segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Formação da FEB - 1943/ 1944 - a cobra vai fumar?









FEB

Força Expedicionária Brasileira

1943 / 1944



Fileiras (quase) democráticas

“Em 1943, o Exército brasileiro tinha menos de cem mil homens em seus quadros. Em julho de 1943, depois da convocação geral, menos de três mil voluntários se apresentaram, e metade foi reprovada nos exames de seleção físicos e sanitários. No momento em que o alistamento voluntário não correspondeu às expectativas, teve lugar a convocação compulsória de reservistas, em grande parte provenientes das classes trabalhadoras – operários e agricultores -, que compunham a maioria populacional do Brasil. Os militares de carreira, os oficiais da reserva e um grande número de recrutas provenientes das capitais brasileiras representavam uma parte mais privilegiada da população. A FEB formava um quadro representativo fiel da sociedade brasileira da época.


Uma das grandes virtudes atribuídas à FEB era o caráter não segregacionista de suas fileiras. De fato, se comparada à política racista vigente nos Exércitos inglês e americano, em que tropas coloniais e negros eram abertamente segregados, usados apenas para serviços na retaguarda ou reunidos em tropas separadas, comandadas por oficiais brancos, a FEB eram de fato, uma tropa miscigenada.”

[...]


pp. 111-112




A arte do improviso


“Os novos equipamentos dos americanos não chegavam em quantidade suficiente para treinar o efetivo da FEB, problema que se estendeu de janeiro até julho de 1944, às vésperas da partida do primeiro escalão para a Itália. O 9º Batalhão de Engenharia, sediado em Aquidauana, Mato Grosso do Sul, foi obrigado a improvisar no treinamento de prospecção de minas terrestres. Seus integrantes pediram à população da cidade que doasse todas as latas de goiabada disponíveis, as quais seriam utilizadas com o propósito de simular minas enterradas para que fossem localizadas pelos novos detectores eletrônicos e, assim, possibilitassem os treinamentos em campo.


A chegada de alguns canhões americanos anticarro de 57 milímetros e obuseiros de 105 milímetros possibilitou o treino de uma parte da artilharia regimental, mas a maior parte dos soldados só teve contato com essas e outras modalidades de armamentos ao chegar à Itália. Os canhões de 155 milímetros, que formavam uma bateria da Artilharia Divisionária, foram entregues apenas na frente de combate.


A FEB tomava forma, e a opinião pública ficava sabendo pela imprensa sobre a mobilização – mesmo com a censura vigente -, ainda sob influência popular para uma resposta à agressão do Eixo. Havia certa empolgação geral, mas logo todos começaram a tomar conhecimento dos muitos problemas materiais e conceituais que se apresentavam nesse processo.


Os integrantes do governo que não gostariam de ver a FEB se tornar realidade deixavam vazar informações para minar os trabalhos necessários à sua organização. Eram os germanófilos em ação, que, mesmo com o distanciamento cada vez maior da Alemanha, ainda tentavam influenciar Vargas a não se alinhar com os Estados Unidos e alertá-lo sobre os perigos da concessão de poder a um grupo pró-democrático no Brasil. Entretanto, para o ditador brasileiro, as vantagens de uma empreitada como essa pareciam superar os contras.”

[…]

pp. 112-113




A cobra vai fumar?

“Se eram essas as condições oferecidas aos soldados a caminho do campo de batalha, com que disposição lutariam? Nesse cenário, surgiam dúvidas e questionamentos sobre a real possibilidade de o Brasil enviar seus soldados para a guerra, já que as metas a serem superadas se mostravam bastante difíceis. Havia um pessimismo generalizado, algo que resultou na frase que representava o pensamento sobre a FEB: “É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil mandar soldados para a guerra.”


Dentro do grande número de histórias criadas por conta da formação da FEB, muita gente acreditou nos boatos de que a famosa frase sobre a cobra fumando teria sido pronunciada pelo próprio Hitler, mas certamente o líder nazista estava mais preocupado com a guerra em andamento – em especial, no sangrento front russo – do que com as dificuldades brasileiras em organizar sua força militar expedicionária.


Mesmo com a forte censura, o povo nas ruas tomava conhecimento da insuficiência do alistamento voluntário, da convocação compulsória de reservistas, das dificuldades em deixar o país guarnecido, caso as Forças Armadas fossem enviadas para além-mar, e da patente falta de recursos para equipar os soldados. A participação das associações estudantis nas fileiras de alistamento da FEB era inversamente proporcional às demonstrações por elas organizadas nas ruas das grandes cidades meses antes, quando pediam a declaração de guerra. Na verdade, dentro da FEB, poucos estudantes com idade para alistamento se apresentaram.”

pp. 114-115



fonte: BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra desconhecida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.



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