fonte
da imagem: http://www.frontantiguidades.com/blog/
FEB
Força Expedicionária Brasileira
1943
/ 1944
Fileiras
(quase) democráticas
“Em
1943, o Exército brasileiro tinha menos de cem mil homens em seus
quadros. Em julho de 1943, depois da convocação geral, menos de
três mil voluntários se apresentaram, e metade foi reprovada nos
exames de seleção físicos e sanitários. No momento em que o
alistamento voluntário não correspondeu às expectativas, teve
lugar a convocação compulsória de reservistas, em grande parte
provenientes das classes trabalhadoras – operários e agricultores
-, que compunham a maioria populacional do Brasil. Os militares de
carreira, os oficiais da reserva e um grande número de recrutas
provenientes das capitais brasileiras representavam uma parte mais
privilegiada da população. A FEB formava um quadro representativo
fiel da sociedade brasileira da época.
Uma
das grandes virtudes atribuídas à FEB era o caráter não
segregacionista de suas fileiras. De fato, se comparada à política
racista vigente nos Exércitos inglês e americano, em que tropas
coloniais e negros eram abertamente segregados, usados apenas para
serviços na retaguarda ou reunidos em tropas separadas, comandadas
por oficiais brancos, a FEB eram de fato, uma tropa miscigenada.”
[...]
pp.
111-112
…
A
arte do improviso
“Os
novos equipamentos dos americanos não chegavam em quantidade
suficiente para treinar o efetivo da FEB, problema que se estendeu de
janeiro até julho de 1944, às vésperas da partida do primeiro
escalão para a Itália. O 9º Batalhão de Engenharia, sediado em
Aquidauana, Mato Grosso do Sul, foi obrigado a improvisar no
treinamento de prospecção de minas terrestres. Seus integrantes
pediram à população da cidade que doasse todas as latas de
goiabada disponíveis, as quais seriam utilizadas com o propósito de
simular minas enterradas para que fossem localizadas pelos novos
detectores eletrônicos e, assim, possibilitassem os treinamentos em
campo.
A
chegada de alguns canhões americanos anticarro de 57 milímetros e
obuseiros de 105 milímetros possibilitou o treino de uma parte da
artilharia regimental, mas a maior parte dos soldados só teve
contato com essas e outras modalidades de armamentos ao chegar à
Itália. Os canhões de 155 milímetros, que formavam uma bateria da
Artilharia Divisionária, foram entregues apenas na frente de
combate.
A
FEB tomava forma, e a opinião pública ficava sabendo pela imprensa
sobre a mobilização – mesmo com a censura vigente -, ainda sob
influência popular para uma resposta à agressão do Eixo. Havia
certa empolgação geral, mas logo todos começaram a tomar
conhecimento dos muitos problemas materiais e conceituais que se
apresentavam nesse processo.
Os
integrantes do governo que não gostariam de ver a FEB se tornar
realidade deixavam vazar informações para minar os trabalhos
necessários à sua organização. Eram os germanófilos em ação,
que, mesmo com o distanciamento cada vez maior da Alemanha, ainda
tentavam influenciar Vargas a não se alinhar com os Estados Unidos e
alertá-lo sobre os perigos da concessão de poder a um grupo
pró-democrático no Brasil. Entretanto, para o ditador brasileiro,
as vantagens de uma empreitada como essa pareciam superar os
contras.”
[…]
pp.
112-113
…
A
cobra vai fumar?
“Se
eram essas as condições oferecidas aos soldados a caminho do campo
de batalha, com que disposição lutariam? Nesse cenário, surgiam
dúvidas e questionamentos sobre a real possibilidade de o Brasil
enviar seus soldados para a guerra, já que as metas a serem
superadas se mostravam bastante difíceis. Havia um pessimismo
generalizado, algo que resultou na frase que representava o
pensamento sobre a FEB: “É mais fácil uma cobra fumar do que o
Brasil mandar soldados para a guerra.”
Dentro
do grande número de histórias criadas por conta da formação da
FEB, muita gente acreditou nos boatos de que a famosa frase sobre a
cobra fumando teria sido pronunciada pelo próprio Hitler, mas
certamente o líder nazista estava mais preocupado com a guerra em
andamento – em especial, no sangrento front russo – do que
com as dificuldades brasileiras em organizar sua força militar
expedicionária.
Mesmo
com a forte censura, o povo nas ruas tomava conhecimento da
insuficiência do alistamento voluntário, da convocação
compulsória de reservistas, das dificuldades em deixar o país
guarnecido, caso as Forças Armadas fossem enviadas para além-mar, e
da patente falta de recursos para equipar os soldados. A participação
das associações estudantis nas fileiras de alistamento da FEB era
inversamente proporcional às demonstrações por elas organizadas
nas ruas das grandes cidades meses antes, quando pediam a declaração
de guerra. Na verdade, dentro da FEB, poucos estudantes com idade
para alistamento se apresentaram.”
pp.
114-115
fonte:
BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra desconhecida. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
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