Operação Barbarossa – 22 de junho – 05 de dezembro 1941
“O Alto Comando Soviético claramente esperava o principal ataque alemão no sul, contra as principais áreas agrícolas e industriais da Rússia. Eis porque havia concentrado neste setor a quantidade de unidades blindadas para uma defesa elástica. Mas desde que o tanque é primariamente uma arma ofensiva, esta concentração de poderosas forças blindadas na ala sul simultaneamente permitia uma ofensiva soviética contra a Rumânia, a fonte vital de petróleo para a Alemanha.
O Plano de ataque de Hitler, assim, era um jogo de azar. Seguia a receita que provara de sucesso no fronte ocidental, quando, para a completa surpresa dos franceses, ele tinha irrompido rapidamente através do terreno desfavorável das Ardennes, penetrando a linha Maginot, que era fraca naquele ponto, e assim levou a campanha a uma rápida conclusão. Hitler pretendia aplicar o mesmo plano na União Soviética: ele atacaria com todas as forças disponíveis em uma posição inesperada, romperia a frente inimiga, atravessaria, derrotaria totalmente o inimigo, e conquistaria seus centro vitais – Moscou, Leningrado, e Rostov – ainda arrebatado pelo ímpeto do primeiro grande avanço. A segunda onda então avançaria para a linha que ele traçara no mapa –a linha de Astrakhan até Archangel.
Esta era a Operação Barbarossa no papel.” p. 16
trad.: Leonardo de Magalhaens
fonte: CARELL, Paul. Hitler Moves East 1941-1943, 1964.
trad. EUA de “Unternehmen Barbarossa” [1963] by Ewald Osers
Parte Um: Moscou/ 1-Pego de surpresa, p. 16.
Segundo Paul Carell, são estas as disposições de forças adversárias nas posições iniciais, ao longo da fronteira polonesa-bielorussa e romena-ucraniana, onde os alemães se concentram com 7 exército com 4 corpos blindados (Panzer Groups), 3 frotas aéreas, 3 milhões de homens, 6000 mil veículos, 750 mil cavalos, 3580 blindados, 7184 canhões, 1830 aviões. Mais as forças romenas (os 3º e 4º Exércitos)
As forças russo-soviéticas somam 9 exércitos com 4,5 milhões de homens.
Fonte: Wikipedia
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Início da Operação Barbarossa
Uma guerra em duas frentes? Afinal, preparar uma invasão à Rússia enquanto ainda se batalha contra a Grã-Bretanha! Nem os generais e muito menos os soldados entendia esta decisão do Führer que sempre tivera ideias ousadas – mas esta já era exagerada! Fazer um inimigo antes de derrubar o outro...
A operação 'Leão Marinho' era julgada por alguns observadores como um estratagema para alarmar os britânicos (obrigando-os a um acordo de neutralidade) e ao mesmo tempo despistar as suspeitas dos russos. Os russos – principalmente Stalin – acreditaram que o movimento de forças ao leste era, por sua vez, uma tática para despistar os britânicos. E que acreditar que haveria uma invasão alemã seria dar ouvidos a 'intrigas inglesas'.
O autor Pierre Rondière aborda as vésperas da grande invasão em seu livro “E o Mundo perde o fôlego” (em Portugal tem o título de “Quando Hitler atacou a leste”), vejamos alguns trechos interessantes.
“Desde há dois meses [i.e, abril e maio de 1941], por estes dois canais [na Embaixada Soviética em Berlim], Moscovo [Moscou] é regularmente avisada dos preparativos da operação 'Leão do Mar', a invasão da Inglaterra. Os deslocamentos fictícios de divisões, as falsas concentrações de blindados, o amontoamento imaginário de lanchões nas praias do Pas-de-Calais, tudo concorrera para dar a impressão nítida de um desembarque iminente entre Douvres e a ilha de Wight. Talvez a atenção tenha sido assim desviada da fronteira da URSS, talvez tenha conseguido fazer crer a Moscovo [Moscou] que os movimentos nas fronteiras soviéticas eram apenas encenação para enganar os britânicos, sobre os quais a Alemanha saltaria dentro em pouco... talvez... Moscovo [Moscou] dispusesse de outras fontes, não intoxicadas, sabe-se lá...”
(pp. 16-17)
“Às 20 horas [de 21 de junho de 1941], os principais colaboradores de Ribbentrop, ministro dos Negócios Estrangeiros do III Reich, estão reunidos no seu gabinete de Berlim, na Wilhelmstrasse. Atmosfera tensa, rostos graves, conversas em voz baixa: por que nos reuniu o ministro?
Von Ribbentrop, diante deles, anuncia: 'Senhores, amanhã de manhã, às primeiras horas do dia. A Wehrmacht ataca a Rússia.'
Por que a guerra? E em duas frentes? O que tem sido sempre fatal à Alemanha! Por que não terminar primeiro com a Inglaterra? Directores e conselheiros, num silêncio pesado, interrogam-se: Não foi o próprio Ribbentrop que, vinte e um meses antes, regressando de Moscovo [Moscou] depois da assinatura do pacto de não agressão com Moscovo [Moscou], declarou com ênfase: 'Assinando com Estaline [Stálin] desembaraçamos a nossa retaguarda, afastamos qualquer perigo de conflito em duas frentes, ameaça que tem sido sempre fatal à Alemanha. Senhores, considero o pacto de não agressão como o coroamento da minha carreira.' Que terá mudado, agora?
Ribbentrop parece responder a estas interrogações mudas quando recomeça a falar: 'O Führer foi informado de que Estaline [Stálin] deslocava as suas tropas contra nós, para nós atacar no momento que escolhesse... e até agora o Führer tem tido sempre razão. Afirma que as nossas forças armadas abaterão a URSS em menos de oito semanas. E durante oito semanas podemos facilmente combater em duas frentes: os Ingleses estão muito longe de poder trazer a guerra ao continente... e depois teremos a retaguarda livre, sem ter de depender dos humores de Estaline [Stálin].'
Oito semanas, oito semanas... e se aquilo não estivesse acabado dentro de oito semanas? É verdade que até agora o Führer nunca se enganou.'
(pp. 20-21)
“É às 23 horas que o comboio especial do Führer chega a Rastenburg, na Prússia Oriental, onde Hitler fizera construir pela Organização Todt o Quartel-General de onde dirigirá a operação 'Barba-Ruiva', a guerra contra a URSS. Keitel e Jodl acompanharam-no durante a viagem.
'Wolfschanze', a toca do lobo; foi assim que Hitler baptizou o campo guerreiro escondido nos bosques de onde, em oito ou dez semanas, abaterá a Rússia. A Organização Todt não poupou precauções. Por baixo da cobertura florestal encaixou os tectos e as paredes de tal forma que os arbustos crescem sobre ela, junto com o mato e o musgo. O conjunto é indiscernível.
[…]
Para entrar ou sair, o mesmo luxo de precauções. Três barreiras sucessivas, todas guardadas por SS auxiliados por molossos [i.e. Bulldogs] , e passes de cores diferentes que autorizavam a circulação, segundo a atribuição, apenas numa barreira ou noutra. Para atingir o quartel reservado a Hitler, tinha de ser exibido um cartão especial. Tão parcimoniosamente distribuído que, entre os dirigentes do OKW, só o marechal Keitel e os generais Jodl e Warlimont o possuíam.
Porque Hitler fizera-se acompanhar por todas as direcções das suas forças militares e instalara a alguns quilômetros em redor, em campos semelhantes, o Estado-Maior da Wehrmacht, o Estado-Maior do Exército, o Estado-maior do Exército do Ar [i.e. a Luftwaffe]. Em alguns quilômetros ao fundo de uma floresta, todos os ramos do Exército alemão tinham sido concentrados. Em menos de uma hora todos podiam ser convocados, à disposição de Hitler.”
(pp. 27-28)
“24 horas. Últimos minutos do dia 21 de junho, primeiros minutos do dia 22 de junho de 1941. faz um ano, exactamente neste dia, que a França capitulou em Compiègne. E neste dia que começa, cinco milhões de homens, soldados e oficiais, carregados com metralhadoras e granadas, perfeitamente treinados, apoiados por 50 000 canhões e morteiros, 3 000 carros de combate e 2 900 aviões, um quarto de litro de álcool e trinta cigarros nos bolsos, de capacetes e botas, esperavam, imóveis, frente à fronteira.”
(p.30)
“0 e 15. Estaline [Stálin] permanece insensível aos argumentos inquietantes de Timochenko [marechal, ministro da Defesa], que enumera por várias vezes as informações e os indícios que provam, todos, um ataque de envergadura ao romper da manhã. Nada consegue. Estaline [Stálin] está inabalável, firme na sua convicção: 'Inútil insistir, camarada Timochencko, não semeareis o pânico. Ordem de alerta somente, nos termos que lhe indiquei.' E desliga.
A ordem de alerta, de alerta somente, e nos termos prescritos por Estaline [Stálin], é imediata redigida, codificada e expedida.
[…]
“A ordem de estado de alerta, e não de guerra, deixa-nos hoje perplexos como deviam ter ficado perplexos os generais [russos soviéticos] que a receberam. Fala de possíveis provocações alemãs, dita medidas de segurança extremamente limitativas: assim, não está previsto distribuir munições às tropas, à artilharia, nem sequer carburante aos blindados; enfim, proíbe formalmente toda a iniciativa de qualquer ordem que seja, sem a ter previamente referido a Moscovo [Moscou]. Numa palavra: esperar.”
“Por quê esta ordem de estado de alerta, limitada e peremptória nas suas proibições? Estaline [Stálin] ignora os preparativos alemães? Será falta dos serviços de informações? Traição da sua comitiva? Não foi avisado?'
(pp. 31 e 33-34)
A questão final sobre o centralismo da ditadura estalinista ao engessar a defesa das fronteiras da URSS, e de como Stalin não quis acreditar nos indícios de ofensiva em larga escala, será abordada em outras postagens. Assim como a questão da informação, dos informes de espionagem, que Stalin considera todo aviso de 'ataque iminente' como uma 'provocação inglesa'.)
fonte: RONDIÈRE, Pierre. Quando Hitler atacou a leste. Lisboa, 1972. ( Et Le Monde Retint son Souffle. Paris, 1967. trad. Domingos Vieira. Cap. 1, Cinco milhões de homens em sentido. Cap. 2, 'Inútil insistir: não semeareis o pânico!')
info sobre o Covil do Lobo (em Rastenburg)
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