segunda-feira, 26 de março de 2012

Expansão Japonesa no Sudeste Asiático - 1942



Guerra no Pacífico

Expansão Japonesa no Sudeste Asiático


(Filipinas, Singapura, Burma, Índias Orientais Holandesas, Nova Guiné)


março-abril 1942


Ataques no Índico

“Os ataques no Oceano Índico foram um duro golpe para a força naval inglesa na área – e levaria bastante tempo para a Marinha Real ser capaz de operar ofensivamente contra o Japão.

O desastre teve origem nas operações das forças do Almirante Nagumo, que contornaram os navios ingleses nas proximidades e atacaram o Colombo e o Trincomalee no Sri Lanka.

Os ingleses foram prejudicados por informações incorretas fornecidas pelo serviço de inteligência, o que fez com que sua força principal estivesse reabastecendo a centenas de quilômetros de distância quando a frota japonesa atacou. Os navios ingleses antigos não conseguiram impedir os invasores; na realidade, dado o tempo de uso, é bastante discutível se eles teriam capacidade de impedir a ação, considerando sua vulnerabilidade em relação ao impressionante poder naval e aéreo dos porta-aviões japoneses.

No ataque, os desgastados cruzadores Dorsetshire e Cornwall foram afundados em 5 de abril, enquanto o porta-aviões Hermes, sem qualquer avião a bordo, foi afundado quatro dias depois no percurso de volta de Trincomalee. Surpreendido pelas aeronaves japonesas e totalmente sem defesas, o porta-aviões foia fundado em questão de minutos.

Durante os ataques no Oceano Índico, os japoneses foram consistentemente superiores à marinha Real, demonstrando o equívoco da crença pré-guerra de que uma força pequena com navios obsoletos seria suficiente para deter superioridade sobre a marinha japonesa.” p. 187


“Não foi apenas contra a esquadra norte-americana que as forças do Almirante Nagumo tiveram considerável sucesso no início da guerra no Pacífico. Três meses depois da Operação Havaí, Nagumo causou um golpe similar à Marinha Real Britânica em um ataque no Oceano Índico.

Em 19 de fevereiro de 1942, quatro dos porta-aviões de Nagumo iniciaram uma operação contra Darwin e Broome no noroeste da Austrália, afundando uma dúzia de navios e danificando seriamente as instalações da base e as próprias cidades, tudo ao custo da perda de apenas uma aeronave. A ação foi seguida por um descanso de quatro semanas enquanto navios e tripulações se preparavam para a próxima missão. Em 26 de fevereiro, os porta-aviões começaram a navegar pelo Oceano Índico.

O Oceano Índico era uma fonte de considerável preocupação para os ingleses. A Marinha Real tinha cinco couraçados e três porta-aviões na área, mas um dos porta-aviões estava obsoleto e quatro couraçados eram antigos e não chegariam perto do que quer que os japoneses usassem no ataque. O comandante da força inglesa, Almirante Sir James Somerville, foi cuidadoso ao lidar com seus recursos, levando em conta as informações do serviço de inteligência de um ataque japonês contra o Sri Lanka no início de abril. Somerville manteve sua força avançando para o oeste na luz do dia e seguindo na direção da esperada linha de aproximação japonesa durante a noite.

Infelizmente pra Somerville, as informações estavam erradas. Na tarde do dia 2 de abril de 1942, a maior parte de seus navios precisava reabastecer. Eles seguiram para a base no atol de Addu, deixando dois cruzadores, um destróier e o porta-aviões Hermes seguir para o Sri Lanka. Assim que os primeiros navios de Somerville chegaram a Addu, em 4 de abril, ele recebeu a notícia de que a frota de Nagumo tinha sido avistada a cerca de 640 km a sudeste da ilha. O Sri Lanka estava desprotegido e, mesmo que Somerville começasse a navegar imediatamente, não havia esperança de alcançar as forças de Nagumo.” pp. 191-192, 194


“Com grande riqueza de recursos naturais, especialmente petróleo, as Índias Orientais Holandesas eram um alvo extremamente tentador para o Japão. Os soldados desembarcaram na costa de Sarawak no dia 16 de dezembro e, no início de janeiro, estava claro para os comandos americano, inglês, holandês e australiano (ABDA) que uma invasão a toda força da colônia era iminente.

Os japoneses dividiram suas forças de invasão em Forçar do Leste, Oeste e Central, com a ideia de que elas iriam – como indicado pelos nomes – atacar as Índias Orientais Holandesas pelos lados leste e oeste. O conceito por trás do plano era elegantemente simples, com os japoneses conquistando terreno, consolidando rapidamente a conquista e então seguindo para o próximo objetivo. A Força Leste atacou primeiro, conquistando Célebes e depois Ambon, Timor e Bali. Os defensores no timor se dispersaram e conduziram uma campanha de guerrilha contra os invasores por mais de um ano antes que o último membro do grupo fosse morto, mas em todos os outros lugares os japoneses encontraram poucos obstáculos. Um esforço naval Aliado nos Estreitos de Lombok na noite de 19 para 20 de fevereiro surpreendeu os japoneses, mas foi derrotado e apenas atrasou em algumas horas a ofensiva.

A Força do Leste chegou a Java em 1º de março, junto com a Força do Oeste, que tinha conquistado Sumatra no caminho, e a Força Central, que tomou áreas costeiras importantes na ilha do Bornéu. A chegada foi precedida pela Batalha do Mar de Java, na qual as forças Aliadas tentaram parar os japoneses, mas foram completamente derrotadas, restando apenas quatro navios de sua frota. Em grande desvantagem numérica, estava claro que não havia chance para as forças Aliadas restantes em Java.

Quando os japoneses exigiram falar com os comandantes holandeses locais em 7 de março, deixaram claro que iriam trazer a capital javanesa abaixo se a rendição não viesse logo. Sem alternativa, as forças Aliadas restantes nas Índias Orientais se renderam no dia seguinte.” pp. 198, 200-201



Sucessos japoneses

“Os japoneses tiveram sucesso em todos os lugares que atacaram. Uma atitude de desprezo em relação a um poder militar supostamente inferior e atrasado fez com que as forças inglesas, americanas e holandesas não estivessem equipadas à altura, e a noção de que os japoneses poderiam ser combatentes habilidosos na selva não tinha sequer sido considerada.

Os resultados foram desastrosos para os Aliados. Em oito meses, o Japão expulsou a Inglaterra da Malásia, de Singapura e de Burma; os norte-americanos foram retirados das Filipinas e de seus territórios no Pacífico, e os holandeses foram completamente massacrados nas Índias Orientais Holandesas. Em junho de 1942, parecia quase inconcebível que o Japão pudesse ser parado no objetivo de se tornar o poder dominante no Pacífico.” p. 187


fonte: JORDAN, David & WIEST, Andrew. Atlas da II Guerra Mundial. Volume III de III. A Batalha no Pacífico. trad. Tatiana Napoli. São Paulo: Escala, 2008.



Ataque no Oceano Índico


“Ao fim de fevereiro de 1942, os japoneses tinham conquistado a maioria de seus objetivos nas Índias Orientais, Malásia e Filipinas e, com as bases do poder aéreo bem estabelecidas, os porta-aviões da 1ª Frota Aérea tiveram um mês de merecido descanso antes de começar a navegar para o Oceano Índico em 26 de março.”

“Relatórios de inteligência indicavam grandes chances de um ataque japonês contra Ceilão por volta do dia 1º de abril de 1942, e Somerville manteve sua força ainda completa direcionada para o oeste durante o dia, quando ele se considerava em grande desvantagem, seguindo para o leste durante a noite na direção esperada da aproximação japonesa. Embora corretas em essência, as informações de inteligência de Somerville estavam erradas a respeito da cronologia das ações. Na tarde de 2 de abril, a força inglesa precisava se abastecer com combustível e mantimentos e teve que voltar para Addu, continuando apenas com os cruzadores pesados HMS Cronwall e HMS Dorsetshire, o antigo porta-aviões HMS Hermes e o destroyer HMS Vampire. Por conta de outros compromissos, esses foram mandados para Ceilão.

Somerville mal tinha chegado em Addu na tarde de 4 de abril quando uma busca aérea localizou Naguno a menos de 645 km ao sudeste da ilha. Pegos de surpresa, os ingleses começaram a navegar imediatamente, mas sem esperanças de impedir o ataque. Na direção de Ceilão, estavam os dois cruzadores desprotegidos enviados por Somervile, que se prepararam para a carnificina. Como em Pearl Harbor, os japoneses escolheram um domingo antes do café da manhã para o ataque, e radares com bases na praia localizaram a força de 126 aeronaves conforme ela seguia para o alvo, Colombo.

Protegido pelas defesas organizadas da AA e pela Royal Air Force (RAF), a Força Aérea Real do Inglaterra, o porto tinha vários navios ancorados. Metade dos cerca de 40 caças que confrontaram os japoneses foram perdidos sem conseguir parar o ataque. Mas, depois de 30 minutos de ação, que tinha custado aos japoneses sete aeronaves, o porto ainda funcionava. Infelizmente, pouco antes do meio-dia, um hidroavião Aichi E13A 'Jake' do cruzador Tone avistou os dois cruzadores. Por mais de três horas, as aeronaves os perseguiram até terem ambos no centro de um ataque de 90 aviões. Sem qualquer tipo de cobertura, os navios ingleses afundaram em 20 minutos, causando a perda de mais de 400 vidas. Procurando recuperar o equilíbrio na batalha, Somerville acelerou para interceptar Nagumo no amanhecer de 6 de abril. Os japoneses vitoriosos não aceitaram o desafio, provavelmente para a sorte dos ingleses, que certamente teriam levado a pior.”

“O Almirante Nagumo reuniu suas aeronaves e tomou o caminho de volta para casa. Ele tinha conseguido derrotar os ingleses com tanta competência quanto derrotara os americanos e, pelo menos por ora, as águas que iam além do perímetro japonês estavam seguras. Embora os japoneses nunca mais fossem conseguir penetrar no Oceano Índico com tamanha força, a escala de suas atividades tinha garantido que uma contra-ofensiva demoraria para ser organizada.”

pp. 190-191



fonte: BISHOP, Chris. II Guerra Mundial: campanhas dia a dia: a Guerra no Pacífico, Volume 3. trad. Tatiana Napoli. São Paulo: Escala, 2009.



seleção: LdeM


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sexta-feira, 16 de março de 2012

Reações do Afrika Korps . jan - março 1942



Reações do Afrika Korps após a derrota
na Operação Crusader aliada


Janeiro - Março 1942


Após a Operação Crusader (novembro e dezembro de 1941), a ofensiva aliada contra as forças do Eixo (italianos e alemães), o Afrika Korps foi obrigado a recuar, devolvendo muito terreno aos atacantes. As tropas do general Rommel, perseguidas de Gazala a Bengazi, acabaram por se render em janeiro de 1942.

No livro de Kenneth Macksey, “Afrika Korps – Rommel no deserto”, temos um relato das reações do Eixo, em retirada e rearmamento, antes de novamente atacarem – então com sucesso, até a conquista de Tobrouk em junho de 1942.

“Enquanto que os britânicos desfrutavam de potencial humano suficiente para frequente substituição de homens na frente, os alemães lutavam sem cessar, enviando cada reforço diretamente para a linha de frente, para ali ficar.

Assim, os alemães, que julgavam ter perdido a “Operação Cruzado” por causa da falta de apoio aéreo, de suprimentos, de informações, de ajuda da Alemanha ou dos italianos, praticamente não sentiam o hálito frio do fracasso nesse momento. Poucos então, e menos ainda agora, perguntavam se a arremetida de Rommel para a fronteira, com a cessão de terreno vital para as forças inimigas no momento crítico, não seria a razão do fracasso. Porém, por mais brilhantes que tivessem sido Rommel e Cruewell na condução do Afrika Korps e na organização de todo o Grupo Panzer em, pleno calor da batalha, fatores de importância fundamental não estavam a seu lado, fatores como o tempo e material. Por conseguinte, só uma vitória avassaladora, em curto espaço de tempo, poderia resultar numa decisão final favorável ao Eixo, na África do Norte.”

“Por outro lado, o AK havia conseguido aumentar seus efetivos. Graças a travessia segura de comboios até Tripoli, os efetivos alemães em tanques subiram para 84 e os dos italianos, para 89; combustível e munição fluíam novamente, abrindo a possibilidade de por em operação a qualquer momento mais de 300 aviões alemães e italianos. Portanto, era chegado o momento – enquanto o Grupo Panzer desfrutava de vantagem temporária – de desfechar um golpe para eliminar a ameaça a Tripolitânia. Uma vez convencido de que seus recursos em transportes atendiam as prováveis necessidades. Rommel permitiu a incursão – mas evitou cuidadosamente informar aos seus colegas italianos ou ao Alto-Comando alemão, escondendo o plano inclusive ao Afrika Korps até cinco dias antes do seu início, 21 de janeiro.

Duas colunas alemãs partiram de Mersa Brega na noite de 20 de janeiro – uma delas, o Grupo Marcks, composta da 90ª Ligeira e parte da 21ª Panzer, percorrendo a estrada da costa: a outra, o Afrika Korps, contornando o flanco do deserto, ao longo de Wadi Faregh. Os britânicos recuaram, com o Grupo Marcks seguindo-os de perto, mas o AK ficou preso na areia fofa. […]

A fraqueza demonstrada fugia à compreensão do inexperiente Comandante do 8º Exército, o Tenente-General Ritchie, que via Rommel espichando o pescoço para dar-lhe 'uma oportunidade única de atingi-lo realmente duro', a despeito do fato de a 1ª Divisão Blindada estar sendo aniquilada pelo AK. Ia alta a tarde de 22 de janeiro quando a coluna Marcks, infiltrando-se por entre os espantados britânicos em Antelat, provocou o caos nos escalões de abastecimento da 1ª Divisão Blindada, até que, ao anoitecer, a 15ª Panzer conseguiu unir-se ao AK, uma vez mais, para a tarefa de explorar o sucesso inesperado.

Caracteristicamente, a 23 de janeiro o Q-G do Panzerarmee Afrika (o Exército Blindado da África), que havia sido elevado ao status de exército no dia anterior, atribulou-se com dissensões, já à beira da vitória. [...]”

Entenda-se dissensões entre os comandos italianos (que, ao não gostarem das ousadias de Rommel, que só fazia destacar a liderança e eficiência alemãs, logo proibiam avanços) e os alemães (que seguiam o 'Raposa do Deserto', sempre disposto a adiantar-se aos britânicos), até que o Afrika Korps atingiu a cidade de Bengazi, de onde se retiraram um mês antes.


Enquanto aproveitavam combustível conquistado dos britânicos, as tropas de Rommel avançavam, entre contra-ataques de flanco, recuperando terreno e empurrando os aliados rumo a Gazala.

“A 25 de janeiro, a frente tornou a explodir. O AK, avançando lentamente para o norte com a 15 ª Panzer, chocou-se com a 1ª Divisão Blindada, reduzindo-a a confusão total, até que, como um tigre movido a corda, o avanço alemão, feito a 24 km/h, parou de repente em Msus, como se a corda houvesse acabado. Faltava gasolina. Rommel chegara, em escala reduzida, ao estágio da noite do 'Totensonntag'. A força blindada britânica, enfraquecida e espalhada, colocara a infantaria à beira do aniquilamento, e o comando britânico só tardiamente compreendera a importância de seu rápido colapso. Ritchie ainda falava de ação ofensiva quando lhes restavam menos de 40 tanques, e visava a conservar Bengazi ainda na crença de que suas forças móveis pudessem dominar o flanco do deserto. Mas Bengazi jamais poderia ser outra Tobruk, mesmo que se tivesse iniciado um processo defensivo adequado. Todavia, também Rommel podia fazer muito pouco, até que lhe tivessem trazido suprimentos extras e que o campo de batalha recém-conquistado fosse vasculhado, em busca do que pudesse sustentar seu próximo avanço devolvendo a mobilidade ao Afrika Korps.

[…]

No dia seguinte [29 janeiro], Rommel entrou em Bengazi, trazendo no bolso um comunicado de Mussolini, autorizando-o a começar o avanço que vinha de terminar, seguido , quase que imediatamente, de outro cabograma promovendo-o a Coronel-General. Suas provisões aumentaram muito, seu nome transformou-se num símbolo de esperança na Alemanha, para compensar os reveses impostos pelos russos a Wehrmacht, que a fizeram recuar das cercanias de Moscou. Agora, Rommel gostaria de ganhar mais, atacando mais para leste; porém, com as reservas de combustível que mal davam para a jornada, quanto mais para um batalha que encontrasse no caminho, não ousava pensar nisso. Só podia sondar – o que era de enlouquecer, porque suas perdas materiais haviam sido leves e seus homens estavam descansados e cheios de confiança nele. Além disso, Rommel podia contar, entre sues admiradores, com os soldados do 8º Exército, que reconheciam nelo o tipo de gênio tristemente ausente entre seus próprios líderes. Até mesmo Churchill ajudou a consolidar sua imagem, referindo-se a Rommel como 'um grande general' – em parte como desculpa, mas também com um toque de melancolia.

Na verdade, Churchill mostrou maior admiração por Rommel do que por Mussolini ou seus generais. Estes, apenas atormentavam o general germânico, advertindo-o para não ir longe demais, dizendo-lhe que is suprimentos de combustível haviam acabado e que seu plano apoiava-se apenas na defesa da Tripolitânia e nada mais. A falta de orientação de Berlim confundia Rommel, como sempre acontecera, pois a estratégia de Hitler omitia a costa africana, enquanto seus olhos estavam voltados para a Rússia e , dentro em pouco, para os campos petrolíferos do Cáucaso. Para os que trabalhavam em Berlim e Roma naquele inverno, o Oriente Médio parecia distante demais. Ideias de combinar um movimento pelo Cáucaso com um avanço por Suez até o Iraque já preocupara a imaginação do Eixo, mas os golpes de Estado pró-Eixo na Síria, Iraque e Pérsia haviam sido laboriosamente anulados pelos britânicos e russos no verão anterior. Agora, em 1942, o Feldmarechal Kesselring, responsável sobretudo pelo abastecimento da área do Mediterrâneo, pouco podia fazer para influenciar os planos do Eixo, quando estes não abrangiam o palco europeu.”


fonte: MACKSEY, Kenneth. Afrika Korps – Rommel no deserto. Rio de Janeiro, Renes, 1974. trad. N Japour. pp. 57, 60, 62, 65-67.



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seleção de textos: LdeM

segunda-feira, 5 de março de 2012

Frente Oriental - Reações soviéticas após a Defesa de Moscou


 
Frente Oriental


Reações soviéticas após a Defesa de Moscou
(dezembro 1941/ fevereiro 1942)


fonte: Zhukov. Marechal da União Soviética. Rio de Janeiro: Renes, 1976. trad. Alcídio M. de Souza. pp. 91-93.


Num exame crítico da situação, feito durante o inverno de 1941/42, Zhukov diz em suas memórias que os chefes, no alto comando, avaliaram de forma bastante incorreta a situação existente em Vyazma. Subestimaram a capacidade de recuperação dos alemães e, o que foi pior, ordenaram uma ofensiva (marcada para março) numa ocasião que os soldados estavam exaustos e se registrava aguda falta de material e equipamentos. Zhukov acrescenta que a situação era tão ruim, que cada vez que era convocado à Stavka, nada mais fazia senão suplicar a Stalin que lhe enviasse canhões anticarro, pistolas e, pelo menos, uma quantidade mínima de obuses e munição para suas peças de artilharia. O que quer que conseguisse, era rapidamente enviado às unidades mais necessitadas.

Zhukov recorda, ademais, a desesperadora situação em que vivia, no tocante à escassez de munições, citando estatísticas, a fim de provar o que assevera. Da munição planejada para ser entregue nos primeiros dez dias de janeiro, a Frente do Ocidente recebeu, apenas, um por cento de obuses de 82 mm e entre vinte e trinta por cento de obuses de outros tipos. Durante todo o mês, a quantidade recebida orçou em apenas 2,7 por cento dos obuses de 55 mm necessários, 36 por cento dos 120 mm, 55 por cento dos 82 mm e 44 por cento das granadas de artilharia.

A cota estatuída para fevereiro não foi entregue e dos 316 vagões de munições que deveriam ser entregues nos primeiros dias, nenhum foi enviado. A munição para os foguetes era tão escassa que as unidades que os utilizavam tiveram que ser enviadas para a retaguarda. “É difícil de acreditar”, lembra Zhukov, “mas tivemos que estabelecer limites de um ou dois tiros por canhão, por dia, e isto durante uma operação ofensiva!”


A 14 de fevereiro, Zhukov escreveu a Stalin: “A experiência de combate nos mostra que a escassez de munições impede o correto apoio da artilharia e, desde que o sistema de fogo inimigo não foi destruído, nossas tropas, ao atacar posições defensivas não neutralizadas, sofrem perdas pesadíssimas, sem obter os resultados desejados.”

A 1º de fevereiro, reconhecendo a multiplicidade de tarefas do Comando do Ocidente e a necessidade de assegurar maior coordenação entre as Frentes de Kalinin e do Ocidente, a Stavka restabeleceu o cargo de Comandante-Chefe do Comando do Ocidente e nomeou Zhukov para ocupá-lo, acumulando-o com suas obrigações de comandante da Frente do Ocidente.

À época em que a Stavka decidiu reforçar as Frentes do Comando do Ocidente, em fins de fevereiro e princípios de março, os alemães estavam reagrupando e reforçando suas unidades. As operações levadas a cabo pelos alemães em fins de fevereiro redundaram em pesado castigo para os russos. O já destroçado XXIX Exército, cercado pelas forças de Guderian durante os contra-ataques realizados no início daquele mês e reduzido a cerca de seis mil homens, só com muita dificuldade conseguiu romper o cerco, e assim mesmo deixando atrás de si toda a artilharia.

Tornava-se cada vez mais difícil para os exaustos soldados russos sobrepujar a resistência alemã. As frequentes solicitações de Zhukov, no sentido de que lhe fosse permitido conservar e consolidar suas posições, eram sumariamente recusadas. Stalin insistia em que se continuasse a ofensiva. “Se você não obtiver sucesso hoje, poderá obtê-lo amanhã. Se o inimigo não pode ser obrigado a recuar aí diante de nossos ataques, os resultados poderão fazer se sentir em outros setores da frente.”

Mas o curioso é que nenhum avanço foi feito, nem pela Frente de Kalinin, nem pela do Sudoeste. A Frente de Leningrado e a ala direita da Frente Noroeste estavam empenhadas em luta sangrenta, tanto quanto as unidades que combatiam na região meridional do país. “Apesar das perdas elevadas e da falta de resultados estratégicos”, recorda Zhukov com amargura, “a Stavka exigiu novamente, em diretiva enviada a 20 de março, que as missões anteriormente determinadas para as diversas Frentes tivessem prosseguimento, com renovado vigor. Mas com os insignificantes reforços recebidos, as Frentes do Comando do Ocidente não puderam cumprir a tarefa […]”.


Durante a contra-ofensiva de janeiro a março, as tropas da Frente do ocidente avançaram de 60 a 90 quilômetros, em alguns setores. Zhukov declara, no entanto, em suas memórias, que as forças soviéticas poderiam ter, inquestionavelmente, obtido resultados melhores, se lhe tivesse sido permitido concentrar maior quantidade de tropas em sua Frente, a fim de capitalizar o sucesso da contra-ofensiva iniciada em dezembro. As Frentes de Leningrado, Volkhov e Noroeste ficaram estacionárias, porque lhes faltaram homens e materiais necessários para abrir as defesas alemãs. Pela mesma razão, a ofensiva levada a cabo pelas Frentes Sudoeste e Meridional tiveram, também, fôlego curto.

Mesmo assim, concluiu Zhukov, esses problemas, de maneira alguma, podem minimizar a importância da vitória soviética na grande batalha que se travou diante de Moscou. A sangrenta campanha fez os alemães recurar, em média, cerca de duzentos e cinquenta quilômetros, nos vários setores que dominavam. A razão principal de não ter conseguido os soviéticos vencer em definitivo, diz Zhukov, pode ser encontrada na escassez de blindados. Sem eles, como a própria guerra evidenciou, torna-se impossível levar a termo operações ofensivas com objetivos definidos e em larga escala. Somente com tanques poderosos e formações mecanizadas “é possível flanquear o inimigo com rapidez, penetrar em sua retaguarda e, depois, cercar e dizimar suas unidades.”

Zhukov saíra vitorioso das batalhas que travara ao longo do ano de 1941 e nas campanhas do início do ano de 1942. Mas novas crises já se avizinhavam, e Stalin, insistentemente, o chamava para, às pressas, tentar resolvê-las.”



fonte: Zhukov. Marechal da União Soviética. Rio de Janeiro: Renes, 1976. trad. Alcídio M. de Souza. pp. 91-93.



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