Preocupações
dos Aliados no início de 1944
Preparativos
para o Dia D
“O engajamento em
Anzio [porto da Itália, alvo da Operation Shingle] ,
principalmente o atraso imprevisto na execução da ampliação da
cabeça de praia, teve várias consequências; [Winston ] Churchill
[primeiro-ministro britânico] viu-se obrigado a aceitar o
cancelamento ou a preterição de projetos, alguns dos quais lhe eram
caros. Esvaiu-se qualquer esperança tênue de realizar uma ação
contra Rhodes; em princípios de fevereiro os Chefes de Estado-maior
comunicaram 'o abandono de qualquer esforço para trazer a Turquia
para a guerra o mais breve possível.' No Extremo Oriente
frustraram-se os planos que Mountbatten elaborara para Pigstick,
uma operação anfíbia de escala menor do que a ambiciosa operação
Buccaneer. No dia 28 de dezembro, quando recebeu o 'tudo azul'
de Roosevelt para a operação contra Anzio, Churchill enviou um
telegrama para Londres: 'Concordo que deveria ser Pigstuck
[porco enterrado], ao invés de Pigstick [mata porco].' O mais
importante de tudo foi que os impasses em Monte Cassino e na operação
Shingle criaram necessidades tão grandes de reforços, e
consequentemente de navios, - em fevereiro previu-se para os dois
meses seguintes uma movimentação de 276.000 homens e 34.000
viaturas – que o General Wilson, Comandante-Chefe do teatro de
operações do Mediterrâneo, informou aos Chefes de Estado-maior, no
dia 22 de fevereiro: 'Opino pelo cancelamento de Anvil.'
Afinal, aí estava algo
que Churchill poderia aprovar. Durante o período de convalescença,
em Marrakesh, o Primeiro-ministro recebeu Montgomery, em viagem para
a Inglaterra a fim de assumir sua função em Overlord. Na
véspera do Ano Novo [de 1944] Churchill entregou-lhe o plano Cossac,
a respeito do qual Eisenhower já manifestara seu desagrado a
Montgmorey. O general examinou o plano durante a noite e comunicou a
Churchill, pela manhã: 'A minha primeira impressão é que o
presente plano é impraticável.' Na realidade, os dois comandantes
que haveriam de travar as batalhas concretamente tinham chegado a uma
conclusão igual a de Churchill, ao examinar pela primeira vez as
propostas de Morgan na época da conferência de Quebec: era preciso
ampliar a frente do assalto e aumentar o valor da força de
desembarque. Os Chefes de Estado-Maior ingleses também sentiam
dúvidas a respeito do plano. Mas a ampliação da frente e as
divisões a serem adicionadas implicavam em mais embarcações de
desembarque, mais navios cargueiros, mais navios de guerra e mais
aviões. E de que forma poderiam ser obtidos, em janeiro de 1944, a
não ser cancelando ou preterindo Anvil e desmarcando a data
de Overlord, já firmemente prometida a Stalin para maio?
Quando Churchill
regressou a Londres já encontrou o trabalho adiantado. Uma revisão
do plano Overlord original, realizada pelo próprio Cossac
e pelos chefes de Estado-Maior sob a inspiração de Montgomery,
confirmou as novas necessidades. No dia 10 de janeiro Montgomery
solicitou a Eisenhower 'que entrasse na briga e obtivesse aquilo que
se desejava'. Em 23 de janeiro o Comandante Supremo (que sempre fora
favorável a Anvil) estava tão convencido da nova realidade que
enviou telegrama aos Chefes do Estado-Maior Conjunto, órgão ao qual
era subordinado, comunicando que o plano Overlord deveria ser
ampliado, que Anvil, reduzido em suas proporções, deveria
ser conservado a título de ameaça para o inimigo e que, se
necessário, a operação Overlord deveria ser adiada por um
mês. (Nesta altura dos acontecimentos, só Churchill pareceu
compreender que dois elementos vitais, lua e maré, forçavam o
adiamento por prazo igual a um mês.)
[…]
“Enquanto isto,
arrastava-se a luta difícil e indecisa em Anzio e nas montanhas
italianas, sem oferecer esperanças nem de um sucesso em curto prazo,
nem de uma consequente diminuição das necessidades em homens e
navios. Simplesmente não havia o suficiente para todos. Todavia, no
dia 24 de março, após a segunda solicitação do General Wilson, os
americanos afinal concordam em adiar Anvil para julho e
transferir do teatro de operações do Mediterrâneo as embarcações
de assalto solicitadas por Overlord. Ora, esses
desentendimentos entre os aliados nada significavam se comparados com
o que acontecia entre os ingleses. No dia 4 de março o General
Ismay, o leal e astuto chefe do estado-maior de Churchill,
escreveu-lhe anunciando que:
'… deparamo-nos com
toda a certeza com um choque de opinião entre o Gabinete de Guerra e
seus assessores militares; não se pode descartar a possibilidade de
alguns assessores solicitarem demissão. Na atual conjuntura uma
divergência desse vulto, indesejável em qualquer ocasião,
configuraria uma catástrofe. Todos consideram Overlord uma
operação bastante arriscada. É preciso proporcionar a ela todas as
oportunidades de sucesso.'
Quando Ismay escreveu 'o
Gabinete de Guerra', evidentemente estava querendo dizer 'o
Primeiro-ministro'. Relembrando 1940, o charuto, o 'V' feito com os
dedos, as mensagens radiofônicas vibrantes, o cidadão comum não
poderia imaginar quão perigosamente perto do rompimento estavam as
relações entre o Primeiro-Ministro e seus Chefes de Estado-Maior, e
isto apenas três meses antes do Dia D, acontecimento que coroaria o
desempenho de Churchill como Grande Comandante.”
pp. 275-278
fonte:
LEWIN, Ronald. Churchill – O Lorde da Guerra. Trad. Cel.
Álvaro Galvão. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1979.
mais
info em
Operation
Shingle – Battle of Anzio – janeiro 1944
Batalha
em Monte Cassino – Itália, janeiro – maio 1944
Operation
Culverin – planejada para a Sumatra
Operation
Overlord – Battle of Normandy – junho 1944
Operation
Dragoon – ou Anvil - sul da França – agosto 1944
História
do COSSAC
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