quarta-feira, 2 de abril de 2014

Campanhas dos Aliados - início de 1944







Preocupações dos Aliados no início de 1944


Preparativos para o Dia D


“O engajamento em Anzio [porto da Itália, alvo da Operation Shingle] , principalmente o atraso imprevisto na execução da ampliação da cabeça de praia, teve várias consequências; [Winston ] Churchill [primeiro-ministro britânico] viu-se obrigado a aceitar o cancelamento ou a preterição de projetos, alguns dos quais lhe eram caros. Esvaiu-se qualquer esperança tênue de realizar uma ação contra Rhodes; em princípios de fevereiro os Chefes de Estado-maior comunicaram 'o abandono de qualquer esforço para trazer a Turquia para a guerra o mais breve possível.' No Extremo Oriente frustraram-se os planos que Mountbatten elaborara para Pigstick, uma operação anfíbia de escala menor do que a ambiciosa operação Buccaneer. No dia 28 de dezembro, quando recebeu o 'tudo azul' de Roosevelt para a operação contra Anzio, Churchill enviou um telegrama para Londres: 'Concordo que deveria ser Pigstuck [porco enterrado], ao invés de Pigstick [mata porco].' O mais importante de tudo foi que os impasses em Monte Cassino e na operação Shingle criaram necessidades tão grandes de reforços, e consequentemente de navios, - em fevereiro previu-se para os dois meses seguintes uma movimentação de 276.000 homens e 34.000 viaturas – que o General Wilson, Comandante-Chefe do teatro de operações do Mediterrâneo, informou aos Chefes de Estado-maior, no dia 22 de fevereiro: 'Opino pelo cancelamento de Anvil.'


Afinal, aí estava algo que Churchill poderia aprovar. Durante o período de convalescença, em Marrakesh, o Primeiro-ministro recebeu Montgomery, em viagem para a Inglaterra a fim de assumir sua função em Overlord. Na véspera do Ano Novo [de 1944] Churchill entregou-lhe o plano Cossac, a respeito do qual Eisenhower já manifestara seu desagrado a Montgmorey. O general examinou o plano durante a noite e comunicou a Churchill, pela manhã: 'A minha primeira impressão é que o presente plano é impraticável.' Na realidade, os dois comandantes que haveriam de travar as batalhas concretamente tinham chegado a uma conclusão igual a de Churchill, ao examinar pela primeira vez as propostas de Morgan na época da conferência de Quebec: era preciso ampliar a frente do assalto e aumentar o valor da força de desembarque. Os Chefes de Estado-Maior ingleses também sentiam dúvidas a respeito do plano. Mas a ampliação da frente e as divisões a serem adicionadas implicavam em mais embarcações de desembarque, mais navios cargueiros, mais navios de guerra e mais aviões. E de que forma poderiam ser obtidos, em janeiro de 1944, a não ser cancelando ou preterindo Anvil e desmarcando a data de Overlord, já firmemente prometida a Stalin para maio?


Quando Churchill regressou a Londres já encontrou o trabalho adiantado. Uma revisão do plano Overlord original, realizada pelo próprio Cossac e pelos chefes de Estado-Maior sob a inspiração de Montgomery, confirmou as novas necessidades. No dia 10 de janeiro Montgomery solicitou a Eisenhower 'que entrasse na briga e obtivesse aquilo que se desejava'. Em 23 de janeiro o Comandante Supremo (que sempre fora favorável a Anvil) estava tão convencido da nova realidade que enviou telegrama aos Chefes do Estado-Maior Conjunto, órgão ao qual era subordinado, comunicando que o plano Overlord deveria ser ampliado, que Anvil, reduzido em suas proporções, deveria ser conservado a título de ameaça para o inimigo e que, se necessário, a operação Overlord deveria ser adiada por um mês. (Nesta altura dos acontecimentos, só Churchill pareceu compreender que dois elementos vitais, lua e maré, forçavam o adiamento por prazo igual a um mês.)

[…]

“Enquanto isto, arrastava-se a luta difícil e indecisa em Anzio e nas montanhas italianas, sem oferecer esperanças nem de um sucesso em curto prazo, nem de uma consequente diminuição das necessidades em homens e navios. Simplesmente não havia o suficiente para todos. Todavia, no dia 24 de março, após a segunda solicitação do General Wilson, os americanos afinal concordam em adiar Anvil para julho e transferir do teatro de operações do Mediterrâneo as embarcações de assalto solicitadas por Overlord. Ora, esses desentendimentos entre os aliados nada significavam se comparados com o que acontecia entre os ingleses. No dia 4 de março o General Ismay, o leal e astuto chefe do estado-maior de Churchill, escreveu-lhe anunciando que:

'… deparamo-nos com toda a certeza com um choque de opinião entre o Gabinete de Guerra e seus assessores militares; não se pode descartar a possibilidade de alguns assessores solicitarem demissão. Na atual conjuntura uma divergência desse vulto, indesejável em qualquer ocasião, configuraria uma catástrofe. Todos consideram Overlord uma operação bastante arriscada. É preciso proporcionar a ela todas as oportunidades de sucesso.'


Quando Ismay escreveu 'o Gabinete de Guerra', evidentemente estava querendo dizer 'o Primeiro-ministro'. Relembrando 1940, o charuto, o 'V' feito com os dedos, as mensagens radiofônicas vibrantes, o cidadão comum não poderia imaginar quão perigosamente perto do rompimento estavam as relações entre o Primeiro-Ministro e seus Chefes de Estado-Maior, e isto apenas três meses antes do Dia D, acontecimento que coroaria o desempenho de Churchill como Grande Comandante.”
pp. 275-278


fonte: LEWIN, Ronald. Churchill – O Lorde da Guerra. Trad. Cel. Álvaro Galvão. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1979.



mais info em

Operation Shingle – Battle of Anzio – janeiro 1944




Batalha em Monte Cassino – Itália, janeiro – maio 1944



Operation Culverin – planejada para a Sumatra



Operation Overlord – Battle of Normandy – junho 1944



Operation Dragoon – ou Anvil - sul da França – agosto 1944




História do COSSAC




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