terça-feira, 13 de agosto de 2013

Preparação da FEB - Brasil na SGM










Capítulo XVI – Primeiro aniversário da guerra

No dia 22 de agosto, o movimento patriótico promoveu, em todo o país, comemorações do primeiro aniversário da entrada do Brasil na guerra. Contou com o apoio das emissoras de rádio dos estados, em número de 98 estações, que prepararam programas especiais com noticiários, crônicas cívico-patrióticas, hinos, marchas e radioteatralização dos episódios mais marcantes daqueles dias dramáticos de agosto de 1942. Também foi transmitida pelo DIP [Departamento de Imprensa e Propaganda], em cadeia para todo o Brasil, uma missa campal celebrada na praia do Roussel, com a presença do presidente da República, ministros de Estado e demais autoridades civis e militares. A BBC de Londres irradiou um programa especial de saudação ao nosso povo.” (p. 191)

Segundo aniversário da entrada dos EUA na guerra – “O movimento patriótico preparou-se para comemorar, a 7 de dezembro de 1943, o segundo ano da entrada dos Estados Unidos na guerra, com grandes manifestações de massa, acobertado pelo prestígio deste país junto ao governo brasileiro. Queria, assim, interromper a proibição de manifestações populares, nas ruas e nas praças públicas, que a chefia de Polícia federal vinha mantendo em quase todo o Brasil.

A Liga de Defesa Nacional, a União Nacional dos Estudantes, a Associação Brasileira de Imprensa e a Federação das Indústrias do Brasil tinham programado uma grande manifestação antinipônica e antifascista, no Rio, em frente à Embaixada Americana, mas a mesma foi proibida pela polícia.

Com uma nota à imprensa, essas entidades justificaram a suspensão das homenagens
levando em consideração as palavras do Presidente Roosevelt, quando proclamou o dia da traição de Pearl Harbor como o Dia da Infâmia, impróprio a qualquer manifestação que envolva entusiasmo cívico e só merecedor do esquecimento por parte dos que prezam a dignidade humana, reafirmando, no entanto, seus sentimentos de enérgica repulsa ao Eixo e de fraternal e incondicional solidariedade ao governo e povo dos Estados Unidos. (fonte: jornal Estado da Bahia [Agência Nacional], Salvador, Bahia, edição de 06/12/43.)” (p. 198)

Capítulo XVII – A oposição e a violência da ditadura – “Latente no país desde a implantação do Estado Novo, o movimento de oposição à ditadura ficou cindido depois da declaração de guerra. Enquanto comunistas, antifascistas, grande parte do movimento estudantil e quase a totalidade do movimento sindical e das classes produtoras defendiam a política de união nacional contra o nazi-fascismo sem Getúlio, tendo como foco principal parte do movimento estudantil (Centro XI de Agosto) de São Paulo e das correntes liberais e conservadoras daquele estado e de Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e outros.

Esses setores da opinião pública nacional não haviam compreendido que a vitória dos aliados e o envio da Força Expedicionária Brasileira aos campos de batalha levariam seguramente ao fim do regime ditatorial.” (p. 201)

Finalmente, sai o Manifesto dos Mineiros, datado de 24 de outubro de 1943, para marcar os ideais da Revolução de 1930; na verdade, o que faz é defender toda uma ideologia da classe dominante, liberal externamente e conservadora na essência:

Queremos alguma coisa além das franquias fundamentais, do direito de voto e do habeas-corpus. Nossas aspirações fundam-se no estabelecimento de garantias constitucionais, que se traduzam em efetiva segurança econômica e bem-estar para todos os brasileiros, não só das capitais, mas de todo o território nacional.

E conclui:

Se lutamos contra o fascismo, ao lado das Nações Unidas, para que a liberdade e a democracia sejam restituídas a todos os povos, certamente não pedimos demais reclamando para nós mesmos os direitos e as garantias que as caracterizam.

Assinam o manifesto Adauto Lúcio Cardoso, Afonso Arinos de Mello Franco, Afonso Pena Junior, Djalma Pinheiro Chagas, Mário Brandt, Milton Campos, Virgílio de Mello Franco, Pedro Aleixo e muitos outros. A sua publicação clandestina alcançou um enorme sucesso. Mas o governo quer prender seus signatários e não tem força, pois todos são pessoas de destaque (o contrário se dá com comunistas e estudantes); assim, ele pressiona para prejudicar cada um individualmente; os que trabalham em cargos oficiais são despedidos, os outros perdem seus empregos.” (p. 203)

Mais sobre o Manifesto dos Mineiros em


Capítulo XVIII – Preparação da FEB – “A decisão do governo brasileiro em enviar um corpo expedicionário à Europa foi muito lenta. Embora o presidente Vargas tivesse assumido junto ao presidente Roosevelt, no encontro de Natal, em janeiro de 1943, o compromisso de o Brasil participar da guerra com um contingente de tropas, ele foi boicotado pelo próprio governo.
Além da resistência militar, de ordem interna, a essa importante decisão, ocorria uma situação muito delicada, de ordem externa: o comando do Exército dos EUA guardava algumas reservas sobre a conveniência da participação do Exército brasileiro na guerra. As restrições ao projeto militar do Brasil eram ainda mais fortes por parte do governo britânico, que mantinha, a esse respeito, um posicionamento abertamente contrário.
Mas ‘a pressão da sociedade brasileira foi muito forte, o que levou Getúlio a transformar o envio da FEB numa espécie de pedra de toque de seu Governo’ [fonte: William Waack, As duas faces da glória. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985, p. 27].
Para encaminhar as negociações, em agosto de 1943, o presidente Vargas decidiu mandar aos Estados Unidos, a convite deste país, o ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, chefiando uma delegação militar. Com essa viagem, Getúlio Vargas desejava atingir dois objetivos. O primeiro, da mais alta relevância, seria dar um passo seguro para a definição do magno problema relativo à organização de uma força expedicionária, envolvendo e comprometendo definitivamente seu vacilante ministro da Guerra. O segundo, de menor importância, visava superar a crise interna que se esboçara no final do mês de julho entre os generais Dutra e Manoel Rabello, provocada pela contundente entrevista concedida por este à revista Seiva, na qual criticava abertamente a condução do esforço de guerra pelo ministro Eurico Dutra.” (pp. 211-12)

A designação do general João Batista Mascarenhas de Moraes para organizar e instruir a 1ª Divisão de Infantaria do Exército somente foi efetivada a 28 de novembro de 1943. A partir desta data, acelerou-se o projeto de preparação da força expedicionária.” (p. 213)

Para enfrentar as dificuldades de adaptação dos nossos soldados ao modelo norte-americano, o Exército brasileiro enviou vários oficiais a estágios nos EUA. E entre os primeiros encontravam-se os generais Euclides Zenóbio da Costa, Canrobert Pereira da Costa, Oswaldo Cordeiro de Farias e Falconiére da Cunha.
O general Mascarenhas de Moraes foi também visitar as prováveis frentes de combate onde deveriam atuar as forças brasileiras. Sua comitiva partiu a 6 de dezembro de 1943 e fora integrada pelos seguintes oficiais brasileiros e norte-americanos: major general J.G. Ord e capitão Vernon Walters; general-de-brigada Anor Teixeira dos Santos, coronel-aviador Vasco Seco, coronel médico Dr. Emanuel Marques Porto, tenente-coronel I. E. Sebastião de Carvalho, tenente-coronel Ademar de Queiroz, tenente-coronel-aviador Nelson Wanderley, major Aguinaldo José Senna Pinheiro, major-aviador Rube Canabarro, major-aviador Presse Bello e capitão Paulo Ferreira Pará. Estiveram no Norte da África e na Itália, percorrendo nestes países as frentes de combate e entrando em contato com os chefes militares aliados daquele Teatro de Operações [fonte: Marechal J.B. Mascarenhas de Moraes, A FEB pelo seu comandante. São Paulo, Instituto Progresso Editorial S.A., 1947, p. 28].” (p. 214)

A FEB como projeto militar e político – No início de 1944, ao contrário do que ocorrera quando foi declarada a guerra, em agosto de 1942, as forças armadas brasileiras estavam seriamente empenhadas na organização de um corpo expedicionário e queriam vê-lo na Europa, ainda a tempo de participar da abertura da segunda frente. O envio da FEB transformou-se, no final de 1943, num objetivo de excepcional importância política para o governo do presidente Vargas, em torno do qual havia total unanimidade, tanto no âmbito do aparelho governamental como no da opinião pública. A influente facção pró-germânica do governo já estava convencida de que a vitória pendia para os aliados, sendo de grande interesse para o Brasil a contribuição do Exército brasileiro para alcançá-la, estando ela no comando. Somente a quinta-coluna persistia no seu trabalho de espionagem e sabotagem ao esforço de guerra.

Os primeiros dias do ano foram marcados por intensa movimentação militar, no sentido de se visitar e conhecer o terreno onde a tropa iria lutar.” (pp. 219-20)

Como EUA e Grã-Bretanha viam a FEB – Inicialmente, o governo dos EUA não desejava a participação militar do Brasil na África ou na Europa. Quando o presidente Vargas, em janeiro de 1943, durante o encontro de Natal, externou ao presidente Roosevelt o propósito do Brasil em contribuir com forças militares para o Teatro das Operações, este não tomou a declaração ao pé da letra. Por outro lado, Getúlio Vargas, ao proclamá-la, não o fazia com sinceridade. Em janeiro de 1943, a guerra ainda não estava decidida a favor das ações Unidas e tudo indicava que governo e Exército jamais tomariam qualquer medida para a entrada do Brasil no conflito.

Mas, em janeiro de 1944, o governo Vargas estava absolutamente empenhado no envio de uma Força Expedicionária à Europa, e o governo norte-americano o apoiava inteiramente, apesar das restrições dos chefes de suas Forças Armadas. [...]

Com a posição dos governos ditatoriais da Argentina e da Bolívia fazendo uma coligação de clara tendência pró-Eixo, e com a ascensão do presidente Farrel da Argentina e do ministro da Guerra Juan Perón, o governo norte-americano chegou à conclusão de que deveria enfrentar aquela coalização, fortalecendo as defesas militares brasileiras na fronteira com o país platino.” (pp. 221-22)


Fonte: FALCÃO, João. O Brasil e a 2ª Guerra. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.



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