sexta-feira, 20 de abril de 2012





Posição das forças norte-americanas
no início de 1942
no cenário da Expansão Japonesa

No início da Guerra os comandantes norte-americanos precisavam tomar uma decisão crucial: qual o teatro de guerra que receberia a prioridade? Qual o ponto principal da estratégia global? A Europa-Atlântico Norte ou o Sudeste-Asiático-Pacífico?

Vejamos uma interessante fonte, o livro de Dexter Perkins,


[...] No fim do inverno de 1942 as forças inglesas foram obrigadas a evacuar a Tripolitânia numa retirada quase até a fronteira do Egito, e Mussolini se preparava quase, com a ajuda de seus amigos alemães, fazer uma entrada triunfal em Alexandria. Finalmente, nenhuma medida adequada tinha sido tomada contra os submarinos alemães que infestavam a costa do Atlântico e as águas das Antilhas. Navios eram afundados a trinta milhas de Nova York, ao largo das costas da Flórida e até nas proximidades do Canal do Panamá. Mais navios foram afundados do que construídos no período inicial da guerra.

Assim também tinha acontecido na I Guerra Mundial. 1917 tinha sido tão sombrio ou talvez ainda mais sombrio do que 1942. a ofensiva francesa sob o comando do General Nivelle em abril daquele ano tinha sido rechaçada e ocorriam motins no exército francês; no verão ocorreu a gradativa dissolução do poder russo; o outono testemunhou a derrota esmagadora dos exércitos italianos no Piave; e novembro assistiu à tomada do poder pelos bolcheviques e as primeiras iniciativas da Rússia para uma paz em separado com a Alemanha. Não obstante, um quadro mais amplo e uma perspectiva mais longa teriam uma história diferente para contar. E é um fato a ser lembrado que, pelo menos na História moderna, o poder de resistência das grandes democracias lhes granjeou uma vitória final. A margem de tempo pode não ser tão generosa no futuro; mas a consciência do perigo é mais viva nestes dias; e pelo menos pode-se dizer que os Estados Unidos não estão sujeitos a enfrentar uma nova guerra tão pouco preparados como estavam em 1917 ou mesmo em 1941.

O perigo dos japoneses era de certo modo o mais imediato e, apesar de muitos exemplos de bravura americana – a heróica defesa da fortaleza filipina em Bataan e de Wake - , havia muito pouco com que se contentar até maio e junho de 1942. nesses meses foram travadas as notáveis batalhas do Mar de Coral e de Midway, ambos novos na história da guerra marítima. Toda a ação no Mar de Coral foi levada a efeito com o auxílio de porta-aviões e nenhuma armada jamais avistara outra. Em Midway, embora os bombardeios de base terrestre na ilha de possessão americana desempenhassem um papel valoroso, mais uma vez aos porta-aviões tocou o papel principal. A batalha do mar de Coral infligiu aos japoneses pesadas perdas – perdas, entretanto, que quase foram compensadas pelas americanas; mas Midway foi de certo modo o ponto decisivo da guerra no Pacífico. Essa batalha desmantelou a força de uma frota japonesa de invasão que visava Havaí; ela pôs fim às ofensivas japonesas no Pacífico.

Entrementes a questão central tinha de ser respondida em Washington. Qual deveria ser a grande estratégia da guerra: deveria ser o maior esforço voltado contra a Alemanha ou contra o Japão? Não é que, naturalmente, alguém advogasse a inércia em um campo e empenho total no outro: a questão era relativa, mas, não obstante, de importância transcendente. Ficou decidido que em princípio a Alemanha era o inimigo mais perigoso. Esse foi o parecer dos assessores militares de maior confiança do Presidente; mas, pelo menos numa ocasião em que estiveram inclinados a enfraquecer, foram reforçados pelo próprio Presidente. Retrospectivamente, o argumento parece conclusivo para este autor: na Europa os Estados Unidos tinham aliados efetivos; na Ásia só Chiang Kaichek [na China], muito ineficiente, e o poder abalado da Grã-Bretanha. Além disso, na Europa os Estados Unidos enfrentavam uma força cujos poderosos recursos tecnológicos e engenho poderiam ser usados, com o progresso da ciência, para aterrorizar o Mundo.

Quase não é preciso dizer que o Primeiro-Ministro Winston Churchill aprovou essa decisão; na verdade, não perdeu tempo depois de Pearl Harbor atravessando o Atlântico para instar junto a Roosevelt por essa linha de ação. E desse modo foi iniciada a íntima associação desses dois homens notáveis e uma intimidade que, apesar de profundas divergências de pontos de vista (pois Churchill era fundamentalmente um tóri e imperialista e Roosevelt um liberal e anticolonialista), durou, com apenas algumas rugas ocasionais, até a morte do presidente.

Mas, admitido que a guerra na Europa tivesse prioridade, como seria atendida? Os chefes americanos nesse ponto, desde o início, tinham uma ideia clara do que queriam: uma invasão maciça do continente através do Canal da Mancha, que absorveria uma imensa quantidade de alemães, enquanto os russos os manteriam igualmente ocupados a leste. Para Churchill essa perspectiva era menos convidativa; ele se lembrava dos dias da triste guerra de trincheiras de 1914 e das perdas desconcertantes naquela guerra. Embora nunca ousasse – ou talvez desejasse – opor-se ao plano americano, era extremamente cauteloso com o que fosse programado ou resolvido, como veremos, para alarmes e excursões em outras áreas. Foi em parte por causa dele, em parte porque era impossível invadir com êxito a França em 1942, e por ser evidentemente necessário fazer alguma coisa, que a invasão da África do Norte foi decidida para o outono daquele ano.”

pp. 143-146


fonte: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932-1945. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1967. trad. Edilson Alkimim Cunha



Expansão Japonesa


Enquanto a indústria e as forças armadas norte-americanas se preparavam, os japoneses avançavam na Ásia e Pacífico, até as beiradas do Mar Índico e norte da Austrália. Mas as forças japonesas mostravam debilidades.

Vejamos a História Ilustrada da II Guerra sobre o avanço japonês,


“Com a tomada de Rabaul no arquipélago Bismarck (janeiro de 1942), a ocupação de Lae e Salamaua na costa setentrional da Nova Guiné (março) e de parte das ilhas Salomão, o sistema de defesa marítimo japonês chegou à sua máxima expansão. No Pacífico, a potência militar do japão se ampliou com a força de um maremoto, das fronteiras da Índia até os limites da Austrália. As praças-fortes 'brancas' (Hong Kong, Rangum, Manila, Cingapura, Java, Corregidor) caíram uma após outra. O tremendo estrépito das derrotas aliadas parece fazer soar a hora do fim da tutela dos imperialismos europeus sobre as populações asiáticas.

Em abril de 1942 a Marinha e a aviação japonesa no Ceilão (atual Sri Lanka) fazem sua última incursão para conquistar o controle sobre o oceano Índico. A operação foi um fracasso, porque o Eastern Fleet britânica abandonou a região em tempo e encontrou refúgio perto da costa africana. Um mês antes os submarinos de Tóquio tinham chegado até Madagascar. A vitória final, depois do ansiado choque decisivo com a frota americana no Pacífico, parece estar no alcance das mãos do Japão.

A Esfera de Coprosperidade Asiática

Uma vez garantido o sucesso militar, o japão pode dar continuidade a seu projeto de subjugação militar e política da área. Do conceito de 'esfera de prosperidade comum da grande Ásia oriental' que Tóquio proclamou em 1942 surgem com clareza os objetivos de dominação imperialista nessa área do mundo. Tendo surgido nos ambientes nacionalistas do Exército e da Marinha japoneses antes do conflito, a noção de 'coprosperidade' espelha a convicção do país de exercer seu domínio absoluto na Ásia. O Japão deve atestar sua superioridade moral, cultural e econômica que seus exércitos obtiveram com a força militar sobre o 'individualismo e o materialismo ocidentais'.

A 'nova ordem' desejada pela política pan-asiática de Tóquio não tarda, porém, em demonstrar-se coisa bem diversa da perspectiva da independência – embora sob tutela – ansiada por muitas populações no momento da queda de administrações que duraram séculos. Embora tenha destronado o colonialismo europeu na Birmânia, na Malásia e na Indonésia, o Japão instaura regimes fantoches aos quais confia com brutalidade a tarefa de explorar os recursos vitais para a economia imperial. A 'niponização forçada' das populações submetidas trai as expectativas de todos aqueles que saudaram a chegada de um exército do qual se esperava uma administração rigorosa e eficaz, mas que que de libertador se transforma rapidamente em rapinante força de ocupação.


Os Pontos Fracos do Japão

As fulgurantes vitórias militares japonesas se apoiam em bases frágeis. Uma das principais razões que induziram o país a entrar em guerra com o ataque de surpresa a Pearl Harbor é a necessidade de evitar o estrangulamento econômico derivado do embargo americano aos materiais estratégicos. A conquista de grandes territórios não consegue, porém, eliminar a enorme diferença de recursos entre o Japão e os Aliados, e a economia de guerra de Tóquio é afetada pro graves carências. Não só porque não foram acumuladas consideráveis reservas de matérias-primas e de materiais para gerir a defesa e a administração de enormes territórios (a dependência do Japão das importações de petróleo é calculado em cerca de 90% de suas necessidades), mas também porque, apesar da conquista das jazidas indonésias, as necessidades bélicas de Tóquio são muito superiores à disponibilidade do óleo cru exigido. Aos cerca de 1,2 milhão de soldados aquartelados na China deve-se acrescentar outro 1,5 milhão de soldados das tropas dos governos fantoches, que necessitam de suprimentos nos territórios ocupados.

No momento de seu máximo esforço, em 1943, o Japão produz menos de nove milhões de toneladas de aço (contra 12 da Grã-Bretanha e 80 milhões dos Estados Unidos). Sua produção de minérios (cobre, ferro, manganês, carvão coque) é, em média, 50 % inferior às necessidades bélicas. Aumenta o racionamento dos produtos alimentícios para uma população nacional (cerca de 73 milhões) cujas necessidades alimentares não podem ser satisfeitas pela produção agrícola nacional nem pelas 'ofensivas do arroz' que as tropas de ocupação realizam periodicamente para requisitar colheita nas áreas agrícolas chinesas.

A produção de guerra do Japão sofre com a escassez de mão de obra qualificada; nem a mobilização de mulheres e adolescentes conseguirá preencher as lacunas de seu aparato industrial. O Produto Nacional Bruto cresce um quarto durante o conflito, mas as despesas de guerra aumentam cinco vezes. No fim do conflito, a população do país se encontrará à beira da fome. O Japão olha para a guerra em termos exclusivamente militares: os comandos supremos de Tóquio não consideram que a defesa de enormes conquistas territoriais dependerá especialmente do esforço econômico e produtivo do país.

Se a principal fraqueza das instalações defensivas do Japão reside – como foi visto – em sua economia, é transparente a diferença que o separa da economia industrial mais eficiente do século, isto é, a dos Estados Unidos.

Com um exército que até aqui deu provas de uma extraordinária capacidade de combate, o Japão se verá irremediavelmente prejudicado por graves carências que, graças a um formidável aparato de segurança, são ocultadas não só da população do país, ms também da espionagem ocidental.”


pp. 160-62, 164-65


fonte: FIORANI, Flavio. História Ilustrada da II Guerra Mundial. Volume 2. São Paulo: Larousse, 2009. trad. Ciro Mioranza




seleção : LdeM


mais info em


batalha do Mar de Coral





batalha de Midway





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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Holocausto - guetos, deportações para campos de concentração



A sistemática da eliminação

livro: Treblinka / J F Steiner


Prefácio de Simone de Beauvoir (trechos)

Uma preparação psicológica subitamente condicionada pelos SS assegurava a submissão dos condenados.”

Em Treblinka instalara-se um Sonderkommando, formado originalmente por judeus de Varsóvia, dos quais uma grande parte foi massacrada e substituída por outros que chegavam; em número aproximado de um milhar, sob as ordens dos alemães e vigiados por guardas ucranianos, executavam as tarefas de extermínio e de recuperação para as quais fora o campo criado.”

O conluio com os alemães das altas autoridades judias que constituíam o Junderat é fato conhecido e de fácil explicação: em todos os tempos e países – com raras exceções - , as altas autoridades colaboram com os vencedores: questão de classe.”


Alguns judeus se rebelaram – em resistência – tanto em Varsóvia quanto em Treblinka – mas era rapidamente dispersos nas seleções para extermínio. É uma amostra (ainda que de insucesso) de que os judeus não eram um “rebanho que se deixava conduzir ao matadouro”.

A despeito dos fracassos e das tentações de desespero, o comitê resistiu. […] Os membros do comitê [de resistência] haviam feito o sacrifício de suas vidas: seu papel seria o de reter os alemães enquanto os prisioneiros fugiriam para a floresta.” (Simone de Beauvoir)


Cap. I de Treblinka (Steiner) (p. 21)


Não conseguindo fazer emigrar todos os judeus que desejavam afastar do seu império, os fundadores do 'Reich de mil anos' resolveram exterminá-los.

A invasão da URSS, em junho de 1941, deu ao problema suas verdadeiras dimensões. Nos territórios ocupados pela Wehrmacht, na Polônia, na Ucrânia, na Bielo-Rússia, nos Estados Bálticos, vivia uma população judaica de vários milhões de homens. Em consequência, o Reichsführer SS Heinrich Himmler baixou a ordem de 'tratar' as terras novas conquistadas pelo Terceiro Reich na sua expansão rumo ao leste.

A operação devia processar-se em duas fases. Primeiro tempo: reagrupamento dos judeus num certo número de guetos. Segundo tempo: liquidação progressiva dos guetos assim criados. Segundo os 'técnicos', os judeus, raça inferior, devia deixar-se massacrar sem resistência. A perfeição do sistema nazista excluía a menor possibilidade de uma revolta.

Assim começou o tempo do gueto, primeira etapa da 'solução final'.

O reagrupamento dos judeus não apresentava praticamente qualquer problema. O anti-semitismo das populações autóctones era tal que os judeus chegavam mesmo muitas vezes a aceitar esse operação com alívio.” (p. 21)

Os judeus do leste não acreditavam na crueldade dos alemães – 'ora, um povo educado, tão culto!' - mas não sabiam que não eram os filósofos e músicos no poder, mas os milicianos racistas – os SS, os SD, a Gestapo.

O Judenrat procurava abafar as notícias dos fuzilamentos, para assim evitar o pânico – o Judenrat precisa manter os judeus sob controle – para facilitar o trabalho aos 'técnicos' da SS. (cap. 2) Os judeus da resistência (em dezembro de 1941, janeiro de 1942) buscavam algum contato com outro resistentes anti-nazistas.

Entrara-se em contato com todas as outras organizações: Poale Sion (partido operário sionista socialista), Bund (socialista não-sionista), Bétar (juventude sionista extremista) e comunistas.” (p. 54, cap. 3)


Enquanto o 'gueto-piloto' de Vilna fora um sucesso no 'tratamento prévio' dos judeus, Ponar, por outro lado, não dera plena satisfação aos 'técnicos'. As fraquezas do sistema tornaram0se rapidamente aparentes. Elas condenavam-no a ser utilizado exclusivamente em campos de interesse local do tipo Babi Yar para o 'tratamento' dos judeus de Kiev, ou Janowska para o dos judeus de Lwow.

As insuficiências do sistema – que eram de dois tipos, técnicas e psicológicas – decorriam do modo como era praticada a execução: o fuzilamento, que de um lado não permitia senão um rendimento muito baixo e de outro criava entre carrasco e vítima laços prejudiciais ao moral do primeiro.” (p. 73, cap. 5)

Cumpria inventar uma máquina de eliminação. Com o espírito metódico que os caracterizava, os 'técnicos' definiram-lhe o 'caderno de encargos'. Ela devia ser discreta para não despertar inquietação entre as vítimas e curiosidade entre as testemunhas, e eficaz para estar à altura dos projetos grandiosos dos promotores da operação 'solução final'; devia ainda reduzir a manutenção ao mínimo e, finalmente, proporcionar à vítimas uma morte suave.

Longos meses se passaram até que ecoasse o legendário 'Heureca!'

Foi um tal de Becker o responsável pelo grito famoso. Concebera um caminhão no qual o cano de descarga desembocava no interior da parte traseira, que era hermeticamente fechada. As vítimas eram asfixiadas pelo monóxido de carbono. [...]” (p. 74)

Os 'técnicos' deixaram-se imediatamente seduzir pela simplicidade e racionalidade do projeto, e trataram de pô-lo em prática sem mais delongas. Os primeiros caminhões de gás foram colocados em serviço no início da primavera de 1942. sua breve carreira resultaria numa sequência de dissabores para o pobre Becker.

Não fazia ainda um mês que os caminhões tinham começado a substituir os fuzis, e em Berlim as queixas começavam a chover de todos os lados. A crítica que aparecia em todos os relatório dizia respeito às más condições em que morriam as vítimas, […] “ (p. 75)


O gueto de Varsóvia era uma formidável concentração de quatrocentos mil judeus. Seu extermínio exigia a concentração de instalações proporcionais. O caminhão 'Becker' com seus quinze ou vinte lugares – de acordo com o modelo -, não podia pretender assumir tão pesado encargo. Os 'técnicos' recomeçaram a procurar. […] A solução não se fez esperar. Um 'pesquisador', cujo nome infelizmente não foi conservado, teve a ideia de colocar o caminhão 'Becker' num campo do tipo Ponar. […] Era preciso construir um local hermeticamente fechado, alimentado a gás por um motor. Nascia assim a primeira câmara de gás. Seria longa ainda a estrada a percorrer até as ultramodernas câmaras de Auschwitz, funcionando na base do Ciclon B; mas o caminho estava aberto. […] (p. 76)

...



trechos de “O Pianista” (1946) de Wladyslaw Szpilman (Polônia)
tradução de Tomasz Barcinski (Rio de Janeiro: Record, 2003)


Cap. 4 – O Gueto

Na segunda quinzena de novembro [1939], os alemães, sem qualquer explicação, começaram a isolar o lado setentrional da rua Marszalkowska com cercas de arame farpado. No final do mês surgiu um edital, no qual ninguém de início queria acreditar. Ultrapassava as nossas mais negras previsões; entre 1 e 5 de dezembro, todos os judeus deveriam munir-se de braçadeiras brancas com uma estrela-de-davi bordada em azul e branco. Dessa forma iríamos ser estigmatizados e diferenciados publicamente como seres 'destinados ao repúdio'. O edital eliminava vários séculos de avanços humanos, substituindo-os por métodos da mais negra Idade Média.

[…]

Nesses dias gélidos começaram a chegar a Varsóvia trens com judeus deportados da parte ocidental da Polônia. Apenas uma parcela deles chegava ao seu destino com vida. Eram embarcados em vagões selados, destinados ao transporte de gado – as pessoas ficavam enclausuradas sem comida, água ou calefação por dias e dias. Quando os trens chegavam ao seu destino, somente a metade delas ainda estava viva, e mesmo assim com terríveis ulcerações. Os demais, rígidos pelo frio, estavam em pé entre os vivos e caíam por terra, mortos, quando os vagões eram abertos.

Parecia que a situação não poderia piorar. Assim pensavam somente os judeus, pois os alemães tinham outra opinião. De acordo com a sua tática de implementar cada vez mais terror, emitiram novos decretos. O primeiro deles determinava a deportação para trabalhos forçados em campos de concentração, onde os judeus receberiam uma educação social, que lhes permitiria deixar de ser os 'parasitas do sadio organismo da raça ariana'. Referia-se a todos os homens válidos, com a idade entre doze e sessenta anos, bem como às mulheres entre quatorze e quarenta e cinco anos. O segundo decreto descrevia o processo de registro e da deportação. Os alemães não queriam se ocupar com isso e delegaram essa função ao Conselho Judaico. Teríamos que ser os nossos próprios carrascos, preparar o nosso extermínio nós mesmos, executar algo como um sancionado suicídio coletivo. A deportação foi planejada para o início da primavera [i. e. Março/abril 1940].” (pp. 50-51)

}}} Em 10 de maio, não uma ofensiva aliada, mas uma ofensiva alemã que dividiu e derrotou os aliados em menos de um mês!


Vejam o link para o meu primeiro blog sobre a Segunda Guerra Mundial




O gueto ('organizado' até o fim de 1940) era então chamado de 'bairro especial'.

Os portões do gueto foram cerrados no dia 15 de novembro. […] Numa área já superpovoada há anos, que podia abrigar, no máximo, cem mil pessoas, teriam que viver agora mais de meio milhão.” (pp. 55-56)

Os alemães continuaram a caçar seres humanos para trabalhos forçados como se fossem animais em todos os territórios da Europa por eles conquistados. Talvez a única diferença fosse o fato de que , no gueto de Varsóvia, essa atividade foi interrompida na primavera de 1942. As suas vítimas iriam ter outro destino, […]

As fronteiras do gueto foram se estreitando. Sua área foi sendo sistematicamente diminuída, a exemplo do que ocorria nos territórios da Europa, onde os alemães, ao conquistar um país, criavam uma fronteira, dividindo-o em dois – um território livre e outro ocupado. […]” (pp. 57-58)


fonte: SZPILMAN, Wladyslaw. O Pianista. Rio de janeiro: Record, 2003. trad. Tomasz Barcinski.



O Gueto de Varsóvia (continuação)

O gueto fora dividido em duas partes: o grande e o pequeno. O pequeno gueto estava confinado pelas ruas Wielka, Sienna, Zelazna e Chlodna, e tinha, após a última redução, apenas uma ligação com o grande: na junção das ruas Zelazna e Chlodna. O grande gueto ocupava toda a parte setentrional de Varsóvia, com um mundo de fedorentas ruelas e de becos repletos de judeus paupérrimos, apinhados em meio à miséria e à sujeira. No pequeno gueto vivíamos também apertados, mas de uma forma ainda razoável. Em cada quarto viviam três, no máximo quatro pessoas. Nas ruas, andando com atenção, era possível passar sem esbarrar em outros. E mesmo se isso viesse a acontecer, não resultava daí qualquer perigo; no pequeno gueto viviam basicamente os intelectuais e a alta burguesia, relativamente pouco piolhentos, livres dos insetos que pululavam no grande gueto. O verdadeiro pesadelo iniciava-se quando se deixava para trás a rua Chlodna.” (p. 61)


O inverno de 1941-1942 foi especialmente difícil para o gueto. As pequenas ilhas do aparente bem-estar da intelectualidade judaica e da opulência dos especuladores eram minadas por um mar de judeus miseráveis, já completamente exauridos pela fome, cheios de piolhos e expostos ao frio terrível. O gueto estava infestado por insetos e não havia como evitá-los. […]

diante disso, o surgimento de uma epidemia de tifo no gueto não chegou a ser uma surpresa. O número de mortos chegava a cinco mil por mês. O tifo passou a ser assunto da conversa de todos – pobres ou ricos. […]

(pp. 76/77)

As deportações para Treblinka começaram em abril de 1942, com a cumplicidade da 'polícia judaica' (do Conselho Judaico, Judenrat). Citemos.

Ao anoitecer fomos informados de que o toque de recolher tinha sido adiado para meia-noite, a fim de que as famílias dos 'enviados para trabalho' tivessem tempo suficiente de lhes trazer cobertores, roupas e comida para a viagem. Tal 'generosidade' dos alemães era com certeza comovente. Os policiais judaicos, por sua vez, a citavam com o intuito de adquirir nossa confiança.

Somente muito tempo depois vim a saber que os mil homens aprisionados naquela ocasião foram enviados, diretamente do gueto, para o campo de concentração em Treblinka, onde serviram de cobaias para os recém-construídos fornos crematórios e câmaras de gás.” (p. 86)

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seleção : LdeM

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mais info em :

video sobre a Conferência de Wannsee (1942)
http://www.youtube.com/watch?v=aCCDcMF_444
http://www.youtube.com/watch?v=U-aj3drLcuQ&feature=related

HBO filme
http://www.youtube.com/watch?v=qfHHZWe7Qwc&feature=related

BBC Final Solution
http://www.youtube.com/watch?v=a6jnawYwm3E&feature=related

filme alemão (Wannseekonferenz)
http://www.youtube.com/watch?v=eGeaoUO0gfo&feature=related


Campos de Concentração / Extermínio
videos
http://www.youtube.com/watch?v=ofqK4iDVj6w&feature=related

sobre Auschwitz
http://www.youtube.com/watch?v=4BEglP6xuxs&feature=related


O fim dos ghettos
http://www.2guerra.com.br/sgm/index.php?option=com_content&task=view&id=590&Itemid=49


A Burocracia do Extermínio:

Eichmann in Israel - julgamento
http://www.youtube.com/watch?v=T3InADUFzX4&playnext=1&list=PL8356E8541CD01270

mais sobre Adolf Eichmann
http://www.youtube.com/watch?v=9wqSAb0ZAn8&feature=related

Eichmann (movie 2007)
http://www.youtube.com/watch?v=5x0qnEZ0nWY&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=L_GjL6DXlPk&feature=related

trecho do interrogatório
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/people/e/eichmann.adolf/eichmann.006
sobre o livro Eichmann Interrogated
http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9E03EED71539F935A25754C0A965948260


Videos de Revisionistas
http://www.youtube.com/watch?v=KeMqWqdrfz4&feature=related

Judgement at Nuremberg (movie, 1961)
http://www.youtube.com/watch?v=GagXIYvnY1s

mais sobre os Julgamentos de Nuremberg
(documentário russo)
http://www.youtube.com/watch?v=FPXc8JjtidM&feature=related


filmes
 O Pianista
http://www.youtube.com/watch?v=A-GIOmbGoOM

O Menino do Pijama Listrado
http://www.youtube.com/watch?v=j3fK0p3x0RE&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Shypz2_NshM&feature=fvwrel

Rosenstrasse (movie, 2003)
http://www.youtube.com/watch?v=Dyk48PH4y8s&feature=related

Ghetto (movie, 2006)
http://www.youtube.com/watch?v=7Q2vD0KaIi4&feature=related

Uprising (movie, 2001)
(o Levante do Ghetto de Varsóvia)
http://www.youtube.com/watch?v=4uIiMWxfUgI



livros

A Indústria do Holocausto
(Norman Finkelstein)
http://en.wikipedia.org/wiki/Holocaust_industry
http://www.vho.org/aaargh/port/norman.html
http://www.revistabula.com/posts/livros/historiador-denuncia-a-industria-do-holocausto


videos
http://www.youtube.com/watch?v=5BaJCRXsgt4

http://www.youtube.com/watch?v=TCKTKMFTprM


Mais Revisionismo

http://verdadehistorica.wordpress.com/category/s-e-castan/page/2/

http://www.youtube.com/watch?v=EIB-Q6sH9vY&feature=related

http://forumnacionalista.forumeiros.com/t512-revisionismo-castan




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REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil.
Nova York: Viking Penguin, Inc., 1963; Penguin Books, 1965.

BAUMAN, Janina. Inverno na Manhã – Uma Jovem no Gueto de Varsóvia.
Rio de Janeiro, Jorge Zahar D., 2005.

BLACK, Edwin, IBM e o Holocausto. (IBM and the Holocaust, 2001)
Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2001. trad. Afonso Celso da Cunha Serra

GOLDHAGEN, Daniel Jonah. Hitler's Willing Executioners: Ordinary Germans and the Holocaust. Nova York: Alfred A. Knopf, 1996; Vintage Books, 1997.

HILBERG, Raul. The Destruction of the European Jews. Nova York: Quadrangle Books, Inc, 1961; Harper Colophon Books, 1979.

HOESS, Rudolf. Commandant of Auschwitz: The Autobiography of Rudolf Hoess. Trad. Constantine FitzGibbon. Nova York: Popular Library, 1959

REITLINGER, Gerald. The Final Solution: The Attempt to Exterminate The Jews of Europe, 1939-1945. Beechhurst Press Inc, 1958, Nova York: Perpetua, 1961.

STEINER, Jean François. Treblinka. Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1976. trad. Cristiano Monteiro Oiticica.

SZPILMAN, Wladyslaw. O Pianista. Rio de janeiro: Record, 2003. trad. Tomasz Barcinski.