segunda-feira, 9 de abril de 2012

Holocausto - guetos, deportações para campos de concentração



A sistemática da eliminação

livro: Treblinka / J F Steiner


Prefácio de Simone de Beauvoir (trechos)

Uma preparação psicológica subitamente condicionada pelos SS assegurava a submissão dos condenados.”

Em Treblinka instalara-se um Sonderkommando, formado originalmente por judeus de Varsóvia, dos quais uma grande parte foi massacrada e substituída por outros que chegavam; em número aproximado de um milhar, sob as ordens dos alemães e vigiados por guardas ucranianos, executavam as tarefas de extermínio e de recuperação para as quais fora o campo criado.”

O conluio com os alemães das altas autoridades judias que constituíam o Junderat é fato conhecido e de fácil explicação: em todos os tempos e países – com raras exceções - , as altas autoridades colaboram com os vencedores: questão de classe.”


Alguns judeus se rebelaram – em resistência – tanto em Varsóvia quanto em Treblinka – mas era rapidamente dispersos nas seleções para extermínio. É uma amostra (ainda que de insucesso) de que os judeus não eram um “rebanho que se deixava conduzir ao matadouro”.

A despeito dos fracassos e das tentações de desespero, o comitê resistiu. […] Os membros do comitê [de resistência] haviam feito o sacrifício de suas vidas: seu papel seria o de reter os alemães enquanto os prisioneiros fugiriam para a floresta.” (Simone de Beauvoir)


Cap. I de Treblinka (Steiner) (p. 21)


Não conseguindo fazer emigrar todos os judeus que desejavam afastar do seu império, os fundadores do 'Reich de mil anos' resolveram exterminá-los.

A invasão da URSS, em junho de 1941, deu ao problema suas verdadeiras dimensões. Nos territórios ocupados pela Wehrmacht, na Polônia, na Ucrânia, na Bielo-Rússia, nos Estados Bálticos, vivia uma população judaica de vários milhões de homens. Em consequência, o Reichsführer SS Heinrich Himmler baixou a ordem de 'tratar' as terras novas conquistadas pelo Terceiro Reich na sua expansão rumo ao leste.

A operação devia processar-se em duas fases. Primeiro tempo: reagrupamento dos judeus num certo número de guetos. Segundo tempo: liquidação progressiva dos guetos assim criados. Segundo os 'técnicos', os judeus, raça inferior, devia deixar-se massacrar sem resistência. A perfeição do sistema nazista excluía a menor possibilidade de uma revolta.

Assim começou o tempo do gueto, primeira etapa da 'solução final'.

O reagrupamento dos judeus não apresentava praticamente qualquer problema. O anti-semitismo das populações autóctones era tal que os judeus chegavam mesmo muitas vezes a aceitar esse operação com alívio.” (p. 21)

Os judeus do leste não acreditavam na crueldade dos alemães – 'ora, um povo educado, tão culto!' - mas não sabiam que não eram os filósofos e músicos no poder, mas os milicianos racistas – os SS, os SD, a Gestapo.

O Judenrat procurava abafar as notícias dos fuzilamentos, para assim evitar o pânico – o Judenrat precisa manter os judeus sob controle – para facilitar o trabalho aos 'técnicos' da SS. (cap. 2) Os judeus da resistência (em dezembro de 1941, janeiro de 1942) buscavam algum contato com outro resistentes anti-nazistas.

Entrara-se em contato com todas as outras organizações: Poale Sion (partido operário sionista socialista), Bund (socialista não-sionista), Bétar (juventude sionista extremista) e comunistas.” (p. 54, cap. 3)


Enquanto o 'gueto-piloto' de Vilna fora um sucesso no 'tratamento prévio' dos judeus, Ponar, por outro lado, não dera plena satisfação aos 'técnicos'. As fraquezas do sistema tornaram0se rapidamente aparentes. Elas condenavam-no a ser utilizado exclusivamente em campos de interesse local do tipo Babi Yar para o 'tratamento' dos judeus de Kiev, ou Janowska para o dos judeus de Lwow.

As insuficiências do sistema – que eram de dois tipos, técnicas e psicológicas – decorriam do modo como era praticada a execução: o fuzilamento, que de um lado não permitia senão um rendimento muito baixo e de outro criava entre carrasco e vítima laços prejudiciais ao moral do primeiro.” (p. 73, cap. 5)

Cumpria inventar uma máquina de eliminação. Com o espírito metódico que os caracterizava, os 'técnicos' definiram-lhe o 'caderno de encargos'. Ela devia ser discreta para não despertar inquietação entre as vítimas e curiosidade entre as testemunhas, e eficaz para estar à altura dos projetos grandiosos dos promotores da operação 'solução final'; devia ainda reduzir a manutenção ao mínimo e, finalmente, proporcionar à vítimas uma morte suave.

Longos meses se passaram até que ecoasse o legendário 'Heureca!'

Foi um tal de Becker o responsável pelo grito famoso. Concebera um caminhão no qual o cano de descarga desembocava no interior da parte traseira, que era hermeticamente fechada. As vítimas eram asfixiadas pelo monóxido de carbono. [...]” (p. 74)

Os 'técnicos' deixaram-se imediatamente seduzir pela simplicidade e racionalidade do projeto, e trataram de pô-lo em prática sem mais delongas. Os primeiros caminhões de gás foram colocados em serviço no início da primavera de 1942. sua breve carreira resultaria numa sequência de dissabores para o pobre Becker.

Não fazia ainda um mês que os caminhões tinham começado a substituir os fuzis, e em Berlim as queixas começavam a chover de todos os lados. A crítica que aparecia em todos os relatório dizia respeito às más condições em que morriam as vítimas, […] “ (p. 75)


O gueto de Varsóvia era uma formidável concentração de quatrocentos mil judeus. Seu extermínio exigia a concentração de instalações proporcionais. O caminhão 'Becker' com seus quinze ou vinte lugares – de acordo com o modelo -, não podia pretender assumir tão pesado encargo. Os 'técnicos' recomeçaram a procurar. […] A solução não se fez esperar. Um 'pesquisador', cujo nome infelizmente não foi conservado, teve a ideia de colocar o caminhão 'Becker' num campo do tipo Ponar. […] Era preciso construir um local hermeticamente fechado, alimentado a gás por um motor. Nascia assim a primeira câmara de gás. Seria longa ainda a estrada a percorrer até as ultramodernas câmaras de Auschwitz, funcionando na base do Ciclon B; mas o caminho estava aberto. […] (p. 76)

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trechos de “O Pianista” (1946) de Wladyslaw Szpilman (Polônia)
tradução de Tomasz Barcinski (Rio de Janeiro: Record, 2003)


Cap. 4 – O Gueto

Na segunda quinzena de novembro [1939], os alemães, sem qualquer explicação, começaram a isolar o lado setentrional da rua Marszalkowska com cercas de arame farpado. No final do mês surgiu um edital, no qual ninguém de início queria acreditar. Ultrapassava as nossas mais negras previsões; entre 1 e 5 de dezembro, todos os judeus deveriam munir-se de braçadeiras brancas com uma estrela-de-davi bordada em azul e branco. Dessa forma iríamos ser estigmatizados e diferenciados publicamente como seres 'destinados ao repúdio'. O edital eliminava vários séculos de avanços humanos, substituindo-os por métodos da mais negra Idade Média.

[…]

Nesses dias gélidos começaram a chegar a Varsóvia trens com judeus deportados da parte ocidental da Polônia. Apenas uma parcela deles chegava ao seu destino com vida. Eram embarcados em vagões selados, destinados ao transporte de gado – as pessoas ficavam enclausuradas sem comida, água ou calefação por dias e dias. Quando os trens chegavam ao seu destino, somente a metade delas ainda estava viva, e mesmo assim com terríveis ulcerações. Os demais, rígidos pelo frio, estavam em pé entre os vivos e caíam por terra, mortos, quando os vagões eram abertos.

Parecia que a situação não poderia piorar. Assim pensavam somente os judeus, pois os alemães tinham outra opinião. De acordo com a sua tática de implementar cada vez mais terror, emitiram novos decretos. O primeiro deles determinava a deportação para trabalhos forçados em campos de concentração, onde os judeus receberiam uma educação social, que lhes permitiria deixar de ser os 'parasitas do sadio organismo da raça ariana'. Referia-se a todos os homens válidos, com a idade entre doze e sessenta anos, bem como às mulheres entre quatorze e quarenta e cinco anos. O segundo decreto descrevia o processo de registro e da deportação. Os alemães não queriam se ocupar com isso e delegaram essa função ao Conselho Judaico. Teríamos que ser os nossos próprios carrascos, preparar o nosso extermínio nós mesmos, executar algo como um sancionado suicídio coletivo. A deportação foi planejada para o início da primavera [i. e. Março/abril 1940].” (pp. 50-51)

}}} Em 10 de maio, não uma ofensiva aliada, mas uma ofensiva alemã que dividiu e derrotou os aliados em menos de um mês!


Vejam o link para o meu primeiro blog sobre a Segunda Guerra Mundial




O gueto ('organizado' até o fim de 1940) era então chamado de 'bairro especial'.

Os portões do gueto foram cerrados no dia 15 de novembro. […] Numa área já superpovoada há anos, que podia abrigar, no máximo, cem mil pessoas, teriam que viver agora mais de meio milhão.” (pp. 55-56)

Os alemães continuaram a caçar seres humanos para trabalhos forçados como se fossem animais em todos os territórios da Europa por eles conquistados. Talvez a única diferença fosse o fato de que , no gueto de Varsóvia, essa atividade foi interrompida na primavera de 1942. As suas vítimas iriam ter outro destino, […]

As fronteiras do gueto foram se estreitando. Sua área foi sendo sistematicamente diminuída, a exemplo do que ocorria nos territórios da Europa, onde os alemães, ao conquistar um país, criavam uma fronteira, dividindo-o em dois – um território livre e outro ocupado. […]” (pp. 57-58)


fonte: SZPILMAN, Wladyslaw. O Pianista. Rio de janeiro: Record, 2003. trad. Tomasz Barcinski.



O Gueto de Varsóvia (continuação)

O gueto fora dividido em duas partes: o grande e o pequeno. O pequeno gueto estava confinado pelas ruas Wielka, Sienna, Zelazna e Chlodna, e tinha, após a última redução, apenas uma ligação com o grande: na junção das ruas Zelazna e Chlodna. O grande gueto ocupava toda a parte setentrional de Varsóvia, com um mundo de fedorentas ruelas e de becos repletos de judeus paupérrimos, apinhados em meio à miséria e à sujeira. No pequeno gueto vivíamos também apertados, mas de uma forma ainda razoável. Em cada quarto viviam três, no máximo quatro pessoas. Nas ruas, andando com atenção, era possível passar sem esbarrar em outros. E mesmo se isso viesse a acontecer, não resultava daí qualquer perigo; no pequeno gueto viviam basicamente os intelectuais e a alta burguesia, relativamente pouco piolhentos, livres dos insetos que pululavam no grande gueto. O verdadeiro pesadelo iniciava-se quando se deixava para trás a rua Chlodna.” (p. 61)


O inverno de 1941-1942 foi especialmente difícil para o gueto. As pequenas ilhas do aparente bem-estar da intelectualidade judaica e da opulência dos especuladores eram minadas por um mar de judeus miseráveis, já completamente exauridos pela fome, cheios de piolhos e expostos ao frio terrível. O gueto estava infestado por insetos e não havia como evitá-los. […]

diante disso, o surgimento de uma epidemia de tifo no gueto não chegou a ser uma surpresa. O número de mortos chegava a cinco mil por mês. O tifo passou a ser assunto da conversa de todos – pobres ou ricos. […]

(pp. 76/77)

As deportações para Treblinka começaram em abril de 1942, com a cumplicidade da 'polícia judaica' (do Conselho Judaico, Judenrat). Citemos.

Ao anoitecer fomos informados de que o toque de recolher tinha sido adiado para meia-noite, a fim de que as famílias dos 'enviados para trabalho' tivessem tempo suficiente de lhes trazer cobertores, roupas e comida para a viagem. Tal 'generosidade' dos alemães era com certeza comovente. Os policiais judaicos, por sua vez, a citavam com o intuito de adquirir nossa confiança.

Somente muito tempo depois vim a saber que os mil homens aprisionados naquela ocasião foram enviados, diretamente do gueto, para o campo de concentração em Treblinka, onde serviram de cobaias para os recém-construídos fornos crematórios e câmaras de gás.” (p. 86)

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seleção : LdeM

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mais info em :

video sobre a Conferência de Wannsee (1942)
http://www.youtube.com/watch?v=aCCDcMF_444
http://www.youtube.com/watch?v=U-aj3drLcuQ&feature=related

HBO filme
http://www.youtube.com/watch?v=qfHHZWe7Qwc&feature=related

BBC Final Solution
http://www.youtube.com/watch?v=a6jnawYwm3E&feature=related

filme alemão (Wannseekonferenz)
http://www.youtube.com/watch?v=eGeaoUO0gfo&feature=related


Campos de Concentração / Extermínio
videos
http://www.youtube.com/watch?v=ofqK4iDVj6w&feature=related

sobre Auschwitz
http://www.youtube.com/watch?v=4BEglP6xuxs&feature=related


O fim dos ghettos
http://www.2guerra.com.br/sgm/index.php?option=com_content&task=view&id=590&Itemid=49


A Burocracia do Extermínio:

Eichmann in Israel - julgamento
http://www.youtube.com/watch?v=T3InADUFzX4&playnext=1&list=PL8356E8541CD01270

mais sobre Adolf Eichmann
http://www.youtube.com/watch?v=9wqSAb0ZAn8&feature=related

Eichmann (movie 2007)
http://www.youtube.com/watch?v=5x0qnEZ0nWY&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=L_GjL6DXlPk&feature=related

trecho do interrogatório
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/people/e/eichmann.adolf/eichmann.006
sobre o livro Eichmann Interrogated
http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9E03EED71539F935A25754C0A965948260


Videos de Revisionistas
http://www.youtube.com/watch?v=KeMqWqdrfz4&feature=related

Judgement at Nuremberg (movie, 1961)
http://www.youtube.com/watch?v=GagXIYvnY1s

mais sobre os Julgamentos de Nuremberg
(documentário russo)
http://www.youtube.com/watch?v=FPXc8JjtidM&feature=related


filmes
 O Pianista
http://www.youtube.com/watch?v=A-GIOmbGoOM

O Menino do Pijama Listrado
http://www.youtube.com/watch?v=j3fK0p3x0RE&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Shypz2_NshM&feature=fvwrel

Rosenstrasse (movie, 2003)
http://www.youtube.com/watch?v=Dyk48PH4y8s&feature=related

Ghetto (movie, 2006)
http://www.youtube.com/watch?v=7Q2vD0KaIi4&feature=related

Uprising (movie, 2001)
(o Levante do Ghetto de Varsóvia)
http://www.youtube.com/watch?v=4uIiMWxfUgI



livros

A Indústria do Holocausto
(Norman Finkelstein)
http://en.wikipedia.org/wiki/Holocaust_industry
http://www.vho.org/aaargh/port/norman.html
http://www.revistabula.com/posts/livros/historiador-denuncia-a-industria-do-holocausto


videos
http://www.youtube.com/watch?v=5BaJCRXsgt4

http://www.youtube.com/watch?v=TCKTKMFTprM


Mais Revisionismo

http://verdadehistorica.wordpress.com/category/s-e-castan/page/2/

http://www.youtube.com/watch?v=EIB-Q6sH9vY&feature=related

http://forumnacionalista.forumeiros.com/t512-revisionismo-castan




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REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil.
Nova York: Viking Penguin, Inc., 1963; Penguin Books, 1965.

BAUMAN, Janina. Inverno na Manhã – Uma Jovem no Gueto de Varsóvia.
Rio de Janeiro, Jorge Zahar D., 2005.

BLACK, Edwin, IBM e o Holocausto. (IBM and the Holocaust, 2001)
Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2001. trad. Afonso Celso da Cunha Serra

GOLDHAGEN, Daniel Jonah. Hitler's Willing Executioners: Ordinary Germans and the Holocaust. Nova York: Alfred A. Knopf, 1996; Vintage Books, 1997.

HILBERG, Raul. The Destruction of the European Jews. Nova York: Quadrangle Books, Inc, 1961; Harper Colophon Books, 1979.

HOESS, Rudolf. Commandant of Auschwitz: The Autobiography of Rudolf Hoess. Trad. Constantine FitzGibbon. Nova York: Popular Library, 1959

REITLINGER, Gerald. The Final Solution: The Attempt to Exterminate The Jews of Europe, 1939-1945. Beechhurst Press Inc, 1958, Nova York: Perpetua, 1961.

STEINER, Jean François. Treblinka. Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1976. trad. Cristiano Monteiro Oiticica.

SZPILMAN, Wladyslaw. O Pianista. Rio de janeiro: Record, 2003. trad. Tomasz Barcinski.



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