quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Outubro na Ucrânia - 1941



4º mês da Operação Barbarossa -
Dificuldades no avanço alemão


No mês de outubro de 1941 começam a surgir os primeiros atrasos no avanço das tropas da Wehrmacht. Primeiramente, devido as grandes extensões, as péssimas condições de estradas e terrenos. Também devido as ações esparsas de grupos resistentes, os guerrilheiros russos que agiam ora por fanatismo partidário ou por nacionalismo eslavo.


Para complicar tudo para os invasores alemães havia ainda as ordens desencontradas entre o quartel de Hitler e os altos oficiais – pois havia sérias discordâncias entre os nazistas (os fanáticos SS) e os generais (profissionais prussianos) quanto tratamento dos prisioneiros e violências contra as populações russas.



Trechos da obra Outubro na Ucrânia

(“Fleuve Noir” ou “Octobre em Ukraine – Drang nach Osten”)

de Mark J. Trennery (Stephane Jourat, 1924-95, autor belga)


“-Insensato! Impossível! - gritou o General Von Tula-Koslinsky em seu telefone de campo. -Você pretende, Ferleberg, que um regimento inteiro seja bloqueado na estrada Roslavl-Starodub? Você está louco, coronel ! Starodub foi tomada há três dias, não sabe? Nossos elementos panzers avançados estão na direção de Korop e investem sobre Bakhmach, isto é, a mais de duzentos quilômetros do lugar onde você se encontra! E você quer me fazer crer...


-Eu não o tento fazer crer, meu general – replicou Ferleberg no fone negro que segurava com sua mão trêmula. -Digo-lhe que estamos bloqueados nesta estrada, desde a aurora, a uns quarenta quilômetros de Roslavl. E peço-lhe, respeitosamente, o favor de encaminhar reforços, se possível carros e pelos menos duas seções de artilharia leve...


-Estou feliz por não me pedir as peças pesadas! - gritou o general. - E um apoio de Stukas, talvez, que diz? O quê?


-Eu digo, meu general, que isto não nos faria mal! - repetiu Ferleberg com uma voz rouca. -Temos uma centena de mortos, o dobro de feridos, a metade de nossos caminhões destruída. Ganhei aos outros os limites dos bosques e dois batalhões de marcha tomaram posição. Mas estamos cercados por todos os lados, sem falar dos atiradores isolados...


-Isto é derrotismo, Ferleberg! - rugiu o general. - Entende? Derrotismo! Os russos foram batidos, em plena retirada, em plena volta! Eles se rendem aos milhares, por centenas de milhares! Todas as nossas operações se desenrolam impecavelmente, sem um embaraço. E seria preciso que seu regimento... Escute, Ferleberg! Ordeno-lhe, imperativamente, fazer movimento sobre …


Interrompeu-se a voz brutal. O Coronel Von Ferleberg ouviu vagos murmúrios, algumas eclosões de voz. Enxugou com a mãe esquerda o suor que lhe escorria sobre as faces.

[…]


Foi incrível o que se seguiu ao aparecimento dos T-34. Quatro baterias de anticarros 37, rapidamente instalados nos campos de um lado e de outro da estrada e que até então atiravam na direção do bosque, fizeram uma conversão de 45 graus e abriram fogo sobre os monstros cuja silhueta maciça se perfilava nitidamente no cume do monte. Ferleberg deu uma batida de língua satisfeito ao ver a precisão do tiro dos anticarros. Depois lançou uma imprecação inominável. O que se passava ali, sob seus olhos, vinha da feitiçaria: os obuses dos anticarros atingiam o objetivo... mas espirravam, sem mesmo ter ferido a enorme carapaça! Enquanto isso, os T-34 cuspiam o inferno, e acabavam de liquidar o que restava de veículos na estrada. O único dos caminhões-cisterna, que se apressava, com dificuldade, a ganhar o abrigo muito relativamente protetor do bosque que a primeira companhia de marcha tomara de assalto, foi batido por um tiro direto. Houve um estalo delirante, uma deflagração ardente, e uma flama de cinquenta metros de altura jorrou no céu, avermelhando-o. Foi então que o Coronel Von Ferleberg decidiu-se a chamar o PC de Divisão, do buraco arenoso que lhe cavaram com toda a pressa, a cinquenta metros da estrada.”


“Avançando lentamente na cavidade onde flutuava um pesado odor de essência e carnes carbonizadas, Kreuzfeld tentou se lembrar do pouco que ele sabia dos T-34: canhões de 76, blindagem impenetrável aos 50 e mesmo aos 75 curtos do carros IV alemães; um único ponto fraco: a almofada atrás, abaixo do motor... mas precisava chegar até a almofada de trás!


À esquerda da estrada, o campo de centeio formava uma cavidade que se achava no ângulo morto dos T-34, mas estava, ao contrário, diretamente exposta ao fogo dos atiradores russos enfronhados no bosque. À direita, nada de atiradores, sem dúvida, mas uma planície, chata como a mão, sem uma árvore, sem uma sarça. Eles souberam escolher a posição, pensou Kreuzfeld. Dizer que eram obrigados a se render em massa à primeira cruz gamada...”



“Steyrling examinou apressadamente seu mapa, protegendo-o tão bem quanto mal sob um pedaço de sua lona de barraca. A três quilômetros do rio, a estrada fazia uma curva brusca para o sul e atravessava uma região pantanosa. O lugar-tenente fez uma careta: se, além do atoleiro em que já patinhavam, caminhavam para um verdadeiro lodaçal, o material não passaria nunca, sem falar dos homens! Por outro lado, se pudessem atingir a aldeia de Kletnya, desembocariam na estrada de ferro que levava a Zhukovka, onde se encontrava o novo QG de divisão.


Por que, aliás, tinha sido ele subitamente deslocado? Por que a marcha do regimento para o sul, prevista na direção de Mglin e de Unecha, tinha sido bruscamente desviada para o leste? Por que as ligações com estas duas últimas cidades tinham sido cortadas? Deveriam existir razões para isto, seguramente, razões fortes. O que não impedia que o próprio comando supremo, com suas ordens, suas contra-ordens, suas mudanças de humor e seus súbitos silêncios, parecesse atacado da mesma doença que solapava há algum tempo o moral do exército. Ou talvez ele próprio estivesse diante de dificuldades idênticas … Talvez o QG de divisão tivesse sido subitamente atacado por estes grupos esparsos que surgiam do fundo das florestas, muito tempo depois da rendição das divisões russas as quais deveriam pertencer... Não se dizia que o próprio General Guderian tinha diversas vezes encontrado dificuldades ao atravessar, em seu carro blindado, regiões ditas 'pacificadas'?”

pp. 11-13; 15; 31



trad. Carlos de Oliveira / Rio de Janeiro, Rio Gráfica, 1965.


 mais info ...........


Sobre o tanque russo-soviético T-34







a propaganda nazista
exalta os guerreiros do “Avanço para o Leste






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LdeM

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