sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

1944 - Campanha da Birmânia






 1944

Campanha da Birmânia
Forças britânicas resistem ao ataque japonês

“A Área Administrativa [em Sinzweya] resistiria de 6 a 24 de fevereiro, quando o passo de Ngakyedauk foi reaberto. [...] Alhures, as brigadas resistiam em suas posições, enquanto que a 26ª Divisão, apoiada pela 36ª, avançava para o sul, contra violenta oposição de forças japonesas, pequenas mas experientes.

Os japoneses haviam esperado conseguir superioridade aérea temporária sobre o campo de batalha, para impedir que o abastecimento aéreo pusesse termo a seus planos. Entre os dias 4 e 14 seus caças realizaram cerca de 350 incursões e seus bombardeiros atacaram Bawli Bazar, a ponte de Briasco e Sinzweya. Eles perderam 14 aparelhos, tendo causado danos, enquanto a RAF perdeu 11 caças. Portanto, as tentativas de abastecimento feitas pela RAF, apesar das escoltas aéreas, foram perigosas, tendo algumas delas, pelos riscos de eu se cercaram, de ser abandonadas. Alguns aviões de abastecimento, que tiveram de voar a 60 m de altitude para lançar com precisão os suprimentos que carregavam, foram derrubados por fogo antiaéreo japonês.

Mas a partir do dia 9 a RAF conseguiu certa superioridade aérea e, a despeito de mais algumas perdas, passou a fazer o abastecimento diariamente. Em cinco semanas, o Comando de Transporte de Tropas realizou 714 incursões e lançou 2.710 toneladas de suprimentos.

O apoio aéreo tático, por caças-bombardeiros, ajudou as forças de terra a repelir repetidos ataques da infantaria japonesa.” p. 77


“No dia 16, o impaciente Slim, decidido a conquistar uma vitória, agora que dispunha de seis divisões, ordenou a Christison que reiniciasse o avanço e desobstruísse a posição Túneis – Buthidaung. Recomendou-lhe também que fizesse a 81ª Divisão, que estava parada no Kaladan desperdiçando valiosas incursões de abastecimento aéreo, avançar de modo a colocar sob ameaça a retaguarda japonesa.

No dia 13, Slim disse a Giffard que estava muito satisfeito com a maneira como a batalha se desenrolava. O abastecimento aéreo, agora, funcionava bem. A 7ª e a 26ª Divisões se haviam encontrado em Taung Bazar. As brigadas avançadas da 7ª Divisão defendiam suas posições (os japoneses tinham agora poucos homens para atacá-las). A Área Administrativa estava sendo defendida e a 5ª Divisão destacara uma brigada de combate para atacar o passo de Ngakyedauk.

[...]

No dia 24, com a aprovação do Q-G de seu exército, o Tenente-General Hanaya abandonou a ofensiva ‘Ha-Go’. O 112º Regimento já se havia posto em retirada, mesmo sem ordens, devido à total falta de alimento.

Este foi o fim. Os japoneses retiraram-se tranquilamente. A batalha custara ao XV Corpo 3.560 baixas, mas do ponto de vista japonês foi um esforço muito louvável. Uma divisão japonesa havia, por algum tempo, lançado duas divisões em confusão, levando os britânicos a lançar contra ela seis divisões. A ofensiva ‘Ha-Go’ foi feita por 8.000 decididos soldados nipônicos, contra um total eventual de 180.000 soldados britânicos, que incluíam 27 batalhões indianos, 17 britânicos, 7 oeste-africanos e 5 gurkhas, além de 26 regimentos de artilharia. Nem todos, porém, foram envolvidos ou lançados em ação. O Tenente-General Hanaya, o Major-Generai Sakurai e apenas quatro coronéis foram combatidos por oito majores-generais britânicos e 27 brigadeiros. Algumas vezes, toda a 5ª Divisão indiana esteve, em defesa de sua posição, empenhada contra apenas um batalhão japonês.

Mas foi uma vitória importante para os britânicos e saudada como tal. Pela primeira vez era rechaçado por forças das potências ocidentais um ataque nipônico feito em parte do continente asiático. Os australianos haviam descoberto como fazer isto na Nova Guiné, 18 meses antes, mas eles compunham um grupo coeso e que tinham confiança uns nos outros.

Na realidade, o triunfo pertenceu a Slim. Foi sobretudo a sua determinação que fez as divisões manterem-se firmes diante do que parecia um desastre. Soldados indianos haviam lutado lado a lado com soldados britânicos com certo êxito. As divisões tinham visto que podiam confiar no abastecimento aéreo e que não precisariam recuar, se cortadas as suas comunicações rodoviárias.

Deu-se muita importância à vitória britânico-indiana no Arakan. [O Comandante Almirante Lorde Louis] Mountbatten divulgou uma ordem do dia cumprimentando todas as forças envolvidas no acontecimento.”   p. 79

Fonte: CALVERT, Michael. Campanha da Birmânia. Trad. Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Renes, 1978.


Mais info em :





Seleção by LdeM

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Formação da FEB - 1943/ 1944 - a cobra vai fumar?









FEB

Força Expedicionária Brasileira

1943 / 1944



Fileiras (quase) democráticas

“Em 1943, o Exército brasileiro tinha menos de cem mil homens em seus quadros. Em julho de 1943, depois da convocação geral, menos de três mil voluntários se apresentaram, e metade foi reprovada nos exames de seleção físicos e sanitários. No momento em que o alistamento voluntário não correspondeu às expectativas, teve lugar a convocação compulsória de reservistas, em grande parte provenientes das classes trabalhadoras – operários e agricultores -, que compunham a maioria populacional do Brasil. Os militares de carreira, os oficiais da reserva e um grande número de recrutas provenientes das capitais brasileiras representavam uma parte mais privilegiada da população. A FEB formava um quadro representativo fiel da sociedade brasileira da época.


Uma das grandes virtudes atribuídas à FEB era o caráter não segregacionista de suas fileiras. De fato, se comparada à política racista vigente nos Exércitos inglês e americano, em que tropas coloniais e negros eram abertamente segregados, usados apenas para serviços na retaguarda ou reunidos em tropas separadas, comandadas por oficiais brancos, a FEB eram de fato, uma tropa miscigenada.”

[...]


pp. 111-112




A arte do improviso


“Os novos equipamentos dos americanos não chegavam em quantidade suficiente para treinar o efetivo da FEB, problema que se estendeu de janeiro até julho de 1944, às vésperas da partida do primeiro escalão para a Itália. O 9º Batalhão de Engenharia, sediado em Aquidauana, Mato Grosso do Sul, foi obrigado a improvisar no treinamento de prospecção de minas terrestres. Seus integrantes pediram à população da cidade que doasse todas as latas de goiabada disponíveis, as quais seriam utilizadas com o propósito de simular minas enterradas para que fossem localizadas pelos novos detectores eletrônicos e, assim, possibilitassem os treinamentos em campo.


A chegada de alguns canhões americanos anticarro de 57 milímetros e obuseiros de 105 milímetros possibilitou o treino de uma parte da artilharia regimental, mas a maior parte dos soldados só teve contato com essas e outras modalidades de armamentos ao chegar à Itália. Os canhões de 155 milímetros, que formavam uma bateria da Artilharia Divisionária, foram entregues apenas na frente de combate.


A FEB tomava forma, e a opinião pública ficava sabendo pela imprensa sobre a mobilização – mesmo com a censura vigente -, ainda sob influência popular para uma resposta à agressão do Eixo. Havia certa empolgação geral, mas logo todos começaram a tomar conhecimento dos muitos problemas materiais e conceituais que se apresentavam nesse processo.


Os integrantes do governo que não gostariam de ver a FEB se tornar realidade deixavam vazar informações para minar os trabalhos necessários à sua organização. Eram os germanófilos em ação, que, mesmo com o distanciamento cada vez maior da Alemanha, ainda tentavam influenciar Vargas a não se alinhar com os Estados Unidos e alertá-lo sobre os perigos da concessão de poder a um grupo pró-democrático no Brasil. Entretanto, para o ditador brasileiro, as vantagens de uma empreitada como essa pareciam superar os contras.”

[…]

pp. 112-113




A cobra vai fumar?

“Se eram essas as condições oferecidas aos soldados a caminho do campo de batalha, com que disposição lutariam? Nesse cenário, surgiam dúvidas e questionamentos sobre a real possibilidade de o Brasil enviar seus soldados para a guerra, já que as metas a serem superadas se mostravam bastante difíceis. Havia um pessimismo generalizado, algo que resultou na frase que representava o pensamento sobre a FEB: “É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil mandar soldados para a guerra.”


Dentro do grande número de histórias criadas por conta da formação da FEB, muita gente acreditou nos boatos de que a famosa frase sobre a cobra fumando teria sido pronunciada pelo próprio Hitler, mas certamente o líder nazista estava mais preocupado com a guerra em andamento – em especial, no sangrento front russo – do que com as dificuldades brasileiras em organizar sua força militar expedicionária.


Mesmo com a forte censura, o povo nas ruas tomava conhecimento da insuficiência do alistamento voluntário, da convocação compulsória de reservistas, das dificuldades em deixar o país guarnecido, caso as Forças Armadas fossem enviadas para além-mar, e da patente falta de recursos para equipar os soldados. A participação das associações estudantis nas fileiras de alistamento da FEB era inversamente proporcional às demonstrações por elas organizadas nas ruas das grandes cidades meses antes, quando pediam a declaração de guerra. Na verdade, dentro da FEB, poucos estudantes com idade para alistamento se apresentaram.”

pp. 114-115



fonte: BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra desconhecida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.



mais info em







...