Reações do Afrika Korps após a derrota
na Operação Crusader aliada
Janeiro - Março 1942
Após a Operação Crusader (novembro e dezembro de 1941), a ofensiva aliada contra as forças do Eixo (italianos e alemães), o Afrika Korps foi obrigado a recuar, devolvendo muito terreno aos atacantes. As tropas do general Rommel, perseguidas de Gazala a Bengazi, acabaram por se render em janeiro de 1942.
No livro de Kenneth Macksey, “Afrika Korps – Rommel no deserto”, temos um relato das reações do Eixo, em retirada e rearmamento, antes de novamente atacarem – então com sucesso, até a conquista de Tobrouk em junho de 1942.
“Enquanto que os britânicos desfrutavam de potencial humano suficiente para frequente substituição de homens na frente, os alemães lutavam sem cessar, enviando cada reforço diretamente para a linha de frente, para ali ficar.
Assim, os alemães, que julgavam ter perdido a “Operação Cruzado” por causa da falta de apoio aéreo, de suprimentos, de informações, de ajuda da Alemanha ou dos italianos, praticamente não sentiam o hálito frio do fracasso nesse momento. Poucos então, e menos ainda agora, perguntavam se a arremetida de Rommel para a fronteira, com a cessão de terreno vital para as forças inimigas no momento crítico, não seria a razão do fracasso. Porém, por mais brilhantes que tivessem sido Rommel e Cruewell na condução do Afrika Korps e na organização de todo o Grupo Panzer em, pleno calor da batalha, fatores de importância fundamental não estavam a seu lado, fatores como o tempo e material. Por conseguinte, só uma vitória avassaladora, em curto espaço de tempo, poderia resultar numa decisão final favorável ao Eixo, na África do Norte.”
“Por outro lado, o AK havia conseguido aumentar seus efetivos. Graças a travessia segura de comboios até Tripoli, os efetivos alemães em tanques subiram para 84 e os dos italianos, para 89; combustível e munição fluíam novamente, abrindo a possibilidade de por em operação a qualquer momento mais de 300 aviões alemães e italianos. Portanto, era chegado o momento – enquanto o Grupo Panzer desfrutava de vantagem temporária – de desfechar um golpe para eliminar a ameaça a Tripolitânia. Uma vez convencido de que seus recursos em transportes atendiam as prováveis necessidades. Rommel permitiu a incursão – mas evitou cuidadosamente informar aos seus colegas italianos ou ao Alto-Comando alemão, escondendo o plano inclusive ao Afrika Korps até cinco dias antes do seu início, 21 de janeiro.
Duas colunas alemãs partiram de Mersa Brega na noite de 20 de janeiro – uma delas, o Grupo Marcks, composta da 90ª Ligeira e parte da 21ª Panzer, percorrendo a estrada da costa: a outra, o Afrika Korps, contornando o flanco do deserto, ao longo de Wadi Faregh. Os britânicos recuaram, com o Grupo Marcks seguindo-os de perto, mas o AK ficou preso na areia fofa. […]
A fraqueza demonstrada fugia à compreensão do inexperiente Comandante do 8º Exército, o Tenente-General Ritchie, que via Rommel espichando o pescoço para dar-lhe 'uma oportunidade única de atingi-lo realmente duro', a despeito do fato de a 1ª Divisão Blindada estar sendo aniquilada pelo AK. Ia alta a tarde de 22 de janeiro quando a coluna Marcks, infiltrando-se por entre os espantados britânicos em Antelat, provocou o caos nos escalões de abastecimento da 1ª Divisão Blindada, até que, ao anoitecer, a 15ª Panzer conseguiu unir-se ao AK, uma vez mais, para a tarefa de explorar o sucesso inesperado.
Caracteristicamente, a 23 de janeiro o Q-G do Panzerarmee Afrika (o Exército Blindado da África), que havia sido elevado ao status de exército no dia anterior, atribulou-se com dissensões, já à beira da vitória. [...]”
Entenda-se dissensões entre os comandos italianos (que, ao não gostarem das ousadias de Rommel, que só fazia destacar a liderança e eficiência alemãs, logo proibiam avanços) e os alemães (que seguiam o 'Raposa do Deserto', sempre disposto a adiantar-se aos britânicos), até que o Afrika Korps atingiu a cidade de Bengazi, de onde se retiraram um mês antes.
Enquanto aproveitavam combustível conquistado dos britânicos, as tropas de Rommel avançavam, entre contra-ataques de flanco, recuperando terreno e empurrando os aliados rumo a Gazala.
“A 25 de janeiro, a frente tornou a explodir. O AK, avançando lentamente para o norte com a 15 ª Panzer, chocou-se com a 1ª Divisão Blindada, reduzindo-a a confusão total, até que, como um tigre movido a corda, o avanço alemão, feito a 24 km/h, parou de repente em Msus, como se a corda houvesse acabado. Faltava gasolina. Rommel chegara, em escala reduzida, ao estágio da noite do 'Totensonntag'. A força blindada britânica, enfraquecida e espalhada, colocara a infantaria à beira do aniquilamento, e o comando britânico só tardiamente compreendera a importância de seu rápido colapso. Ritchie ainda falava de ação ofensiva quando lhes restavam menos de 40 tanques, e visava a conservar Bengazi ainda na crença de que suas forças móveis pudessem dominar o flanco do deserto. Mas Bengazi jamais poderia ser outra Tobruk, mesmo que se tivesse iniciado um processo defensivo adequado. Todavia, também Rommel podia fazer muito pouco, até que lhe tivessem trazido suprimentos extras e que o campo de batalha recém-conquistado fosse vasculhado, em busca do que pudesse sustentar seu próximo avanço devolvendo a mobilidade ao Afrika Korps.
[…]
No dia seguinte [29 janeiro], Rommel entrou em Bengazi, trazendo no bolso um comunicado de Mussolini, autorizando-o a começar o avanço que vinha de terminar, seguido , quase que imediatamente, de outro cabograma promovendo-o a Coronel-General. Suas provisões aumentaram muito, seu nome transformou-se num símbolo de esperança na Alemanha, para compensar os reveses impostos pelos russos a Wehrmacht, que a fizeram recuar das cercanias de Moscou. Agora, Rommel gostaria de ganhar mais, atacando mais para leste; porém, com as reservas de combustível que mal davam para a jornada, quanto mais para um batalha que encontrasse no caminho, não ousava pensar nisso. Só podia sondar – o que era de enlouquecer, porque suas perdas materiais haviam sido leves e seus homens estavam descansados e cheios de confiança nele. Além disso, Rommel podia contar, entre sues admiradores, com os soldados do 8º Exército, que reconheciam nelo o tipo de gênio tristemente ausente entre seus próprios líderes. Até mesmo Churchill ajudou a consolidar sua imagem, referindo-se a Rommel como 'um grande general' – em parte como desculpa, mas também com um toque de melancolia.
Na verdade, Churchill mostrou maior admiração por Rommel do que por Mussolini ou seus generais. Estes, apenas atormentavam o general germânico, advertindo-o para não ir longe demais, dizendo-lhe que is suprimentos de combustível haviam acabado e que seu plano apoiava-se apenas na defesa da Tripolitânia e nada mais. A falta de orientação de Berlim confundia Rommel, como sempre acontecera, pois a estratégia de Hitler omitia a costa africana, enquanto seus olhos estavam voltados para a Rússia e , dentro em pouco, para os campos petrolíferos do Cáucaso. Para os que trabalhavam em Berlim e Roma naquele inverno, o Oriente Médio parecia distante demais. Ideias de combinar um movimento pelo Cáucaso com um avanço por Suez até o Iraque já preocupara a imaginação do Eixo, mas os golpes de Estado pró-Eixo na Síria, Iraque e Pérsia haviam sido laboriosamente anulados pelos britânicos e russos no verão anterior. Agora, em 1942, o Feldmarechal Kesselring, responsável sobretudo pelo abastecimento da área do Mediterrâneo, pouco podia fazer para influenciar os planos do Eixo, quando estes não abrangiam o palco europeu.”
fonte: MACKSEY, Kenneth. Afrika Korps – Rommel no deserto. Rio de Janeiro, Renes, 1974. trad. N Japour. pp. 57, 60, 62, 65-67.
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