sexta-feira, 20 de abril de 2012





Posição das forças norte-americanas
no início de 1942
no cenário da Expansão Japonesa

No início da Guerra os comandantes norte-americanos precisavam tomar uma decisão crucial: qual o teatro de guerra que receberia a prioridade? Qual o ponto principal da estratégia global? A Europa-Atlântico Norte ou o Sudeste-Asiático-Pacífico?

Vejamos uma interessante fonte, o livro de Dexter Perkins,


[...] No fim do inverno de 1942 as forças inglesas foram obrigadas a evacuar a Tripolitânia numa retirada quase até a fronteira do Egito, e Mussolini se preparava quase, com a ajuda de seus amigos alemães, fazer uma entrada triunfal em Alexandria. Finalmente, nenhuma medida adequada tinha sido tomada contra os submarinos alemães que infestavam a costa do Atlântico e as águas das Antilhas. Navios eram afundados a trinta milhas de Nova York, ao largo das costas da Flórida e até nas proximidades do Canal do Panamá. Mais navios foram afundados do que construídos no período inicial da guerra.

Assim também tinha acontecido na I Guerra Mundial. 1917 tinha sido tão sombrio ou talvez ainda mais sombrio do que 1942. a ofensiva francesa sob o comando do General Nivelle em abril daquele ano tinha sido rechaçada e ocorriam motins no exército francês; no verão ocorreu a gradativa dissolução do poder russo; o outono testemunhou a derrota esmagadora dos exércitos italianos no Piave; e novembro assistiu à tomada do poder pelos bolcheviques e as primeiras iniciativas da Rússia para uma paz em separado com a Alemanha. Não obstante, um quadro mais amplo e uma perspectiva mais longa teriam uma história diferente para contar. E é um fato a ser lembrado que, pelo menos na História moderna, o poder de resistência das grandes democracias lhes granjeou uma vitória final. A margem de tempo pode não ser tão generosa no futuro; mas a consciência do perigo é mais viva nestes dias; e pelo menos pode-se dizer que os Estados Unidos não estão sujeitos a enfrentar uma nova guerra tão pouco preparados como estavam em 1917 ou mesmo em 1941.

O perigo dos japoneses era de certo modo o mais imediato e, apesar de muitos exemplos de bravura americana – a heróica defesa da fortaleza filipina em Bataan e de Wake - , havia muito pouco com que se contentar até maio e junho de 1942. nesses meses foram travadas as notáveis batalhas do Mar de Coral e de Midway, ambos novos na história da guerra marítima. Toda a ação no Mar de Coral foi levada a efeito com o auxílio de porta-aviões e nenhuma armada jamais avistara outra. Em Midway, embora os bombardeios de base terrestre na ilha de possessão americana desempenhassem um papel valoroso, mais uma vez aos porta-aviões tocou o papel principal. A batalha do mar de Coral infligiu aos japoneses pesadas perdas – perdas, entretanto, que quase foram compensadas pelas americanas; mas Midway foi de certo modo o ponto decisivo da guerra no Pacífico. Essa batalha desmantelou a força de uma frota japonesa de invasão que visava Havaí; ela pôs fim às ofensivas japonesas no Pacífico.

Entrementes a questão central tinha de ser respondida em Washington. Qual deveria ser a grande estratégia da guerra: deveria ser o maior esforço voltado contra a Alemanha ou contra o Japão? Não é que, naturalmente, alguém advogasse a inércia em um campo e empenho total no outro: a questão era relativa, mas, não obstante, de importância transcendente. Ficou decidido que em princípio a Alemanha era o inimigo mais perigoso. Esse foi o parecer dos assessores militares de maior confiança do Presidente; mas, pelo menos numa ocasião em que estiveram inclinados a enfraquecer, foram reforçados pelo próprio Presidente. Retrospectivamente, o argumento parece conclusivo para este autor: na Europa os Estados Unidos tinham aliados efetivos; na Ásia só Chiang Kaichek [na China], muito ineficiente, e o poder abalado da Grã-Bretanha. Além disso, na Europa os Estados Unidos enfrentavam uma força cujos poderosos recursos tecnológicos e engenho poderiam ser usados, com o progresso da ciência, para aterrorizar o Mundo.

Quase não é preciso dizer que o Primeiro-Ministro Winston Churchill aprovou essa decisão; na verdade, não perdeu tempo depois de Pearl Harbor atravessando o Atlântico para instar junto a Roosevelt por essa linha de ação. E desse modo foi iniciada a íntima associação desses dois homens notáveis e uma intimidade que, apesar de profundas divergências de pontos de vista (pois Churchill era fundamentalmente um tóri e imperialista e Roosevelt um liberal e anticolonialista), durou, com apenas algumas rugas ocasionais, até a morte do presidente.

Mas, admitido que a guerra na Europa tivesse prioridade, como seria atendida? Os chefes americanos nesse ponto, desde o início, tinham uma ideia clara do que queriam: uma invasão maciça do continente através do Canal da Mancha, que absorveria uma imensa quantidade de alemães, enquanto os russos os manteriam igualmente ocupados a leste. Para Churchill essa perspectiva era menos convidativa; ele se lembrava dos dias da triste guerra de trincheiras de 1914 e das perdas desconcertantes naquela guerra. Embora nunca ousasse – ou talvez desejasse – opor-se ao plano americano, era extremamente cauteloso com o que fosse programado ou resolvido, como veremos, para alarmes e excursões em outras áreas. Foi em parte por causa dele, em parte porque era impossível invadir com êxito a França em 1942, e por ser evidentemente necessário fazer alguma coisa, que a invasão da África do Norte foi decidida para o outono daquele ano.”

pp. 143-146


fonte: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932-1945. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1967. trad. Edilson Alkimim Cunha



Expansão Japonesa


Enquanto a indústria e as forças armadas norte-americanas se preparavam, os japoneses avançavam na Ásia e Pacífico, até as beiradas do Mar Índico e norte da Austrália. Mas as forças japonesas mostravam debilidades.

Vejamos a História Ilustrada da II Guerra sobre o avanço japonês,


“Com a tomada de Rabaul no arquipélago Bismarck (janeiro de 1942), a ocupação de Lae e Salamaua na costa setentrional da Nova Guiné (março) e de parte das ilhas Salomão, o sistema de defesa marítimo japonês chegou à sua máxima expansão. No Pacífico, a potência militar do japão se ampliou com a força de um maremoto, das fronteiras da Índia até os limites da Austrália. As praças-fortes 'brancas' (Hong Kong, Rangum, Manila, Cingapura, Java, Corregidor) caíram uma após outra. O tremendo estrépito das derrotas aliadas parece fazer soar a hora do fim da tutela dos imperialismos europeus sobre as populações asiáticas.

Em abril de 1942 a Marinha e a aviação japonesa no Ceilão (atual Sri Lanka) fazem sua última incursão para conquistar o controle sobre o oceano Índico. A operação foi um fracasso, porque o Eastern Fleet britânica abandonou a região em tempo e encontrou refúgio perto da costa africana. Um mês antes os submarinos de Tóquio tinham chegado até Madagascar. A vitória final, depois do ansiado choque decisivo com a frota americana no Pacífico, parece estar no alcance das mãos do Japão.

A Esfera de Coprosperidade Asiática

Uma vez garantido o sucesso militar, o japão pode dar continuidade a seu projeto de subjugação militar e política da área. Do conceito de 'esfera de prosperidade comum da grande Ásia oriental' que Tóquio proclamou em 1942 surgem com clareza os objetivos de dominação imperialista nessa área do mundo. Tendo surgido nos ambientes nacionalistas do Exército e da Marinha japoneses antes do conflito, a noção de 'coprosperidade' espelha a convicção do país de exercer seu domínio absoluto na Ásia. O Japão deve atestar sua superioridade moral, cultural e econômica que seus exércitos obtiveram com a força militar sobre o 'individualismo e o materialismo ocidentais'.

A 'nova ordem' desejada pela política pan-asiática de Tóquio não tarda, porém, em demonstrar-se coisa bem diversa da perspectiva da independência – embora sob tutela – ansiada por muitas populações no momento da queda de administrações que duraram séculos. Embora tenha destronado o colonialismo europeu na Birmânia, na Malásia e na Indonésia, o Japão instaura regimes fantoches aos quais confia com brutalidade a tarefa de explorar os recursos vitais para a economia imperial. A 'niponização forçada' das populações submetidas trai as expectativas de todos aqueles que saudaram a chegada de um exército do qual se esperava uma administração rigorosa e eficaz, mas que que de libertador se transforma rapidamente em rapinante força de ocupação.


Os Pontos Fracos do Japão

As fulgurantes vitórias militares japonesas se apoiam em bases frágeis. Uma das principais razões que induziram o país a entrar em guerra com o ataque de surpresa a Pearl Harbor é a necessidade de evitar o estrangulamento econômico derivado do embargo americano aos materiais estratégicos. A conquista de grandes territórios não consegue, porém, eliminar a enorme diferença de recursos entre o Japão e os Aliados, e a economia de guerra de Tóquio é afetada pro graves carências. Não só porque não foram acumuladas consideráveis reservas de matérias-primas e de materiais para gerir a defesa e a administração de enormes territórios (a dependência do Japão das importações de petróleo é calculado em cerca de 90% de suas necessidades), mas também porque, apesar da conquista das jazidas indonésias, as necessidades bélicas de Tóquio são muito superiores à disponibilidade do óleo cru exigido. Aos cerca de 1,2 milhão de soldados aquartelados na China deve-se acrescentar outro 1,5 milhão de soldados das tropas dos governos fantoches, que necessitam de suprimentos nos territórios ocupados.

No momento de seu máximo esforço, em 1943, o Japão produz menos de nove milhões de toneladas de aço (contra 12 da Grã-Bretanha e 80 milhões dos Estados Unidos). Sua produção de minérios (cobre, ferro, manganês, carvão coque) é, em média, 50 % inferior às necessidades bélicas. Aumenta o racionamento dos produtos alimentícios para uma população nacional (cerca de 73 milhões) cujas necessidades alimentares não podem ser satisfeitas pela produção agrícola nacional nem pelas 'ofensivas do arroz' que as tropas de ocupação realizam periodicamente para requisitar colheita nas áreas agrícolas chinesas.

A produção de guerra do Japão sofre com a escassez de mão de obra qualificada; nem a mobilização de mulheres e adolescentes conseguirá preencher as lacunas de seu aparato industrial. O Produto Nacional Bruto cresce um quarto durante o conflito, mas as despesas de guerra aumentam cinco vezes. No fim do conflito, a população do país se encontrará à beira da fome. O Japão olha para a guerra em termos exclusivamente militares: os comandos supremos de Tóquio não consideram que a defesa de enormes conquistas territoriais dependerá especialmente do esforço econômico e produtivo do país.

Se a principal fraqueza das instalações defensivas do Japão reside – como foi visto – em sua economia, é transparente a diferença que o separa da economia industrial mais eficiente do século, isto é, a dos Estados Unidos.

Com um exército que até aqui deu provas de uma extraordinária capacidade de combate, o Japão se verá irremediavelmente prejudicado por graves carências que, graças a um formidável aparato de segurança, são ocultadas não só da população do país, ms também da espionagem ocidental.”


pp. 160-62, 164-65


fonte: FIORANI, Flavio. História Ilustrada da II Guerra Mundial. Volume 2. São Paulo: Larousse, 2009. trad. Ciro Mioranza




seleção : LdeM


mais info em


batalha do Mar de Coral





batalha de Midway





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