segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Avanço Aliado na Europa - outubro - dezembro 1944




















Avanço Aliado na Europa


outubro - dezembro 1944

        “A controvérsia iniciou-se com um desacordo técnico entre Montgomery [general britânico] e Eisenhower [general norte-americano, comandante das forças aliadas] a respeito do modo como os aliados deveriam progredir para leste. Durante o mês de agosto Montgomery começou a pressionar o Comandante Supremo em favor da sua própria proposta, no sentido de que todas as prioridades logísticas fossem atribuídas a um grupo compacto de 40 divisões, retiradas do seu 21º Grupo de Exércitos e do 12º Grupo de Bradley, o qual deveria progredir como um ataque único, passando pelo franco esquerdo das Ardenas, atravessando o Ruhr sem se deter e alcançando Berlim através do terreno limpo no norte da Alemanha. Esta força deveria ter um comando único – ele próprio, de preferência, embora estivesse disposto a aceitar Bradley [general norte-americano]. Todavia, não houve nada que convencesse Eisenhower a deter as forças americanas no seu flanco direito para facilitar um ataque de 40 divisões no flanco esquerdo. Ao invés disto, ele insistiu em uma progressão com duas pontas, uma ao longo da linha proposta por Montgomery e outra orientada para leste, pelo sul das Ardenas, com a finalidade de penetrar na Alemanha pelo Sarre.

         No dia 29 de agosto Eisenhower endereçou uma carta extensa a Montgomery e a Bradley, na qual explicava suas intenções com absoluta clareza. Foi este o cerne de uma controvérsia que se prolongou pelos meses seguintes, alcançando a intensidade máxima quando Hitler desencadeou a ofensiva das Ardenas e que ressurgiu nas últimas semanas da campanha europeia. Além disto, o que se iniciara como um desacordo legítimo entre comandantes em campanha, a respeito de uma estratégia correta, ampliou-se em discussões sobre o restabelecimento de um comando único para as forças terrestres; desta forma, uma disputa no campo de batalha alcançou os círculos da alta política e penetrou nas áreas mais sensíveis do acordo anglo-americano.

       Embora Churchill e os Chefes de Estado-Maior estivessem naturalmente a par do que sucedia, mantiveram-se afastados da disputa na sua fase inicial.

        Oficialmente, os Chefes do Estado-Maior Conjunto não foram chamados a opinar sobre a divergência de ideias. Em que pese o vulto e a gravidade da divergência, por sua própria natureza ela não constituía assunto da alçada deles. As alternativas ocorriam exclusivamente no seio de um plano de campanha cujo objetivo e forma eles já haviam aprovado, e envolvia forças enquadradas em um teatro de operações e que não poderiam ser imediatamente reforçadas por nenhuma resolução que tomassem. Os Chefes de Estado-Maior americanos e ingleses, e o Primeiro-ministro, recebiam informações pessoais sobre a discussão e acompanhavam-na com interesse, mas não estavam envolvidos de nenhuma forma no resultado. Trata-se, sem dúvida, de uma bom exemplo, no mais alto escalão, da divisão de responsabilidade entre um teatro de operações e o comando central.

        Entretanto, na medida em que corriam os meses aumentava inevitavelmente a impaciência em Londres – tendo Arnheim [i.e. o objetivo da operação Market Garden] constituído um desapontamento, continuando a Antuérpia a não poder ser utilizada como porto e com os exércitos aliados parecendo uma força impotente estendida ao longo da fronteira alemã, como resultado da estratégia de frente ampla de Eisenhower. Ao surgir a ideia de interpor um oficial competente entre o Comandante Supremo e seus exércitos, Londres teve que examinar qual a ação prática a adotar, diante de um assunto que afetaria diretamente as relações com Washington. E havia implicações mais profundas. A progressão aparentemente frouxa na Europa era mais ameaçadora para Churchill e o governo inglês do que para os americanos. A economia inglesa distendera-se ao máximo e as reservas em recursos humanos eram nulas – na verdade, depois da Normandia, foi preciso dissolver uma divisão de Infantaria para proporcionar recompletamento para outras.

        Além disto, os ingleses tinham uma finalidade tanto política como militar quando se colocavam a favor de um avanço contra Berlim pelo norte da Alemanha, comandado por Montgomery, se possível. Por exemplo, isto significaria uma rápida libertação da Holanda (por quem a Grã-Bretanha sentia grande responsabilidade) e a limpeza dos locais de lançamento das V-2, além da conquista dos portos e bases navais alemães (de interesse capital para a Inglaterra) e a presença britânica na capital germânica antes da chegada dos russos (de importância incalculável para Churchill).

        De qualquer maneira, Churchill manteve-se comedido até a última fase da guerra. Seu repúdio desdenhoso (e injusto) a Eisenhower por inépcia militar ficou circunscrito a Alanbrooke e Montgomery. Em particular, o Primeiro-ministro não era favorável à ideia de um comando geral para as forças terrestres. Em face da sua grande afinidade por Alexander, estava pronto a ventilar a ideia de chamar Tedder de volta ao Estado-Maior da Aeronáutica, em Londres, e trazer Alexander do Mediterrâneo para ser subcomandante de Eisenhower. Mas nunca fez muita força por isto. Na verdade, foi Hitler quem resolveu a controvérsia temporariamente, lançando através das Ardenas, em dezembro, o Exército Panzer reunido sigilosamente.

        Ao nascer do dia 16 de dezembro o problema deixou de ser como avançar na Alemanha para ser como deter o avanço dos alemães. Churchill escreveu a Smuts: 'Na tarde do dia 20 falei com Eisenhower pelo telefone e sugeri que ele atribuísse a Montgomery o comando das tropas situadas ao norte da penetração inimiga e a Omar Bradley tudo o que ficou ao sul, mantendo com ele o comando geral da operação. Respondeu-me que já havia expedido ordem exatamente neste sentido na parte da manhã'. Assim, as circunstâncias criaram as condições desejadas por Montgomery e seus superiores, mas Montgomery desperdiçou a oportunidade, em que pese a sua contribuição legítima para a vitória na Batalha do Bolsão [ou Bulge]. Alanbrooke chamara a sua atenção para isto.”

pp. 293-295


fonte: LEWIN, Ronald. Churchill – O Lorde da Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1979.







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Comandante Supremo Eisenhower






Ofensiva das Ardenas / dezembro 1944 
 






bombas voadoras V-1 e V-2











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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Final do Governo Roosevelt e a vitória 1944-45









Final do Governo Roosevelt e a vitória sobre o Eixo


1944/1945



       “Franklin Roosevelt não veria os grandes acontecimentos que poriam fim à luta no Oriente. Ele sofreu um forte derrame cerebral e nunca recuperou a consciência, morrendo no dia 12 de abril [de 1945]. Tocou a um novo e despreparado Presidente, Harry Truman, tomar a última decisão no Extremo oriente, assumir a terrível responsabilidade do emprego da bomba atômica e, de outro lado, facilitar a capitulação final dos japoneses permitindo-lhes conservar seu Imperador.

      Os acontecimentos militares e navais de 1941-45 constituíram apenas uma parte da história da guerra. Como os narramos, tendem a salientar excessivamente o papel dos Estados Unidos na luta. Afinal de contas, a guerra foi uma guerra mundial e não uma guerra americana; é preciso encará-la numa perspectiva mundial. Ela não poderia ter sido ganha sem a ajuda dos aliados dos Estados Unidos.”

[…]

     As diferenças políticas que surgiram já foram na maior parte comentadas. Franklin Roosevelt refletia o sentimento da maioria em sua aversão por aquela coisa vaga chamada de imperialismo britânico; e às vezes arreliava o Primeiro-ministro [i.e. Churchill], provocando-lhe verdadeira indignação. Mas, na maior parte das vezes, a controvérsia era mantida em sigilo; e só uma vez a indignação de Churchill se manifestou em público, quando declarou no Parlamento que não se tornara o Primeiro-Ministro do rei para 'presidir à liquidação do império britânico'. O antiimperialismo do Presidente, conforme seus críticos de hoje afirmam frequentemente, pôs em ação forças altamente inconvenientes para o Ocidente; mas é exagero atribuir a crescente consciência de si mesmos dos povos assim chamados dependentes do mundo de hoje à influência de um único homem. Parece provável, na realidade – se não certo – que, com Roosevelt ou sem Roosevelt, o mundo contemporâneo teria contado com um nacionalismo militante entre as irrequietas populações da África e da Ásia.

        Já se disse algumas vezes que o Presidente e o Primeiro-Ministro cometeram um dos erros capitais da guerra na conferência em tiveram em Casablanca no inverno de 1942. ali promulgaram a assim chamada doutrina da 'rendição incondicional' [unconditional surrender] que teria concorrido para o prolongamento da luta enrijecendo a resistência do inimigo. Não é fácil ver a força desse argumento. Certamente, os italianos capitularam logo quando se viram pressionados; em 1944 e 1945 contingentes italianos estavam lutando ao lado das democracias.

      Quanto à Alemanha, vale notar que a ideia de 'rendição incondicional' não impediu a formação de um complô contra Hitler que quase conseguiu assassinar o ditador no verão de 1944 [i.e. a Operação Valkíria, deflagada em 20 de julho, com participação de militares e civis da resistência alemã]. Só a sorte salvou o Führer de ter sido mortalmente ferido por uma bomba introduzida em seu próprio quartel-general e que explodiu numa conferência a qual comparecera. Mas além disso. Não era uma doutrina correta recusar negociações com esse tirano sinistro e insistir numa capitulação total enquanto ele permanecesse no poder?

         Os erros, entretanto, são inevitáveis nos grandes negócios e em duas matérias em que agiram de comum acordo, o Presidente e o Primeiro-ministro indubitavelmente erraram. Um erro, o compromisso de reduzir drasticamente o poder industrial da Alemanha 9o assim chamado plano Morgenthau), assumido em Quebec no outono de 1944, foi logo corrigido. O outro foi mais sério. Muito antes do fim da guerra, fora feito um acordo com os russos sobre as zonas de ocupação das grandes potências quando terminado o conflito. O efeito desse acordo foi entregar, praticamente, ao sereno arbítrio do Kremlin [i.e. O governo soviético] áreas que tinham sido invadidas pelas forças americanas e que poderiam ter sido preservadas para a liberdade.

         Consideramos essa espécie de coisas, entretanto, numa perspectiva hoje diversa daquela dos anos de guerra. Afinal de contas, o papel dos russos na guerra foi fundamental. Eles estiveram lutando com grandes exércitos alemães e sua colaboração foi essencial. […]

            Vez por outra ocorreram pequenas rusgas [entre ocidentais e soviéticos], mas de modo geral, o ano de 1944, o ano do desembarque aliado na França e das extraordinárias vitórias sobre os alemães, marcou o auge da cooperação com o Kremlin.”

pp. 153-157

fonte: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932-1945. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1967.





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a rendição incondicional

[na Conferência de Casablanca]






Operação Valkíria







Presidente Harry Truman







Plano Morgenthau