ataques aéreos voavam acima das embarcações. Esquadrilhas de aviões de combate teciam essa cavalgada fantástica de navios atulhados de homens , canhões, tanques, veículos motorizados e os mais variados suprimentos, deixando de fora apenas um certo número de pequenas unidades navais desgarradas, estava um formidável conjunto de 702 belonaves.

[…]

      Lentamente, pesadamente, essa grande armada se movia através do Canal. Seguia um padrão de tráfego demarcado minuto a minuto, de um tipo que jamais fora tentado antes. Os navios se derramavam para fora dos portos britânicos e se moviam ao longo das costas em rotas demarcadas para dois comboios paralelos, convergindo para a área de concentração ao sul da ilha de Wight. Lá eles eram classificados ou encontravam os próprios lugares, cada um deles assumindo uma posição cuidadosamente predeterminada na força que se destinava à praia particular para a qual fora designado. Saindo da área de concentração, logo apelidada de Piccadilly Circus, os comboios se dirigiam para a França ao longo de cinco rotas demarcadas por boias flutuantes. E, à medida que se aproximavam da Normandia, estes cinco caminhos se dividiam em dez canais, dois para cada praia – um para tráfego rápido, outro para navegação lenta. Bem na frente, logo após a ponta-de-lança dos caça-minas, encouraçados e cruzadores, estavam os navios de comando, cinco transportes de ataque eriçados de antenas de rádio e radar. Esses postos de comando flutuantes seriam os centros nervosos da invasão.

      Por toda parte havia navios. Para os homens que estiveram a bordo, essa histórica armada ainda é lembrada como a visão 'mais impressionante e inesquecível' de suas vidas.” pp. 114-115; 117


Como reagiram as tropas germânicas ?

      “Passava um pouco das dez e um quarto dessa noite quando o tenente-Coronel Meyer, chefe do Serviço de Contra-Espionagem do 15º Exército alemão, saiu às pressas de seu escritório. Em sua mão provavelmente se encontrava a mais importante mensagem que os alemães haviam interceptado em todo o decorrer da Segunda Guerra Mundial. Meyer sabia agora que a invasão ocorreria dentro das próximas quarenta e oito horas. Com essa informação, os Aliados podiam ser jogados de volta ao mar. A mensagem, captada de uma transmissão da BBC destinada ao movimento de resistência francês, era o segundo verso do poema de [Paul] Verlaine: 'Blessent mon coeur d'une langueur monotone' (Ferem meu coração com um langor monótono).

      Meyer lançou-se para dentro da sala de jantar, onde o general Hans Von Salmuth, oficial-comandante do 15º Exército, jogava bridge com seu chefe de estado-maior e dois outros oficiais.

-General! - disse Meyer, ofegante. - A mensagem, a segunda parte, chegou!

Von Salmuth deliberou por um momento e então deu ordem para colocar o 15] Exército em prontidão total. Quando Meyer saía apressadamente da sala, Von Salmuth estava novamente olhando para as cartas de sua mão.

-Eu sou raposa velha – o próprio Von Salmuth recorda-se de haver dito na ocasião para não ficar muito excitado com isso.

      De volta a seu escritório, Meyer e seu pessoal imediatamente notificaram por telefone o OB West, quartel-general de Von Rundstedt. A seguir, também por telefone, alertaram o OKW, o quartel-general do próprio Hitler [Adolf H, ditador alemão]. Simultaneamente, todos os demais comandos foram alertados via teletipo.

     E novamente, por razões que nunca foram explicadas satisfatoriamente, o 7º Exército não foi notificado. Nesse momento, a frota aliada ainda precisaria de um pouco mais de quatro horas para atingir as áreas de transferência das tropas para as lanchas de assalto, ao largo das cinco praias normandas; dentro de três horas, dezoito mil paraquedistas seriam lançados sobre os campos e sebes progressivamente mais escuros – diretamente na zona do único exército alemão que nunca foi alertado do Dia D.” pp. 123-125


Alemães temem outro alarme falso

     “A essa altura [madrugada do dia 6 de junho 1944], relatórios vagos e contraditórios estavam sendo filtrados até os postos de comando do 7ºExército [alemão] em toda a Normandia; por toda parte, os oficiais tentavam avaliá-los. Haviam poucos dados a sopesar – silhuetas humanas entrevistas aqui, tiros disparados acolá, uma paraquedas pendurado em uma árvore mais adiante. Tomados em seu conjunto, eram pistas indicadoras de alguma coisa – mas de quê? Somente 570 militares aliados aerotransportados haviam descido. Era justamente o número necessário para criar o pior tipo de confusão.

     Os relatórios que chegavam eram fragmentados, inconclusivos, tão espalhados que até mesmo os soldados mais experientes estavam céticos e atormentados por dúvidas. Quantos homens haviam descido – dois ou duzentos? Seriam tripulações de bombardeiros abatidos que tinham saltado antes da queda? Estaria ocorrendo uma série de ataques da Resistência francesa? Ninguém tinha certeza, nem mesmo aqueles, como o general Reichert, da 711ª Divisão, que tinham visto os paraquedistas face a face. Reichert pensava que era uma incursão aérea a seu próprio QG, e foi essa a conclusão incluída no relatório transmitido a seu comandante de Corpo. Só muito mais tarde as notícias chegaram ao QG do 15º Exército, onde foram devidamente registradas no diário de guerra, com a anotação obscura: 'Não há detalhes'.

      Tantos alarmes falsos tinham sido dados no passado, que todo mundo mostrava uma cautela que chegava a ser dolorosa. Os comandantes da Companhia consideravam duas vezes antes de transmitirem relatórios aos postos de comando de seus batalhões. Enviavam patrulhas para verificar e verificar novamente. Os comandantes de Batalhão mostravam ainda maior prudência antes de passarem as informações aos oficiais regimentais. Quanto ao que realmente ocorreu e que informações de fato chegaram nos diversos quartéis-generais durante esses primeiros minutos do Dia D, há tantos relatos quanto participantes. Porém um fato parece claro: com base em relatórios tão localizados e imprecisos , ninguém se dispunha a dar alarme nesse momento – um alarme que, mais tarde, poderia demonstrar-se falso. E assim, o minutos foram passando. pp. 147-148


Os dramas e as baixas dos paraquedistas das tropas aerotransportadas

     “O inimigo mais sinistro nesses minutos de abertura do Dia D não eram os homens, mas a natureza. As precauções contra o desembarque de paraquedistas, que haviam sido tomadas por iniciativa de Rommel [Marechal de campo, o comandante alemão], pagaram bons dividendos. Os lençóis d'água e os atoladouros do vale do rio Dives artificialmente inundado demonstraram ser armadilhas mortais. Muitos dos homens da 3ª Brigada caíram diretamente nessa área, como se fossem confetes retirados de um saco e espalhados ao acaso. Para esses paraquedistas, um azar trágico seguia ao outro. Alguns pilotos, envolvidos por nuvens espessas, pensaram que a embocadura do Dives fosse a do orne e largaram os homens sobre um labirinto de pântanos e alagadiços.

[…]

     O número de paraquedistas que morreu nos baixios do [rio] Dives nunca será conhecido com exatidão. Os sobreviventes contaram que os pântanos eram atravessados por um labirinto de valas, com mais de dois metros de profundidade e um metro e vinte de largura, cujo fundo estava recoberto de um limo grudento. Um homem sozinho, carregado de armas, munição e equipamento pesado, não tinha a menor chance de sair para fora de um desses alagados. As mochilas de lona molhadas praticamente dobravam de peso e os homens que conseguiram sobreviver tiveram de abandonar todo o equipamento. E muitos homens que conseguiram, com muita luta, atravessar os pântanos, afogaram-se no rio, alguns à distância de apenas alguns metros da outra margem, onde a terra estava seca.” pp. 157-158


fonte: RYAN, Cornelius. O Mais Longo dos Dias. [The Longest Day, 1959] trad. William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008.


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