quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Japão 1941 - Diplomacia ou Guerra




Japão 1941


Diplomacia ou a guerra


A diplomacia ainda agia junto aos governos anglo-saxônicos, os 'ocidentais', enquanto os militares organizam cronogramas e estratégias para atacar as bases de ingleses, holandeses e norte-americanos. Tojo mantinha-se no poder mantendo o jogo duplo, uma diplomacia de armas na mão,

As deliberações precedentes foram envoltas em extremo segredo, mas é surpreendente notar, por uma releitura da imprensa estrangeira da época mesmo tão tardiamente, que alguns observadores acreditavam que Tojo estava pisando nos freios ao mal velado entusiasmo do seu país pela guerra. Houve apreensão generalizada quando o gabinete Tojo foi anunciado, disse a revista Time, a 3 de novembro, de que 'a Navalha talvez seja o facão violento pelo qual o exército japonês vem implorando, que os meses de indecisão do Japão seriam agora resolvidos por ataques loucos à Sibéria e contra Cingapura'. Como a maioria das outras publicações, dizia a Time que um ataque para o norte ainda era possível, mas esta publicação, muito lida, observava sobriamente que não parecia que o 'arrojado Primeiro-Ministro Tojo ia começar a engolir chamas imediatamente'.

[General] Sato recorda que nessa conjuntura difícil o Primeiro-Ministro chamou-o, a 31 de outubro, para discutir três recursos alternativos de ação que Tojo vinha propondo desde os últimos dias do gabinete Konoye: 1- Evitar decididamente as hostilidades. 2- Decidir imediatamente pela guerra, sem uma continuação de providências diplomáticas. 3- Prosseguir com os preparativos para a guerra, ao mesmo tempo que se tentaria obter êxito nas negociações diplomáticas. Embora Tojo esperasse que o alto comando não concordaria com o item 3 (sua preferência pessoal) mas provavelmente insistiria no item 2, ele queria que Sato visitasse o General Sugiyama para obter sua concordância com o 3. Sato, longe de ser otimista, considerava isto como um gesto de desespero da parte de Tojo. A missão fracassou. Em lugar de ceder, Sugiyama defendeu uma decisão governamental de ir à guerra imediatamente. Tendo coordenado as questões com o Ministro da Marinha, o das Relações Exteriores e o das Finanças, como também com o diretor da Junta de Planejamento, e tendo sido informado da preferência geral pelo item 3, Tojo falou diretamente com Sugiyama no dia 1º de novembro, antes do início da conferência ministerial. O resultado não foi mais satisfatório do que a conversa de Sato com o chefe do Estado-maior do exército. Assim, quando a conferência de 1º de novembro, que duraria 17 horas, começou, o governo e o alto comando do exército entraram numa falta extraordinária de consenso.”

Naturalmente, houve violenta discussão sobre as condições em que se verificariam as negociações diplomáticas com os americanos. O Ministro do Exterior, Togo, apresentou duas propostas, rotuladas A e B. A primeira representava uma modificação da posição japonesa, em particular o abandono da exigência de tratamento preferencial na China, em virtude da proximidade geográfica, e a promessa de retirada de tropas da China no futuro (de dois a cinco,ou vinte e cinco anos, dependendo das circunstâncias ) e da Indochina, depois que o Incidente Chinês tivesse sido resolvido satisfatoriamente para o Japão.

A proposta B, a ser adotada caso os Estados Unidos não concordassem com a proposta A, representava simplesmente um modus vivendi, um último recurso destinado a evitar a guerra. Visava ela não propriamente ao problema chinês, mas às questões mais prementes do Sudeste Asiático e do Pacífico Sul, incluindo a evacuação de tropas japonesas do Vietnã do Sul, se lhe assegurassem acesso a suprimentos de petróleo. Nas palavras de Togo, ele queria aplacar as suspeitas dos americanos 'demonstrando de fato que o Japão não tinha desígnios de um avanço para o sul, acalmando assim a atmosfera...' O exército opôs-se violentamente a Togo, com a altercação chegando a um ponto em que 'a conferência quase foi interrompida, porque os soldados achavam que isto era ceder demais ais Estados Unidos'. […]


O cansaço marcava o rosto de Tojo, fazendo Sato dizer-lhe que o meio-termo visado na proposta B era, sem dúvida, apenas acadêmico, 'porque os Estados unidos já devem ter-se decidido por uma guerra para a qual se preparavam febrilmente'. Por menores que fossem os desideratos japoneses, as condições americanas eram inarredáveis, uma situação que, na opinião de Sato, tinha um lado agradável, porquanto justificaria a própria decisão do japão de iniciar hostilidades depois de ter cedido tanto sem reciprocidade. Contudo, Tojo aconselhou [o General] Sato a não confundir as coisas; a defesa do plano B pelo Primeiro-Ministro não ocultava nenhum pretexto para a guerra. Embora não fosse otimista, Tojo disse que estava rezando aos deuses para que as coisas se saíssem bem, por meio do plano mais recente. De qualquer modo, Sato deveria ficar atento às atividades dos Estados-Maiores inferiores do exército e da marinha, onde poderia haver dificuldades em gestação.

Tojo mais tarde afirmou que se os americanos tivessem feito concessões, ainda que insignificantes, ele não teria se lançado às hostilidades. Sato acrescenta que ficou muito comovido com o visível sofrimento de Tojo, tentando ajustar a necessidade de honrar as injunções imperiais post factum à poderosa insistência do alto comando de que era irrevogável a decisão fundamental de 6 de setembro. Assim, o Primeiro-Ministro,usando dois chapéus, procurava equilibrar os dois pratos de uma balança que continha pesos desiguais,ou seja, o Ministro do Exterior renunciaria se não fosse dada chance à diplomacia, mas se isso fosse feito, haveria o perigo de os chefes de Estado-Maior do exército e da marinha terem de ser substituídos, acarretando problemas novos e imprevisíveis, caso houvesse choque frontal entre as exigências do governo e as do alto comando. Sem dúvida o Imperador pensava nessas questões quando Tojo lhe pediu audiência para informá-lo das recomendações da conferência ministerial de 1º de novembro. Embora ao monarca não fosse difícil compreender a necessidade de prosseguir com as providências de prontidão militar, ele esperava muito que o governo Tojo pudesse obter êxito na frente diplomática, afastando a possibilidade de guerra.”


pp. 101, 108-109


A 5 de novembro realizou-se uma conferência imperial para sancionar as recomendações resultantes de oito reuniões anteriores. O Japão decidira lutar contra os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e os Países Baixos. As forças armadas completariam preparativos para que as hostilidades começassem em princípios de dezembro. Entrementes,prosseguiram os esforços visando a um acordo com os Estados Unidos, segundo o estabelecido nas propostas A ou B, para cujo êxito se fixara a data-limite de 1º de dezembro. O estreitamento das relações com a Tailândia seria buscado imediatamente, antes das hostilidades, mediante pressão ou pela força, se necessário.”

O programa recomendado, disse Tojo, era fruto de estudo intenso dos problemas e probabilidades. Ele esperava impedir que os parceiros europeus do Eixo explorassem os êxito japoneses no sul para fazer a paz com a Inglaterra ou com os Estados Unidos, e planejava impedir que as hostilidades se transformassem numa 'guerra racial'. Quanto à questão da base moral para entrada do japão na guerra, Tojo declarou: 'É imperioso que se deixe bem claro que a Grã-Bretanha e os Estados Unidos representam séria ameaça à autopreservação do Japão.”

pp. 111, 113



fonte: COOX, Alvin D. “Tojo” Renes, 1976 trad. Edmond Jorge



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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Militares Japoneses rumo à guerra

Novembro / 1941


Militares Japoneses rumo à guerra

General Tojo assume o cargo de Primeiro-Ministro


No Japão, em plena guerra na Mandchúria (desde 1931), e com a expansão da guerra europeia (desde 1939), a consolidação do poder dos militares é crescente. As forças japonesas atuavam na China (em muitos massacres de civis), e avançava para territórios do sudeste asiático – Indochina, Indonésia,  até então colônias do imperialismo europeu - ainda mais depois da derrota das potências francesa e holandesa, em 1940.

Certos estudiosos argumentam que o poderio dos militares cresceu mais por interesse dos monarcas. A Casa Imperial permitiu que os Militares tomassem o poder, para serem culpados se a guerra fosse um fracasso. Assim a Monarquia não seria diretamente abalada.

É uma forma de ver a questão. É mais complexa. Os militares eram apenas os mais agressivos, num momento de crise. E sabiam das pressões econômicas. Não se decidiram prontamente ao conflito, mas também não queria aceitar as imposições dos 'ocidentais'. Entre a diplomacia e a luta aberta, tramavam nos bastidores, enquanto novos recrutas eram convocados. Falavam em paz, e aumentavam os gastos com peças bélicas.


Vejamos alguns trechos do livro de Alvin D. Coox sobre o General Tojo,

“Na noite de 17 de outubro de 1941, o Ministério da Guerra japonês recebeu um telefonema do palácio dizendo que Tojo deveria apresentar-se para uma audiência. Admitindo que Tojo iria ser repreendido pelas críticas que tinha feito ao gabinete, no dia 14, quanto à necessidade de se conservarem tropas na China para combater o comunismo, o General Sato aconselhou o Ministro da Guerra a levar consigo as notas que tinha sobre o assunto. Tojo concordou, embora dissesse que pretendia apenas ouvir os comentários do Imperador e não defender a sua posição. […]

Como Tojo havia achado tão vigorosamente que a decisão de uma conferência imperial não podia ser infringida nem um pouco, ele provavelmente não teria aceito o encargo de formar um gabinete, a menos que o Imperador o autorizasse a começar tudo novamente. Mas se, como era teoricamente possível, as conclusões da conferência de setembro podiam ser invertidas, ou pelo menos modificadas, Tojo precisava de autoridade maior que a posição de Primeiro-Ministro lhe conferiria. […]

Não haveria problema se o Japão se lançasse numa guerra, mas se a reconsideração da decisão de setembro conduzisse realmente à ' capitulação' para o ocidente, poderia muito bem haver oposição militar e assassinatos ou desordens públicas fomentadas pelos direitistas. […]

Agindo com rapidez e decisão, Tojo pôde anunciar seu novo governo no dia 18 de outubro. Em sua primeira declaração, o novo governo afirmou ao público que 'a política imutável do Japão é solucionar com êxito o Incidente da China e contribuir para a paz mundial, estabelecendo a Esfera de Co-prosperidade do Grande Leste Asiático. Enfrentando uma situação de gravidade sem precedentes, o governo pretende promover relações cada vez mais amistosas com potências amigas [do Eixo] e está absolutamente decidido a aperfeiçoar um estado de defesa nacional; e assim, sob a augusta virtude de Sua Majestade o Imperador, partir o país, unido, coeso, para a realização da sua sagrada tarefa.' Tojo anunciou esse programa num breve discurso levado pelo rádio ao país inteiro.”

“[...] A 20 de outubro, [Joseph] Grew [embaixador americano] lembrou a Washington que se podia esperar que Tojo, como general da ativa, exerceria 'maior grau de controle sobre os elementos extremistas do exército' – provavelmente uma consideração importante por trás da renúncia de Konoye no interesse de facilitar as conversações com os Estados Unidos.”

“Tojo, mais tarde, negou com veemência que o novo gabinete estivesse decidido desde o início a ir à guerra. No tocante ao Ministro do Exterior, o acordo que celebrou com tojo na noite de 17 de outubro deveria demonstrar que seu 'propósito, ao ingressar no gabinete, não era o de começar, e sim de evitar uma guerra'. [Shigenori] Togo afirma que o engano 'está em acreditar que eu alcançaria uma solução apenas dentro dos termos do meu acordo com Tojo, quando nenhum dos dois estávamos cônscios de que as relações [com os Estados Unidos] haviam deteriorado tanto que a outra parte já se decidiria ir à guerra.' [...]”

“O fator do equilíbrio de forças ocupava muito a atenção de Tojo e de seus associados no exército e marinha. Durante o inverno de 1940, solicitara-se ao departamento de mobiliação econômica que examinasse a posição de poder do Japão, postulasse sobre as hostilidades contra os Estados Unidos e Grã-Bretanha já na primavera de 1941, ou sobre a total evitação da guerra. O relatório resultante salientara a vulnerabilidade do país em navios mercantes e recursos naturais, especialmente combustível líquido. O departamento empreendeu novo estudo no verão de 1941, girando em torno de novembro de 1941 como o prazo hipotético final para uma guerra contra as potências anglo-saxônicas. Os analistas verificaram que 'o futuro não dava esperanças para o Japão, mesmo que ele aguardasse com prudência e circunspeção'. A capacidade econômica e industrial do país não sugeria confiança além de dois anos após o início das hostilidades, mesmo que o Japão resolvesse começar a guerra por iniciativa própria. Se, com os estoques de combustível disponíveis depois dos gastos contínuos no teatro de operações da China, o Japão desfechasse hostilidades intensivas contra os Estados Unidos e a Inglaterra, as forças armadas só poderiam realizar operações aéreas durante cerca de um ano. No mar, a batalha decisiva teria de ocorrer dentro de seis meses. Essas sérias considerações explicam a defesa, por parte dos líderes militares, da chamada tese do 'declínio gradual' do Japão. Como diz o Coronel Hayashi: 'Sabe-se muito bem que esta opinião tornou-se uma justificativa usada pelos que propunham iniciar a guerra em 1941.'”


“A 27 de outubro Tojo admitiu, numa conferência ministerial, que o exército poderia 'arranjar-se de algum modo' em 1942 e 1943, mas 'não sabemos o que acontecerá depois de 1944'. de igual interesse é a relação entre estes comentários, cautelosamente feitos em particular, e as notas propagandísticas dirigidas ao público. No dia 26, tojo convocou 200 altos funcionários a Osaka, para enfrentar a crise sem precedentes com 'solidariedade férrea'. […]”

“Entrementes, as difíceis conferências ministeriais prosseguiam. Numa reunião a 28 de outubro, os conferencistas examinaram a sério a possibilidade do adiamento das hostilidades até março de 1942, mas os chefes de Estado-Maior das forças armadas insistiam em que o tempo já estava contra o Japão e que a marinha, em particular, precisava começar a agir até o fim de novembro de 1941, do ponto de vista dos recursos. A produção de óleo sintético não oferecia solução imediata para a crise da energia. O Ministro das Finanças, Kaya, tentou chegar ao âmago da questão do potencial nacional, perguntando se a guerra – ou a paz – seria melhor para o Japão, como uma função do suprimento de materiais, mas nenhuma vantagem nítida se apresentou; ao que Tojo desculpou-se aos chefes de Estado-maior pela lentidão das deliberações.”


pp. 92, 94, 98-101


fonte: COOX, Alvin D. “Tojo” Renes, 1976 trad. Edmond Jorge



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LdeM

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Afrika Korps - conflito no norte da África - 1941





Afrika Korps


Conflito no Norte da África


Outubro / Novembro 1941


fonte: LEWIN, Ronald. Churchill – O Lorde da Guerra.
(trad. Cel. Álvaro Galvão) RJ : Biblioteca do Exército, 1979.

            Enquanto o líder alemão Hitler se preocupa com as batalhas nas estepes da Rússia, o líder britânico Churchill está atento aos movimentos de avanço e recuo nas areias escaldantes do norte da África, onde os exércitos aliados (britânicos, australianos, franceses livres, poloneses, etc) enfrentavam as forças do Eixo – italianos e alemães, tendo o Afrika Korps de Rommel na vanguarda,


“Wavell enganou-se totalmente a respeito da potencialidade de Rommel. O mesmo ocorreu com Hitler. Em face dos dados disponíveis e levando em conta as dificuldades logísticas, Wavell estimou que, na África, o Eixo não tinha nem o poder, nem a capacidade para desencadear e manter uma progressão para leste. 'Não acho', escreveu, 'que ele tentará reconquistar Bengazi com o efetivo de que dispõe'. Nem era esta a intenção do Fueher. Foi Rommel quem percebeu a fraqueza da Força do Deserto Ocidental e foi a habilidade imprevisível de Rommel para manobrar no deserto que, já por volta de 11 de abril, empurrou os ingleses de volta para a fronteira do Egito e cercou uma pequena guarnição em Tobruk. Rommel foi franco ao se referir ao que estava fazendo. 'Os nossos superiores em Tripoli, Roma e talvez Berlim vão ficar aflitos', escreveu no dia 3 de abril. 'Arrisquei, contrariando todas as ordens e instruções, porque a oportunidade parecia favorável...'

Todavia, entre o princípio de abril e meados de junho, quando a situação no deserto estabilizou-se temporariamente, depois do fracasso da operação Battleaxe de Wavell, era Churchill quem continuava aflito – não porque seus comandantes estivessem atacando e sim porque, na opinião do Primeiro-Ministro, não estavam sendo suficientemente agressivos. Churchill diagnosticou três necessidades: cortar os suprimentos de Rommel, reforçar Wavell com blindados e, então, destruir o Eixo na África do Norte. Por entre todas as suas outras preocupações – a blitz [o bombardeio de Londres e outras cidades inglesas], o Atlântico, a desintegração dos Balcãs – Churchill ergueu-se com a energia violenta de um animal ferido; com uma raiva tão feroz que, por vezes, cegava- o para a realidade dos fatos. Ele sempre se limitara a exprobar seus comandantes que não se aproximavam da frente e assumiam a direção da luta; agora, ele próprio comandaria. Ele percebeu que tudo dependia de uma concentração implacável do esforço no ponto chave: o deserto. […]


Todavia, Churchill não podia assumir o comando na linha de frente, e o que era óbvio para ele na sala de operações em Whitehall poderia parecer totalmente diferente para o comandante no campo de batalha. Portanto, no seu primeiro livro, Churchill estava redondamente errado. Rommel só poderia sobreviver se recebesse suprimentos. Haveria alguma coisa mais lógica do que negar-lhe a utilização do porto de Trípoli?

pp. 91-92; 93


            A Ofensiva britânica em junho 1941 tem por codinome Operação Battleaxe (ou 'Machado de Guerra', ou ainda, 'Acha de Arma') comandada por Sir Archibald Wavell, com grande acúmulo de tropas e material, mas sem prever os passos de Rommel, revelou-se um fracasso da ofensiva aliada, ainda que aliviando momentaneamente o Cerco de Tobruk – abril – nov 1941

            Churchill mais do que frustrado, irado, ordena a substituição do comandante. Sai Sir Wavell e entra Claude Auchinleck – que antes substituíra Wavell na Índia em 1940.


            Mais detalhes sobre a Operação Battleaxe, na série Segunda Guerra Mundial, da Ed. Codex, 1965.


“Os preparativos da ação tiveram que ser realizados em poucos dias. O General Creagh, chefe da 7a Divisão, recebeu a 29 de maio a ordem de manter a prontidão de suas forças para iniciar o ataque a 10 de junho. A seu pedido, a data foi transferida para 15 de junho. Surgiram, aliás, graves inconvenientes com os novos tanques Crusader que, depois de percorrer poucos quilômetros, sofriam uma série de desarranjos mecânicos. O ataque apresentou assim, desde o início, perspectivas sumamente desfavoráveis.
Rommel, nesse meio tempo, já estava a par da iminente ofensiva, pois seus aviões de reconhecimento haviam descoberto a concentração crescente de forças britânicas na fronteira. Distribuiu, então, suas forças blindadas, em profundidade, para fazer frente ao ataque. A 15a Divisão Panzer colocou-se na retaguarda do desfiladeiro de Halfaya, e a 5a Divisão leve manteve-se ao sul de Tobruk para atuar como reserva. Na noite de 14 de junho foi dado o alarma às unidades alemães e italianas.
Às 4 da manhã do dia seguinte, os britânicos iniciaram a sua ofensiva. A operação Battleaxe estava em marcha. Os ataques britânicos no desfiladeiro de Halfaya esfacelaram-se contra a denodada resistência das tropas alemães e italianas, comandadas pelo Capitão da reserva Bach. Entrincheirados nos agrestes contrafortes, os homens de Bach abriram um fogo mortífero com suas metralhadoras e peças de artilharia sobre as colunas dos infantes hindus e britânicos, e conseguiram, também, destruir numerosos tanques e veículos blindados. O fracasso dos ingleses em Halfaya decidiu o curso da batalha, pois permitiu a Rommel concentrar a totalidade de suas forças blindadas, e lançá-las num movimento envolvente sobre o flanco da 7a Divisão blindada que havia conseguido avançar profundamente para o norte. Sustentando violentos combates, no transcurso dos quais perderam numerosos tanques, os ingleses se retiraram aceleradamente, e escaparam à armadilha. A 18 de junho, a luta chegou ao fim com a derrota total das forças de Wavell.

O fracasso da ofensiva na qual Churchill havia depositado tantas esperanças não alterou sua resolução de obter, a curto prazo, a destruição das forças de Rommel. No dia 21 de junho enviou uma mensagem a Wavell comunicando que havia resolvido substituí-lo no comando pelo General Sir Claude Auchinleck, nesse momento comandante-em-chefe das forças britânicas na Índia. Ao novo chefe, Churchill determinou preparar sem demora a ofensiva decisiva contra as forças do Eixo.”

                                           Fonte: Segunda Guerra Mundial. Ed. Codex.



            Mas qual foi exatamente a 'vitória' das tropas de Rommel? Qual o resultado para a imagem guerreira do general alemão apelidado “Raposa do Deserto”? Vejamos a versão de Kenneth Macksey (Renes, 1974)

“Recuando de Capuzzo e descendo a escarpa, vieram os veículos e a infantaria da 4ª Divisão Indiana, enquanto a 15ª Panzer e a 5 ª Ligeira tentavam romper a tenaz resistência do punhado de tanques Matilda. Porém, uma vez mais a poderosa blindagem dos tanques britânicos manteve os Panzer a distância e a habilidade dos seus chefes subalternos superou a dos adversários alemães quando estes ficaram sem o apoio dos seus canhões de 88 mm. As forças combateram durante seis, às vezes chegando à distância de tiro a queima-roupa e com os alemães presos aos flancos britânicos mas sem os obrigar a se desviarem e envolvê-los numa armadilha.

Parece impossível que Rommel soubesse dessa reserva por parte dos seus regimentos Panzer, pois quando eles chegaram a Halfaya, no final da tarde, Rommel acreditava que o grosso dos britânicos estava detido nas armadilhas do norte, perto de Capuzzo, e não a salvo no Egito, ao sul. Não obstante, o AK obtivera uma vitória decisiva – 25 dos seus tanques totalmente destruídos contra 87 britânicos (muitos apenas enguiçados) é apenas um pingo do total.

Na verdade, a 'Operação Acha-de-Arma' marcou um momento decisivo na Guerra do Deserto: aliás, ela precedeu o ponto fundamental de toda a guerra – a invasão alemã da Rússia, a 22 de junho – em menos de uma semana. Mas no contexto local, o AK fez muito mais do que derrotar outra força britânica – ele deu à luz o que sempre estivera em gestação, a lenda da invencibilidade de Rommel galvanizada no espírito dos soldados britânicos, cujas convicções se confirmaram quando Wavell, Beresford-Peirse e o comandante da 7 ª Divisão Blindada foram destituídos dos seus postos, assim que terminada a batalha. Depois da 'Operação Acha-de-Armas', tanto britânicos quanto germânicos passaram a ter grande respeito pelo comandante alemão, e, embora o Afrika Korps praticamente não se considerasse superior em equipamento aos britânicos (o tratamento que os Matilda lhe dispensaram deixava isso claro), ele sabia ter um trunfo em Rommel, cuja pessoa passara a valer mais que uma divisão.”

pp. 38-39


Fonte: MACKSEY, Kenneth. Afrika Korps – Rommel no deserto . (trad. N. Japour) Rio de Janeiro: Renes, 1974





mais info


sobre Wavell, Auchinleck, Cunningham






            Em novembro,  outra ofensiva aliada – Operação Crusader - com o 8º Exército sob comando do Gal. A . Cunningham, que alcança uma relativa vitória aliada, com a retirada das tropas alemãs e italianas para posições na retaguarda. (Contudo, veremos, em janeiro de 1942, Rommel ataca de novo)



“Os dois Exércitos do Deserto dedicaram-se inteiramente à reorganização durante os meses de verão e outono. O General Auchinleck substituiu Wavell no comando, e a Força Britânica do Deserto Ocidental (ou XIII Corpo, como passara a ser recentemente chamada) transformou-se no 8º Exército, sob o comando do General Cunningham, compreendendo dois Corpos – XIII e XXX. Grandes carregamentos de homens e materiais chegaram à base de Suez, transportados pela longa rota em torno do Cabo da Boa Esperança, vindos da Grâ-Bretanha e dos Estados Unidos. O moral britânico elevou-se diante deste demonstração de boa vontade e apoio total. Rommel não recebeu nenhum reforço considerável nem qualquer encorajamento do seu Alto-Comando, que tinha a atenção voltada para as batalhas da Rússia e porque não queria mexer em casa de marimbondos na África – cujo território não tinha lá muita significação para ele.”

...

“Como as forças blindadas dominavam no deserto, mesmo quando canhões antitanques  venciam os tanques adversários e causavam mais baixas do que os combates entre tanques, a presença de forças blindadas no deserto assumia importância semelhante a de uma frota naval ancorada, ou em alto-mar: a ameaça latente e a imprevisibilidade do 'quando' e do 'onde' poderiam desfechar seu ataque. O objetivo de uma batalha de blindados podia depender da capacidade dos adversários de preservar a existência dos seus blindados e, neste aspecto, a manutenção, recuperação e reparo de máquinas enguiçadas assumiam importância fundamental. Ao contrário da vitória no mar, onde os derrotados podiam ser postos a pique sem deixar vestígios, a vitória em terra deixava o campo de batalha nas mãos dos vencedores, dando-lhe a opção de recuperar seu próprio equipamento atingido e de destruir ou levar consigo o do inimigo. Isto assumiu uma importância até então desconhecida, pois como as perdas por enguiço provocavam quedas em efetivos de tanques quase iguais às causadas pela destruição por ação inimiga, a ocupação do campo de batalha imediatamente após a ação, pelos serviços de recuperação, se tornava um ponto tático importante. E os alemães eram superiores aos britânicos nesse tipo de atividade.


“Reduzida aos seus mínimos essenciais, a moderna guerra motorizada pode ter um ou dois objetivos reunidos num grande plano, se o conhecimento e a imaginação se combinam no ápice de comando. Pode haver uma batalha de atrito, homem vencendo homem e máquina destruindo máquina, até que o mais forte sobreviva para ver um campo de batalha coalhado de destroços – ou pode haver um ataque contra o cérebro ou o coração inimigo, que paralisa qualquer ação ulterior. Os teóricos anseiam pelo segundo – os pragmáticos tendem para o primeiro, mas aceitam como prêmio tudo o que se possa obter por um golpe psicológico.”

pp. 43-44


Fonte: MACKSEY, Kenneth. Afrika Korps – Rommel no deserto . Rio de Janeiro: Renes, 1974



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Homenagem ao General Rommel

Cerco de Tobruk
(propaganda nazista)

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