quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quem salvará a Alemanha? - Discurso contra Hitler - Thomas Mann





Thomas Mann

Ouvintes Alemães!
Discursos contra Hitler
[1940-1945]

setembro 1943


Ouvintes alemães!

Será que a Alemanha está irremediavelmente perdida? Não, ela pode ser salva ainda hoje ou mesmo amanhã da destruição total que a ameaça – através de uma revolução democrática, através da decidida eliminação do regime intolerável de roubo e assassinato que deflagou essa guerra e cujo desaparecimento tornaria possível a paz da Alemanha com o Leste e o Oeste. O manifesto dos oficiais alemães presos na Rússia mostrou mais uma vez que a Alemanha não luta por sua vida e por sua honra, mas apenas para protelar a queda desse terrível regime – o que, no entanto, é coisa sela e decidida porque absolutamente necessária.


Quem salvará a Alemanha? Com a miséria crescente, a pergunta pesa em muitos corações. Um sinal disso foi o apelo dos estudantes de Munique executados pelo regime, apelo para que o povo alemão se liberte do jugo vergonhoso antes que seja tarde. Agora chega de Estocolmo a notícia de que a tripulação das três maiores unidades da frota alemã, Tirpitz, Scharnhorst e Lützow, decidiu sabotar seus navios para tornar impossível que zarpem. A informação não foi confirmada; mas se é certo que o julgamento dos envolvidos será tão rápido quanto no caso dos jovens heróis de Munique, então é fácil nos colocarmos no estado de espírito dos marujos alemães que testemunharam o fracasso da guerra submarina, a destruição de Hamburgo, Bremen, Kiel, Wilhelmshaven e a perda das frotas francesa e italiana, e que não sentem nenhuma vontade de serem comandados pelo almirante Dönitz a uma aventura suicida contra o poder marítimo inglês. Se ele tiverem feito o que se lhes atribui, certamente foi porque pensaram em fazer sua parte para a interrupção de uma guerra cuja continuação parece particularmente absurda e criminosa aos seus olhos.


O que não quer dizer que as Forças Armadas alemãs de terra e ar tenham razão de ter outra opinião. A 'Fortaleza Europa' não foi nada além de propaganda enganosa, pois uma fortaleza cujos internos, com poucas exceções, pedem com entusiasmo que seja conquistada nem merece esse nome. Chamar um continente de fortaleza é, além disso, nada mais do que uma imagem falsa, e já estava claro há tempos que os nazistas só pensam em defender uma grande região externa como uma maneira de proteger seu próprio território e que, seriamente, só lhes interessa um anel interno em torno da Fortaleza Alemanha. O caráter de suas retiradas oscila entre o planejamento e a catástrofe militar. O caráter russo, por sua vez, que custa diariamente milhares de vidas e muito material bélico, não parece nem um pouco espontâneo. As reduções do front são um pouco drásticas, mas nunca serão suficientes para conter o Exército Vermelho. A pós a perda de Smolensk, depois da qual parece que deve se seguir a de Kiev, a linha de Dniestre [ou Dniester, rio da Europa oriental ] e a antiga fronteira da Polônia já são proclamadas como o front ideal para a destruição do bolchevismo. Conquistá-las custou dois milhões de vidas.


A Sardenha em mãos italianas, a Córsega conquistada pelos franceses, o sul da Itália tomado por ingleses e americanos: a todos está claro que isso impede a conservação de Roma e que sequer a planície do Pó está segura, pois todo o norte da Itália arde com as sabotagens e a guerra de guerrilha, e os Aliados têm na Itália o que precisam: aeroportos que permitem atacar o sul da Alemanha e os Balcãs. O plano alemão de defesa interna é apenas um plano desesperado, e todos sabem disso. Nenhuma manobra de retardamento no front, por mais obstinada que seja, pode livrar a Alemanha de ataques aéreos no sul e no oeste; comparado com eles, tudo o que se sofreu até agora vai parecer inofensivo.


O que será da Alemanha? Não temos nenhum direito a essa pergunta depois de tudo o que aconteceu na Europa, e, mesmo assim, visto que um dia a Alemanha foi a nossa pátria, a pergunta é inevitável e o nosso coração se aflige. Os nazistas sabem que estão perdidos. Seu satanismo megalomaníaco deseja uma queda como nada nem ninguém jamais sofreu. É preciso que seja uma queda inigualável, uma catástrofe de um estilo original, e querem arrastar para o inferno com eles tudo o que for possível arrastar em meio ao sangue e ao fogo. Hoje só o povo alemão luta pela grandeza infernal do adeus dessa raça, só ele continua uma guerra que nada pode gerar além da mais profunda miséria. Um verso, um grito do coração de uma peça teatral proibida no país de vocês, me vem aos lábios: 'Quando virá o salvador dessa terra?' (*)” pp. 150-153

(*) De Friedrich Schiller, Guilherme Tell, Ato I, Cena I. (N.T.)



Fonte: MANN, Thomas. Ouvintes alemães!: discursos contra Hitler (1940-1945). (Deutsche Hörer!) Trad. Antonio Carlos dos Santos e Renato Zwick. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.


sobre o autor alemão Thomas Mann







Info sobre os navios alemães Tirpitz, Scharnhorst e Lützow







terça-feira, 17 de setembro de 2013

Operação Avalanche - Avanço Aliado na Itália







Operação Avalanche

Avanço Aliado na Itália

setembro 1943


A operação Avalanche teve início em 9 de setembro de 1943. O desembarque não foi acompanhado de nenhum bombardeio prévio, naval ou aéreo. Os Aliados esperavam, assim, aproveitar o elemento surpresa. No entanto, não o conseguiram, como tinham previsto os comandantes navais, contrários em abrir mão de um intenso bombardeio preliminar das posições alemães. Os Aliados desembarcaram tropas em duas praias distantes 12 quilômetros uma da outra, no golfo de Salerno. O desembarque foi apoiado por vários cruzadores (incluindo 3 norte-americanos), 2 monitores, 35 destróieres e uma força de 5 porta-aviões de escolta com 10 destróieres.” p. 100


No lado alemão, apenas uma unidade de combate formada especialmente para aquela missão, o grupo de combate Stempel, pôde conter, em parte, o ataque norte-americano. Essa formação, improvisada no local, serviu como uma unidade de reforço do 79º Regimento Panzer de Granadeiros e dificultou a situação para um batalhão do 141º Regimento da inexperiente 36ª Divisão norte-americana, que ficou literalmente, plantada no terreno, conseguindo avançar pouco além das posições conquistadas na costa durante todo o dia 9 de setembro.

Ao norte, os ingleses tiveram a sorte de os alemães abrirem fogo sobre os LST (landing ship tanks, os navios aliados que podiam transportar tropas e equipamentos pesados, como tanques, até a praia de desembarque) antes que eles se preparassem para lançar seus LCVP (landing craft vehicle personnel, embarcações menores que as anteriores, também chamadas de barcos Higgins, em homenagem a seu criador). Se isso não houvesse ocorrido, o fogo alemão teria destroçado as lanchas aliadas em seu caminho até a praia. Imediatamente, começou o bombardeio naval.” p. 104


A defesa alemã


A palavra-chave Alarmstufe II (2º nível de alarme) mobilizou todas as tropas alemãs e colocou-as em estado de alerta máximo. Em tempo praticamente recorde, os alemães planejaram a defesa das praias. À frente deles, estava um confiante Albert Kesselring, sobre quem Mark Clark disse: “Foi um dos oficiais mais eficientes e hábeis do Exército de Hitler, tanto por sua capacidade de liderança, como por sua maneira de gerir seus recursos e pessoal.”


As forças alemãs basearam sua defesa na 16ª Divisão Panzer, comandada pelo general Rudolf Sieckenius, com 17 mil homens e 100 carros de combate, mas sem os modernos Tigers, cujas tripulações estavam sendo treinadas na Alemanha naquele momento. Cerca de 30% dos homens dessa divisão tinham experiência em combate. A unidade foi dividida em quatro grupos para enfrentar os desembarques. A 16ª Divisão pertencia ao 10º Exército alemão, comandado pelo general Henrich von Vietinghoff, um oficial da escola prussiana. Competente e seguro de si.


A essas tropas, juntaram-se as 29ª e 15ª Divisões Panzers de Granadeiros, evacuadas do sul da península italiana e da Sicília. Essas forças teriam de defender 48 quilômetros de praias, uma tarefa muito complicada para tão poucos soldados. Por isso, a baía de Salerno foi fortemente minada.


O plano de Kesselring tinha, porém, um erro. O Alto-Comando alemão recusou-se a enviar mais divisões para as proximidades de Nápoles. Segundo a recomendação de Erwin Rommel, a defesa deveria ser feita no norte de Roma, pois, analisando as guerras no mar, era possível ver claramente que o Mediterrâneo não representava um empecilho para o poder naval aliado. Já os Apeninos, que se estendem do Adriático ao golfo de Gênova, poderiam ser muitos úteis para a defesa, sendo necessárias poucas tropas para essa tarefa. Hitler tomou uma decisão intermediária e deixou Kesselring com poucas forças para resistir em Salerno. Como era de se esperar, duas estratégias, duas visões e dois generais distintos resultaram em desavenças no momento de planejar a defesa da península italiana.


[…]


De maneira incompreensível, na área de Mãntua e de Módena, duas divisões blindadas alemãs permaneceram inativas – algo que explicita a rivalidade entre Rommel (norte) e Kesselring (sul), decorrente de seus diferentes pontos de vista sobre a defesa alemã na Itália. Se essas duas divisões tivessem se colocado a caminho no dia 9 (por estrada e trem), a defesa alemã teria ganhado maior consistência. Esse erro foi posteriormente lamentado por Alfred Jodl e Kesselring. Enquanto isso se passava em Salerno, os Aliados tinham tomado a iniciativa em outras partes da península. Assim, às 14 horas, bombearam Frascati, sede do quartel-general do marechal Kesselring. Embora o prédio tenha sido destruído, o militar alemão conseguiu sobreviver, ficando totalmente isolado por várias horas, de maneira que recebeu somente mais tarde, por intermédio do general Jodl, a notícia sobre a rendição italiana e o desembarque aliado em Salerno. Foi um dia terrível para as forças alemãs, que não sabiam para onde as tropas aliadas se dirigiam nem como os italianos reagiriam com seu posto de comando destruído por bombas. Somente ao saber que o destino dos britânicos e norte-americanos era Salerno, puderam respirar um pouco mais aliviados, uma vez que seu autêntico temor era que eles se dirigissem para mais ao norte, ou pior, que desembarcassem em sua retaguarda : em Roma.” pp. 111-112


Em Berlim, as oito divisões do comando sul já se davam por perdidas. Como foi mencionado, por iniciativa de Rommel, que convencera Hitler, os alemães tinham se resignado, no início de setembro, a ter de ceder uma grande parte da Itália, a mais propensa a possíveis desembarques. Com essa medida, tentariam concentrar-se na linha de defesa que a organização de trabalho alemã, Todt, começara a construir a partir de La Spezia até Rimini. Inicialmente, esse complexo fortificado foi denominado Linha Verde, passando mais tarde a ser chamado de Linha Gótica. Ela cortava uma parte da Itália centro-meridional. Kesselring foi abandonado a sua sorte. E, como resultado direto, Rommel obteve o controle total da frente sul. Kesselring tinha conhecimento da manobra que Rommel estava preparando.

Primeiro, ele tentou demonstrar que, embora não houvesse recebido a ordem habitual do Führer para esses casos, de 'resistir até a morte', não estava disposto a deixar que suas tropas se rendessem aos Aliados. As tropas de Kesselring estavam, no entanto, em posição de controlar os acontecimentos e manter o domínio da península que Rommel já havia dado por perdida. Para ele, era absolutamente imprescindível manter os aeródromos do sul da Itália, para que não caíssem nas mãos dos Aliados, convertendo-se, nesse caso, em uma formidável plataforma de lançamento de ataques aéreos contra a Alemanha. Mas o mais importante foi mostrar que Hitler se equivocara ao aceitar a sugestão de Rommel. Assim, o marechal da Luftwaffe ordenou que suas tropas se concentrassem em Roma para aniquilar, dessa forma, qualquer resistência italiana. Eliminando os italianos, teriam a situação ideal para lançar todas as suas forças contra as tropas aliadas desembarcadas no golfo de Salerno. Os planos, no entanto, não foram cumpridos à risca.

Primeiro, a resistência italiana reagiu ao ataque alemão, apesar de toda a confusão e da falta de ordens claras. Na noite entre 8 e 9 de setembro, foram travados combates ao redor de Roma, especialmente na estrada Magliana e no oitavo quilômetro da estrada Ostiense. Durante o dia 9, ocorreram mais combates. A Divisão Aríete, por exemplo, posicionada em Cássia, resistiu a um pesado ataque na área de Monterosi. A Divisão Piave, entretanto, lutou em Monterotondo e em Mentana, o que resultou na rendição de um batalhão de paraquedistas alemães. Mas a resistência italiana não era coordenada e careceu de apoio aliado, rompendo-se quando os Panzers alemães entraram em ação. E assim, no dia 10, os combates concentraram-se em torno de Porta San Paolo. No final do dia, caíram os últimos focos de resistência.

Apesar de todos esses acontecimentos em Roma, os Aliados conseguiram, em Salerno, derrubar as defesas alemãs durante as primeiras 48 horas de desembarque. A cabeça de praia, ao que tudo indicava, estava consolidada, de modo que o avanço para o interior começou sem resistência alemã. O general Clark conseguira cumprir seu objetivo. E os navios aliados desembarcavam tanques, veículos e equipamentos com total tranquilidade. A artilharia alemã tornava-se silenciosa e a Luftwaffe parecia ter desaparecido. Os Aliados conseguiram tomar o aeródromo de Monte corvino. Três dias após o desembarque já controlavam uma cabeça de praia de 100 quilômetros de extensão e 10 de profundidade. Mas mal podiam imaginar que seus momentos mais difíceis ainda estavam por vir.” pp. 114-115


Resgate de Mussolini

Em 12 de setembro uma operação ousada dos alemães conseguiu resgatar o ditador prisioneiro Mussolini.










Contra-ataque alemão

No dia 11, os alemães já tinham feito cerca de 11 mil prisioneiros, britânicos em sua maioria. Albert Kesselring percebeu que seu contra-ataque começava a funcionar. No flanco direito da frente aliada, colocou elementos da 15ª Divisão Panzer de Granadeiros e da Divisão Blindada Hermann Göring. No setor sul da frente, as tropas da 29ª Divisão Panzer de Granadeiros seriam lançadas ao ataque.

Além disso, desde 9 de setembro, a frota de desembarque dos Aliados havia se tornado o alvo principal dos aviões alemães da Frota Aérea nº 2 (Luftflotte 2). E, embora não tivessem obtido nenhum sucesso considerável durante os primeiros dias, no dia 11 conseguiram causar danos aos navios aliados. Assim, durante a manhã do dia 11, o cruzador norte-americano Philadelphia foi severamente danificado por uma bomba alemã Fritz X (como foi apelidada pelos Aliados), um míssil guidado por ondas de rádio que explodiu a 15 metros de distância. Poucos minutos depois, uma bomba semelhante caiu perto do cruzador norte-americano Savannah, embora, após seu navio irmão ter sido atacado, tenha sido sua velocidade aumentada para 20 nós (cerca de 37 km/h). o navio, apesar de danificado, conseguiu chegar ao porto de Malta, mas enfrentou dificuldades.” pp. 119-120


As baixas entre os Aliados tornavam-se significativas e preocupantes. Na verdade, a estratégia norte-americana não era a mais adequada para enfrentar um inimigo com a firme determinação de combater e de repelir qualquer tentativa de avanço sobre o interior da Itália. Os norte-americanos distribuíram suas tropas em uma frente excessivamente ampla, de modo que elas ficaram muito dispersas e, portanto, enfraquecidas para enfrentar os alemães. Especificamente, o 2º Batalhão da 36ª Divisão de Infantaria ficou, literalmente, sob a mira dos tanques alemães, que não tiveram dificuldades em aniquilá-los. Foram capturados 500 oficiais e soldados dessa unidade. Durante todo o dia 12, o contra-ataque estendeu-se por toda a frente. Kesselring lidou com a situação com uma situação com uma habilidade notável, enviando para o sul as tropas que estavam posicionadas em Roma, prevendo um provável desembarque dos Aliados. […]

Os anglo-americanos começaram a vacilar, mas os alemães continuaram a avançar incessantemente, até o centro da cabeça de praia, onde abriram uma perigosa brecha marcada pelo rio Sele, que atuava como linha divisória entre os setores britânico e norte-americano.” pp. 120-121

Para Kesselring, era necessário expulsar o inimigo para o mar, o mais cedo possível, pois a possibilidade de que os norte-americanos encontrassem e reforçassem as tropas de Montgomery constituía a maior ameaça para os alemães. Por isso, o marechal de campo da Luftwaffe pediu insistentemente a Rommel que lhe enviasse duas divisões blindadas. Este negou o pedido. Por quê? Por rivalidade ou por medo de enfraquecer a força de defesa no norte. Ainda assim, os alemães continuaram a avançar, convencidos de que conseguiriam causar uma espécie de nova retirada de Dunquerque.

Houve momentos de crise entre os oficiais aliados de alta patente. O general de divisão Ernest Dawley, à frente do 6º Corpo norte-americano, entrou em colapso por um ataque de nervos, especialmente quando os alemães expulsaram os norte-americanos de Altavilla. Estes tentaram recuperar a localidade, mas foram repelidos por uma colina a cinco quilômetros da praia. Os homens de Vietinghoff eram superiores em quantidade. O general William Wilbur, segundo no comando da 36ª Divisão americana, não parava de repetir a seus homens, enquanto caminhava em meio ao fogo alemão: 'Ninguém deve deixar este morro, salvo se estiver morto'.

Percebendo a gravidade da situação, o general Clark já havia organizado a retirada das tropas americanas para o setor do 10º Corpo britânico. A situação tornava-se insustentável, e a operação parecia que sucumbiria diante do resoluto ataque alemão e da falta de suprimentos e abastecimentos no setor norte-americano durante todo o dia 13. O próprio Dwight Eisenhower informou a Washington: 'O que nos preocupa é a operação Avalanche. Temos sido expulsos por um bem-preparado contra-ataque do inimigo […] em tal situação, a Força Aérea é nossa única esperança.' Durante os primeiros quatro dias de combates, a Força Aérea havia lançado cerca de 3,1 mil toneladas de bombas sobre as posições alemãs, 1,3 mil apenas no dia 13 de setembro. Claramente, o desempenho da Força Aérea aliada, comandada pelo marechal do ar Arthur William Tedder, foi fundamental na melhora da situação a partir de 14 de setembro. [...]” pp. 122-123

A operação Avalanche não foi um sucesso

A operação Avalanche não foi um sucesso estratégico, porque não alcançou os objetivos propostos, como a libertação imediata de Nápoles e o rápido avanço sobre Roma. Para isso, seriam necessários mais nove meses. No final de setembro, os Aliados dominavam todo o sul da 'bota italiana'. Em 1º de outubro, Nápoles foi tomada e, em uma semana, os Aliados estavam às margens do rio Volturno.

As baixas aliadas superaram os 6,2 mil mortos e desaparecidos e cerca de 7,4 mil feridos (embora o escritor Matthew Parker considere que tenham sido 9 mil baixas). As baixas do 5º Exército, por exemplo, elevaram-se a 5.674 mortos, feridos e desaparecidos. A 36ª Divisão de Andrew Cunningham sofreu a pior parte, com a perda de quase 4 mil homens (dos quais uma elevada porcentagem de tropas de primeira linha). Além disso, 3 mil soldados aliados foram capturados, contra apenas 630 alemães.” p. 132

Fonte: Coleção 70º aniversário da 2ª guerra Mundial, v. 19. 1943 – Hora da Virada: Aliados desembarcam na Itália . Trad. Fernanda Teixeira Ribeiro e Mario Miguel Fernandez Escalera. São Paulo: Abril Coleções, 2009.


mais info em


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Itália anuncia o Armistício - setembro 1943





Itália anuncia o Armistício

setembro 1943


Armistício com a Itália
e Desembarque em Salerno

Em 8 de setembro de 1943, após 1.184 dias de guerra, a Itália seria o palco
de acontecimentos importantes. O fascismo caíra havia 45 dias e, cinco
dias antes, após conquistar a Sicília, os Aliados pisaram no continente,
na Calábria


No mesmo dia 8, Salerno foi novamente bombardeada. A cidade tornara-se, naqueles últimos dias, o principal alvo dos bombardeiros aliados. Os ataques ocorriam diariamente, de modo que só o que restava de Salerno eram ruínas. Os habitantes da cidade viviam em túneis e abrigos, sofrendo com a fome e o medo.

No final da tarde, a voz do marechal Pietro Badoglio, transmitida pelo rádio, invadiu as ruas da cidade, anunciando o armistício entre a Itália e os Aliados. Muitos pensaram que esse acordo significava que a guerra tinha acabado e prepararam-se para demonstrar sua alegria nas ruas da cidade. A felicidade da manifestação durou pouco, pois uma grande frota naval apareceu no horizonte e apontou ameaçadoramente em direção ao golfo de Salerno. O medo e o terror voltaram a tomar conta dos moradores da cidade, que haviam nutrido uma vã esperança, e eles retornaram apressadamente para seus abrigos.

O desembarque, que se seguiu ao anúncio do armistício, mal foi notado pelos italianos, mas, sem dúvida, foi um acontecimento de enorme importância. Sua falta de coordenação, no entanto, impediu um sucesso ainda maior, o que, talvez, poderia ter colocado ponto final na guerra muito cedo. No entanto, a ação não foi tão bem-sucedida.

Embora tomados de surpresa, os alemães tiveram tempo suficiente para reagir e, por pouco, não repeliram as forças aliadas para o mar.

Os Aliados pensavam que, com a saída dos italianos da guerra, o desembarque seria praticamente uma brincadeira. E isso teria realmente ocorrido se os italianos tivessem neutralizado as tropas alemãs terrestres presentes na área. Entretanto, o Exército italiano estava longe de estar preparado para essa tarefa. Além disso, a partir de 25 de julho, as unidades alemãs tinham começado a chegar em massa na Itália. Embora [o ditador Adolf] Hitler tivesse cancelado a operação Alarico (a ocupação militar da Itália), não abriu mão, até então, de enviar um número significativo de tropas para garantir, pelo menos, o controle do vale do Pó e das cidades industriais do norte da Itália, como Milão [Milano] e Turim [Torino], diante da iminente capitulação italiana. Assim, em poucos dias, a situação militar na Itália mudou radicalmente. Encontravam-se no país 18 divisões alemãs, divididas em dois grupos de exército. Ao norte, estava o Grupo de Exércitos B, comandado pelo marechal Erwin Rommel, encarregado de vigiar os italianos e desarmá-los em caso de capitulação; ao sul, o comando estava a cargo do marechal Albert Kesselring, que deveria impedir qualquer tentativa de invasão aliada. Dois chefes, dois exércitos – 'dois galos no mesmo galinheiro', pode-se dizer. Tudo favorecia uma discussão interna. Essas desavenças entre generais enfraqueciam consideravelmente a preparação alemã.

Os alemães já esperavam o desembarque dos Aliados. Mas eles não tinham ideia do local onde ocorreria. Consideravam várias possibilidades: um desembarque nas praias da região da Apúlia, ou na área de Nápoles, ou mesmo em Roma ou, por último, mais ao norte, entre Grosseto e la Spezia. O que os alemães sabiam era que suas chances de manter o controle da parte sul da Itália, no caso de um desembarque aliado, eram quase nulas. Dessa forma, investiram na construção de uma linha de contenção, a Linha Gótica, que dependeria diretamente do marechal Rommel. Os homens de Kesselring já eram considerados perdidos, mesmo antes do início dos combates.

[…]


“Finalmente, as condições dos Aliados impuseram-se. Resignados, os italianos aceitaram a rendição incondicional. Antes de assinar o armistício (em Cassibile, em 3 de setembro de 1943), o general Castellano insistiu para que o anúncio do armistício coincidisse com um desembarque na península italiana. A intervenção aliada seria necessária para impedir que o Exército alemão ocupasse a Itália. Os Aliados, no entanto, mantiveram seus planos em segredo para os italianos. O desembarque em Salerno foi uma consequência direta da rendição italiana ou teria ocorrido mesmo se a Itália tivesse continuado a luta ao lado da Alemanha?

Segundo Catellano, a operação foi mantida em segredo pelos Aliados até o último momento. Os italianos que negociaram a rendição em Salerno nunca souberam desses planos. Mas o desembarque foi decidido antes que a Itália aceitasse a rendição. O plano vinha sendo estudado havia bastante tempo. Os soldados que desembarcaram nas praias de Salerno não sabiam nada sobre a rendição italiana. Pode-se dizer que o desembarque seria realizado mesmo que a Itália não se rendesse incondicionalmente. Os planos dos Aliados seguiam, portanto, seu ritmo próprio. Nem eles, nem os alemães dependiam dos italianos para seus planos.

Por parte dos alemães, a resposta para a rendição italiana foi imediata. A operação Eixo foi lançada com a firme intenção de desarmar as tropas italianas rapidamente. O objetivo era tomar o controle não apenas do vale do Pó, mas de toda a península.

[…]


“Do lado alemão, seis divisões estavam sobre o terreno, perfeitamente situadas ao longo da costa oeste da Itália, posicionadas em áreas que poderiam servir para que os Aliados desembarcassem tropas, especialmente área entre Roma e a ponta da 'bota' italiana. Entre essas unidades, encontravam-se a Divisão Blindada Hermann Göring, as 26ª e 16ª Divisões Panzers, as 15ª e 29ª Divisões Panzers de Granadeiros e, finalmente, a 2ª Divisão de Paraquedistas. Heinrich von Vietinghoff, comandante do 10º Exército alemão, posicionou a 16ª Divisão Panzer estrategicamente nas colinas ao redor da planície de Salerno.

Na manhã do dia 8 de setembro, uma grande frota de desembarque comandada pelo general norte-americano Mark Clark, que não tinha experiência em operações anfíbias dessa envergadura, partiu dos portos da Sicília e da Argélia em direção ao golfo de Salerno. O 5º Exército de Clark zarpou de Argel, Orã e Palermo, e as divisões britânicas o fizeram a partir de Bizerte e Trípoli. No total, somavam 586 navios (entre eles, 333 lanchas de desembarque), sob o comando do vice-almirante norte-americano Kent Hewitt, com 22 mil veículos, assim como 55 mil soldados britânicos e norte-americanos a bordo, que precederiam outros cerca de 115 mil, que chegariam em ondas de desembarque subsequentes. A presença de um comboio aliado de tamanha proporção não passou despercebida pela Luftwaffe, que localizou as unidades navais que transportavam a 36ª Divisão norte-americana pouco depois que esta zarpou do porto de Orã, em 5 de setembro, por volta das 17 horas. O mesmo ocorreu com as embarcações da 46ª Divisão de Infantaria britânica, que saiu do porto de Bizerte. No dia 8, elas foram alvo de dois ataques realizados por aviões alemães.

[…]

Durante todo o tempo em que a frota aliada esteve nas proximidades da costa de Salerno, a Luftwaffe atacou-a usando bombas guiadas por rádio, lançadas por aeronaves Do-127. Assim, no dia 13, o cruzador Uganda foi danificado, enquanto apoiava as forças terrestres com seu fogo. No dia 16, depois que o Warspite realizou seu trabalho de apoio, foi atingido por três bombas guiadas alemãs. Teve de ser rebocado para malta, após sofrer sérios danos.

[…]

E a tarefa que aguardava os Aliados não era pequena: eles iriam realizar o primeiro grande desembarque em solo europeu. No entanto, os soldados que se dirigiam para as praias a bordo da frota aliada não sabiam nada sobre as conversações entre italianos e Aliados. A libertação de grande parte da Itália dependia, em grande medida, do sucesso do desembarque nas praias. Eles estavam convencidos de que a resistência de alemães e italianos seria obstinada. Mal podiam imaginar que, naquele momento, a Itália tinha deixado de pertencer ao grupo de parceiros da Alemanha, e que, em seu discurso no rádio, Badoglio iria recomendar que os italianos não combatessem contra britânicos e norte-americanos. A notícia foi divulgada rapidamente. Às 19h20 de 8 de setembro, quando os navios se aproximavam da costa de Salerno, anunciou-se que o governo italiano tinha assinado a rendição incondicional.” pp. 83-89, 91-92



fonte: Coleção 70º aniversário da 2ª Guerra Mundial, v. 19. São Paulo: Abril Coleções, 2009. trad. Fernanda Teixeira Ribeiro e Mario Miguel Fernandez Escaleira.


seleção by LdeM


mais info em









videos



...


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Avanço soviético na Frente Oriental 1943




Avanço soviético na Frente Oriental
Após a Batalha de Kursk

Agosto – setembro 1943


No fim de julho, as forças que pertenciam ao XI Exército de Guardas, VI Exército de Tanques e LXII Exército se aproximaram da estrada Orel – Bryansk, e em início de agosto a luta se travava nas imediações de Orel. Colunas intermináveis de soldados e veículos alemães em retirada rodavam pelas estradas e pela estepe, o que favorecia os bombardeios pela aviação soviética, principalmente nos locais de cruzamento do rio Oka.


Quando as forças soviéticas se aproximaram de Orel, verificaram que a cidade estava em ruínas; fábricas e casas tinham sido totalmente destruídas, restando de pé apenas algumas paredes calcinadas. Os alemães ofereceram tenaz resistência, mas a 5 de agosto o Exército Vermelho, finalmente, conquistou a cidade, que antes da guerra contava com uma população de cerca de cem mil habitantes.


Com o triunfo em Kursk e a reconquista de Orel e Belgorod tiveram início, em Moscou, as comemorações pelas vitórias obtidas, que deram aos russos a esperança de que poderiam ganhar a guerra, ou como o próprio Stalin declarou: ‘Se a batalha de Stalingrado assinalou o declínio do exército alemão, a batalha de Kursk colocou-o diante do desastre.’


A 31 de julho, Presídio do Soviete Supremo anunciou a outorga de condecorações pelos sucessos obtidos contra os alemães. Zhukov recebeu sua segunda ‘Ordem de Suvorov’ de Primeira Classe, pelo papel verdadeiramente vital que desempenhou na batalha de Kursk, e outros comandantes receberam condecorações de menor importância.


A 23 de agosto, forças da Frente da Estepe, do General Konev, auxiliadas por unidades das adjacentes Frentes de Voronezh e do Sudoeste, reconquistaram a cidade ucraniana de Kharkov. Essa vitória, acrescentada aos brilhantes sucessos obtidos em Kursk e Orel, assinalou a ruína do exército alemão na frente oriental. Os russos não davam tréguas aos alemães. O Exército Vermelho dispunha então de nítida superioridade, tanto em equipamento como em quantidade de soldados. A força aérea soviética àquela época era, igualmente, duas vezes maior que a alemã e a situação que mudava rápida e constantemente obrigava o Alto Comando germânico a transferir unidades de uma área para outra, a fim de poder enfrentar as novas crises que surgiam.


Durante os derradeiros meses de 1943, os alemães se retiraram ao longo de toda a frente meridional, com os russos em seus calcanhares. Esperando fazer um finca-pé no Dnieper, os alemães viram com desespero, entretanto, os exércitos soviéticos cruzá-lo em outubro, deixando em mãos germânicas apenas a região da desembocadura. O caminho terrestre para a Crimeia, o istmo de Perekop, foi recapturado, cortando a retirada alemã daquela área. Kiev caiu em novembro e uma a uma as cidades da Ucrânia foram sendo reconquistadas pelos russos. Por volta de dezembro, após quase três meses de luta, os exércitos alemães que operavam nas áreas central e meridional da Rússia já haviam recuado mais de 350 quilômetros e, exaustos, tanto russos como germânicos paralisaram seus movimentos, recuperando-se para a campanha de inverno.” pp. 120-121; 123

Fonte: CHANEY Jr., Otto Preston. Zhukov – Marechal da União Soviética. Rio de Janeiro: Renes, 1976.


Mais info

Batalha de Kursk
Quarta Batalha de Kharkov / agosto 1943


Reconquista da Crimeia 1943
Batalha do Dnieper


Vídeos


Kharkov


Volga


...