segunda-feira, 5 de março de 2012

Frente Oriental - Reações soviéticas após a Defesa de Moscou


 
Frente Oriental


Reações soviéticas após a Defesa de Moscou
(dezembro 1941/ fevereiro 1942)


fonte: Zhukov. Marechal da União Soviética. Rio de Janeiro: Renes, 1976. trad. Alcídio M. de Souza. pp. 91-93.


Num exame crítico da situação, feito durante o inverno de 1941/42, Zhukov diz em suas memórias que os chefes, no alto comando, avaliaram de forma bastante incorreta a situação existente em Vyazma. Subestimaram a capacidade de recuperação dos alemães e, o que foi pior, ordenaram uma ofensiva (marcada para março) numa ocasião que os soldados estavam exaustos e se registrava aguda falta de material e equipamentos. Zhukov acrescenta que a situação era tão ruim, que cada vez que era convocado à Stavka, nada mais fazia senão suplicar a Stalin que lhe enviasse canhões anticarro, pistolas e, pelo menos, uma quantidade mínima de obuses e munição para suas peças de artilharia. O que quer que conseguisse, era rapidamente enviado às unidades mais necessitadas.

Zhukov recorda, ademais, a desesperadora situação em que vivia, no tocante à escassez de munições, citando estatísticas, a fim de provar o que assevera. Da munição planejada para ser entregue nos primeiros dez dias de janeiro, a Frente do Ocidente recebeu, apenas, um por cento de obuses de 82 mm e entre vinte e trinta por cento de obuses de outros tipos. Durante todo o mês, a quantidade recebida orçou em apenas 2,7 por cento dos obuses de 55 mm necessários, 36 por cento dos 120 mm, 55 por cento dos 82 mm e 44 por cento das granadas de artilharia.

A cota estatuída para fevereiro não foi entregue e dos 316 vagões de munições que deveriam ser entregues nos primeiros dias, nenhum foi enviado. A munição para os foguetes era tão escassa que as unidades que os utilizavam tiveram que ser enviadas para a retaguarda. “É difícil de acreditar”, lembra Zhukov, “mas tivemos que estabelecer limites de um ou dois tiros por canhão, por dia, e isto durante uma operação ofensiva!”


A 14 de fevereiro, Zhukov escreveu a Stalin: “A experiência de combate nos mostra que a escassez de munições impede o correto apoio da artilharia e, desde que o sistema de fogo inimigo não foi destruído, nossas tropas, ao atacar posições defensivas não neutralizadas, sofrem perdas pesadíssimas, sem obter os resultados desejados.”

A 1º de fevereiro, reconhecendo a multiplicidade de tarefas do Comando do Ocidente e a necessidade de assegurar maior coordenação entre as Frentes de Kalinin e do Ocidente, a Stavka restabeleceu o cargo de Comandante-Chefe do Comando do Ocidente e nomeou Zhukov para ocupá-lo, acumulando-o com suas obrigações de comandante da Frente do Ocidente.

À época em que a Stavka decidiu reforçar as Frentes do Comando do Ocidente, em fins de fevereiro e princípios de março, os alemães estavam reagrupando e reforçando suas unidades. As operações levadas a cabo pelos alemães em fins de fevereiro redundaram em pesado castigo para os russos. O já destroçado XXIX Exército, cercado pelas forças de Guderian durante os contra-ataques realizados no início daquele mês e reduzido a cerca de seis mil homens, só com muita dificuldade conseguiu romper o cerco, e assim mesmo deixando atrás de si toda a artilharia.

Tornava-se cada vez mais difícil para os exaustos soldados russos sobrepujar a resistência alemã. As frequentes solicitações de Zhukov, no sentido de que lhe fosse permitido conservar e consolidar suas posições, eram sumariamente recusadas. Stalin insistia em que se continuasse a ofensiva. “Se você não obtiver sucesso hoje, poderá obtê-lo amanhã. Se o inimigo não pode ser obrigado a recuar aí diante de nossos ataques, os resultados poderão fazer se sentir em outros setores da frente.”

Mas o curioso é que nenhum avanço foi feito, nem pela Frente de Kalinin, nem pela do Sudoeste. A Frente de Leningrado e a ala direita da Frente Noroeste estavam empenhadas em luta sangrenta, tanto quanto as unidades que combatiam na região meridional do país. “Apesar das perdas elevadas e da falta de resultados estratégicos”, recorda Zhukov com amargura, “a Stavka exigiu novamente, em diretiva enviada a 20 de março, que as missões anteriormente determinadas para as diversas Frentes tivessem prosseguimento, com renovado vigor. Mas com os insignificantes reforços recebidos, as Frentes do Comando do Ocidente não puderam cumprir a tarefa […]”.


Durante a contra-ofensiva de janeiro a março, as tropas da Frente do ocidente avançaram de 60 a 90 quilômetros, em alguns setores. Zhukov declara, no entanto, em suas memórias, que as forças soviéticas poderiam ter, inquestionavelmente, obtido resultados melhores, se lhe tivesse sido permitido concentrar maior quantidade de tropas em sua Frente, a fim de capitalizar o sucesso da contra-ofensiva iniciada em dezembro. As Frentes de Leningrado, Volkhov e Noroeste ficaram estacionárias, porque lhes faltaram homens e materiais necessários para abrir as defesas alemãs. Pela mesma razão, a ofensiva levada a cabo pelas Frentes Sudoeste e Meridional tiveram, também, fôlego curto.

Mesmo assim, concluiu Zhukov, esses problemas, de maneira alguma, podem minimizar a importância da vitória soviética na grande batalha que se travou diante de Moscou. A sangrenta campanha fez os alemães recurar, em média, cerca de duzentos e cinquenta quilômetros, nos vários setores que dominavam. A razão principal de não ter conseguido os soviéticos vencer em definitivo, diz Zhukov, pode ser encontrada na escassez de blindados. Sem eles, como a própria guerra evidenciou, torna-se impossível levar a termo operações ofensivas com objetivos definidos e em larga escala. Somente com tanques poderosos e formações mecanizadas “é possível flanquear o inimigo com rapidez, penetrar em sua retaguarda e, depois, cercar e dizimar suas unidades.”

Zhukov saíra vitorioso das batalhas que travara ao longo do ano de 1941 e nas campanhas do início do ano de 1942. Mas novas crises já se avizinhavam, e Stalin, insistentemente, o chamava para, às pressas, tentar resolvê-las.”



fonte: Zhukov. Marechal da União Soviética. Rio de Janeiro: Renes, 1976. trad. Alcídio M. de Souza. pp. 91-93.



seleção: LdeM



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