Posição
das forças norte-americanas
no
início de 1942
no
cenário da Expansão Japonesa
No
início da Guerra os comandantes norte-americanos precisavam tomar
uma decisão crucial: qual o teatro de guerra que receberia a
prioridade? Qual o ponto principal da estratégia global? A
Europa-Atlântico Norte ou o Sudeste-Asiático-Pacífico?
Vejamos
uma interessante fonte, o livro de Dexter Perkins,
“[...]
No fim do inverno de 1942 as forças inglesas foram obrigadas a
evacuar a Tripolitânia numa retirada quase até a fronteira do
Egito, e Mussolini se preparava quase, com a ajuda de seus amigos
alemães, fazer uma entrada triunfal em Alexandria. Finalmente,
nenhuma medida adequada tinha sido tomada contra os submarinos
alemães que infestavam a costa do Atlântico e as águas das
Antilhas. Navios eram afundados a trinta milhas de Nova York, ao
largo das costas da Flórida e até nas proximidades do Canal do
Panamá. Mais navios foram afundados do que construídos no período
inicial da guerra.
Assim
também tinha acontecido na I Guerra Mundial. 1917 tinha sido
tão sombrio ou talvez ainda mais sombrio do que 1942. a ofensiva
francesa sob o comando do General Nivelle em abril daquele ano tinha
sido rechaçada e ocorriam motins no exército francês; no verão
ocorreu a gradativa dissolução do poder russo; o outono testemunhou
a derrota esmagadora dos exércitos italianos no Piave; e novembro
assistiu à tomada do poder pelos bolcheviques e as primeiras
iniciativas da Rússia para uma paz em separado com a Alemanha. Não
obstante, um quadro mais amplo e uma perspectiva mais longa teriam
uma história diferente para contar. E é um fato a ser lembrado que,
pelo menos na História moderna, o poder de resistência das grandes
democracias lhes granjeou uma vitória final. A margem de tempo pode
não ser tão generosa no futuro; mas a consciência do perigo é
mais viva nestes dias; e pelo menos pode-se dizer que os Estados
Unidos não estão sujeitos a enfrentar uma nova guerra tão pouco
preparados como estavam em 1917 ou mesmo em 1941.
O
perigo dos japoneses era de certo modo o mais imediato e, apesar de
muitos exemplos de bravura americana – a heróica defesa da
fortaleza filipina em Bataan e de Wake - , havia muito
pouco com que se contentar até maio e junho de 1942. nesses meses
foram travadas as notáveis batalhas do Mar de Coral e de
Midway, ambos novos na história da guerra marítima. Toda a ação
no Mar de Coral foi levada a efeito com o auxílio de porta-aviões e
nenhuma armada jamais avistara outra. Em Midway, embora os
bombardeios de base terrestre na ilha de possessão americana
desempenhassem um papel valoroso, mais uma vez aos porta-aviões
tocou o papel principal. A batalha do mar de Coral infligiu aos
japoneses pesadas perdas – perdas, entretanto, que quase foram
compensadas pelas americanas; mas Midway foi de certo modo o ponto
decisivo da guerra no Pacífico. Essa batalha desmantelou a força de
uma frota japonesa de invasão que visava Havaí; ela pôs fim às
ofensivas japonesas no Pacífico.
Entrementes
a questão central tinha de ser respondida em Washington. Qual
deveria ser a grande estratégia da guerra: deveria ser o maior
esforço voltado contra a Alemanha ou contra o Japão? Não é que,
naturalmente, alguém advogasse a inércia em um campo e empenho
total no outro: a questão era relativa, mas, não obstante, de
importância transcendente. Ficou decidido que em princípio a
Alemanha era o inimigo mais perigoso. Esse foi o parecer dos
assessores militares de maior confiança do Presidente; mas, pelo
menos numa ocasião em que estiveram inclinados a enfraquecer, foram
reforçados pelo próprio Presidente. Retrospectivamente, o argumento
parece conclusivo para este autor: na Europa os Estados Unidos tinham
aliados efetivos; na Ásia só Chiang Kaichek [na China], muito
ineficiente, e o poder abalado da Grã-Bretanha. Além disso, na
Europa os Estados Unidos enfrentavam uma força cujos poderosos
recursos tecnológicos e engenho poderiam ser usados, com o progresso
da ciência, para aterrorizar o Mundo.
Quase
não é preciso dizer que o Primeiro-Ministro Winston Churchill
aprovou essa decisão; na verdade, não perdeu tempo depois de Pearl
Harbor atravessando o Atlântico para instar junto a Roosevelt
por essa linha de ação. E desse modo foi iniciada a íntima
associação desses dois homens notáveis e uma intimidade que,
apesar de profundas divergências de pontos de vista (pois Churchill
era fundamentalmente um tóri e imperialista e Roosevelt um liberal e
anticolonialista), durou, com apenas algumas rugas ocasionais, até a
morte do presidente.
Mas,
admitido que a guerra na Europa tivesse prioridade, como seria
atendida? Os chefes americanos nesse ponto, desde o início, tinham
uma ideia clara do que queriam: uma invasão maciça do continente
através do Canal da Mancha, que absorveria uma imensa quantidade de
alemães, enquanto os russos os manteriam igualmente ocupados a
leste. Para Churchill essa perspectiva era menos convidativa; ele se
lembrava dos dias da triste guerra de trincheiras de 1914 e das
perdas desconcertantes naquela guerra. Embora nunca ousasse – ou
talvez desejasse – opor-se ao plano americano, era extremamente
cauteloso com o que fosse programado ou resolvido, como veremos, para
alarmes e excursões em outras áreas. Foi em parte por causa dele,
em parte porque era impossível invadir com êxito a França em 1942,
e por ser evidentemente necessário fazer alguma coisa, que a invasão
da África do Norte foi decidida para o outono daquele ano.”
pp.
143-146
fonte:
PERKINS, Dexter. A Época
de Roosevelt. 1932-1945.
Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1967. trad. Edilson Alkimim Cunha
Expansão
Japonesa
Enquanto
a indústria e as forças armadas norte-americanas se preparavam, os
japoneses avançavam na Ásia e Pacífico, até as beiradas do Mar
Índico e norte da Austrália. Mas as forças japonesas mostravam
debilidades.
Vejamos
a História Ilustrada da II Guerra sobre o avanço japonês,
“Com
a tomada de Rabaul no arquipélago Bismarck (janeiro de 1942), a
ocupação de Lae e Salamaua na costa setentrional da Nova Guiné
(março) e de parte das ilhas Salomão, o sistema de defesa marítimo
japonês chegou à sua máxima expansão. No Pacífico, a potência
militar do japão se ampliou com a força de um maremoto, das
fronteiras da Índia até os limites da Austrália. As praças-fortes
'brancas' (Hong Kong, Rangum, Manila, Cingapura, Java, Corregidor)
caíram uma após outra. O tremendo estrépito das derrotas aliadas
parece fazer soar a hora do fim da tutela dos imperialismos europeus
sobre as populações asiáticas.
Em
abril de 1942 a Marinha e a aviação japonesa no Ceilão (atual Sri
Lanka) fazem sua última incursão para conquistar o controle sobre o
oceano Índico. A operação foi um fracasso, porque o Eastern
Fleet britânica abandonou a região em tempo e encontrou refúgio
perto da costa africana. Um mês antes os submarinos de Tóquio
tinham chegado até Madagascar. A vitória final, depois do ansiado
choque decisivo com a frota americana no Pacífico, parece estar no
alcance das mãos do Japão.
A
Esfera de Coprosperidade Asiática
Uma
vez garantido o sucesso militar, o japão pode dar continuidade a seu
projeto de subjugação militar e política da área. Do conceito de
'esfera de prosperidade comum da grande Ásia oriental' que Tóquio
proclamou em 1942 surgem com clareza os objetivos de dominação
imperialista nessa área do mundo. Tendo surgido nos ambientes
nacionalistas do Exército e da Marinha japoneses antes do conflito,
a noção de 'coprosperidade' espelha a convicção do país de
exercer seu domínio absoluto na Ásia. O Japão deve atestar sua
superioridade moral, cultural e econômica que seus exércitos
obtiveram com a força militar sobre o 'individualismo e o
materialismo ocidentais'.
A
'nova ordem' desejada pela política pan-asiática de Tóquio não
tarda, porém, em demonstrar-se coisa bem diversa da perspectiva da
independência – embora sob tutela – ansiada por muitas
populações no momento da queda de administrações que duraram
séculos. Embora tenha destronado o colonialismo europeu na Birmânia,
na Malásia e na Indonésia, o Japão instaura regimes fantoches aos
quais confia com brutalidade a tarefa de explorar os recursos vitais
para a economia imperial. A 'niponização forçada' das populações
submetidas trai as expectativas de todos aqueles que saudaram a
chegada de um exército do qual se esperava uma administração
rigorosa e eficaz, mas que que de libertador se transforma
rapidamente em rapinante força de ocupação.
Os
Pontos Fracos do Japão
As
fulgurantes vitórias militares japonesas se apoiam em bases frágeis.
Uma das principais razões que induziram o país a entrar em guerra
com o ataque de surpresa a Pearl Harbor é a
necessidade de evitar o estrangulamento econômico derivado do
embargo americano aos materiais estratégicos. A conquista de grandes
territórios não consegue, porém, eliminar a enorme diferença de
recursos entre o Japão e os Aliados, e a economia de guerra de
Tóquio é afetada pro graves carências. Não só porque não foram
acumuladas consideráveis reservas de matérias-primas e de materiais
para gerir a defesa e a administração de enormes territórios (a
dependência do Japão das importações de petróleo é calculado em
cerca de 90% de suas necessidades), mas também porque, apesar da
conquista das jazidas indonésias, as necessidades bélicas de Tóquio
são muito superiores à disponibilidade do óleo cru exigido. Aos
cerca de 1,2 milhão de soldados aquartelados na China deve-se
acrescentar outro 1,5 milhão de soldados das tropas dos governos
fantoches, que necessitam de suprimentos nos territórios ocupados.
No
momento de seu máximo esforço, em 1943, o Japão produz menos de
nove milhões de toneladas de aço (contra 12 da Grã-Bretanha e 80
milhões dos Estados Unidos). Sua produção de minérios (cobre,
ferro, manganês, carvão coque) é, em média, 50 % inferior às
necessidades bélicas. Aumenta o racionamento dos produtos
alimentícios para uma população nacional (cerca de 73 milhões)
cujas necessidades alimentares não podem ser satisfeitas pela
produção agrícola nacional nem pelas 'ofensivas do arroz' que as
tropas de ocupação realizam periodicamente para requisitar
colheita nas áreas agrícolas chinesas.
A
produção de guerra do Japão sofre com a escassez de mão de obra
qualificada; nem a mobilização de mulheres e adolescentes
conseguirá preencher as lacunas de seu aparato industrial. O Produto
Nacional Bruto cresce um quarto durante o conflito, mas as despesas
de guerra aumentam cinco vezes. No fim do conflito, a população do
país se encontrará à beira da fome. O Japão olha para a guerra em
termos exclusivamente militares: os comandos supremos de Tóquio não
consideram que a defesa de enormes conquistas territoriais dependerá
especialmente do esforço econômico e produtivo do país.
Se
a principal fraqueza das instalações defensivas do Japão reside –
como foi visto – em sua economia, é transparente a diferença que
o separa da economia industrial mais eficiente do século, isto é, a
dos Estados Unidos.
Com
um exército que até aqui deu provas de uma extraordinária
capacidade de combate, o Japão se verá irremediavelmente
prejudicado por graves carências que, graças a um formidável
aparato de segurança, são ocultadas não só da população do
país, ms também da espionagem ocidental.”
pp.
160-62, 164-65
fonte:
FIORANI, Flavio. História
Ilustrada da II Guerra Mundial. Volume 2.
São Paulo: Larousse, 2009. trad. Ciro Mioranza
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